Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Presidente Lula para que afaste do governo o Ministro da Previdência, Sr. Romero Jucá, e o Presidente do Banco Central, Sr. Henrique Meirelles.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Apelo ao Presidente Lula para que afaste do governo o Ministro da Previdência, Sr. Romero Jucá, e o Presidente do Banco Central, Sr. Henrique Meirelles.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Jefferson Peres, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2005 - Página 14984
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA INTERNACIONAL, COMENTARIO, ERRO, ESCOLHA, CANDIDATO, GOVERNO ESTADUAL, SENADO, PERDA, ELEIÇÃO, COMPOSIÇÃO, MINISTERIOS.
  • QUESTIONAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, DEMISSÃO, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), EXISTENCIA, DENUNCIA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, SOLICITAÇÃO, QUEBRA, SIGILO BANCARIO.
  • COMENTARIO, MODELO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, GOVERNO, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, INEXISTENCIA, PEDIDO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERMANENCIA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, CARGO PUBLICO, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, GARANTIA, MORAL, ETICA, DIGNIDADE, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, POSSIBILIDADE, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, REMESSA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COPIA, DISCURSO, ORADOR.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna para fazer um pronunciamento, dirigindo-me a Sua Excelência, o Senhor Presidente da República.

Fui daqueles brasileiros que receberam com otimismo, alegria e vibração a vitória de Luiz Inácio da Silva. Fui daqueles que acreditaram que, ali, teríamos as transformações sociais que o Brasil defendia e faríamos isso pacificamente, pelo voto popular. E um Presidente digno, correto, decente, cujas origens sociais eram um atestado real de sua capacidade, compromissado com a Nação, faria o Brasil caminhar ao rumo que há tanto tempo desejávamos.

Ocupo a tribuna hoje, Sr. Presidente, para dizer ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que seu Governo vive uma situação séria. Não me identifico com o Sr. Fernando Henrique Cardoso, que vai para as manchetes dizer que Lula vive uma crise institucional, que o Brasil está em perigo, igual ao de 1964. Não é verdade. Em 1964, houve um diabólico golpe de Estado preparado pela Direita, pelo governo americano e pelo regime militar.

Hoje, não está acontecendo isso. Hoje, vivemos num regime que tem democracia, vivemos num regime que tem liberdade, e me atrevo a dizer que vivemos num regime em que praticamente todos torcem para que o Governo dê certo.

Meu amigo Lula, todos erram, e tu erraste ao escolher 19 candidatos a Governos de Estado e ao Senado Federal, que não se elegeram, colocando-os como Ministros, em vez de escolher os mais capazes e os mais competentes dentro ou fora do teu Partido. É uma coisa que passou.

Que tu acertaste na política internacional, aproximando-se da África, do Oriente Médio e da América Latina, tendo uma voz corajosa e respeitada, é verdade. Mas há algo, meu amigo Lula, com o qual tu não podes brincar, que é a arma mais importante, a força maior que tem o PT e tu, meu amigo Lula: a tua credibilidade, a tua honorabilidade, a tua seriedade, a tua dignidade, a confiabilidade que o País tem. Tu és um homem de bem, que faz o que deve ser feito.

A essa altura, perdoa-me. Primeiro, o Lula disse que as notícias com relação ao Presidente do Banco Central e ao Ministro da Previdência eram notícias de jornais e que não se conseguiria fazer nada a partir de uma notícia de jornal.

Agora não! Agora, o Procurador-Geral da República, depois de ter dado ao Ministro 15, 20 dias para se defender e apresentar as provas que quisesse, ofereceu a denúncia. E a denúncia foi aceita.

É o Tribunal que aceita que o Presidente do Banco Central tenha status de Ministro, e o Procurador-Geral da República denuncia o Ministro pedindo a abertura de suas contas. E ele continua no Banco Central.

Olha, meu amigo Lula, fui Líder do Governo nesta Casa durante todo o Governo do Itamar. Criamos uma CPI para apurar as crises no Orçamento, os chamados “Anões do Orçamento”. Muitos tinham sido contra a criação daquela CPI. Como? Tivemos uma CPI que cassou o Presidente da República. Agora, vão querer fazer outra? Agora que o Governo está começando? Fui eu quem defendi a sua instalação: se tem assinatura, é verdade, e os fatos existem, vamos fazer. E foi feita.

Lá pelas tantas, houve uma acusação contra o Chefe da Casa Civil do Governo Itamar Franco, convocando-o para depor na CPI. Reunimo-nos, o Itamar, o Chefe da Casa Civil e eu. E ele, por conta própria disse: “Como ministro, não vou depor”. Renunciou, entregou o cargo e veio depor como cidadão comum. Veio depor como ex-ministro. Não precisou o Itamar lhe pedir; não precisou a imprensa cobrar o que iria acontecer - o Chefe da Casa Civil está sendo chamado para depor na CPI. Ele, por conta própria, renunciou e veio depor aqui. Foi aplaudido de pé na CPI, foi absolvido na CPI e voltou para a chefia da Casa Civil.

Primeiro, o Lula disse que notícia de jornal é notícia de jornal. Que não vai demitir ninguém por notícia de jornal. Tudo bem. Segundo, o Procurador aceita a denúncia, faz a denúncia. Hoje, temos um cidadão que é réu por parte do Subprocurador. O que é que o Lula vai esperar? Vai esperar que seja condenado e, então, quem demitirá será o Supremo? Vai esperar a condenação do Supremo para demitir ou vai ele mesmo pedir o afastamento? Não estou dizendo que ele é culpado. Não posso garantir nem que o Ministro da Previdência é culpado nem o Presidente do Banco Central. Ele ainda não foi julgado. Mas o que posso dizer é que o Presidente do Banco Central e o Ministro da Previdência têm que ser cidadãos acima de qualquer dúvida, com uma honorabilidade, com uma seriedade. E as manchetes diárias do jornal, e a acusação e a denúncia feita pelo Procurador não tornam essas pessoas dignas de credibilidade. Há uma interrogação enorme em cima do nome deles.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei.

Poderão até voltar, poderão. O Tribunal poderá absolvê-los, e, se o Supremo absolver, o Presidente da República poderá reconduzi-los de volta com honra e troca de foguete. Mas enquanto não acontecer isso... Em primeiro lugar, o Ministro devia fazer como fez o Ministro Hargreaves, que foi lá e, quando começamos a fazer o que íamos fazer, antecipou-se: “Presidente, eu não vou à CPI depor como Ministro. Eu largo o Ministério e vou depor como cidadão.” O Ministro tinha que fazer isso. A não fazer, cabe ao Presidente da República, cabe ao Presidente da República.

Falando nisso, está aqui depondo, na Comissão do Senado, o Procurador-Geral da República. Tenho dito, querido Senador Mão Santa, que, neste Brasil de interrogações, de dúvidas, que faltam referências - não temos mais um Dom Hélder, não temos mais um Dom Evaristo, na temos mais um Presidente da OAB ou um Presidente da ABI como tínhamos antigamente -, a maior referência moral, ética e digna deste País é o Procurador-Geral da República. Ele disse, quando assumiu, que completaria dois anos no cargo e depois não voltaria. Agora ele está dizendo que não vai voltar. Está limpando as gavetas para não voltar.

Mas eu não vi, até agora, uma palavra do Presidente da República apelando para que ele fique. Se me perguntarem quem foi que colaborou mais com o Governo do Lula, eu direi que foi o Fonteles, seja denunciando, seja assustando os outros. Por isso está todo mundo querendo andar direito, porque se não fizerem isso, está lá o Fonteles.

O que estranho, Sr. Presidente - mas acho difícil que S. Exª aceite -, é que não tenha saído uma notícia nos jornais, um pedido do Presidente para que ele fique. Parece até que estão loucos para vê-lo pelas costas. Talvez estejam pensando em trazer o Brindeiro de volta. Já não tem tanta gente do Governo Fernando Henrique que está no Governo! O arquivador-mor, Sr. Brindeiro, poderia até voltar!

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer!

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, votei no Presidente Lula, ajudei o PT a vencer as eleições no Piauí e lembro que o PMDB fazia almoços. Lembro também que o Líder Mercadante lá estava e eu, com a franqueza do Piauí, disse: se há uma pessoa que representa o PMDB e deva ser ministro é Pedro Simon. Esse tem que ser! Aí vieram as mágoas da derrota do PT no Rio Grande do Sul... Eles se esqueceram das virtudes do Rio Grande do Sul, de Bento Gonçalves, da Farroupilha, de Alberto Pasqualini, de Getúlio e o Pedro Simon...! Agora, o que tenho a dizer é o seguinte: Senador Pedro Simon, eu entendo que uma autoridade não pode ser suspeita! Ela tem que ser é acreditada, como V. Exª o é! E hoje eu sigo o encantado velho no fundo do mar, Ulysses, que disse: “Ouça a voz rouca das ruas!” E a voz rouca das ruas diz que não quer mais o PT porque este País está na desordem!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu dou um conselho ao meu bom amigo Presidente Lula, um conselho de irmão franciscano: “Pare para pensar. Olhe a sua história, a sua biografia, olhe as suas lutas, lembre de quem veio do Nordeste e de quem, em São Paulo, do nada construiu uma personalidade. Que, num País que nunca teve um grande partido, construiu o primeiro partido de trabalhadores do mundo. E que perde uma, perde duas, perde três, mas vai adiante e ganha a eleição”. E a Nação inteira depositou a sua confiança em Sua Excelência.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Esse é um momento que o Presidente Lula não pode titubear, porque aí vão começar a aparecer... Já estou vendo o Líder do PT aqui no Senado dar a seguinte manchete no Jornal do Senado: é um fato isolado. E agora se referindo a outra no Correio, é um fato isolado e já foram tomadas providências.

De providência em providência, lá na Casa Civil, ali na Previdência, lá no Banco Central, aqui no Correio, de Previdência em Previdência, o Lula perde o seu patrimônio, que é o patrimônio moral, o patrimônio da dignidade, o patrimônio da seriedade que ele tem, mas que tem obrigação de botar em jogo.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Apenas uma frase, Sr. Presidente, se me permite. Gostaria de transmitir ao Senador Pedro Simon que considero importante que o Presidente Lula possa ouvir a manifestação de V. Exª, hoje, como quem esteja ouvindo a reflexão de uma pessoa que, eu sei, tem o Presidente Lula como um amigo. V. Exª, Senador Pedro Simon, é uma pessoa que soube contribuir positiva e construtivamente junto ao Presidente, antes de ele ser Presidente a agora também como Presidente. É apenas isso que eu gostaria de lhe transmitir.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - O Presidente Lula, Sr. Presidente, está nas minhas orações diárias. Como um bom franciscano, é por ele, à noite, que rezo em primeiro lugar. Que ele acerte, que o Espírito Santo lhe oriente e que ele siga o bom caminho.

E digo para V. Exª, com toda sinceridade - e tenho dito isso por onde tenho andado -, ainda tenho credibilidade no Presidente Lula. Não vi nenhum fato que me diga que Sua Excelência... Vejo o seguinte, um cidadão que passou o que ele passou, veio de onde veio, chegando a Presidente da República, acho normal que esteja pensando em reeleição. Não me passa pela cabeça que o Presidente Lula esteja preocupado ou queira que aconteça um escândalo, no Correio, na Petrobrás ou onde quer que seja durante o seu Governo. Essas coisas estão saindo a sua revelia, essas coisas estão acontecendo porque tem gente fazendo à revelia do Presidente. Está na hora de ele assumir o comando e dizer: na dúvida, caia fora. No momento em que ele disser o primeiro “na dúvida, caia fora”, tenho certeza de que as coisas vão mudar.

Concedo um aparte ao Senador Jefferson Péres. Será um aparte rápido e brilhante, diga-se de passagem.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Pedro Simon, não poderia esperar outra atitude de V. Exª, pois V. Exª dispensa referência. Todo o Brasil o conhece. A preocupação sua e o sentimento seu são os mesmos meus. Não sinto nenhuma alegria quando vejo esse início de degringolado moral do Governo. Espanta-me que o Presidente não reaja a isso. Ele está trocando o apoio das Bases no Congresso pela ruína da sua base moral. Ele pensa que isso não tem um preço? Ele pensa que isso vai ocorrer sem que haja nenhuma conseqüência para o Governo e para o Brasil? Senador Pedro Simon, Oxalá o Governo e o PT prestem atenção ao discurso de V. Exª, porque o que está acontecendo é muito grave. O Governo não percebeu que grande parte dessa Base que o apóia é uma Base podre e que ele não se sustenta num alicerce podre. Ele tem que se sustentar em suas bases éticas, com o respeito da sociedade brasileira, o qual o Governo está perdendo. Como é que os petistas honestos, como disse Clóvis Rossi hoje, não percebem isso? Parabéns, Senador Pedro Simon!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

Eu gostaria que V. Exª pudesse fazer chegar ao Presidente da República uma cópia deste pronunciamento, dizendo que a mando do fundo do coração, mas com a alma aberta, rezando e pedindo a Deus que o oriente, para que Sua Excelência faça aquilo que deve fazer e que o Brasil espera. O Presidente terá que ser a grande liderança, porque, se o Lula der errado, vamos perder o direito de ter esperança, não vamos ter nem o direito de ter esperança. Por isso, é importante para toda a Nação que o Lula dê certo e, se Deus quiser, dará certo.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2005 - Página 14984