Discurso durante a 64ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à atuação do Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio Fonteles, defendendo a sua permanência para mais uma gestão.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Elogios à atuação do Procurador-Geral da República, Dr. Cláudio Fonteles, defendendo a sua permanência para mais uma gestão.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Cristovam Buarque, Delcídio do Amaral, Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/05/2005 - Página 15847
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, CONGRATULAÇÕES, PRONUNCIAMENTO, SENADO.
  • HOMENAGEM, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, ELOGIO, EFICACIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, PAIS, DEFESA, PERMANENCIA, ATUAÇÃO, CARGO PUBLICO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é normal - e que bom que seja assim! - que, depois da sessão de ontem, tenhamos uma sessão de paz, de concórdia, de reflexão, onde de certa forma nos perguntamos: Mas eu estava lá mesmo? Por que não fiz alguma coisa para que aquilo não acontecesse?

A política é assim. Num determinado momento, pode ser o grupo social mais importante, o mais capaz, o mais competente, se perde o controle, ninguém mantém o equilíbrio.

Hoje estamos aqui. Ouvimos o excepcional pronunciamento do Senador Cristovam, uma das pessoas que merece respeito e admiração e que se tem mantido em uma posição impecável. É PT, mas todos sabem que a sua linha de ação e o seu pensamento não é isso que está aí. Vem o Cristovam dizer, embora brincando, que foi o único Ministro demitido por telefone. O Presidente estava no exterior e lhe telefonou comunicando que ele não era mais Ministro. Mesmo assim, ele mantém a serenidade, mantém o equilíbrio e a vontade de ajudar o seu Governo.

Acho que quando ele se dirige ao Presidente e chama a atenção do Presidente para aquilo que foi a bandeira de campanha do Presidente; quando ele chama a atenção do Presidente para a hora que estamos vivendo e para uma saída da crise que estamos vivendo; quando chama a atenção do Presidente para o fato de que as promessas de campanha merecem uma palavra do Governo, seja para cumpri-las, seja para argumentar porque não podem ser cumpridas...Leia, Presidente, leia o discurso do Senador Cristovam.

O mal, às vezes, dos Presidentes é que eles se cercam dos que estão em roda. Às vezes, eles não se cercam dos que estão em roda, mas alguns integrantes do Partido rodeiam o Presidente, e ele não tem como sair do meio deles.

Eu tenho visto, ao longo da minha vida, que, nessas horas, as pessoas que deveriam dar um passo, avançar, ir ao encontro do Governo para orientá-lo, aconselhá-lo, debater com ele, esclarecê-lo, dar-lhe a sua opinião, esses ficam tímidos, discretos na sua posição, enquanto os outros, os ousados, os que nomeiam o certo e o errado, os que aconselham, que dão palpite, que estão nas páginas dos jornais, esses entram pelo gabinete adentro e enchem os ouvidos do Presidente. Muitas vezes, não sobra para o Governo a serenidade e a tranqüilidade para ver onde está a verdade.

Eu tenho, de política, a idade do Lula. E sou teimoso. Eu venho a esta tribuna, mais uma vez, para dizer ao Presidente Lula que a pessoa mais importante na vida política deste País hoje é o Procurador-Geral da República. Não é ninguém mais. Não é o Ministro da Fazenda. Não é o Presidente do Banco Central, processado no Supremo Tribunal Federal. Não é o seu Chefe da Casa Civil, que ainda não disse a que veio. A pessoa, neste Governo, que tem nota dez, que cumpriu integralmente a sua missão, o melhor amigo do Presidente, o que foi mais leal ao Presidente e a este País se chama Dr. Fonteles. É verdade que alguns poderão perguntar: “O senhor pensa que foi leal ao Presidente? Ele denunciou o Ministro da Previdência, que está sendo processado!”

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe concederei um aparte.

“Ele denunciou o Presidente do Banco Central, que está sendo processado. Ele denunciou o ex-Presidente do PMDB, o Deputado Federal pelo Pará, que está sendo processado!”

Sim, na verdade este é um Procurador que, ao contrário daquele do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que ficou oito anos, com quatro reconduções, não é engaveteiro.

Fizemos CPIs extraordinárias! Apontamos, neste Congresso, escândalos monumentais! E o Sr. Brindeiro os guardou na gaveta. A fama de pizza que tem o Senado Federal, ele não a merece, porque as nossas CPIs concluíram os trabalhos, mas o Procurador os guardou na gaveta. Este, não. Este mandou arquivar porque não tinha nada contra, quando o PFL e o PSDB entraram com um processo-crime contra o Presidente Lula, pelo pronunciamento que ele fez, no qual teria dito que um membro do alto escalão do Governo ter-lhe-ia afirmado que nas privatizações havia grande corrupção, e o Presidente lhe teria perguntado se havia dito para mais alguém. O indivíduo teria respondido que não, mas o Presidente o teria advertido: “Não fale para mais ninguém!” E o PFL considerou que isso era crime, porque o Presidente tinha sido chamado à atenção sobre uma denúncia, um escândalo, e tinha mandado arquivar. O Presidente não cometeu o crime e o Procurador-Geral da República teve a capacidade de anotar que o Presidente da República ali não quis dizer que queria arquivar, não quis dizer que ia arquivar, que não queria buscar a denúncia; quis apenas dar a entender que aquela não era a hora. Tinha ali na hora o Procurador-Geral da República um argumento para fazer uma crise monumental, denunciar o Presidente da República porque, na verdade, ele falou na televisão e todo mundo assistiu. E poderia abrir um inquérito, iria abrir um processo de responsabilidade que estaríamos debatendo até agora. Mas o Procurador teve grandeza. Ele viu que ali o sentimento do Lula não era aquele, o pensamento do Presidente não era arquivar, e arquivou: “Arquive-se. Não tem nada que se possa levar adiante.”

Esse Procurador, digamos cá entre nós, meu bravo Líder, imagine se não fosse esse Procurador, imagine se fosse o Geraldo Brindeiro que tivesse arquivando, o que estaria acontecendo neste Governo? Lula tem que agradecer a esse Procurador pelo fato de ele estar denunciando, e denunciando, não acontecem escândalos a mais neste País, porque os Ministros, porque os chefes das autarquias de sociedades de economia mista sabem: “Vou me comportar direito, porque, se alguma coisa acontecer, com esse Procurador, sou processado”.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Pedro Simon, eu estava inscrito para falar, e o tempo não vai me permitir. Eu vou fazer um aparte a V. Exª e solicitar que a Mesa considere o meu discurso como lido. O meu pronunciamento de hoje era exatamente na linha do que fala V. Exª, no sentido de que o Dr. Cláudio Fonteles reconsidere uma decisão já anunciada, inclusive diante de apelo feito por V. Exª para que ele pudesse continuar na Procuradoria-Geral da República. Eu não tenho a menor dúvida de que um dos grandes acertos que nós, Constituintes de 1986 e de 1988, fizemos foi conceder a autonomia, a independência funcional, ao Ministério Público. O Ministério Público já escolheu os seus nomes. Já elegeu os nomes em lista tríplice. O Presidente não é obrigado a seguir a lista tríplice do Ministério Público. S. Exª pode encaminhar ao Senado qualquer nome. Existem boatos que circulam nos corredores desta Casa - não são informações oficiais, e por isso, não dá para dizer que ouvi isso de alguém, desta ou daquela autoridade, ou seja, existem situações extremamente preocupantes. Existem situações, falando em português claro, que dizem que há influências de advogados, amigos do Chefe da Casa Civil, que querem indicar o futuro Procurador-Geral da República. Se o Dr. Cláudio Fonteles disser “sim” ao Brasil, essa situação não poderá se perpetrar. Essa indicação não pode ser do José Dirceu. Com muita sinceridade, um dos grandes males do Lula é que Sua Excelência não exerce a autoridade. Sua Excelência está na Presidência da República e não exercita a sua autoridade de Presidente da República. Sua Excelência chega a causar dúvida se é o José Dirceu que é ad nutum ou se é o Presidente da República que pode ser demitido pelo José Dirceu. Os Poderes da República dependem todos do José Dirceu. Os comentários são que o advogado, considerado como o primeiro amigo, como o maior amigo do Ministro José Dirceu, é que pode indicar o futuro Procurador-Geral da República. Ele vai ter de ser sabatinado aqui, vai ter de passar aqui.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E pode cair aqui.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - E pode cair aqui. Quero engrossar o coro com V. Exª, no sentido de que o Procurador Cláudio Fonteles, por amor ao Brasil e ao Ministério Público, possa repensar a sua posição. Repensando a possibilidade do “fico”, não tenho dúvida nenhuma de que o Senado da República respaldaria esse “fico”. Preocupa-me que essas ligações existam. Aí, não é o caso de colocar a raposa para tomar conta do galinheiro, mas colocar o amigo da raposa para tomar conta do galinheiro. E uma das maiores conquistas da sociedade brasileira é o funcionamento do Ministério Público, que é criticado infinitamente mais por suas virtudes que por alguns excessos que possa cometer. Então, solicito à Senadora Heloísa Helena que registre o pronunciamento que eu faria nesta tarde nos Anais do Senado da República. Agradeço o aparte a V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Volto a repetir, nobre Senador, que o Procurador da República insiste em dizer que não aceita. Companheiro Mão Santa, quando ele esteve nesta Casa depondo para nós, na hora em que foi escolhido por unanimidade, ele disse: “Eu fico por dois anos, só por dois anos, porque acho que o cargo deve ser renovado”. E durante os dois anos, ele sempre repetiu que ficaria no cargo por dois anos. Até ontem, quando esteve no Senado, ele repetiu: “Fico até o dia 30 de junho”.

O nosso Procurador da República é um homem fora da média. Eu poderia dizer que ele é um franciscano, mas franciscano, católico, cristão ou seja qual for a religião, há homens bons e ruins. Isso não significa nada. Ele é uma pessoa excepcionalmente acima da média. É um homem que se decida ao bem comum 24 horas por dia. Na sexta-feira à tarde, no sábado e no domingo, ele faz obras de assistência social e dá aulas na Comunidade de São Francisco. Ele anda, permanentemente, com gente humilde, com gente simples. Ele não passa o tempo lendo livros nem conversando com colegas nem coisa alguma. O tempo que seria destinado ao seu lazer ele dedica, de corpo e alma, às pessoas que precisam.

Eu não sei, mas, apesar da enfática fórmula como ele diz “eu não fico, nada me fará ficar”, creio que, se o Lula o chamar e se o Presidente da República disser: “Olha, meu amigo, você, Fonteles, é a única unanimidade deste meu Governo. Eu preciso de ti; o Brasil precisa de ti. Eu preciso de ti porque você é a pessoa que tem a imparcialidade de ver todos os atos do meu Governo; preciso de ti porque quero ter mais dois anos, e quero ser candidato à reeleição, e preciso de alguém que me oriente no sentido do que está errado, alguém que não precise nem falar comigo como você não tem falado. Você fala comigo na hora em que você está despachando processo, manda arquivar aquilo que não tem nada contra mim ou manda abrir o processo naquilo que acha que está errado”. Se o Lula fizer isso, se fizer esse apelo, tenho a convicção de que o Fonteles aceita.

O que me machuca, o que não consigo entender é o fato de o Lula não ter feito uma cena até agora, de o Governo não ter tomado uma providência até agora, não ter feito uma insinuação até agora de que gostaria que o Procurador ficasse. Pelo contrário, disse o nobre Senador, ele fez um trabalho normal. Já tem as três indicações, os nomes já estão indicados.

Mas não tenho dúvida alguma! Alguém poderá responder: “Mas já reunimos a classe!” A classe já escolheu os cinco nomes, e, desses cinco, três serão enviados ao Presidente para que escolha quem quiser.

Mas tenho certeza absoluta de que se o Presidente da República disser à classe: “Olha, estou com vontade de pedir ao Procurador atual que fique!” Os três primeiros são os primeiros a aceitar.

Pelo amor de Deus, que continue! Pelo amor de Deus, que fique! Porque a classe toda deseja que o Fontelles fique.

Se o Presidente Lula chamar o Procurador Fontelles e lhe fizer um apelo para que fique e ele não ficar, é outra questão. Isso soma para o Presidente Lula. O Presidente Lula mostrará à Nação que fez o que deveria fazer. Foi ao Procurador, fez um apelo a ele, dizendo: “Preciso que você fique.”

Creio que se fizer isso o Procurador fica. Se não ficar, o que não acredito, é problema dele. Mas o Lula teve um gesto excepcional de grandeza. Soma ao Presidente Lula o fato de pedir que a pessoa mais competente, mais responsável, de maior credibilidade no seu Governo fique. Mostra que tem grandeza o Presidente Lula, porque, se o Procurador denunciou o Ministro da Previdência, é porque tinha razões. E o Tribunal vai julgar. E, se denunciou o Presidente do Banco Central, é porque tinha razões. E o Tribunal é que vai julgar.

É difícil encontrar, num País como o Brasil, onde só vai para a cadeia ladrão de galinha, num País onde a corrupção anda por todos os lados, num País onde o próprio Presidente do Supremo Tribunal diz que a Justiça não funciona como devia, um procurador como ele. Numa hora como esta, depois de oito anos de Brindeiro, de gaveteiro, aparecer um procurador que é o máximo que se poderia imaginar na honra, na dignidade, na santidade, na honradez, na capacidade de fazer, na imparcialidade de fazer, e não aproveitarmos, e nos darmos ao luxo de deixar um homem desses ir para a casa, não nos esforçarmos e dizermos que esse homem tem que ficar! Eu não quero participar desse absurdo. Eu lutarei até o dia 30 para que o Presidente Lula faça o apelo para o Procurador ficar.

O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PT - DF) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

Iniciei o meu discurso felicitando-o pelo excepcional pronunciamento que fez e que me emocionou.

O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PT - DF) - Muito obrigado. Mas, aqui fora, senti-me muito honrado, assistindo pela televisão. Quero dizer, Senador Pedro Simon, que V. Exª está dando aqui hoje uma contribuição ao Presidente Lula que poucos talvez percebam. V. Exª está dando uma contribuição ao Presidente Lula, está inclusive fazendo um gesto que, neste momento, teria uma importância muito grande, quando tantas suspeitas estão existindo em relação a pessoas, eu não digo ao Governo, a pessoas do Governo dele. Ele estaria demonstrando que quer dentro do Estado uma figura com o prestígio do Procurador-Geral. Penso que a saída do Procurador neste momento, mesmo por sua própria vontade, vai ter uma repercussão negativa na procura de construir uma imagem de decência e de seriedade no Brasil. Penso que deveríamos secundar sua posição e fazer apelo, não somente V. Exª, mas muitos de nós, para que o nosso Procurador-Geral demonstre a sua disposição de ficar no cargo se for convidado, porque o Brasil, neste momento, precisa muito dele. Quando ele decidiu não ficar foi um desprendimento. Agora o desprendimento seria ficar no cargo porque o Brasil precisa dele. Deus queira que o Presidente Lula receba a fala de V. Exª como uma grande contribuição.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Já lhe darei um aparte.

Digo algo que me parece importante dizer agora. Quando o Procurador foi sabatinado e disse que ficaria somente dois anos, comprometeu-se a sair passados os dois anos, é porque naquela época o Brasil pensava que estávamos no melhor dos mundos com Lula. O Lula tinha entrado, estava iniciando o Governo, todas as palavras eram de otimismo. Então, foi um gesto de grandeza dele, porque o Governo era ótimo, era um governo da decência, da dignidade, da honra. Todos esperavam que seria um grande governo. Foi nesse sentido que, naquele momento, ele disse que ficaria dois anos e sairia.

            Mas agora é diferente. Agora, o nosso Procurador, que é um cristão, um afeto, um homem que busca o amor, está vendo que a hora é diferente, que é difícil. O Senador Cristovam disse muito bem que a saída dele é altamente negativa no sentido, digamos, de que, no embate entre as forças do bem e do mal, as primeiras perderão bastante.

Concedo um aparte ao querido Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, começou V. Exª analisando o tumulto de ontem. Senadora Heloísa Helena, quis Deus que V. Exª estivesse na Presidência, representando a mulher. Nossa Senhora no céu e V. Exª nessa cadeira. Digo-lhes que o que falta é Deus. O Presidente Lula tem que ler a Bíblia. Ele não gosta de ler, já declarou. A Senadora Lúcia Vânia pediu a ele que lesse um discurso do Professor Cristovam Buarque. Não vai lê-lo, já declarou que não gosta, que não lê. Peço ao Divino Espírito Santo - já que estamos na semana de Pentecostes - que baixe no Presidente Lula e o indique aquele provérbio. Nunca vi um provérbio errado. Cito o número 15 para o tumulto de ontem. Diz assim: “A palavra branda afasta a ira; a palavra dura incita o furor”. Indicaria ao Presidente Lula o Provérbio de número 22. O número 22 - e o Senador Pedro Simon sabe - diz assim: a imagem, o que se é, vale muito mais do que riquezas, do que ouro e prata. Tenho a certeza de que não querem o que presta, pois ninguém melhor do que eu devia ser ouvido porque ajudei o Lula a ser eleito. O Governador do Piauí é do PT. E eu disse para o Mercadante: você quer trair o PMDB? O PMDB tem história, tem dignidade, tem vergonha. Leve um homem de vergonha, Pedro Simon, e nós estaremos lá. E olhe o que ele levou, olhe o que ele levou do PMDB para lá.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Obrigado.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, eu quero transmitir a V. Exª que a sua palavra, para mim, é sempre como se fosse de um irmão, e irmão meu e do Presidente Lula. V. Exª fala como um amigo sincero do Presidente Lula e V. Exª também é um amigo sincero do meu Partido. Desde o primeiro dia em que estive aqui convivendo com V. Exª, a partir de 1991, no cotidiano, assim tenho percebido. Então, essas suas observações, sobretudo o que representa a vontade do Presidente da República de preservar a ética na vida política, na administração pública, é algo que precisa ser objeto de reflexão. É importante que o Presidente e os seus Ministros todos o ouçam com atenção. Mas eu queria pedir uma licença a V. Exª, que hoje me ouviu fazer uma homenagem e um requerimento, saudando Lygia Fagundes Telles por ter recebido o Prêmio Camões. Acabo de receber um depoimento pessoal de Lygia Fagundes Telles e peço a sua licença para o texto que seja transcrito. Lygia Fagundes Telles escreveu “A Criação Literária - No princípio era o medo”. Trata-se de um depoimento pessoal sobre sua vida de escritora e sobre por que ela escreve as coisas, feito para sua amiga Ana Miranda, outra brilhante escritora. Ana Miranda, sabendo que eu faria esta homenagem, resolveu enviar-me este texto, feito para ela em uma dessas máquinas de datilografia. O texto compõe-se de quatro páginas, mas não vou ocupar muito tempo. Com a permissão de V. Exª e da Srª Presidente Senadora Heloísa Helena lerei apenas os parágrafos finais:

(...) Quando andei pela África, um dos homens da Unesco me disse: “Cada vez que morre um velho africano é assim como uma biblioteca que se incendeia.” Será que antes de chegarmos à solução final do nosso problema indígena teremos tempo de captar um pouco da sua arte e da sua vida, nas quais o sagrado e a beleza se confundem para alimentar nossa cultura e nosso remorso?

E resistimos, testemunhas e participantes deste tempo e desta sociedade com o que tem de bom. E de ruim. E tem ruim à beça, assunto e inspiração para os escritores é o que não falta. Falei agora numa palavra que saiu de moda e, no entanto, é insubstituível na terminologia da criação, inspiração. Algumas das minhas ficções se inspiraram na simples imagem de algo que vi e retive na memória, um objeto, uma casa, uma pessoa... Outros contos (ou romances) nasceram de uma simples frase que ouvi ou eu mesma disse e lá ficou registrada na minha natureza mais profunda. Um dia, sem razão aparente, essa memória (memória ou tenha isso o nome que tiver) me devolve a frase. Há ainda as ficções que nasceram no nevoeiro (ou claridade) de um sonho, fluxo de símbolos nas cavernas do inconsciente que de repente escancara as portas, saiam todos! A evasão. Há que selecionar. Interpretar e eis aí um trabalho que exige lucidez. Paciência. E paixão. Devo ainda acrescentar que a maior parte dos meus textos (os textos da invenção e memória) tem origens desconhecidas, que não sei explicar porque é inexplicável.

Em tantos depoimentos já tentei aproximar o leitor (que considero meu cúmplice) desse mistério, sim, tantas vezes me esforcei por esclarecer alguns pontos mais obscuros e confesso que acabei fazendo ficção em cima da ficção, ah, o inatingível mistério com seu grão de imprevisto e de loucura. Sei que a ficção vira realidade e a realidade vira ficção. Se inventei este depoimento essa invenção agora é verdade.

            Senador Pedro Simon, sugiro possa V. Exª requerer a transcrição, na íntegra, desse precioso depoimento.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Peço a referida transcrição a V. Exª, Srª Presidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Obrigado, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Vejo o Senador Delcídio Amaral, que é o Líder do PT. S. Exª é um Líder que, pelo que sentimos, dialoga. A mim pelo menos sempre cumprimentou, e eu sempre cumprimentei S. Exª também.

Meu amigo Delcídio Amaral, ouça a sua Bancada que está reunida, a angústia da discussão de quem quer ter o entendimento, de quem quer discutir. Leve essa Bancada ao Lula e os faça debater e discutir para que pessoas como o professor Cristovam Buarque e como o bravo Senador de São Paulo Eduardo Suplicy possam dizer o que pensam, para que não pense o Chefe da Casa Civil e outros que são os donos da verdade.

Acredito que V. Exª, Senador Delcídio Amaral, pode fazer um grande trabalho. V. Exª já faz algo que considero muito importante: é o Líder da Bancada, mas sinto que com V. Exª a Bancada anda em um conjunto; todos falam e não é somente V. Exª que brilha. Isso é importante. O grande líder não é o que tem dez quando o resto tem um; o grande líder pode sê-lo onde todos têm três, inclusive ele, mas a Bancada toda sobe com ele.

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Senador Pedro Simon, primeiro quero registrar que esse é mais um pronunciamento competente de um grande brasileiro, gaúcho com muita honra, mas acima de tudo um grande brasileiro, um homem que tem uma vida ilibada, de grandes serviços prestados ao País, um nome que honra, acima de tudo, o Senado Federal e o Congresso Nacional, ativo, ágil, competente, atento a tudo o que acontece aqui no Senado. V. Exª é polêmico muitas vezes, Senador, mas os grandes líderes são polêmicos também. V. Exª enriquece o debate e honra a todos os seus companheiros de Senado, independentemente dos partidos. V. Exª é, efetivamente, uma grande referência para todos nós, tanto para aqueles que estão aqui no Senado e no Congresso há muito tempo quanto para aqueles que chegaram agora, como eu. Senador Pedro Simon, quero destacar as observações feitas por V. Exª de forma aberta, clara, transparente, muitas vezes com emoção, o que engrandece ainda mais suas palavras, que, acima de tudo, são de alguém que honra o Congresso, que está principalmente preocupado com os assuntos do Brasil, com a nossa democracia, com a legitimidade do Senado Federal e do Congresso Nacional. Tenha absoluta certeza, meu caro Senador Pedro Simon, de que faremos um esforço conjunto, em um dia importante para todos nós do PT, para a nossa Bancada...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Neste momento somos presididos pela querida Senadora Heloísa Helena, com a presença dos Senadores Mão Santa e Eduardo Suplicy. Este é um dia importante para nós. Todos sabem as dificuldades e os problemas que temos enfrentado. Não é fácil, Senador! V. Exª sabe disso, com toda a experiência que teve como Governador, Ministro e Parlamentar, com toda essa linda história que V. Exª tem e terá. Estamos procurando trabalhar, Senador Pedro Simon, em equipe, ouvindo as pessoas, as nossas lideranças. Temos um Senador com o padrão, com o perfil do Senador Cristovam Buarque, um Senador com o perfil do Senador Eduardo Suplicy, e todos os Senadores e Senadoras da nossa Bancada. O que é importante registrar, meu caro Senador, é a forma como temos trabalhado, mesmo diante dos obstáculos e desse quadro político que enfrentamos, com sinceridade, com amor no coração, com respeito a cada um e à história de cada um, e de uma maneira democrática, de uma maneira equilibrada, com bom senso, com serenidade e humildade. Construiremos essa harmonia, a despeito das divergências políticas, partidárias, do dia-a-dia de todos nós Senadores. Construiremos efetivamente um projeto de País, sabendo entender as nossas divergências e procurando tirar de cada um aquilo que pode fazer de bom para o seu Estado e para o Brasil. Então, tenho a honra e um orgulho muito grande, Senador Pedro Simon, de, além de acompanhá-lo, ouvir essas palavras de V. Exª. Ao mesmo tempo, tenho uma honra muito grande de, em um momento difícil, conviver, discutir, avaliar, ouvir e acima de tudo usufruir dessa Bancada séria, decente e importante que é a Bancada do PT aqui no Senado Federal, que não nos tem faltado, que tem sido correta, séria e que nos tem ajudado muito nesse trabalho e nesses desafios diários que temos enfrentado. Precisamos com o Poder Executivo, com os Ministros. Temos de ser mais envolvidos naqueles temas e projetos que são debatidos nesta Casa, cada Senador não somente do PT, como dos partidos da base, do PMDB de V. Exª, que V. Exª mais do que nunca representa. Se o PMDB tem um rosto hoje, é o do Senador Pedro Simon, como foi o do Ulysses. Precisamos levar as nossas experiências na educação, na infra-estrutura, nas ciências, nas ações sociais para o Governo. Precisamos fazer essa aproximação para aperfeiçoar. Assim como disse V. Exª, precisamos trazer essas experiências todas. Ninguém é uno nas suas decisões. As boas decisões, as que funcionam no dia-a-dia das pessoas e melhoram o dia-a-dia da nossa gente, vêm das discussões abertas, francas, que, em função disso, levam a projetos transparentes, claros, que causam impacto. Por isso, meu caro Senador Pedro Simon, desculpe-me este aparte talvez emocionado neste final de sessão, numa semana difícil. É um aparte de coração, de alguém que o admira e que tem V. Exª como referência para, com democracia e humildade, conduzir a nossa Bancada. Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Está aí um grande Líder que honra a Bancada do PT e outras nesta Casa. Está aí um pronunciamento que deve ser ouvido pelo Lula, se não quiser ouvir nem o pronunciamento do companheiro Cristovam nem o meu. Tenho certeza de que, se o nobre Líder Delcídio Amaral tiver o seu pronunciamento lido pelo Lula, Sua Excelência vai entender.

Que a imprensa, que o noticiário e que as manchetes da noite de ontem possam hoje se refletir na tranqüilidade deste final de sessão, com o discurso do Cristovam, com o pronunciamento profundo do Líder Delcídio Amaral, com o pronunciamento da nossa querida Heloísa, do Mão Santa, da Senadora Vânia e do ilustre Senador por São Paulo, nosso bravo e querido amigo de sempre.

Encerro dizendo isto: “depois da tempestade, vem a bonança”. Se a imprensa registrou o tumulto da sessão de ontem, possa ela ver que as mesmas pessoas, no mesmo local, podem serenar e podem ter grandeza e compreensão.

Deus foi muito amigo meu, ao me fazer ver o encerramento desta sessão, com o Cristovam ali, com o Delcídio lá, com o Mão Santa à Mesa e com a Heloísa Helena na presidência. A Heloísa Helena podia ser a Presidente do Congresso Nacional, eleita por todos, se a caminhada que imaginávamos estivesse em seu meio.

Minha querida amiga Heloísa Helena, digo a V. Exª que tenho paixão por Alagoas por causa de Teotônio Vilela. Não há ninguém parecido com ele na história deste País. Conheci Ulysses, Tancredo, Mário Covas, tantas e tantas pessoas, mas Teotônio era fora de série.

Teotônio percorreu o Brasil com seus quatro cânceres, embora seus médicos sempre dissessem para descansar na França, em Paris, onde havia métodos que podiam prolongar a sua vida sem dor. Ele andou pelo Brasil, buscando a liberdade que encontramos.

Você, minha amiga Heloísa, lembra-me muito Teotônio, pela sua garra, pelas idéias verdadeiras que defende e pela pureza das suas intenções.

Encerro, endereçando as minhas palavras ao meu irmão franciscano, o Procurador-Geral da República. Leiam São Francisco! Nas vésperas de sua morte, São Francisco chamou os irmãos franciscanos e disse: “Não fizemos nada? Temos muito por fazer. Vamos começar”.

Creio que o meu amigo Procurador não pode se dar ao luxo de dizer que já fez tudo e ir para casa. Há muito por fazer.

Meu bravo Procurador, vamos adiante, vamos continuar!

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“A Criação Literária - no princípio era o medo”, de Lygia Fagundes Telles.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/05/2005 - Página 15847