Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à Marcha Nacional pela Reforma Agrária, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • Apoio à Marcha Nacional pela Reforma Agrária, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2005 - Página 14991
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, EXODO RURAL, HISTORIA, BRASIL, ABANDONO, GOVERNO, POPULAÇÃO CARENTE, CIDADE, AUSENCIA, DISTRIBUIÇÃO, TERRAS, REGISTRO, OPINIÃO, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IMPORTANCIA, CAMPO, PRODUÇÃO, ALIMENTOS.
  • DENUNCIA, SUPERIORIDADE, NUMERO, MORTE, MOTIVO, VIOLENCIA, COMPARAÇÃO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, CRITICA, PARCERIA, GOVERNO FEDERAL, CAPITAL ESTRANGEIRO.
  • DEFESA, REFORMA AGRARIA, ELOGIO, MOBILIZAÇÃO, TRABALHADOR RURAL, SEM-TERRA, MARCHA, AMBITO NACIONAL, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Deus escreve certo por linhas tortas.

Por acaso, passava ali a Senadora Heloísa Helena, símbolo histórico da coragem e da grandeza das mulheres, como as da Bíblia - a mulher de Pilatos, Verônica, as três Marias, aquelas que anunciaram o ressuscitar de Cristo -, e peguei com ela um livro em que lhe fiz uma dedicatória: “À irmã, camarada Senadora Heloísa Helena, pensamentos de minha santa mãe, Jeanete, terceira franciscana. Não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa.”

Antes de morrer, minha mãe escreveu o seguinte: “Que meus filhos possam herdar de mim todo o bem dessa fé que foi a minha luz mais clara e mais querida, dessa esperança que foi a minha força, dessa caridade que me fez ver Deus em toda a natureza, em todas pessoas, em tudo que existe e Dele provém, caridade que é amor, amor que é vida.”

Todos somos herdeiros de Deus, o Pai, o Criador, Senador Ramez Tebet, assim não compreendo este grandioso Brasil. Aprendemos, com a Geografia, que o País tem 8.566.000km², que Deus me permitiu muitas vezes sobrevoar.

O meu Piauí, Senador Magno Malta, é grandioso. Nele, cabe 12 vezes Sergipe. Eu o governei e fico muito feliz de aqui estar. O meu Cirineu, companheiro e vice-governador, foi um sem-terra da Contag, Osmar Araújo, então eu posso ensinar ao núcleo duro, porque fui prefeitinho, fui governador e não houve negócio de passeata e confusão, não, tanto é que voltei para cá, devido a esse povo que é a maioria.

As coisas são simples. De nada valem pensamento e palavra que não são seguidos por ação. Esta é a filosofia: ação.

Entendo que a terra é de quem nela nasce, de quem nela trabalha e produz. E entendo, Senador Tião Viana, o respeito por isso, porque também estudei.

Atentai bem, Presidente Lula, para a forma de se reeleger! Aprendei!

Houve um homem, nos Estados Unidos, que ocupou por quatro vezes a Presidência da República. Quatro! E Vossa Excelência está atropelado a perder a reeleição. Franklin Delano Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos por quatro vezes, reeleito pelo povo.

Como foi, Senador Jefferson Péres, a recessão? Como agiu Franklin Delano Roosevelt no pós-guerra? Atentai bem, pois ele disse: “As cidades poderão ser destruídas; o campo, não. O campo jamais pode ser desamparado e destruído, porque se ele for abandonado, as cidades serão destruídas pela fome.” Zelai pelo campo, olhai, esteja atento, atendei.

Senador Tião Viana, que tem um núcleo, um cérebro arejado, oxigenado, estudioso, leve essa mensagem.

Em 60, Heloísa Helena ainda não havia nascido, mas S. Exª ouviu falar dessa época recente, quando havia muito mais gente no campo do que nas cidades. Eu já estudava na universidade. Não estou fazendo História. Em 60, 70% da população estavam no campo. Agora, 80% estão nas cidades, pelo desprezo, pelos abandonos, porque o Governo demorou a dar terra àqueles que lá estavam, a ajudá-los, apoiá-los.

Há que se inspirar em Franklin Delano Roosevelt.

Os sem-terras vieram. A sua cultura tirou-lhes as condições das profissões urbanas e aí estão os sem-empregos, essa é a verdade. Vivemos, hoje, neste País, o pior momento.

Magno Malta, que é pastor, o Dia de Pentecostes foi no último domingo? O Divino Espírito Santo baixou, com a esperança, nesses irmãos nossos e eles, na paz, vieram mostrar ao Governo da República, a esta ilha da fantasia, essa desigualdade. Essa é a verdade.

O Brasil vive uma barbárie. Vamos dizer hosana, ave, paz? Mas não é isso, não. Neste País, são assassinadas 150 mil pessoas por ano, cinco vezes mais que na Guerra do Iraque.

Esse é um Pentecoste que baixou na cabeça dos homens e mulheres sem terra, para essa paz.

Francisco, como eu sou, andava com a bandeira da paz e do bem.

Era para haver uma guerra civil aqui, atentai bem! E o que se diz hoje? Estuda-se. Acredito em Deus, no amor que está fazendo essa marcha, na família, no estudo e no trabalho. E se estuda política também, núcleo duro!

Norberto Bobbio, bem ali, na Itália de Roma, do Renascimento, da bússola, da globalização, da imprensa, da comunicação, um homem recente, culto como o Professor Cristovam Buarque, recebeu o título de Senador vitalício. Ele morreu recentemente, deixando escrito, brasileiros e brasileiras, que o mínimo que um governo tem que dar ao povo é liberdade e segurança à vida. E, neste País, nós não temos. Somos um País de 150 mortes. A causa não é explicada por um italiano, não, ela é explicada por um poeta do Nordeste, Gonzaguinha, e por uma cantor, o Fagner. Eu não sou bom para cantar; quem canta bem é a Líder do PT - S. Exª não veio hoje, a representante de Santa Catarina - e também o Senador Eduardo Suplicy.

Senador Osmar Dias, o Fagner diz, na letra da música que ele canta, intitulada “Guerreiro Menino”:“Um homem se humilha se castram seu sonho, seu sonho é a sua vida e a vida seu trabalho...se morre, se mata” Ele mata, rouba e morre. É isso que está ocorrendo em nosso País: o sonho do trabalho...

Atentai bem, brasileiras e brasileiros! Por que Rui Barbosa está ali? Cento e oitenta anos de Senado! Quantos Senadores e Senadoras... Por que ele está ali? Só ele? Porque ele disse - e o núcleo duro não aprendeu e não entendeu - que a primazia e o respeito tem que ser dado ao trabalho e ao trabalhador. Ele vem antes; ele vem antes! É ele quem faz as riquezas! E o que o núcleo duro está fazendo...?

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Está dando primazia, ao capital, ao dinheiro, ao FMI, ao BIRD, ao BID e ao Banco Mundial e aos banqueiros? Essa é a verdade.

Então, Senador Magno Malta, filho de D. Dadá, a santa mãe de Magno Malta, em Pentecostes o Espírito Santo baixou na cabeça desses homens que fizeram essa beleza de marcha pacífica. Um dia de glória. Que o Espírito Santo baixe no núcleo duro e possamos sair hoje cantando no Brasil: “Reforma Agrária já!” E se faz. Mas o PT está querendo inventar a roda. É simples. Não tem nada de difícil. Senador Arthur Virgilio, a roda são os prefeitinhos; temos 5.560. É matemática que até o Palocci sabe.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Se cada um resolver 10 casos, serão 50 e tantos mil resolvidos; se cada um resolver 100, serão mais de 500 mil; se cada um resolver mil problemas, serão mais de 5 milhões solucionados. Então, temos que utilizar a estrutura, mas não ficar só de “palavras, palavras...”, como diz Shakespeare. Se Shakespeare fosse escrever sobre Brasil, Brasília, ele diria: “É mentira, é mentira e mentira”. E ao povo do Brasil, a voz de Cristo, hoje, diz: “Em verdade, em verdade eu vos digo, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

Então, essa é a marcha dos bem-aventurados.

Essas são as nossas palavras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2005 - Página 14991