Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A recente majoração da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária - Copom. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • A recente majoração da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária - Copom. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2005 - Página 15934
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, DECISÃO, COMITE, POLITICA MONETARIA, EXCESSO, AUMENTO, TAXAS, JUROS, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, SUPERIORIDADE, POSIÇÃO, BRASIL, AUMENTO, TAXAS, JUROS, COMPARAÇÃO, PAIS, MUNDO.
  • SUSPEIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, TAXAS, JUROS, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, a recente majoração da taxa básica de juros, ou seja, da Selic, é desnecessária, segundo análise de pelos menos metade do chamado mercado feita há três ou quatro meses. Essa foi a nona majoração consecutiva e terá reflexos no aumento da dívida pública, no crescimento econômico do País, na atividade industrial e na atividade comercial. Os reflexos danosos de cada aumento é percebido três, quatro, cinco ou seis meses depois.

Tudo isso nos leva a fazer uma meditação muito curta: olhando apenas a inflação de curto prazo e não vislumbrando a inflação de médio e de longo prazo, o Brasil, antes de ter a sua taxa Selic no patamar de 19,75%, antes, portanto, da última majoração, estava em primeiro lugar no ranking mundial das taxas básicas de juros, à altura de 19,5%. Agora, confirmou a sua primeira colocação com 19,75%.

A taxa média anual em 2005, antes da majoração, era de 18,9%. Agora, ultrapassa em alguma coisa os 19%.

Mais ainda, Sr. Presidente, e que interessa bastante: no ranking das taxas de juros reais, ou seja, quando se desconta da Selic a projeção da inflação para os próximos 12 meses, o Brasil estava em primeiro lugar, antes da majoração, com 13,3%. Após a majoração, está com alguma coisa perto de 13,5% de juros reais. Em segundo lugar vem a Turquia, que venceu recentemente uma crise sistêmica terrível, devastadora, com menos da metade dos juros reais praticados no Brasil: 6.6%. Em terceiro lugar, a Hungria, com 5.3%.

Chama a atenção o fato de que a Argentina, que tem dificuldades terríveis pela frente, pois não resolveu seus problemas, já pratica uma taxa de juros básicos de 3.2% e tem juros reais negativos.

Digo isso, Sr. Presidente, porque estamos percebendo uma excessiva ortodoxia do Copom, o Comitê de Política Monetária. Isso leva, primeiramente, a dar força a teses heterodoxas que terminam minimizando a importância do combate à inflação. Em segundo lugar, há efeitos práticos sobre empregos, projetos sociais e sobre o desenvolvimento da vida brasileira como um todo.

Não consigo entender essa dicotomia do Governo, que gasta mal, que gasta muito em diárias, em “aerolula”, que gasta muito em custeio da máquina, que reforma o gabinete do Ministro da Cultura a um custo de R$9 milhões e, ao mesmo tempo, tem essa atitude em relação aos juros, o que demonstra que alguma coisa de grave acontecerá nos próximos tempos, porque não dá para continuar desse jeito.

Senador Cristovam, uma pessoa que já teve responsabilidade pública e que tem muita consciência do que se passa pelos mercados chegou a me dizer: “Será que eles estão fazendo algo” - que neste momento eu até denuncio - “por excessiva ortodoxia” - e isso é grave, porque custa emprego, a falência de alguém, a vida de tantos - “ou será que estão fazendo isso numa jogada político-eleitoral, do tipo arrocha tudo agora e, a partir de um certo momento, rebaixa-se todos os meses 0,25% até o dia da eleição, mostrando, dando a entender que, após a reeleição do Presidente Lula, continuaria o rebaixamento dos juros.

A primeira hipótese é lamentável, porque a excessiva ortodoxia está atrapalhando um desempenho mais favorável da economia brasileira já neste ano e ameaçando complicar os indicadores para 2006. A segunda hipótese é monstruosa, porque, se o Copom é heterodoxo, eu não gostaria de vê-lo influenciado pela cabeça do nosso Goebbels, do nosso Duda Mendonça. Eu não gostaria de ter no Copom Duda Mendonça decidindo como se trabalha agora política de juros. Porque, se isso é verdade, é um novo escândalo. Se é verdade que pensam isso, é um novo escândalo. Ou seja, sacrificam a sociedade agora, de maneira brutal, feroz, para depois começar um processo de distensão para dar a sensação de que, em tendo um novo governo, aquilo ali continuaria a acontecer indefinidamente, até se chegar a patamares que seriam os desejáveis, os praticados por países com condições semelhantes ou até piores do que as do Brasil. A Venezuela, por exemplo, tem juros altíssimos, porém mais baixos do que os do Brasil, mas tem a questão do petróleo lá. Mas países com situação pior do que a do Brasil praticam juros bem diferentes dos nossos.

Eu queria trazer à Casa essa preocupação e essa meditação, porque se há um assunto que exige apuro técnico é esse. E, se tem brincadeira marqueteira aí, isso é de uma gravidade enorme, porque significa sacrificar pessoas, empresas e empregos agora, para depois dar a sensação de um afrouxamento que facilitaria a vida do candidato.

Então, eu diria neste momento “não” à excessiva ortodoxia do Copom e diria “não” com muita indignação a essa possibilidade monstruosa de estarem programando o arrocho agora, para depois reduzirem aquilo que aumentaram. Eles voltariam ao status quo ante, aos pouquinhos, dizendo: “Olhem, nós, agora, já estamos em condições de baixar”; eles que aumentaram sem ter a necessidade de fazê-lo. Se o Brasil tivesse juros reais, Sr. Presidente - porque tem juros reais de 6,6% -, de 9%, não acredito que houvesse fuga de capitais. Se tivesse juros reais de 7,5%, não acredito que houvesse fuga de capitais. Se tivesse juros reais de 12%, não acredito houvesse fuga de capitais. Se tivesse juros reais de 11,7% ou algo em torno disso, não acredito que houvesse fuga de capitais, até porque há países que não estão vivendo o drama de fuga de capitais. Na Hungria, são 5,3% de juros reais. São juros elevados, até porque, se os compararmos com a taxa de juros da Índia, que está em torno de 0,6%, podemos verificar, então, que o juro real da Hungria - 5,3% - é um juro real atraente até para o capital ‘motel’, até para o capital que vai e volta, que passa uma noite e volta.

Então, ficam essas duas inquietações, Senador Cristovam Buarque, para nos alertarmos e não cairmos, enquanto Congresso, enquanto Nação, no que pode ser um excessivo radicalismo ou um lamentável golpe político.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2005 - Página 15934