Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comparação da situação atual do Governo Lula com os últimos dias do Governo Getúlio Vargas em 1954.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comparação da situação atual do Governo Lula com os últimos dias do Governo Getúlio Vargas em 1954.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2005 - Página 15045
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, CRESCIMENTO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), ASSESSORIA, CASA CIVIL, MINISTERIO DA SAUDE (MS), GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE RONDONIA (RO), BANCO OFICIAL, CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • PROTESTO, TRATAMENTO, FORÇAS ARMADAS, INFERIORIDADE, SALARIO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ABANDONO, REGIÃO NORDESTE, DIFICULDADE, EXERCICIO, GOVERNO, MOTIVO, TUMULTO, GREVE, MARCHA, SEM-TERRA.
  • REGISTRO, FALTA, INCENTIVO, CLASSE POLITICA, APOIO, GOVERNO FEDERAL, FRUSTRAÇÃO, ELEITOR, PROTESTO, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERDA, AUTORIDADE, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem viveu, como eu vivi, os dias turbulentos de 1954, vê uma semelhança completa com o que estamos vivendo hoje. E o gancho maior que eu tenho para tratar disso me é dado agora pela Folha on line, quando Lula, modestamente, diz que sua gestão é melhor que a de Fernando Henrique e se compara a Getúlio Vargas e a JK. É inacreditável que ele próprio tenha afirmado isso. Daí por que sempre estará em jogo a fala de Afonso Arinos, em 54, no momento mais difícil da vida de Getúlio, pouco antes do seu suicídio.

Há sempre uma dúvida entre a mentira e a verdade. Negar qualquer coisa desse funcionário agora, como o Líder Mercadante leu uma carta aí, é mais coragem do Líder Mercadante do que do funcionário corrupto. É preciso muita coragem para, depois disso tudo, ele ler uma carta como se fosse uma grande figura pátria o Sr. Marinho, o que recebeu R$3 mil, dizendo que iria dividir com o Governo.

Ora, a verdade aparece sempre e, agora, está aparecendo mais ainda, Sr. Presidente. Pergunto eu: será mentira, Presidente Lula, que a corrupção vem crescendo assustadoramente no seio do seu Governo?

Será mentira, Srs. Senadores, o que agora é denunciado nos Correios, uma empresa pública que já teve como sua característica maior a eficiência e hoje tem a roubalheira?

Será mentira o envolvimento, a que todos assistimos, de um alto assessor da Presidência com os barões do jogo?

Será mentira, Sr. Presidente, os casos de vampirismo explícito no Ministério da Saúde?

Será, então, mentira o que se vê agora no Estado de Rondônia?

Ou será mentira, então, o que temos presenciado de gravíssimas acusações, todos os dias, pesando sobre Ministros, dirigentes de bancos estatais, autoridades monetárias e aliados políticos do Governo, que têm a virtude de só escolher o pior? Esta é a grande virtude do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva: escolher sempre o pior, para fazer mal ao País. Os bons, ele procurou afastar logo cedo, e nós temos um exemplo magnífico nesta Casa, na figura deste grande brasileiro que é Cristovam Buarque.

Será mentira o tratamento cruel que ele vem dando às Forças Armadas, desrespeitando os militares com salários baixíssimos, fazendo com que as suas senhoras cheguem às ruas vestidas de preto, num luto pelo seu Governo?

Será mentira ou é uma grande verdade?

É uma grande verdade, que vai crescendo todo dia. Não pense ele que as Forças Armadas vão capitular diante da sua atitude autoritária e, sobretudo, desumana de deixar os nossos militares ganhando menos do que os policiais militares. Ele está enganado. Se ele não dá recursos para as Forças Armadas poderem se mobilizar, ele vai pagar o preço.

Ele devia ter a experiência do sofrimento do povo, porque veio lá de baixo, do nosso Nordeste, onde ainda não fez uma obra sequer que merecesse o respeito dos brasileiros do Nordeste.

Será mentira, Presidente Lula, o que iremos assistir hoje mesmo, circulando por esta Capital, ocupada totalmente pelo MST, pelos aeroportuários em greve e pelas várias categorias que vão entrar em greve também, tornando insustentável, quem sabe, até o seu Governo?

Será mentira que, à Oposição derrotada democraticamente por Vossa Excelência, começam a se juntar mais e mais seus antigos correligionários, aliados e eleitores, desiludidos com o rumo do seu Governo? Ou pior, com a falta de rumo do seu Governo?

Será mentira, Senhor Presidente, que seus bons Ministros (tão poucos, mas existem alguns bons) começam também a se sentir desestimulados por serem obrigados à companhia de alguns outros, ruins, incompetentes e corruptos?

Será mentira, Senhor Presidente, que o senhor já começa a selecionar platéias, ambientes públicos, para não sofrer decepções e até mesmo vaias?

Será mentira, Presidente Lula, que o Governo a todas essas denúncias reage, omitindo-se ou, então, defendendo os acusados?

Será mentira, Presidente Lula, que o seu Governo é hoje um mar de lama, não ainda tão grande quanto foi em 54, mas que começa a se avolumar, criando uma situação difícil para as instituições do País, que temos de zelar, porque a nós interessa uma democracia verdadeira, e não uma democracia de mentira, com números falsos que os seus Líderes aqui vêm falar?

Será mentira que muitos que estão aqui no Governo hoje serviram ao Governo passado com a mesma fidelidade com que agora servem a Vossa Excelência?

Não! A corrupção não é mentira. A corrupção é a verdade que aí está. Por isso recorro outra vez a Afonso Arinos - literalmente Afonso Arinos -, pois é com suas palavras que falo ao Presidente e ao homem, porque Afonso Arinos, também, quando quis falar, naquela época tão difícil, falou ao Presidente e também ao homem Getúlio Vargas. Eu falo ao Presidente e lhe digo: Presidente, lembre-se Vossa Excelência das incumbências e das responsabilidades do seu mandato, que Vossa Excelência não tem honrado. Lembre-se dos interesses nacionais, que pesam não sobre a Nação somente, mas sobre toda a sua reputação. A sua reputação hoje, Presidente, acredite, não é a mesma; ao contrário, só mesmo por muito boa vontade dizem: ah! mas Lula é honesto!

Não está provando honestidade no Governo, porque está deixando roubar. Não está provando sobriedade no Governo, porque só vive a passear. Não está provando seriedade nem sobriedade, porque não lhe são características próprias; são características que estavam emprestadas para que enganasse, como enganou, nas eleições, o povo brasileiro.

Eu lhe digo, Presidente: houve um momento em que Vossa Excelência encarnou de fato as esperanças do povo; houve um momento em que Vossa Excelência, de fato, se irmanou com as aspirações populares. Mas digo a Vossa Excelência: preze o Brasil, que repousa na sua autoridade; preze a sua autoridade, sob a qual repousa o Brasil. E Vossa Excelência já sabe que está perdendo toda a sua autoridade!

Falo agora ao homem e digo: lembre-se da glória da terra e dos ímpetos do povo brasileiro que tanto sofre, que, amargurado, está sofrendo a fome e o abandono.

E digo ao homem que tem pai e filhos: lembre-se também da sua família, das nossas famílias, que são vítimas agora e serão ainda mais no futuro, por causa do seu governo incompetente.

Principalmente, lembre-se, homem, de que é preciso dar esperança aos homens e mulheres da nossa Pátria. Lembre-se, homem, de que Vossa Excelência tem uma função que deve ser dignificada, e não queira fazer como está fazendo agora, loteando este País com Partidos políticos e sempre escolhendo, nos aliados ou nos seus próprios correligionários, os piores. É um Partido que tem derrotados no Governo que não são capazes de realizar nada pelo povo do nosso País.

Vivemos momentos difíceis, e estes momentos difíceis, Sr. Presidente, V. Exª, com sua autoridade, vai ter muito que ajudar o Brasil. V. Exª, que foi eleito tão brilhantemente, vai ter que prestigiar seus colegas do Congresso Nacional. Confiamos em V. Exª. Sabemos das qualidades de V. Exª. Mas fique certo de que, mais cedo ou mais tarde, eles lhe vão imputar alguma coisa, para que fique V. Exª como se fosse um deles. Mas V. Exª, eu tenho certeza, saberá honrar esta Casa, saberá honrar o País e saberá ser digno de sua terra. V. Exª ainda tem muito a percorrer, não só no País, mas também nas suas Alagoas. Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2005 - Página 15045