Discurso durante a 66ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Protesto pelo tratamento dispensado ao Nordeste, especialmente no que tange à não liberação dos recursos empenhados para socorrer as vítimas da seca no Estado da Paraíba. (como Líder)

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Protesto pelo tratamento dispensado ao Nordeste, especialmente no que tange à não liberação dos recursos empenhados para socorrer as vítimas da seca no Estado da Paraíba. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2005 - Página 16067
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • GRAVIDADE, DESIGUALDADE REGIONAL, BRASIL, FRUSTRAÇÃO, CIDADÃO, DESVALORIZAÇÃO, REGIÃO SUBDESENVOLVIDA, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, FALTA, ATUAÇÃO, INSTITUTO NACIONAL, REGIÃO SEMI ARIDA, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), EXCESSO, PROMESSA, AUSENCIA, LIBERAÇÃO, RECURSOS.
  • PROTESTO, AUSENCIA, LIBERAÇÃO, VERBA, MUNICIPIO, MULUNGU (PB), CAMPINA GRANDE (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), VITIMA, INUNDAÇÃO, RECONSTRUÇÃO, HABITAÇÃO, COMPARAÇÃO, URGENCIA, ATENDIMENTO, SECA, REGIÃO SUL.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Nobre Presidente, eu estava inscrito regularmente, mas foram tantos os Líderes que falaram, que tive de usar este artifício de também falar como Líder.

Já usei esta frase aqui várias vezes: o que faz um país é a solidariedade. O que faz um país é a igualdade entre todos os membros, todos os populares, todos os cidadãos desse país. O que faz um país é a existência de uma série de - não sei se é neologismo - ‘pertencimentos’, isto é, você pertencer a ele.

E, para esclarecer, cito como exemplo o inglês. Por mais que se estude o inglês, nunca se apercebe de todas as nuanças da linguagem. E assim também acontece com o português. Um estrangeiro que chega aqui também fica perplexo, pois, quando se diz “pois não”, quer-se dizer “sim” e, quando se diz “pois sim”, quer-se dizer “não”. Nós, que pertencemos ao País, entendemos as nuanças, os termos como estão sendo usados, se estão sendo ditos de gozação ou a sério, e assim por diante.

Tenho muito orgulho de ser brasileiro e de ser latino. Por isso, fico perplexo quando vejo alguns países do mundo fazerem uma legislação que deve valer no mundo todo. Outro dia, vi uma norma americana que deveria valer para o mundo todo. Fico, pois, perplexo, porque cada país tem a sua legislação e não pode aceitar ingerências. Mas o ditado popular diz “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Há países que pensam assim.

Sentir-se assim no mundo globalizado não é agradável. Imagine, Senador Mão Santa, sentir-se assim em seu país; sentir-se, em seu país, menos válido do que, por exemplo, um cidadão de outra região; sentir-se empurrado para um complexo de inferioridade, quando sabemos que não somos inferiores em nada; sentir-se empurrado para a condição de cidadão de segunda categoria. E venho me sentindo assim no meu Brasil em relação às medidas que vêm sendo tomadas em relação, por exemplo, ao Nordeste.

Lembro-me do debate que tive aqui com o Senador Antonio Carlos Magalhães, quando estávamos discutindo sobre o Insa, o Instituto Nacional do Semi-Árido. A Bahia o queria por ter o maior semi-árido do Nordeste; nós também o queríamos. Discutimos muito sobre esse Instituto. Vários Estados queriam sediá-lo. Foi criado o Insa. Mas onde está a missão dele? Onde estão as verbas, as estruturas, os objetivos? Esqueceram-se deles; eles estão na geladeira.

E o que aconteceu com a nossa Sudene? Lembro, Senador Mão Santa, de como seu irmão tem orgulho de ter sido, e de ser, funcionário da Sudene. Ele dizia que não se podia trocar o nome. Quantas vezes, quando Ministro, eu ia lá e ele me dizia para voltarmos o nome da Sudene, a missão e o que ela fez pelo Nordeste.

Hoje, o que é a Sudene? Esqueceram-na; geladeira para a Sudene.

Promessas, temos muitas, mas, quando olhamos a realidade do tratamento, como é difícil! Como isso nos magoa! E vou dar um exemplo. Já falei isso aqui, nesta tribuna, e estou falando pela segunda vez, porque hoje me doeu de novo. Volto a falar, porque não é possível que não se mude esse tratamento.

Na Paraíba, há dois anos, houve uma enxurrada, chuvas em excesso. A cidade de Mulungu - que deve ter no máximo 3,5 mil casas - perdeu 1,9 mil casas. Campina Grande perdeu 300 casas. Faz dois anos que isso aconteceu, e, até hoje, a Prefeitura paga o aluguel para as pessoas que perderam as suas casas, porque o dinheiro destinado, por meio de medida provisória, para a construção das casas - e Campina Grande tinha direito a R$1,8 milhão, o que não é muito, para construir 300 casas - não chegou. O dinheiro foi empenhado, mas não chegou. Há uma seca no Sul e no Sudeste, e, imediatamente, são mobilizados R$430 milhões, que foram pagos.

Há uma diferença muito grande entre as secas do semi-árido e as secas do Sul. Não quero que deixem de dar o dinheiro para o Sul. Só quero que dêem a nós, nordestinos, o mesmo tratamento. Há dois anos, 300 famílias esperam as suas casas. O dinheiro foi empenhado, mas não foi pago. No mesmo ano em que houve uma crise - a seca é econômica -, saíram R$430 milhões, e foram entregues por canais que não são os mais regulares da sociedade, porque são muito politizados.

Assim, mesmo fazendo parte da base do Governo, não posso deixar de vir protestar em nome do Nordeste, em nome da minha cidade, Campina Grande, e em nome de um terço da população que é tratada como se fosse de segunda categoria. Na hora do voto, somos todos iguais; na hora dos deveres, somos todos iguais; na hora dos impostos, somos todos iguais, mas, na hora dos apercebimentos, das melhorias, não somos iguais.

Ouço o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Um líder da nossa geração, Ernesto Che Guevara, um médico como o Senador Papaléo Paes, disse “se és capaz de tremer de indignação por uma injustiça em qualquer lugar do mundo, és meu companheiro”. Quero dizer que V. Exª, com essa indignação pelo sofrimento do Nordeste, é realmente o grande Líder do PMDB de Ulysses Guimarães.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Obrigado, nobre Senador Mão Santa.

A minha indignação é esta: há dois anos, esse dinheiro está empenhado e não sai. Estamos pagando aluguel para 300 famílias, quando, no Sul, as coisas são muito mais rápidas e muito mais urgentes.

Era isso o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2005 - Página 16067