Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o desmatamento da Amazônia, principalmente o ocorrido em Mato Grosso. Possibilidade de instalação, em Mato Grosso, da fábrica de uréia e amônia da Petrobrás.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GOVERNO ESTADUAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Preocupação com o desmatamento da Amazônia, principalmente o ocorrido em Mato Grosso. Possibilidade de instalação, em Mato Grosso, da fábrica de uréia e amônia da Petrobrás.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2005 - Página 15913
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GOVERNO ESTADUAL. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), LEVANTAMENTO DE DADOS, GOVERNO FEDERAL, ESTIMATIVA, EXTENSÃO, DESMATAMENTO, FLORESTA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, SUPERIORIDADE, PREVISÃO, INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE), REDUÇÃO, TAXAS, ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DO AMAZONAS (AM), ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DO MARANHÃO (MA), ESTADO DO TOCANTINS (TO), AUMENTO, AGRAVAÇÃO, PROBLEMA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DE RONDONIA (RO).
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, PROBLEMA, DESMATAMENTO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), CRITICA, ATUAÇÃO, BLAIRO MAGGI, GOVERNADOR, INCENTIVO, DERRUBADA, FLORESTA, AMPLIAÇÃO, FATURAMENTO, LAVOURA, SOJA.
  • EXPECTATIVA, POSSIBILIDADE, INSTALAÇÃO, FABRICA, AMONIA, UREIA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), IMPORTANCIA, UTILIZAÇÃO, INDUSTRIA, FERTILIZANTE, REDUÇÃO, IMPORTAÇÃO, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO, REGIÃO CENTRO OESTE.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, hoje é manchete de vários jornais escritos, televisivos e de rádios o escândalo do desmatamento em Mato Grosso.

Embora eu vá apresentar alguns dados cuja fonte principal é o jornal O Globo, lembro que os mesmos se encontram também em outros jornais.

Nós, em Mato Grosso, ao mesmo tempo em que comemoramos a ida da fábrica de uréia e amônia da Petrobras, pela qual brigamos, para o nosso Estado, não podemos deixar de nos assustar, de nos espantar e de nos horrorizar verdadeiramente com a apuração da taxa de desmatamento na Amazônia, divulgada ontem, e anunciada hoje por toda a imprensa brasileira, pela Ministra Marina Silva, pelo Ministro Ciro Gomes e pelo Ministro Eduardo Campos.

É um verdadeiro horror o que o Governador Blairo Maggi está fazendo com as florestas de Mato Grosso. Os números mostram que está se desenvolvendo no Estado uma política de terra arrasada.

No período de agosto de 2003 a agosto de 2004 - atentem, V. Exªs, um ano -, a estimativa é de que foram desmatados, nesses 12 meses, 26.140km2, o que representa um aumento de 6% em relação ao verificado entre os anos de 2002 e 2003.

O Governo tinha a expectativa de que houvesse um aumento de apenas 2% da taxa de desmatamento no período, de acordo com previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. Mas se cinco dos sete Estados da Amazônia reduziram a taxa do desmatamento, em Mato Grosso e Rondônia registraram-se alta de 20% e 23% respectivamente.

Isso não acontece à toa. Srªs e Srs. Senadores. Seríamos muito ingênuos para acreditar que tudo não seja criteriosamente planejado pelos inimigos da floresta. E os inimigos da floresta, em Mato Grosso, têm nome, sobrenome, CPF e endereço conhecido.

Vejam que houve queda na taxa de desmatamento nos Estados do Pará (2%), do Amazonas (39%), do Acre (18%), do Maranhão (26%) e de Tocantins (44%). Em Mato Grosso e Rondônia, todavia, há esse retrocesso, esse escândalo ambiental apontado pelos números.

O desmatamento de 26.140 km2 na Amazônia brasileira, em um ano, é o segundo maior da história, perdendo apenas para 1995, quando foi registrado o recorde de 29.050 km2.

Ao invés de melhorarmos em nossas estatísticas, ao invés de nos credenciarmos aos olhos do mundo, estamos sendo expostos de maneira vil por aqueles que só pensam na floresta como fonte de riqueza fácil, de faturamento a qualquer preço.

Segundo avaliação feita pelo Greenpeace, o desmatamento praticado na Amazônia nesse período é equivalente a mais de 8,6 mil campos de futebol em um único dia e é um duro golpe no programa de desenvolvimento sustentável da Amazônia.

O Greenpeace diz, ainda, que quase a metade do total desmatado na Amazônia Legal ocorreu em Mato Grosso, governado pelo maior exportador individual de soja do mundo, o Sr. Blairo Maggi.

Sim; enquanto as árvores caiam na floresta, o grupo Maggi comemorava aumentos de 28% no faturamento (US$532 milhões, em 2003, contra US$415 milhões, em 2002) e de 21% na área plantada (170 mil hectares, em 2003, contra 140 mil, em 2002).

Por isso, afirmo que esses índices tão escandalosos não acontecem à toa.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - V. Exª me permite um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Ontem, estivemos no seu Estado - inclusive, justificamos a sua ausência por motivo de compromissos inadiáveis - e pudemos recolher subsídios importantes para um diagnóstico que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Terra terá que apresentar ao final dos seus trabalhos. Estivemos na região do Alto Araguaia, entre o Xingu e o Araguaia, no Município de Confresa, ouvindo depoimentos importantes tratando da questão a que faz referência V. Exª, essa depredação do meio ambiente, essa devastação irresponsável que se faz em determinadas áreas neste País e também dando conta do abuso que se pratica contra pessoas humildes que desejam trabalhar. Conhecemos de perto a realidade do seu Estado, as nuanças de cada região, em função das suas peculiaridades, e os contrastes gritantes entre uma região e outra. Estamos conseguindo uma fotografia da realidade agrária do País. No seu Estado, por exemplo, o Poder Publico arrecadou 6 milhões de hectares, mais de 3 milhões de hectares não foram aproveitados para assentamentos. E, daquilo que se aproveitou - de acordo com a denúncia do Superintendente do Incra de Mato Grosso -, o Governo estadual, com a aprovação da Assembléia, estaria vendendo como áreas devolutas, como áreas públicas, pertencentes ao Estado, por um valor inferior àquele que o Governo Federal, por meio do Incra, paga para assentamentos. Dessa forma, não se faz reforma agrária no País.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Fica difícil.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Faço esse aparte a V. Exª pelo tema que está abordando: essa preocupação do mundo com o que ocorre nos campos do Brasil, uma preocupação que se justifica sim.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Alvaro Dias, é muito importante o depoimento de V. Exª. Acredito que a estada da CPMI da Terra no Estado do Mato Grosso foi da maior relevância. A realização dessa audiência na Confresa foi muito importante porque lá os problemas com a terra são gravíssimos. Como dissemos, nós de lá os conhecemos de cor e salteado, mas é da maior relevância que pessoas como V. Exª tenham ido até lá e dêem depoimentos, como fez V. Exª agora. Isso, com certeza, nos fortalece na luta pela terra.

São aproximadamente 6,4 milhões de hectares de terras públicas, dos quais 3,2 milhões - ou 3,4 milhões, não sei - foram regularizados da forma como V. Exª citou: vendidos a preço muito mais baixo. Quanto aos 3 milhões de hectares que ainda restam, o Incra está tentando resgatar as terras públicas que estão nas mãos de grandes proprietários, de forma absolutamente irregular. Essa questão tem que ser realmente vista com a seriedade merecida e devida para que se possa fazer a reforma agrária, sem ter que pagar preços elevados pela desapropriação. V. Exª tem toda razão e apresenta dados absolutamente corretos.

Eu gostaria de parar de falar da questão das florestas porque preciso comentar outro assunto extremamente importante. Anunciei, no início do meu discurso, que, em Mato Grosso, estamos comemorando a possível ida da fábrica de uréia e amônia da Petrobras para o nosso Estado, mas não poderíamos deixar de falar sobre como está sendo feita a destruição das florestas no Mato Grosso no apogeu da notícia sobre o desmatamento. E o depoimento do Senador Alvaro Dias torna desnecessária a finalização do nosso discurso, uma vez que S. Exª dá um depoimento, de viva voz, de que esteve ontem no meu Estado e testemunhou, por meio dos depoimentos mais variados - tenho certeza disso -, a gravidade do problema do desmatamento em Mato Grosso.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como anunciei no início da minha fala, estamos aqui para comemorar a notícia de que a Petrobras está finalizando estudos para implantação de mais um grande projeto industrial na Região Centro-Oeste, que pode vir a carrear, ao longo de cinco anos, investimentos de até US$1 bilhão, gerando mais de 70 mil empregos e contribuindo para um grande impulso econômico em toda essa Região tão produtiva e tão estratégica para o desenvolvimento do nosso País, que é o Centro-Oeste.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Ainda tenho mais cinco minutos, Sr. Presidente.

Quando alguns vivem o dia-a-dia da política apenas interessados em chafurdar na politicagem, em criar ambientes de crise, em arrastar o nosso Parlamento e o nosso Governo para um pretenso impasse, como se não existisse, acima de nós, um País, uma Nação que se movimenta e busca caminhos inovadores, é bom saber que a Petrobras abre esse tipo de perspectiva para nossa querida Região Centro-Oeste.

Sim, neste momento em que muitos falam em crise e se angustiam com as perspectivas do futuro, devo dizer que as perspectivas que a Petrobras abre para o Centro-Oeste e, muito particularmente, para o Mato Grosso são altamente alvissareiras.

As informações que tenho são as de que esse grande projeto, que está tendo seu estudo de implementação finalizado pela Petrobras, será o que podemos chamar de uma separadora de gás, um grande e arrojado pólo-gás químico que aproveitará o gás natural importado da Bolívia para a produção de uréia e amônia, que são componentes empregados com grande destaque na moderna indústria de fertilizantes e são componentes que nosso País ainda estaria tendo que importar, trazer de outros países, em expressiva escala.

Essa é, portanto, uma notícia que muito me entusiasma, que entusiasma a todos nós, que vivemos, trabalhamos e lutamos pelo progresso de Mato Grosso. Estamos vendo agora, neste período ímpar da administração de nosso companheiro Lula, nosso Governo, por meio da Petrobras, essa empresa altamente comprometida com os interesses nacionais, despontar com um investimento que tem todas as possibilidades de se estabelecer no território de Mato Grosso.

Vejam só que bela notícia para todos aqueles e todas aquelas que lutam, que penam, que se movimentam diariamente com o objetivo de fazer de Mato Grosso um Estado modelo para este Brasil. Fico muito satisfeita em poder falar aqui dessa boa nova.

Digo aqui, Senador Mão Santa, a V. Exª, que vive citando seguidamente passagens bíblicas, que, quando o anjo Gabriel apareceu para anunciar o nascimento de Jesus Cristo, disse que estava ali para anunciar boas novas para todo o povo. E essa notícia sobre a possibilidade de instalação dessa grande fábrica da Petrobras em Mato Grosso é uma boa nova para o meu Estado e para toda a Região Centro-Oeste.

Fiquei muito contente, quando soube, pelo Secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia de Mato Grosso, Dr. Alexandre Furlan, e do Subsecretário Epaminondas Mattos Conceição, do trabalho persistente que aquela Secretaria vem desenvolvendo para que esses investimentos da Petrobras sejam agilizados e para que possamos, no mais curto prazo, dizer que o que é ainda hoje projeto, o que é ainda hoje intenção da Petrobras e do Governo Federal haverá de se transformar em realidade palpável, para não só demonstrar o compromisso do Governo Lula com o desenvolvimento e o progresso de nosso Estado, da nossa Região Centro-Oeste, mas principalmente para ofertar ao nosso povo uma nova realidade de vida, uma nova perspectiva de sobrevivência.

Se Mato Grosso é responsável hoje pela maior produção agrícola do País, e nossa lavoura assombra o mundo com a escala extraordinária de nossa produção, nada mais justo do que contar com a perspectiva de que esses investimentos da Petrobras serão feitos em Cuiabá, em Santo Antônio do Leverger ou em Cáceres, cidades que estão sendo estudadas pela Petrobras, mas certamente esse investimento será feito no território de Mato Grosso.

Se lá em Mato Grosso temos ainda uma grande riqueza de água; se lá em Mato Grosso estamos lutando pela implantação de uma ferrovia que facilitará que se transporte para outras Regiões do País, e principalmente para o Triângulo Mineiro, essa formidável produção de matéria-prima para fertilizantes que a Petrobras pretende desenvolver; se lá em Mato Grosso está o maior rebanho bovino do País; se lá em Mato Grosso temos um povo corajoso, capaz, sempre disposto a conquistar, pelo trabalho, melhores condições de vida para si e para suas famílias, nada mais justo do que a instalação dessa fábrica em nosso Estado.

O que sabemos é que a Petrobras vinha desenvolvendo seus estudos já há algum tempo. Pelo que conta o Subsecretário de Indústria e Comércio de Mato Grosso, Dr. Epaminondas Conceição, já faz mais de um ano que técnicos da empresa têm percorrido as terras de Mato Grosso para identificar as melhores opções para a implementação desse seu megaprojeto. Agora esses estudos estão chegando ao final, e a empresa terá que definir em que cidade investirá, mas precisamos, queremos e acreditamos que será em Mato Grosso.

Temos lá ainda, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muitas dificuldades a superar, mesmo com a chegada da fábrica da Petrobras. Mas essa obra, no entanto, surge como um grande impulso para o nosso Estado.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Peço apenas mais uns minutinhos.

Nos próximos dias, temos certeza de que as Bancadas Federal e Estadual de Mato Grosso, bem como representantes do empresariado, de entidades sindicais e de organizações do Estado de um modo geral, com a presença do Sr. Governador, estaremos na sede da Petrobras, com o nosso companheiro, Senador José Eduardo Dutra, para dizer que Mato Grosso está preparado para um novo ciclo de sua vida econômica, que começará certamente a partir da implantação dessa importante planta industrial que será a nova fábrica de fertilizantes da Petrobras.

            É esse também um projeto muito importante porque vem igualmente consolidar nossa parceria com a Bolívia, contribuindo para a consolidação do Mercosul.

(Interrupção do som.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Por meio dessa parceria, investiremos cada vez mais na utilização da nossa matriz energética.

Como Presidente da Frente Parlamentar Mista para o Desenvolvimento Sustentável e Apoio às Agendas 21 Locais aqui no Congresso, devo lembrar que o gás natural é um combustível limpo, cuja utilização contribui para a preservação do nosso meio ambiente.

Não vou poder ler todo o meu discurso, mas anunciaríamos que a amônia sintética industrializada poderá, em larga escala, ser usada no processamento de muitos produtos, em torno de duas dezenas. Não vou lê-los.

Eu gostaria de finalizar dizendo que a Bancada Federal de Mato Grosso, composta de Senadoras e Senadores e Deputadas e Deputados Federais - aliás, Mato Grosso, Sr. Presidente, tem a maior Bancada feminina do País no Congresso Nacional -, que é bastante dinâmica, está mobilizada e esteve há poucos dias no Ministério dos Transportes. O Governador do Estado e todas as forças vivas da sociedade mato-grossense estarão, junto ao Presidente da Petrobras, envidando todos os esforços para que essa grande fábrica de fertilizantes que será construída pela Petrobras seja edificada em Mato Grosso. Temos tudo para que isso ocorra em Cuiabá, em Santo Antônio do Leverger ou em Cáceres.

Muito obrigada.

 

*********************************************************************************

SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA SERYS SLHESSARENKO.

*********************************************************************************

A SRª. SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ao mesmo tempo em que comemoramos e brigamos pela ida da fábrica de uréia e amônia da Petrobras para Mato Grosso, não podemos deixar de assustar-nos, de espantar-nos, de horrorizar-nos, verdadeiramente, com a apuração da taxa de desmatamento na Amazônia, divulgada no dia de ontem pela Ministra Marina, pelo Ministro Ciro Gomes e pelo Ministro Eduardo Campos.

É um verdadeiro horror o que o Governador Blairo Maggi está fazendo com as florestas de Mato Grosso: os números mostram que está se desenvolvendo lá em Mato Grosso uma política de terra arrasada.

Os dados que vou aqui divulgar estão publicados na edição de hoje do jornal O Globo, mas aparecem em diversas reportagens, em toda a mídia nacional e internacional. São dados realmente assustadores.

O levantamento feito pelo Governo Federal nos mostra que, no período de agosto de 2003 a agosto de 2004, a estimativa é a de que foram desmatados nesses 12 meses, 26.140 quilômetros quadrados, o que representa um aumento de 6% em relação ao verificado entre os anos de 2002 e 2003.

O Governo tinha a expectativa de que houvesse um aumento de apenas 2% da taxa de desmatamento no período, de acordo com previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mas se cinco dos sete Estados da Amazônia reduziram a taxa de desmatamento, em Mato Grosso e Rondônia se registraram altas de 20% e 23% respectivamente. Um verdadeiro horror!

Isso não acontece à toa. Seríamos muito ingênuos em acreditar que tudo não seja criteriosamente planejado pelos inimigos da floresta. E os inimigos da floresta, em Mato Grosso, têm nome, sobrenome, CPF e endereço conhecido. Recentemente, a articulista Tereza Cruvinel, nas páginas de O Globo, dizia que lá em Mato Grosso atuava um verdadeiro belzebu do desmatamento. E todos nós sabemos de quem ela falava. É o mesmo personagem que, na mídia internacional, já despontou como o inimigo das florestas, o destruidor supremo da Natureza em nosso País.

Vejam que houve queda na taxa de desmatamento nos Estados do Pará (2%), do Amazonas (39%), do Acre (18%), do Maranhão (26%) e de Tocantins (44%).

Em Mato Grosso e Rondônia, todavia, há esse retrocesso, esse escândalo ambiental que os números estão mostrando.

O desmatamento de 26.140 quilômetros quadrados na Amazônia brasileira em um ano é o segundo maior da História, perdendo apenas para 1995, quando foi registrado o recorde de 29.050 quilômetros quadrados.

Ao invés de melhorarmos em nossas estatísticas, ao invés de nos credenciarmos aos olhos do mundo, estamos sendo expostos de maneira vil por aqueles que só pensam na floresta como fonte de riqueza fácil, de faturamento a qualquer preço.

Segundo avaliação feita pelo Greenpeace, e divulgada pelo O Globo, o desmatamento praticado na Amazônia neste período é equivalente a mais de 8,6 mil campos de futebol desmatados em um único dia e é um duro golpe no programa de desenvolvimento sustentável da Amazônia.

O Greenpeace diz ainda que quase a metade do total desmatado na Amazônia Legal ocorreu no Mato Grosso, governado pelo maior produtor individual de soja do mundo, Blairo Maggi.

Sim, enquanto as árvores caíam na floresta, o grupo do agronegócio de Maggi comemorava aumentos de 28% no faturamento (US$532 milhões em 2003, contra US$415 milhões em 2002) e de 21% na área plantada (170 mil hectares em 2003 contra 140 mil em 2002).

É por isso que afirmo que esses índices tão escandalosos não acontecem à toa. Tudo isso é resultado da ação do inimigo da floresta, do belzebu do desmatamento.

Segundo a ONG WWF-Brasil, a área desmatada é pouco menor que à do Estado de Alagoas. Com isso, 17,3% da cobertura florestal da Amazônia brasileira já foi destruída. Parte do potencial florestal brasileiro corre, portanto. o risco de desaparecer antes mesmo de se tornar conhecido.

A destruição de florestas também tem impacto direto sobre a emissão de gás carbônico e as mudanças climáticas. O Brasil é responsável por 2,51% das emissões de gás carbônico, sem incluir o percentual de queimadas. Quando incluído, o número sobe para 5,38% (segundo dados de 2000 do World Resources Institute), o que eleva a posição do Brasil de oitavo para quinto país emissor. Só as queimadas geram 370 milhões de toneladas de carbono a cada ano.

O outro assunto que me traz à tribuna, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é a noticia, a ser comemorada, de que a Petrobras está finalizando estudos para a implantação de mais um grande projeto industrial na região Centro-Oeste.

É um projeto que pode vir a carrear, ao longo de cinco anos, investimentos de até US$1 bilhão, gerando mais de 70 mil empregos e contribuindo para um grande impulso econômico em toda essa Região tão produtiva, tão estratégica para o desenvolvimento do nosso País, que é a Região Centro-Oeste.

Quando alguns vivem o dia-a-dia da política apenas interessados em chafurdar na politicagem, em criar ambientes de crise, em arrastar o nosso Parlamento e o nosso Governo para um pretenso impasse, como se não existisse acima de nós um País, uma Nação que se movimenta e busca caminhos inovadores, é bom saber que a Petrobras abre esse tipo de perspectiva para a nossa querida Região Centro Oeste.

Sim, neste momento em que muitos falam em crise, neste momento em que muitos se angustiam com as perspectivas do futuro, devo dizer que as perspectivas que a Petrobras abre para o Centro Oeste e, muito particularmente, para Mato Grosso são perspectivas altamente alvissareiras.

As informações que tenho é de que esse grande projeto, que está tendo o seu estudo de implementação finalizado pela Petrobras, será o que podemos chamar de uma separadora de gás - um grande e arrojado pólo-gás químico que vai aproveitar o gás natural importado da Bolívia para a produção de uréia e amônia, componentes empregados com grande destaque na moderna indústria de fertilizantes que o nosso País ainda estaria tendo que importar, trazer de outros países, em expressiva escala.

Essa é, portanto, uma notícia que muito me entusiasma, que entusiasma todos nós que vivemos, trabalhamos e lutamos pelo progresso de Mato Grosso - e que estamos vendo agora, neste período ímpar da administração do nosso companheiro, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o nosso Governo, através da Petrobras, essa empresa altamente comprometida com os interesses nacionais, despontar com um investimento que tem todas as possibilidades de se estabelecer no território de Mato Grosso.

Vejam só que bela notícia para todos aqueles e todas aquelas que lutam, que penam, que se movimentam diariamente, com o objetivo de fazer de Mato Grosso um Estado modelo para este Brasil. Fico muito satisfeita em poder falar aqui desta boa nova. Quando o anjo Gabriel apareceu para anunciar o nascimento de Jesus Cristo, ele disse alguma coisa assim, que estava ali para anunciar boas novas para todo o povo. E essa notícia da nova fábrica da Petrobrás é, sem dúvida nenhuma, uma boa nova para quem vive na região Centro-Oeste, porque onde quer que venha a se instalar, ela surgirá para dotar de um novo impulso o nosso ciclo de desenvolvimento, beneficiando a nossa pecuária, a nossa produção agrícola, e garantindo, certamente, uma melhoria das condições de vida de toda a nossa população.

Fiquei muito contente quando soube, através do Secretário de Indústria e Comércio do Estado de Mato Grosso, Alexandre Furlan, e do Subsecretário, Epaminondas Mattos Conceição, do trabalho persistente que aquela secretaria vem desenvolvendo para que esses investimentos da Petrobras sejam agilizados e possamos, no mais curto prazo de tempo, dizer que o que é ainda hoje projeto, o que é ainda hoje é intenção da Petrobras e do Governo Federal, haverá de se transformar em realidade palpável para não só demonstrar o compromisso do Governo Lula com o desenvolvimento e o progresso de nosso Estado, mas principalmente para ofertar ao nosso povo uma nova realidade de vida, uma nova perspectiva de sobrevivência.

Se Mato Grosso é responsável hoje pela maior produção agrícola do País, e nossa lavoura assombra o mundo com a escala extraordinária de nossa produção, nada mais justo do que contar com a perspectiva de que esses investimentos da Petrobras serão feitos lá em Cuiabá, ou lá em Santo Antônio do Leverger, ou lá em Cáceres, cidades que estão sendo estudadas pela Petrobrás. Mas certamente esse investimento será feito no território de Mato Grosso, contribuindo para um desempenho cada vez mais notável da Petrobras e também para que novos horizontes de vida se abram para os trabalhadores e as trabalhadores de nosso Estado.

Se lá em Mato Grosso temos também uma grande riqueza de água, se lá em Mato Grosso estamos lutando pela implantação de uma ferrovia que facilitará o transporte, para outras regiões do País e principalmente para o Triângulo Mineiro, dessa formidável produção de matéria prima para fertilizantes que a Petrobrás pretende desenvolver, se lá em Mato Grosso está o maior rebanho bovino do País, se lá em Mato Grosso temos um povo corajoso, capaz, sempre disposto a conquistar, pelo trabalho, melhores condições de vida para si e para suas famílias, nada mais justo do que essa fábrica venha a se instalar em Mato Grosso.

O que sabemos é que a Petrobras vinha desenvolvendo os seus estudos na surdina. Pelo que conta o Subsecretário de Indústria e Comércio de Mato Grosso, Epaminondas Conceição, já faz mais de um ano que técnicos da empresa têm percorrido as terras de Mato Grosso para identificar as melhores opções para a implementação desse seu megaprojeto. Mas agora que esses estudos vão chegando ao seu final, e agora que a empresa terá que definir se investe em Campo Grande ou numa das três cidades que citei aqui - Cuiabá, Santo Antônio ou Cáceres -, nada mais justo do que ocuparmos esta tribuna para dizer que a melhor opção é o Mato Grosso, esse Estado-pólo que se transformou na grande locomotiva do desenvolvimento nacional, à custa da pesquisa, do investimento produtivo, da parceria entre os mato-grossenses e os sulistas que para lá se transferiram, visando à construção de um ambiente de convivência que tem tudo para se firmar como um modelo exemplar para o Brasil e para o mundo.

Temos lá ainda muitas dificuldades a superar, mas, com a chegada da fábrica da Petrobras, as coisas haverão de ficar mais fáceis. Uma obra como essa surge como um grande impulso, como o reconhecimento de todo esse dedicado trabalho que vem sendo feito em Mato Grosso.

Nós próximos dias, em companhia do Governador Blairo Maggi, de nossa Bancada federal, de nossa Bancada estadual, de representantes do empresariado e de entidades sindicais, estaremos visitando o Presidente da Petrobras, o nosso companheiro Senador José Eduardo Dutra, para dizer que Mato Grosso está preparado para um novo ciclo de vida econômica, que começará certamente a partir da implantação dessa importante planta industrial que será a nova fábrica de fertilizantes da Petrobras.

E esse é um projeto também muito importante porque vem também consolidar nossa parceria com a Bolívia, contribuindo para a consolidação do Mercosul. Através dessa parceria, vamos investir cada vez mais na utilização do País e na depuração de nossa matriz energética. Como Presidente da Frente Parlamentar Mista para o Desenvolvimento Sustentável e Apoio às Agendas 21 Locais, aqui no Congresso, devo lembrar que é o gás natural um combustível limpo, cuja utilização contribui para preservação do nosso meio ambiente.

Pelo planejamento do Governo federal, até 2010 o gás natural deverá participar com 13% da energia consumida no País. Não é pouco, mas é preciso lembrar que em países como Estados Unidos, a participação do gás natural é de 26,7%. Na Argentina o percentual sobe para 51%. Uma posição que defendo é que a utilização do gás natural pode não acabar com a dependência brasileira atual em relação ao petróleo internacional, mas dará um novo rumo à economia do País, sem dúvida nenhuma. Quanto mais utilizarmos o gás natural, mais estaremos reafirmando nosso compromisso com a Ecologia, com um outro mundo possível, onde as pessoas humanas possam viver harmonicamente com a natureza. Vamos fazer do Brasil um País ecologicamente correto.

A produção de amônia sintética é feita utilizando-se o gás natural como fonte de hidrogênio, uma vez que aquele possui uma percentagem relativamente grande deste, uma vantagem no processo da amônia. O gás natural é inicialmente transformado em gás de síntese e, posteriormente, numa seqüência de tratamentos térmicos, elevação de pressão, trocas químicas e catalíticas, a mistura contém apenas hidrogênio, nitrogênio e traços de metano, argônio e outros gases inertes, sendo então processada e transformada em amônia (NH3). Em processamento adicional, a amônia é convertida em uréia e outros fertilizantes.

Mas a amônia tem uma grande utilização industrial, podendo ser usada: no processamento químico de fertilizantes; na manufatura de explosivos; na refrigeração de sistemas de compressão e absorção; na extração de certos metais como cobre, níquel e molibidênio de seus minérios; como inibidor de corrosão nas refinarias de petróleo e plantas de gás natural; na indústria da borracha para estabilização do látex natural e sintético; combinada com o cloro para purificação de água de abastecimento doméstico e industrial; na manufatura de farmacêuticos, loções, cosméticos, substâncias usadas na limpeza dentária, amônia para uso doméstico, detergentes e material de limpeza; na indústria de fertilizantes para aplicação direta e como bloqueador na manufatura de soluções fertilizantes de nitrogênio, de uréia, nitrato de amônia, sulfato de amônia e fosfatos; na produção de ácido nítrico e em fibras e plásticos industriais para a produção de acrilonitrila, hexametilenodiamina, tolueno e outros; na produção de Papel e celulose; na metalurgia.

A fábrica que a Petrobras vai implantar no Centro Oeste é vital porque o Brasil é importador de adubos nitrogenados fabricados a partir da amônia. E o gás natural, matéria-prima básica para fabricação da amônia, hoje chega em grande abundância, através do gasoduto Brasil-Bolívia, a Cuiabá.

Falo de tudo com muita satisfação, porque estou convencida de que essa será uma grande conquista para Mato Grosso, para toda a Região Centro-Oeste, para todo o nosso País.

Pretendemos atuar, junto ao comando da Petrobras, junto à Presidência da República, para garantir a efetivação dessa conquista. Esse é um compromisso que temos para com o povo de Mato Grosso e pretendemos honrá-lo.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2005 - Página 15913