Discurso durante a 66ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Referências ao pronunciamento do Sr. Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Referências ao pronunciamento do Sr. Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2005 - Página 16256
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • RESPOSTA, DISCURSO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, REFERENCIA, PARTICIPAÇÃO, PAI, ORADOR, GENERAL DE EXERCITO, REGIME MILITAR.
  • ESCLARECIMENTOS, IDEOLOGIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, LUTA, DEMOCRACIA, OPOSIÇÃO, AUTORITARISMO.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE NA SESSÃO DO DIA 23 DE MAIO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Tivemos hoje, aqui nesta tribuna, uma nova concepção da teoria genética de que ideologia e posição política as pessoas assumem por transmissão hereditária. Não é assim na história, não é assim na ciência, e não é assim na minha vida.

Trago, com muito orgulho, o sangue dos meus pais. A minha mãe é uma professora de ioga, vegetariana. Eu nunca fiz ioga, nem sou vegetariano, adoro uma picanha. E trago o do meu pai, um santista, um General de Exército. Quando nasci, ele era Capitão, mas terminou como General de Exército, Comandante da Escola Superior de Guerra. Um homem que me ensinou muita coisa, especialmente Brasil.

Passei um ano, um ano e meio da minha vida em cada Estado da federação. Nasci em Santos, morei em São Paulo, fui para Bahia, estive no Rio de Janeiro, moramos em Rondônia, moramos em Campo Grande, no Mato Grosso, hoje, capital de Mato Grosso do Sul. Moramos em tantos Estados da federação que isso me ajudou a entender o Brasil, a diversidade regional, o povo, a história, a cultura, e isso eu devo imensamente ao meu pai.

Mas não trago nas minhas veias 1964. Trago a minha história de vida, de quem se levantou quando mataram Alexandre Vanucchi Leme. Eu tinha 18 anos de idade; de quem paralisou a USP, com 19 anos de idade, quando mataram Wladimir Herzog; quando reconstruímos o DCE da USP contra toda a pressão da ditadura militar; e ajudamos a reconstruir a UNE e todas as entidades estudantis.

O que trago nas minhas veias são os companheiros que vi sair da cadeia, massacrados, arrebentados. O que trago no meu coração são os amigos que enterrei pela ditadura militar; trago todos aqueles do meu partido que lutaram pela democracia, e muitos nem sequer puderam assistir ao fim do processo de construção democrático.

É isso o que trago na minha história de vida, é isso o que trago no meu coração, é essa a minha biografia. É a luta de uma geração que se levantou para lutar por liberdade de expressão, por manifestação, por Estado de direito, por constituinte, por anistia; e são esses valores que inspiram a minha militância, e são esses valores que marcam a minha história de vida. E é por esses valores que estou na política há tanto tempo, há mais de trinta anos.

Portanto, não tenho nada que explicar sobre esse passado. Ele não faz parte da minha história nem da minha biografia.

Entendo as opções de cada um, assim como as compreendo e respeito. Acho que o Brasil melhorou e muito com a democracia. É muito melhor cultuarmos a tolerância, o respeito à diferença, o pluralismo partidário, a busca do consenso, da negociação, uma agenda positiva para o País e a governabilidade. Creio que esses valores que a nossa geração construiu são aqueles que podem permitir este País andar para frente. E é em nome deles que tenho pautado a minha atuação neste plenário: a busca do diálogo, do debate duro, do debate franco, respeitoso, mas sempre com essas considerações.

Termino com uma pequena piada, uma historinha que acho muito interessante na história da Esquerda. É um diálogo entre Stalin e Chu En-Lai - todos conhecem a biografia do Stalin e do Chu En-Lai. O Stalin chega para o Chu En-Lai e diz o seguinte: "Chu En-Lai, sou filho de operário, sou filho do proletariado. Você, Chu En-Lai, é filho de mandarim, você é filho da elite. Eu sou filho dos verdadeiros proletários, dos despossuídos. Você é filho da elite chinesa, você é filho de um mandarim". Chu En-Lai, então, vira para o Stalin e diz: "É, mas, Stalin, pelo menos nós temos alguma coisa em comum: ambos superamos a nossa origem".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2005 - Página 16256