Discurso durante a 66ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à política econômica do Governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas à política econômica do Governo Lula.
Aparteantes
Almeida Lima, Alvaro Dias, Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2005 - Página 16022
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, BRASIL, COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, IMPUNIDADE, AUMENTO, CONTROLE, GOVERNO, PROTESTO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, PUBLICIDADE.
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, SUPERIORIDADE, JUROS, DENUNCIA, INEFICACIA, PROGRAMA, CREDITOS, APOSENTADO, FAVORECIMENTO, BANCOS, AUMENTO, TRIBUTAÇÃO, FALENCIA, EMPRESA, INCENTIVO, ECONOMIA INFORMAL, FALTA, APOIO, CLASSE PRODUTORA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte. Sem revisão do orador.) - Senador Tião Viana, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Marco Maciel, extraordinário homem público, eu iniciaria o discurso fazendo alusão ao nosso patrono, Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Senador Almeida Lima, essa frase é do jurista Rui Barbosa. Eu queria apenas dizer o seguinte: Senador Marco Maciel, comecei citando V. Exª porque sei da sua vocação cristã. Lembro-me, Senador Paim, que eu governava o Piauí e fui chamado para tomar um café com o Vice-Presidente da República, Marco Maciel. Peguei o avião de madrugada, em jejum, Senador Ney Suassuna. Pensei: vou passar bem! Começou com uma missa; depois, houve uma reunião de líderes cristãos para organizar a chegada do Papa.

Isso tudo para dizer que o que está faltando é simples. Senador Paim, sei que o Lula não gosta de ler, não. A Constituição jamais ele vai ler. São 250 artigos. Não vai - ele declarou que não gosta de ler. Mas creio que o núcleo duro podia fazer uma coisa boa, Senador Suassuna Shakespeare - V. Exª que está tendo muito contato com esse povo -, pelo menos publicar aquilo que foi dado a Moisés: os mandamentos, Senador Suassuna. Deveria pelo menos colocá-los ali, no quarto do Lula, na sala do Lula, para ele governar com aquilo que é o ideal. Aquilo é a constituição de Deus. Está lá: “Não furtarás”. É lógico que os homens foram completando: não deixar furtar; Tancredo disse: “colocar na cadeia quem furta”. Fazemos essas emendas.

Este País chegou ao que Rui Barbosa disse, Ney Suassuna: “Nós vamos ter vergonha de ser honestos”. Nunca dantes, Senador Alvaro Dias, houve uma desordem total. Com esse PT, não se mudou para a bandeira vermelha, o que eu temia, mas ele foi nas letras verdes, “Ordem e Progresso”, e as transformou em “Desordem e Regresso”.

A corrupção está aí! Respira-se não mais oxigênio no Brasil, mas corrupção. É falta de vergonha. É falta de governo. Padre Antonio Vieira dizia que palavra sem exemplo é como tiro sem bala. O exemplo arrasta. É de cima para baixo.

Essa vergonha aí de Santo André -- ainda comprometem um santo da Igreja Católica! -- deveria ser esclarecida. Isso é uma vergonha, como diz Boris Casoy. E essa mídia, paga pelo Governo! O Governo é gastador. Ô Governo bom para quem trabalha nele! É gastador. Todo dia gasta. Todo dia inventa uma coisa. Todo dia! E o povo pagando imposto. Paga-se o juro mais idiota do mundo! Não é esse que eles dizem, não; é muito mais. Busquem um cheque ouro...

E ainda vem esse Governo, despreparado, com esse negócio de deixar para os aposentados aquele empréstimo! Não é nada barato, não. O juro no Brasil não existe, é estratosférico. Mesmo que eles digam que é barato, é caríssimo. Lascou os nossos pobres, os nossos aposentados!

Abrahan Lincoln dizia - Tião Viana, ensine ao núcleo duro: “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado”. É a nova escravidão: estão endividando os nossos bons velhinhos aposentados. Eles estão sendo ludibriados. O juro não é nada barato, não. É um roubo, é um assalto garantido dos banqueiros.

Senador Arthur Virgílio, aquilo é um negócio bom para os banqueiros: já tiram na folha. Não tem inadimplência, não tem falcatrua. E peca naquele ensinamento de Abrahan Lincoln, simples, Tião Viana: “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado”.

Mas, Senador Arthur Virgílio, este Governo é bom, paga tudo para o funcionário público. Tá gastando... Ô Governo gastador bom! Para Senador, tá bom; para Deputado, tá bom; para a Justiça, está maravilhoso!

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador Mão Santa?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Chegou um e veio aqui descaradamente pedir um salário de R$27 mil. Todo mundo sabe, é a maior vergonha da história da Justiça do mundo. Não é aquela: “Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça”!

É, Sr. Paim! Mas, Senador Arthur Virgílio, está na mídia, na capa da Veja: “Corruptos. Estamos perdendo a guerra contra essa praga”. Manchete da capa!

Quer dizer, isso não existe! Isso foi pela impunidade de Santo André: enrolaram, enrolaram. Por que não esclarecem? Por que não botam a Polícia Federal logo? Mas o maligno fica aí, bota o homem para viajar e entra a malignidade.

Vamos para outra revista grande, a Época. Capa: “Corrupção. Deputados chantagistas, prefeitos ladrões e servidores públicos desonestos”.

Por que a política está assim? O exemplo arrasta, ó, Lula! Ele não ouve, não adianta! Já desanimei. Agora, está viajando. O maligno mandou que ele viajasse para ficar fazendo as traquinagens. Essa é a vergonha.

Então, esta é uma situação difícil. Até louvo aqui o nosso grande Secretário ou o nosso grande Parlamentar do Paraná, Alvaro Dias - aliás, ele está bem na foto, entre duas mulheres lindas: uma loura, Britney Spears, e a Ana Paula Padrão. A verdade está no meio. Olhem o que disse o Senador: “O País acompanha estarrecido uma escalada de fisiologismo como nunca se viu antes. Atualmente, existe uma porta aberta à corrupção para quem se dispõe a atender os interesses do Governo”.

É verdade. E quero lhe dizer: é falta da Bíblia. Senador Marco Maciel, não há na Bíblia uma menção à porta estreita da vergonha, do estudo, da integridade? Eles escolheram a porta larga, que está escancarada.

Concedo um aparte ao bravo Líder da Oposição, Senador Arthur Virgílio.

O Sr Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, eu gostaria de cumprimentá-lo pelo seu discurso de hoje, mas muito especialmente pelo pronunciamento da última sexta-feira, corajoso, lúcido, irônico, verdadeiro, quando V. Exª se refere ao Zezinho.

O SR MÃO SANTA (PMDB - PI) - É gente melhor do que o Lula, mais simpática. Lá vai o Zezinho, servindo, trabalhando! O Lula trabalhou pouco e se aposentou logo.

O Sr Arthur Virgílio (PSDB - AM) - O Zezinho não tentaria retirar 67 assinaturas de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. V. Exª consegue atingir, mais do que muita gente pode supor, o coração do povo brasileiro. Por onde ando, ouço o refrão de que V. Exª é o representante verdadeiro do nosso povo e dos sofrimentos por que o nosso povo passa neste momento tão angustiante da vida brasileira, Senador Mão Santa.

O SR ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Senador Mão Santa, peço a palavra apenas para cumprimentá-lo por mais esse brilhante discurso. O Ministro José Dirceu afirmou que a Oposição é golpista - o maligno, segundo V. Exª - e que quer retirar o Lula do poder. É bom dizer a ele, Senador, que queremos tirar o Lula, mas nas urnas, pelo voto. No passado, queriam derrubar o Fernando Henrique Cardoso. Foi o PT que pediu que Fernando Henrique renunciasse e que se convocassem novas eleições. Portanto, o golpismo faz parte do DNA deles, não do nosso. Repito, Senador Mão Santa: V. Exª, os Senadores Arthur Virgílio, Marco Maciel e eu, todos nós, da Oposição, queremos que o Lula fique até o final, cumprindo o seu mandato, e que seja julgado depois, porque queremos derrotá-lo, realmente, nas ruas e, sobretudo, nas urnas.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nossos parabéns pela frase. Ela é tão bonita que, entre duas mulheres, ainda nos prende a atenção. Há várias capas da revista sobre o rombo de R$160 bilhões; conta secreta e não sei mais o quê; o desabafo do juiz Nicolau. Este é o Brasil. A única satisfatória é sobre a honrada luta dos sem-terra, que deveria ter sido resolvida para que este fosse um País grandioso e sem problemas. Senador Tião Viana, resolvi esse problema no Piauí. Lá, nunca houve marcha de sem-terra, não. Houve gratidão. O meu Vice-Governador era um homem, esse sim, de mãos santas, quer dizer, homem sem terra, da Contag. Entendo que a terra é de quem nela nasce, mora, trabalha e cultiva.

Essa é a situação do Brasil, mas sou otimista, o que aprendi com Juscelino Kubitschek, cassado aqui - e digo-o em respeito ao Senador Paulo Octávio, que simboliza Brasília e a família -, que dizia: “É melhor ser otimista. O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado.”

Sou otimista por quê, Senador Arthur Virgílio? Porque a democracia não é do PT. Não tem nada a ver com o PT. A democracia é nossa e nos dá o direito, que já estamos exercitando, de alternância no poder. V. Exª não vai ouvir, aqui, “Fora, Lula”. Não! Mas vai ouvir a defesa destas Lideranças, orientando o povo brasileiro a perpetuar a democracia naquilo que é mais sagrado: a alternância do poder.

Concedo um aparte ao Líder Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PSDB - SE) - Senador Mão Santa, somo-me ao pronunciamento de V. Exª. Quanto à malsinada declaração do Ministro José Dirceu, ela é, sem dúvida, a tradução do quanto ele desrespeita a Oposição, que se tem comportado com toda a seriedade e nunca apresentou, por menor que fosse, nenhum perfil, nenhuma característica, nenhuma postura golpista. Na verdade, na verdade, golpista tem sido a posição do Ministro, que não tem respeitado o Estado, contribuindo, de forma decisiva, para o aniquilamento...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - Peço a generosidade de mais cinco minutos ao Acre, ao PT flexível, arejado, generoso.

O Sr. Almeida Lima (PSDB - SE) - ... contribuindo, Senador Mão Santa, de forma efetiva, para a desmoralização da classe política. Aí, sim, porque não se pode conceber o Estado sem a classe política. Quando a classe política não merece o respeito da sociedade por estar deteriorada, e o Ministro José Dirceu contribui enormemente para essa deterioração, aí, sim, trata-se de postura golpista, porque é, em última instância, contrária ao próprio Estado. Isso é postura golpista. Como bem disse V. Exª, “Fora, Lula”, não! Fique no poder e passe a administrar ...

(Interrupção do som.)

O Sr. Almeida Lima (PSDB - SE) - ...como a Nação brasileira espera e como foi o compromisso de Sua Excelência, que não está sendo cumprido. Parabéns a V. Exª, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - Como cada um faz classificações de acordo com sua profissão, e como V. Exªs, os dois, são médicos, eu compararia o Ministro com um tumor, que cresce num lugar indevido. A Medicina é mais positiva e classifica os tumores em benignos, que são limitados, e malignos, que crescem demais. Estamos com essa patologia na política.

O IBGE publicou, recentemente, que o Brasil está no caminho da informalidade. Ninguém pode ter uma empresa, ninguém pode trabalhar corretamente. Todos estão procurando a informalidade.

Para concluir, vim no avião com o jovem - por isso otimista - João Claudino Júnior, filho do maior empresário do Piauí e do Nordeste, e maior do que tudo. Eu até disse: “Olha, aqui, o homem do Século XXI, do Piauí”.

Há 17 anos ele visita a China e viemos falando sobre problemas comerciais. Ele me disse que não acredita que uma empresa sobreviva durante 10 anos. Perguntei-lhe: “E os caminhos?” Ele respondeu-me: “No caminho a gente tem que pensar bem, mas de um coisa eu sei: não é aumentando os impostos, não é aumentando os juros. Isso vai levar o País à desgraça total.” Foram palavras de uma pessoa lúcida, de um empresário.

Ninguém mais quer montar um negócio, pois temos a maior carga tributária, os maiores juros e a maior perseguição. Eu ando, ando e ouço a voz rouca das ruas. O PT conseguiu, não trocar as cores verde, amarelo, azul e branco, mas criar desordem e regresso.

O País está regredindo.

Estas são as minhas palavras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2005 - Página 16022