Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relações do Governo Federal com o Congresso Nacional.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Relações do Governo Federal com o Congresso Nacional.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Heloísa Helena.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2005 - Página 15929
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, RELACIONAMENTO, GOVERNO FEDERAL, CONGRESSO NACIONAL.
  • NECESSIDADE, REFORÇO, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONGRESSO NACIONAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Arthur Virgílio, aqui ouvimos grandes oradores. Lembro-me de que Cícero disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. E vamos falar depois do melhor orador. Mas não falo só da oratória: palavras, palavras e palavras, o exemplo, virtudes. Senadora Heloísa Helena, que lê aí os sermões do Padre Antonio Vieira, palavra sem exemplo é um tiro sem bala. O exemplo arrasta, o exemplo nos faz estar aqui nesta luta, o exemplo da luta de Pedro Simon.

Senador Pedro Simon, lá das Alagoas, grandeza de Estado, de história, a Senadora Heloísa Helena ouviu isto - e nós estamos para ouvir, Senador Alvaro Dias: “Não me deixem só”. Lembra, Senadora Heloísa Helena? Lá, o Collor, o Presidente das Alagoas, quando viu o negócio, disse assim. “Não me deixem só”. É o que Lula pode começar a dizer.

O PDT não é um partido qualquer não. Senador Pedro Simon, V. Exª disse: eu gosto do Lula. Eu não, eu gosto é da Adalgisa. Senadora Heloísa Helena, mulher, eu só tenho uma, mas partido a gente tem que ter um, não é? Então, eu tinha um bocado de amantes para governar o Estado do Piauí. É o pluripartidarismo. E o PDT é uma amante perigosa de quem sempre gostei muito, com quem sempre convivi.

Brizola era aquela figura extraordinária. Brizola resume o Rio Grande do Sul, o gaúcho, a Farroupilha, os Lanceiros Negros, Bento Gonçalves, Getúlio, Goulart, Pedro Simon, Paulo Paim, Sérgio Zambiasi. E as mulheres? Lindas. Uma Miss Brasil foi de lá, não foi?

O PDT foi o primeiro que largou, com o Brizola vivo. “Não me deixem só”. Depois, foi o PPS, filho do PC, do Partidão, dos comunistas, Roberto Freire. E Ciro estava lá, quente, mas largou. Agora, o PV, a natureza... Como disse Sófocles, muitas são as maravilhas, mas a mais maravilhosa é o ser humano, homens e mulheres quando se unem para o amor, para perpetuar a espécie. Desse Partido da natureza, Gabeira foi o primeiro que disse que tinha um sonho, mas não era um sonho, era um pesadelo.

Zequinha Sarney é o Líder do PV. Vejam como as coisas estão acontecendo! Gilberto Gil está lá. “Não me deixem só!”

Agora vou contestar o meu mestre, Senador Pedro Simon. Não pensem que atingi aquilo que Leonardo da Vinci disse: “mau discípulo é o que suplanta o mestre”. De maneira nenhuma. Mas Pedro Simon disse, com aquele papo furado: “Lula é gente boa, o Lula é bom”. O Presidente não é gente boa, nem melhor nem mais simpático do que o Zezinho. Focalizem o Zezinho. Eu duvido, brasileiras e brasileiros! Olhem a simpatia, olhem a gentileza, olhem a educação, olhem a maneira de se portar! É gente boa. Eu não conheço melhor. Ele traz até coisas demais: oferece um cafezinho, traz até uns biscoitos escondidos, não é Heloisa Helena? A gente acaba engordando. O Zezinho é gente boa! Aliás, eu tenho outro que também é muito bom: o meu motorista, Marcos. Ô, cabra bom! Eu durmo e ele me leva. Eu tomo umas e, quando chego em casa: “Senador!”. Ô, gente boa!

Quem daria melhor Presidente da República: Zezinho, Marcos, meu grande motorista, ou Lula? Eu votei no Lula. Mas, hoje, sou muito mais o Zezinho e o Marcos.

V. Exª leu Dom Quixote de La Mancha. Aliás, falou para o Lula palavras do Eclesiastes. Pregador. Que coisa bonita! Mas eu queria ao menos que o Presidente ficasse na primeira linha da Bíblia, que diz: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Ó, Lula, essa é uma mensagem de Deus aos governantes para propiciar trabalho. Só tem uma saída: o trabalho.

Por que é que ele está ali, Senador Pedro Simon? Porque ele disse: a primazia é do trabalho e do trabalhador. O trabalho e o trabalhador é que fazem a riqueza. E aqui a primazia no Brasil é do FMI, do BID, do Bird, o Banco Mundial. São aqueles que a Senadora Heloisa Helena chamou de os gigolôs das panças enriquecidas pelo trabalho dos outros. Comerás o pão com o suor do teu rosto, Senador Alvaro Dias. Quando é que um banqueiro sua? Quando? Donde? como se diz em castelhano e em espanhol? Eu só sei de um lugar em que esses banqueiros suam: é quando fazem sauna, para emagrecer, num hotel. No mais, é ganhando dinheiro, desobedecendo as leis de Deus, de Rui Barbosa.

Então, está na hora de pensar esse negócio de que o Lula é bonzinho. Não, Senador Pedro Simon, V. Exª pode gostar dele; eu gosto mesmo é da Adalgisa e do povo. Sou mais o Zezinho. “Diga-me com quem andas e eu te direi quem és.” As más companhias do Lula estão aí. Um quadro vale por dez mil palavras.

E é generoso? Tenho as minhas dúvidas. Aprendi com a minha mãe, terceira franciscana - dei um livro para a Heloisa Helena -, que a caridade começa com os de casa. Olha, franciscano, irmão, eu disse que não deviam ter dado para os Senadores estes computadores notebook, deviam ter dado uma Bíblia para cada um. Está no Provérbio 22 que o valor, a integridade, a dignidade, o bom nome valem muito mais do que ouro e do que prata.

A Srª Heloisa Helena (P-SOL - AL) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eles não enxergam isso, Senadora Heloísa Helena. Eu votei, sonhei, trabalhei. Para facilitar ao Governo, disse ao Líder Mercadante, um rapaz bom, mais arejado - errare humanum est -, um rapaz que tem uma luz intelectual: se quer que o PMDB esteja presente no governo, vamos levar o nosso símbolo, o nosso nome maior, basta um, que simboliza tudo, porque este é o Partido que nasceu de Ulysses, de Teotônio, de Tancredo e de Juscelino, cassado aqui: Pedro Simon. E S. Exª concordou, para o bem da verdade, achou boa a idéia, mas o núcleo duro, não. Vetou o nome de Pedro Simon e aprovou os que estão aí. Essa é a verdade.

De verdade em verdade vos digo. E eu digo: trabalhador! Getúlio! Aqui, neste Congresso, um homem se levantou-se e disse: “Será mentira?”, quando diziam que tudo era mentira. Aí, Senador Pedro Simon, há 50 anos, em junho de 1954, inspirado, o grande orador Afonso Arinos - diziam que tudo era mentira, como o Duda Goebbels Mendonça, por meio da mídia, afirma que tudo o que dissemos é mentira - disse: será mentira a viúva, o órfão, o sangue, o finado major da Aeronáutica, o mar de lamas?

Não tem nada de mentira. V. Exª trouxe a verdade, como disse São Francisco: onde houver erro que eu leve a verdade. E V. Exª foi um franciscano aqui.

Concedo um aparte à Senadora Heloísa Helena.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador Mão Santa, não vou entrar em alguns detalhes do pronunciamento de V. Exª, mas, como V. Exª se referiu ao Collor, embora ele tenha nascido no Rio de Janeiro, ficou muito conhecido nacionalmente como alagoano, e gostaria de fazer uma pequena observação para que fique registrada nos Anais da Casa. Não tenho nenhuma relação com ele, nunca o vi, mas é importante que seja dito que toda a tropa de choque do Collor, toda a podre, corrupta, cínica e dissimulada tropa de choque do Collor é hoje membro do Governo Lula. Então, é importante que seja dito que o Governo Lula continuou cedendo espaço para o parasitismo e para a privatização do espaço brasileiro a toda a tropa de choque do Collor - fora, evidentemente, os que já morreram. Dos que estão vivos, toda a tropa de choque de Collor é parte do Governo Lula. Ela é da base de bajulação do Governo Lula. Ela se apropria de cargos, prestígio e poder pelo Governo Lula. Portanto, o Presidente Lula, infelizmente, continua delegando à tropa de choque do Collor - a toda ela - espaço para continuar parasitando e privatizando o aparelho do Estado brasileiro.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu peço à Mesa Diretora que publique na íntegra as palavras de Heloísa Helena.

Mas Shakespeare dizia que não tem bom nem mal, é a interpretação. Collor permitiu uma CPI. Este Governo tem esse pecado maior. Eu acho que viu no que deu e está fugindo da CPI como o diabo da cruz. Essa é a verdade! Mas digo ao PMDB, ao MDB - e não vou falar no encantado do fundo do mar, Ulysses - que ouça a voz rouca das ruas. Ressuscitar Tancredo, Teotônio, Juscelino... Todos eles estão simbolizados ali, em Pedro Simon.

Ontem, a Fundação Ulysses Guimarães, por iniciativa do seu Presidente Moreira Franco, fez um recadastramento dos filiados, em solidariedade ao pré-candidato a Presidente, Garotinho.

Quero dizer que o PMDB está aí. E hoje, está bem dividido: uns estão atrelados ao PT, ao Governo; e outros, como nós, que entendemos que a democracia só é forte se tiver partidos fortes, estamos lutando para que não se assassine o PMDB, porque estaremos comprometendo a democracia, que não é do PT; é nossa. É do povo que foi às ruas, sofrido, e gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade!” Estamos nessa luta muito difícil.

No meu Piauí, penso que não existe jeito. Eles já se entregaram. Mas, há esperança de luta. “Piauí, terra querida, Filha do sol do Equador”. Na luta, o seu filho é o primeiro que chega. E ali chegamos para expulsar os portugueses do território nacional na batalha gloriosa de Jenipapo em Campo Maior.

Senador Arthur Virgílio, como disse Leonardo da Vinci, líder do Renascimento, mau discípulo é o que não suplanta o mestre. Eu vi, eu estudei o discurso de Arthur Virgílio, o pai, o cassado, o humilhado. Mas, como está escrito, os humilhados serão exaltados, e Arthur Virgílio pai é exaltado com a presença desse líder - tinha de ser amazônida, porque é muito grande - para simbolizar a grandeza de um homem público.

Concedo a V. Exª o aparte solicitado.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quando V. Exª, Senador Mão Santa, cita de maneira sempre generosa o meu pai, o falecido Senador Arthur Virgílio Filho, recordo-me de um episódio dele que, certamente, interessará muito à lembrança do Senador Pedro Simon. Meu pai era Líder do PTB de João Goulart e percebeu que, da sua Bancada de Senadores, praticamente todos se dispunham a votar a legitimação de Castello Branco como delegado da Ditadura que se implantava à Presidência da República. Dois Senadores votaram contra a eleição de Castelo: um, que não tinha ligação alguma com Jango, Josaphat Marinho; e outro, meu pai, que tinha toda ligação com Jango, até por que era seu Líder - além de ser Líder do PTB era Líder do Governo no Senado Federal. Meu pai, de repente, viu-se em uma reunião de Deputados e Senadores da Bancada petebista, e notou que havia na Câmara uma forte resistência. Muitos queriam resistir ao golpe que se implantava e muitos já estavam dentro do golpe. Depois, na sessão do Senado, quando votou contra Castelo e renunciou à Liderança do PTB, ele disse que não poderia liderar o PTB porque era um líder sem liderados, na medida em que não havia mais liderados. Estava sozinho, portanto, passou a ser minoria. Ele se virou para determinado Deputado que dizia que a posição dele não estava sendo hábil e disse que sua posição poderia não estar sendo a mais hábil, mas seguramente era a mais moral. Disse, ainda, que João Goulart - cuja honestidade ele afiançava, avalizava - ficou com a fama de ter tido em seu Governo focos de corrupção e que, precisamente, as figuras que causaram esse prejuízo moral ao Governo dele eram aquelas que, como aquele Deputado, apressaram-se em aderir ao regime de força. Ou seja, aqueles que estavam resistindo pagariam todas as penas do Ato Institucional nº 1, mas não havia sido elas que criaram qualquer constrangimento moral para o Governo Goulart. As que criaram constrangimentos morais, acrescentou, com práticas de aproveitamento, de aparelhamento de institutos de previdência, aquela coisa toda, essas todas já estavam muito bem aninhadas no colo do novo regime. Meu pai disse, então, concluindo, que tudo que ele esperava, até para que o regime durasse pouco, era que essas pessoas fossem bastante influentes no novo regime, porque, quanto mais influentes fossem, mais cedo desmoralizariam aquele regime que vinha para cassar a liberdade do Brasil. Ou seja, era algo incrível, que se aplicaria muito bem ao Presidente Lula neste momento. O Senador Simon falava dos amigos do Presidente. Nós, da Oposição, não somos amigos; cumprimos o dever de alertar. O Sr. Fonteles tem sido amigo, sim. A melhor forma de revelar a gratidão pela lembrança do nome dele é fazer o que está fazendo. A Oposição cumpre o seu dever. Em vez de se aninhar em cargos da Petrobras está aqui para apontar os defeitos do Governo, até porque perdeu a eleição para a Presidência da República. Vários de nós aqui temos as nossas razões - cada um no seu canto, cada um no seu segmento ideológico - para fazer Oposição, mas o fato é que o Presidente está se iludindo com figuras que hoje o endeusam, até porque ele tem a caneta. Amanhã, depois de causarem eles a dissolução moral desse Governo, em esse Governo perdendo a substância e a força e em saindo da Presidência o Presidente República execrado pelas urnas, essas figuras serão as primeiras a deixar o Presidente Lula e serão as primeiras a procurar aderir ao novo Governo. Ou seja, repete-se a história que meu pai, àquela época, visualizou. É bem verdade que meu pai foi cassado, passou por todos os percalços, e eles não. Mas há uma cassação grave, que é uma certa cassação da história. Alguns não dão importância a isso, mas há uma certa cassação moral, aquela história de poder ou não poder andar de cabeça erguida. Entendo que pessoas como V. Exª privilegiam muito o andar de cabeça erguida e, portanto, o fato de nunca serem cassados moralmente.

(Interrupção do som.)

Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Concluo, Sr. Presidente. Nada como a história recente para elucidar as dúvidas que se repetem, quem sabe, sob a forma de farsa ou de tragédia - espero que não de tragédia - a história recente deste País.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio, queria dizer que seu pai está aprovado no livro de Deus, quando a sua presença confirma a todos nós que “árvore boa dá bons frutos”. V. Exª se apresenta para o Brasil.

Senadora Heloísa Helena, atentai bem para a nossa admiração. Entendo que para se fazer oposição é preciso ter coragem - Ulysses disse que, sem a coragem, acabam-se todas as virtudes - e vida limpa. Então, é isso que apresentamos.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, conceda-me um minuto, aquele minuto em que Cristo fez o Pai Nosso e foi feliz. E que o Espírito Santo caia aqui.

Há casos mal resolvidos. Existe até uma música de amor que diz “amor mal resolvido”. E um caso mal resolvido é a situação dos vereadores. Senador Pedro Simon, ninguém que está vivo entende melhor a política do que V. Exª, mas quero lembrar Valéry Giscard d’Estaing, que ganhou as eleições da França depois de um belo governo de sete anos. No segundo turno, Senador Cristovam Buarque, François Mitterrand bateu na questão do desemprego - uma fórmula - e perdeu. Foram perguntar o que faria, e ele respondeu que seria vereador em sua cidade. Isso define a grandeza do vereador na democracia.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente Senador Alvaro Dias, do Paraná, peço a sua generosidade.

O caso é mal resolvido. Foi um tumulto como agora, no caso de Alexandre de Moraes.

Depois de o Senado, Senadora Heloísa Helena, exaustivamente, com sensibilidade e responsabilidade administrativa, buscar um ínfimo aumento para o salário mínimo, a Câmara, liderada pelo núcleo duro, ajoelhou-se e tentou desmoralizar um trabalho sério do Senado, derrubando esse aumento de R$15,00.

Nesse tumulto, não houve um estudo; houve, como Sancho Pança disse, confusão, insatisfação. O Executivo não faz obra; no Legislativo, não fazemos leis, e o Judiciário, que não julga bem, fez, da cabeça dele, essa lei.

Então, temos o dever de reestudar e de reavaliar a situação do vereador do Brasil, que é um caso mal resolvido.

Essas são as nossas palavras, com o agradecimento ao Estado do Paraná, tão bem aqui agigantado - não apenas representado - por V. Exª, pela generosidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2005 - Página 15929