Discurso durante a 61ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo ao governador Blairo Maggi para que abra diálogo com os trabalhadores em educação, que estão em greve no Estado do Mato Grosso. Enaltece o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em marcha até Brasília.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GOVERNO ESTADUAL. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Apelo ao governador Blairo Maggi para que abra diálogo com os trabalhadores em educação, que estão em greve no Estado do Mato Grosso. Enaltece o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em marcha até Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2005 - Página 14791
Assunto
Outros > ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GOVERNO ESTADUAL. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • ACUSAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO, PLANO DE CARREIRA, SALARIO, TRABALHADOR, EDUCAÇÃO, GOVERNO ESTADUAL.
  • SOLICITAÇÃO, PROVIDENCIA, GOVERNADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), OBJETIVO, NEGOCIAÇÃO, GREVE, SERVIDOR, EDUCAÇÃO, BENEFICIO, POPULAÇÃO.
  • ANUNCIO, CHEGADA, CAPITAL FEDERAL, MARCHA, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, APOIO, REIVINDICAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste final de semana, andei no meu Estado de Mato Grosso por seis Municípios, de carro, percorrendo a BR-163, toda parte dela no Estado de Mato Grosso, vendo realmente os seus problemas e dos Municípios no seu entorno. É óbvio que, em cada Município que parávamos, nós contatávamos a população organizada, com as pessoas de um modo geral, com prefeitos, com vereadores, com vereadoras... E um dos problemas que emergiram foi a questão dos trabalhadores da educação da escola pública estadual do meu Estado de Mato Grosso.

Os trabalhadores da educação de Mato Grosso encontram-se paralisados há algum tempo e sem perspectiva de retorno. Há um clamor dos trabalhadores da educação da rede estadual para que se busque a saída para o problema. Essa saída geralmente é vista como a busca por melhores salários. Em Mato Grosso, porém, além disso, é a derrocada que o atual Governador Blairo Maggi vem impondo à lei maior dos trabalhadores da educação de Mato Grosso, lei essa que foi conquistada com muita luta, por muito tempo, em todos os aspectos, que vão desde a questão de salários - é óbvio -, da carreira desses profissionais com relação ao salário, mas principalmente da carreira desses profissionais com relação a suas promoções e a carreira profissional como um todo. E essa lei, que é denominada Lopeb, de Mato Grosso, está sendo destruída pelo Governador Blairo Maggi.

Faço, portanto, desta tribuna - e de outras formas já atuei como pude - um apelo ao Governador de Mato Grosso que abra o diálogo com os trabalhadores da educação pois não se trata de um problema só dos trabalhadores da educação, mas da população mato-grossense como um todo: são crianças e jovens que estudam na escola pública estadual estão sofrendo os prejuízos. A responsabilidade é totalmente do Governador do Estado.

Conclamo a sociedade mato-grossense para que, juntos, responsabilizemos o Sr. Blairo Maggi pela situação da escola pública, hoje paralisada no Estado. Não há perspectivas de mudança dessa situação. S. Exª é responsável porque fechou o diálogo, porque não discutiu e porque destruiu a lei maior dos educadores de nosso Estado.

Não posso deixar de fazer um apelo, da tribuna do Senado, ao Governador de Mato Grosso e à Secretária de Educação, Ana Carla Muniz. O Juiz Gerson Ferreira deve ser de uma insensibilidade absoluta, pois baixou uma liminar obrigando os trabalhadores da educação a voltarem imediatamente às aulas. S. Exª realmente não reconhece o trabalho desses profissionais e, principalmente, o porquê da paralisação. Mais insensível do que o Juiz é a Secretária de Educação. E digo isso sem nenhum temor, pois já fui secretária de educação do Estado de Mato Grosso, há quase vinte anos. Quando peguei a secretaria todos estavam em greve. Buscamos uma solução para o problema. Fui Secretária de Educação apenas durante um ano, mas não só reverti a questão salarial, como tivemos o segundo maior salário de trabalhadores da educação estadual do Brasil no Estado de Mato Grosso, como tivemos também deslanchado um processo de democratização das relações de poder na área da educação, como demos um salto grande no sentido da universalização do acesso, ou seja, escola pública para todos aqueles que batessem às suas portas.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, amanhã - ou hoje, chamando a véspera - é a chegada da marcha do MST a Brasília. Quero registrar nesta tribuna um texto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sobre sua marcha, texto que faço, aqui, também meu. Uma pergunta, Sr. Presidente, por parte dos trabalhadores sem terra do MST. Eles se fazem esta pergunta:

Por que marchamos?

Marchar sempre foi um ato heróico na história da humanidade. Sempre que os povos se sentiam ameaçados ou tiveram problemas a resolver, saíram de seus locais de origem e foram em busca de soluções, usando o próprio corpo como instrumento de luta.

Quem marcha aprende, porque marchar é diferente de andar. Quando vamos a algum lugar para buscar ou levar algum objeto, por mais que nos sacrifiquemos, este andar não passa de uma simples caminhada, pois vamos só pelo caminho, buscar coisas que imaginamos sozinhos.

Quando marchamos, levamos em nossos passos os sonhos daqueles que nos acompanharam e de milhares de outros seres humanos que ficaram esperando por nossa volta.

A marcha é, acima de tudo, um ato de solidariedade de uns para com outros, o ponto de partida tem que ser o mesmo valor que o ponto de chegada. Ninguém pode ficar pelo caminho, porque ninguém pode marchar sozinho.

Os poderosos têm medo dos que marcham. Sabem que quem está na estrada busca chegar ao fim e lá chegando, pode ir além do que foi planejado.

O MST cresceu com as marchas que foram usadas sempre que os Governantes se tornaram insensíveis ou os latifundiários impediram que a reforma agrária fosse em frente.

“Contra as idéias da força, a força das idéias”, já dizia Florestan Fernandes. Por isso, a repressão e a violência dos latifundiários sempre recuaram diante do barulho dos passos das multidões de camponeses que se levantaram em todo o Brasil.

As idéias unificam os passos. Elas explicam as decisões e as razões por que temos de tomar tal atitude.

Então, alguém pode se perguntar: Se elegemos um Presidente da classe trabalhadora, já não é suficiente? Por que ainda temos que marchar?

Sr. Presidente, Srªs e Srs., temos de entender que a história é como um rio cheio de curvas. Embora às vezes chova mais do que o normal, as águas que caem não têm o poder de modificar as curvas do rio tão depressa. Assim é a política; às vezes um grande esforço acaba dando pouco resultado e as curvas das injustiças não acabam na primeira mobilização.

Por outro lado, ninguém nunca afirmou que se elegêssemos um Presidente mais próximo de nós poderíamos deixar de lutar. Ao contrário, quando tocamos nos interesses dos inimigos é que eles aparecem e mostram do que são capazes. E já nos diz a sábia explicação: “Uma andorinha só não faz verão.”

A marcha é pela reforma agrária. É a tarefa que a história nos deu para realizar agora. Se deixarmos esta bandeira cair, será pisoteada pelos cavalos dos latifundiários e talvez leve anos até que as novas gerações possam recomeçar a luta.

Por isso, quem está marchando, está lutando por si, pela sua família, pela família de todos os Sem-Terra, mas também pelas futuras gerações que precisarão da terra para trabalhar.

Quem marcha nunca esquece o que vê...

Sr. Presidente, peço mais dois ou três minutos para concluir.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª dispõe de mais cinco minutos, Senadora Serys Slhessarenko.

A SRª. SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Sr. Presidente.

Quem marcha nunca esquece o que vê, porque marchar acima de tudo é sentimento, emoção, alegria, festa e confraternização.

A dor dos calos vai embora quando nos encontramos com pessoas à beira da estrada e dizem que estamos certos e devemos seguir em frente.

As músicas são feitas nas paradas e falam por nós. Dizem através das melodias o que queremos alcançar.

As bandeiras andam sobre nossas cabeças, avisando que estamos indo. Querem ver por primeiro o lugar das paradas. Quando chegamos, ficam acordadas, agarradas em galhos de árvores, para avisar a quem passa que ali não é um “acampamento de ciganos”, mas de Sem Terra em luta.

Quem marcha cuida e se cuida. Precisa tomar conta do colchão para que ele também possa chegar. Quando as forças se desgastam como a sola das sandálias, é no colchão que buscamos a energia que falta em cada perna par animar os passos. Mas acima de tudo é preciso se cuidar. O corpo é o sujeito da marcha. Sem ele não pode haver chegada. Sem gente a marcha perde a força. por isso é preciso cuidar da saúde, beber água e comer nas horas certas. O descanso é importante para o corpo, que precisa estar presente na hora da cerimônia em que a força da sabedoria se encontra com a vitória.

Marchar então é um prazer. É sentir que a luta segue como herança. Os mais velhos ensinam as crianças a buscar de mãos dadas o que pertence a quem tem a capacidade de sonhar.

Quem marcha deixa e leva saudades. Produz imagens que jamais sairão da mente das crianças das favelas, que um dia tentarão imitar este teatro de passos enfileirados. E também marcharão sobre as pedras frias das ruas das cidades onde vivem para buscar sua parte da produção social da riqueza que os poderosos teimam em não distribuir.

A marcha pertence aos que acreditam em causas coletivas. Os medrosos e desanimados não marcham, com certeza, escondem-se atrás do egoísmo da individualidade. Têm vergonha de mostrar que são diferentes porque lutam.

Na poeira das marchas não sobe só o pó soprado do chão, sobe um letreiro escrito com os pés com o recado que pacientemente enviamos e que os governantes e latifundiários sabem decifrar: “lá vai a sede de justiça, preparai a água para saciá-la.”

A chegada é a comemoração e a confirmação de todas as lutas e profecias que nos deixaram os mártires e lutadores do passado, que lutaram e acreditaram que os pobres jamais desistiriam e sempre voltariam em multidões. Como disse Zumbi dos Palmares na hora de ser assassinado: “Eu morrerei, mas voltarei e serei milhões”.

Somos nós a força e a voz da terra que espera por marchas de povos livres.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a marcha dos sem-terra está chegando, e nós acreditamos que o Presidente Lula, o nosso Presidente, que tem a vontade e a determinação de fazer a reforma agrária acontecer neste País, tem dificuldades gigantescas por causa da concentração da terra e da renda neste País há 500 anos. Por isso, os trabalhadores sem terra, hoje, marcham em direção a Brasília para reforçar a vontade e a determinação do Presidente Lula, de fazer a reforma agrária acontecer com certeza.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2005 - Página 14791