Pronunciamento de Pedro Simon em 25/05/2005
Discurso durante a 68ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Avaliação das manobras do governo para impedir a instalação da CPI dos Correios e dos prejuízos para o Congresso Nacional pela não criação da mesma.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Avaliação das manobras do governo para impedir a instalação da CPI dos Correios e dos prejuízos para o Congresso Nacional pela não criação da mesma.
- Aparteantes
- Antero Paes de Barros, Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/05/2005 - Página 16370
- Assunto
- Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- REGISTRO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, DEMISSÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA PREVIDENCIA SOCIAL (MPS), TRAMITAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), DENUNCIA, PROCURADOR.
- COMENTARIO, PREJUIZO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBSTACULO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
- SUGESTÃO, EXTENSÃO, HORARIO, SESSÃO, LOBBY, IMPEDIMENTO, RETIRADA, ASSINATURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
- DEFESA, MOBILIZAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERMANENCIA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO.
- CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPEDIMENTO, ASSINATURA, SENADOR, EXPECTATIVA, APOIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
O SR PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, passei o dia em silêncio, ouvindo, assistindo à televisão, recebendo e dando telefonemas. Não me lembro de um momento tão estranho como este que estamos vivendo agora: uma quarta-feira, véspera de um dia santo, colhem-se as assinaturas para se constituir uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, o que é uma rotina; houve assinaturas bastantes; sobram Deputados e sobram Senadores; os fatos estão aí, reais, caiu na boca do mundo; pede-se para investigá-los. O que tem isso de mais? O que significa isso a mais na vida do Parlamento? Mais uma CPMI? E daí?! Se hoje, à meia-noite, for mantida a CPMI, vivemos um dia positivo; bom para nós e bom para o Governo. Mas, se o que se comenta acontecer e se se retirarem tantas assinaturas quantas forem necessárias para não se ter a CPMI, pobre do Congresso e pobre do Governo!
Se eu fosse de uma oposição, como aquela da antiga UDN, da calúnia, se eu quisesse desmoralizar, se eu buscasse o “quanto pior, melhor”, eu chuleava para não ter CPMI. Não tem CPMI. Caíram as assinaturas; derrubaram a CPMI. Se amanhã acontecer isso, o PT nunca mais será o mesmo! O Lula nunca mais será o mesmo! Porque aquilo que se diz, que se confia no Lula, que o Lula vai ter chance de mudar, de alterar, de se reencontrar com o seu caminho, com a sua biografia, com a sua história... O Lula ainda não cometeu nenhum pecado mortal. As pessoas que o cercam é que não lhe dão condições para avançar. Mas, se essas coisas ocorrerem - e com as notícias de que o Deputado que está lá com o Lula, na Coréia e na China, nos dizendo que o Lula mandou dizer que quem não retirar a assinatura da CPMI é inimigo, não tendo mais vantagem, não tendo mais verba, não tendo mais não sei o quê -, se isso acontecer, segunda-feira nós teremos outro Governo! E o Lula vai ver que aquilo que ele tinha de mais sagrado; aquilo que ele formou... E há os que formam o seu patrimônio cultural, como o Fernando Henrique, um grande intelectual; há os que formam o seu patrimônio financeiro, como Antonio Ermírio de Moraes, um bilionário, mas há os que formam o seu patrimônio ético, moral, cívico. O Lula é isso!
Lá de Pernambuco, depois de o pai ter abandonado a família, ele veio com a mãe e os nove irmãos. E, ali, jogado na floresta da miséria de São Paulo, conseguiu se manter, crescer, avançar, ser gente! Não tirou o primário, mas mesmo assim se tornou um líder sindical, criou um partido de trabalhadores, o único no mundo. Perdeu três eleições, ganhou a quarta, porque foi crescendo, crescendo, crescendo em credibilidade, em seriedade, em honorabilidade, que ele tinha e que todos reconheciam na presença dele. Todos sabiam que o Lula não era doutor, que o Lula não era gênio, que o Lula não era economista, que o Lula não era dessas pessoas sem cultura, mas de repente avançou, desenvolveu-se numa intelectualidade! Todos sabiam que o Lula era o homem sério, o homem correto! O homem que, como ele dizia, havia sentido no corpo e na alma o peso da miséria, da fome e da injustiça, que tinha caminhado pelo Brasil e trazia com ele o choro e as misérias dos brasileiros que ele tinha encontrado. Conforme ele dizia: “Se querem reforma agrária, votem no Lula! Se querem distribuição da riqueza, votem no Lula! Se querem um Brasil diferente, votem no Lula! Isso era ouvido e todo mundo aceitou. Isso chegou à classe média e até à elite. Cansados daquele Governo do Fernando Henrique, que não criava CPI; cansados daquele Governo do Fernando Henrique, que privatizou - e o dinheiro das privatizações não se sabe até hoje onde foi parar -; cansados daquele Governo, que é igualzinho ao Governo que o Lula está fazendo, votaram nele.
E o Lula ganhou, e a maior expectativa da vida brasileira foi a vitória do Lula. Ele tinha a Nação a seus pés. O Lula não tinha compromisso algum com os militares; o Lula não tinha compromisso algum com as classes empresariais; não tinha compromisso algum com os banqueiros nem com as empreiteiras; não tinha compromisso algum com o seu Partido, a não ser o compromisso moral e ético de fazer um governo.
Tive a oportunidade de falar com o Lula. Jantando na minha casa, eu disse a ele: “Tu, Lula, és a grande esperança do Brasil! Tu tens compromisso com a tua consciência e com o teu País! Faça um grande governo, Lula! Escolha os melhores, os mais capazes, os mais competentes!”
E aí está: o Lula, cá entre nós, não poderia ter nomeado o Ministro da Previdência que aí está, porque o que se está dizendo agora a respeito de S. Exª todo mundo já sabia. Não dá para dizer que nomeou porque não sabia, que ficou sabendo depois. Não é verdade. Não há uma palavra nova, não há uma vírgula, não há uma denúncia nova contra o Ministro da Previdência. Todo mundo já sabia, e ele o nomeou. E depois, disse: “Manchetes de jornais! Eu não vou demitir por causa de manchetes de jornais!” Aí o Procurador denunciou; dando 15 dias para o Ministro se defender. S. Exª se defendeu e o Procurador, de posse da defesa, apresentou a denúncia. O Ministro do Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia e o Ministro está sendo processado. Quando é que o Lula vai demiti-lo? Agora que ele tem denúncia aceita no Supremo ou quando for condenado no Supremo? Quando for condenado no Supremo, o Lula não o demitirá mais, porque quem vai demiti-lo será o Supremo. Ele será demitido pelo Supremo Tribunal Federal!
Meus irmãos, o pior que pode acontecer para o Brasil, o pior que pode acontecer para o Governo Lula, o pior que pode acontecer para o PT, o pior que pode acontecer para as nossas esperanças é derrubarem a CPMI. Se derrubarem a CPMI, desmoralizam o Congresso. O povo vai olhar para nós - e não adianta dizer que assinou, que não assinou; que retirou ou não retirou -, para o conjunto, para o contexto e dirá: “E esse Congresso aí! O Lula tinha razão mesmo! São trezentos e não sei quantos canastrões que lá estão!” Vai ser uma humilhação para o Congresso, ridícula e grosseira.
Quando foi o Fernando Henrique, comprando votos para a renovação do seu mandato, a reeleição, quando deu dinheiro e tudo o mais, o PT e nós berramos, discutimos e protestamos, estávamos numa posição, à época, em defesa da ética e da moral. Agora, vejo o Líder do PT e o Líder do Governo lá na Câmara defendendo a não realização da CPMI, usando os argumentos de Fernando Henrique, usando os argumentos do PSDB da época!
Se sair a CPI, pode acontecer como na do Banestado, dar a liderança a um membro do PT e a Presidência a um do PSDB. Eles brigaram o tempo todo e não concluíram nada. Foi um escândalo. Vieram provas das mais importantes dos Estados Unidos. Nunca na história das CPIs conseguimos que viessem da Justiça americana provas das contas CC-5, das que foram enviadas, das “contas fantasmas” que estão aí nos cofres do Senado Federal. E as brigas entre Presidente e Relator não deixaram que se abrissem para se tomar conhecimento.
Por isso, digo eu, criada a CPI, não significa que ela terá um grande futuro. Não sei o que vai ser. Agora, se não deixarem criar a CPI, eu já sei que o PT será culpado, o Lula será culpado e o Governo será culpado, porque não querem colocar os corruptos no lugar que eles merecem.
Como eu gostaria que junto com o meu pensamento eu pudesse me transferir e estar com o Lula na Ásia, na China, em meio àquela filosofia, àquele conhecimento e àquela cultura milenar, para que alguém desse ao Lula o conselho de que ele precisa. É uma pena que ele esteja tão longe, que as pessoas que estão com ele, pelo que sentimos, estejam numa posição tão triste e que ele não se dê conta do que acontecerá ao seu Governo.
Sou do PMDB, do velho MDB, e houve um momento em que o Brasil todo era MDB. Quando o MDB fez a campanha das “Diretas Já”, quando derrotou a ditadura, quando conseguimos a anistia, naquele apogeu, era todo mundo MDB. Elegemos todos os governadores, à exceção de um. Fizemos dois terços na Constituinte, na Câmara dos Deputados e aqui, e aí? E aí o MDB começou a jogar fora o seu patrimônio. Começou a jogar fora, começou a desqualificar sua direção, ao arquivarem o Dr. Ulysses da Presidência, começaram a negociar cargos com o Sarney, brigando por cargos aqui e cargos acolá. Eu dizia que estávamos perdendo o nosso patrimônio e que não tínhamos como recuperá-lo. E não o recuperamos. O MDB tem história, tem respeitabilidade popular e, agora, tem condições de vir porque o PT está saindo.
Na última eleição, eu e o Senador Eduardo Suplicy fizemos uma palestra na PUC, onde 95% dos alunos tinham roupa do PT, bandeira do PT, distintivo do PT e, quando eu entrava eles diziam: “Senador, nós gostamos muito do senhor, mas não fale mal do nosso candidato”. Hoje, quando se entra numa faculdade, se se encontrar um distintivo do PT, ele só estará do lado de dentro do paletó. A pessoa mostra que é do PT de forma escondida; abertamente não mostra. Essa gente foi a primeira que aderiu, que veio, que abraçou, que se agarrou à causa da bandeira do PT e do Lula e estão angustiados.
Quando vou a uma palestra com eles, fico com pena, não sei o que dizer. Estamos sem o direito de ter esperança. O que vamos dizer? Primeiro, vieram os militares. Uma ditadura militar de 20 anos, que podia, pelo menos, como Pinochet, ter feito alguma coisinha boa na economia, mas não fez nada; que podia ter feito algo normal pela moralização da administração pública, mas a desmoralizou. Aí vem o Sarney, coitadinho, sem estar preparado. Aí vem o intelectual Fernando Henrique Cardoso com a social democracia. Foi um fiasco! Aí, sim, aí o Brasil disse: “Dessa vez, chegou a nossa vez com o Lula”. Agora é a nossa vez; repito porque é importante repetir. Lula se elegeu sem ter um compromisso com militar, com a classe empresarial, com a classe financeira, com absolutamente nada. Lula ganhou e está aí.
Meu Deus do céu, fui Governador do Rio Grande. Em meu Governo, reuni o secretariado e disse, na primeira reunião: “No meu Governo não há parentes”. Assumi o Governo do Rio Grande do Sul, que tinha 20 anos de Arena. Fui Líder, durante 20 anos, contra a Arena. Cheguei ao Governo e tive que tomar algumas decisões.
Veio o chefe da Casa Militar trazendo alguns nomes. Olho e digo: e este aqui? Era um nome igual ao dele. Disse-me: “É meu filho. Mas na Brigada é diferente. Há uma escala de promoções. É a vez dele. Não posso prejudicar meu filho”. “Por amor de Deus, o senhor não vai prejudicar o seu filho. O seu filho fica, o senhor sai”. Foi a única vez. Não houve mais nenhuma. No meu Governo, não houve mais ninguém, depois que tomaram conhecimento desse fato, que quisesse repetir. A notícia saiu no jornal. Era um compadre meu, um amigo. Analisei, verifiquei, culpa ele não tinha. Mas eu não podia provar, nem ele poderia. Na dúvida, demiti. No meu Governo, na dúvida, eu demiti. Várias vezes devo ter cometido injustiças, mas demiti.
Um governo não pode agir assim. Se o Presidente Lula fosse fazer um Governo do PT como imaginamos, demitiria meia dúzia e mudaria o seu Governo. O resto se acomodaria. Seu Governo iria mudar porque o resto se acomodaria. Mas dizem que Lula não demite, não manda, é o Chefe da Casa Civil, é não-sei-quê. E aí fazem o que querem. É como eu digo: por amor de Deus, reconduzam o Procurador-Geral da República! Muita coisa não está acontecendo neste País por causa do Procurador-Geral da República, porque todo mundo sabe que esse não é engavetador. Esse, quando tem de denunciar, denuncia; quando não tem, não denuncia!
Se ele fosse homem que quisesse aparecer, um exibido, quando o PFL e o PSDB entraram com a representação, pedindo para enquadrar o Presidente da República... Cá entre nós, o Presidente foi infeliz no seu pronunciamento, fez um discurso no Palácio do Planalto, na frente de uma multidão de lideranças empresariais. Disse: “Eu estava lá, veio o presidente do banco e me disse que tinha havido muita corrupção nas privatizações e que o dinheiro do banco tinha sido envolvido. Aí, eu perguntei para ele” (isso é o Lula falando para o povo): “Você já falou com alguém?” “Não, não falei com ninguém, estou falando com o senhor em primeiro lugar”. “Então, não fale mais. Nesse assunto, não vamos tocar”. O PFL e o PSDB entraram com uma representação.
O Nixon renunciou à Presidência da República, porque ia ser cassado. Por que o Nixon ia ser cassado? Porque, no inquérito sobre a escuta na sede do Partido Democrata, quando foram entrevistá-lo, ele disse que nunca soube de nada, que não tomou conhecimento. Quando o Senado investigou, descobriram que ele sabia de tudo. Quando tomaram conhecimento de que ele sabia, ou ele renunciava ou ele era cassado. Ele renunciou.
Essa declaração do Presidente Lula foi muito grave. Mas o Procurador teve a sensibilidade - dou nota dez para S. Exª - de dizer que não passava pela cabeça do Presidente Lula mandar engavetar a questão; que não era intenção de Lula evitar o combate à corrupção; que ele apenas disse: “Não fale, que não é hora de falar. Vamos conversar adiante!” E foi infeliz na hora de expor. O Procurador mandou arquivar. Mas, quanto ao do Ministro da Previdência, mandou a primeira, a segunda e a terceira; quanto ao do Presidente do Banco Central, mandou a primeira e a segunda, e está sendo denunciado agora.
Quanta gente não age direito, porque tem medo do Procurador-Geral da República! Pôr um novo Brindeiro lá?! Hoje se arquiva uma CPI. No fim do mês, volta um Brindeiro da Silva no lugar do Procurador. Não sei em que isso vai dar.
Não entendo como o Presidente da República não telefona para o Procurador e diz: “Você vai ficar!” “Mas eu disse que ia ficar só por dois anos”. O Presidente deveria dizer-lhe: “Você é franciscano? A hora é de luta. Você não pode deixar-me sozinho agora. Você tem de ficar onde está! Eu determino que fique, e você tem de ficar!” Duvido que o Procurador não fique. Dessa turma aí, sei lá quem vai entrar!
E há gente festejando que retiraram as assinaturas. Será que o PSDB e o PFL vão chorar muito, não havendo as assinaturas? Será que a Senadora Heloísa Helena vai chorar muito, porque não há as assinaturas, não há mais CPI? Não, fizeram a sua parte. E vamos ter três meses de sofrimento, de luta, de batalha - e ninguém gosta disso -, que é uma CPI.
Mas o Governo, na segunda-feira, é outro. Não sei o que Fernando Henrique vai falar; na verdade, ele não tem autoridade para falar coisa alguma, porque também é um arquivador de CPI. Mas muita coisa vai ser dita.
Eu até proponho, Sr. Presidente, fazermos uma resistência física: ficarmos aqui até à meia-noite. Sei que a Taquigrafia já está me olhando; se pudesse, já estaria me comendo pelos olhos. Estou até estou fazendo sinal para isolar.
Não sei se, a esta altura, aquilo que se chama vigília cívica não seria um gesto vazio. Mas pode ser que, daqui a pouco, fiquemos sabendo de uma corrida atrás de A, B ou C, e, talvez, o fato de o Congresso estar reunido possa impedir que isso aconteça. Essa é uma proposta. É viável? Não sei. Mas é uma idéia.
Saio, Sr. Presidente, da tribuna. Foi um dia muito triste. Foi um dia muito triste. Olho para o meu amigo Suplicy, que é uma dessas bandeiras que vêm de tão longe. O Senador Eduardo Suplicy, desde o início, vem lutando, lutando, lutando... E, agora, vem o PT e diz que Suplicy não pode assinar. Como o Partido faz uma coisa dessa? Nem sei o que o PMDB pensa ou deixa de pensar, mas eu mereço respeito! A individualidade das pessoas merece respeito.
Talvez, Lula faça lá na China o que fiz, quando jovem, ao visitar aquele país. Era uma reunião de jovens estudantes do mundo inteiro. No final de vários dias percorrendo a China, quando chegamos à reunião de encerramento - havia os dirigentes cubanos -, indagaram se queríamos fazer alguma pergunta. Fiz a minha pergunta: “Por que há tanta gente de 70 anos nos cargos de comando?” E me responderam: “Porque os de 80 anos já morreram”.
Que Lula aprenda com a filosofia chinesa! Que aprenda, na China, a possibilidade e a grandeza de viver! Há um pensamento chinês, que nunca esqueci e que diz assim: “O homem vive. Vivendo, o homem sofre. Sofrer faz o homem pensar; pensar torna o homem sábio; ser sábio ajuda o homem a viver”. Quem sabe, no meio daquela cultura extraordinária, Lula tenha tempo para pegar o telefone e dizer: “Deixem a CPI ir adiante! Vamos levá-la adiante! Quando chegar ao Brasil, chamarei os Líderes de todos os Partidos...”
Lula está falando, hoje, no jornal: “Vou convidar a cidadania, para defender-se contra a corrupção”. Ótimo! Convoque a cidadania! Eu sou um dos que estarão na fila dos que defendem a cidadania contra a corrupção. Convoque-nos a todos! E faça um pacto de honra de transformarmos a CPI em um tribunal, como ocorreu no impeachment e com os Anões do Orçamento. Nós, Senadores, vamos agir como juízes, com a imparcialidade de julgar o que deve ser julgado.
Juro, meu Deus, que rezo pelo meu amigo Lula, que vive hoje o momento mais importante da sua carreira política. Ele já perdeu eleição; perdeu uma, duas, três. E já ganhou. Agora, a moral, a ética e a dignidade, nunca ninguém as tirou dele, e podem tirá-las, hoje, à meia-noite. Que Deus o abençoe, meu amigo Lula, e que você tenha tempo para pensar!
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Pedro Simon, V. Exª me permite um aparte?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Em primeiro lugar, quero dizer a V. Exª que é muito positiva a sugestão de que permaneçamos em sessão até à meia-noite, porque se trata de um dia de grande relevância para a decisão importante que o Congresso Nacional está tomando. Em segundo lugar, mais uma vez, gostaria de dizer que considero muito significativo que a voz, as palavras e o pensamento de V. Exª cheguem ao Presidente Lula, mesmo que Sua Excelência esteja, na Coréia, tomando uma decisão, a exemplo do que ocorreu no Haiti, sobre a possibilidade de a Seleção Brasileira realizar um jogo de futebol, desta vez, com a seleção mista de ambas as Coréias. Essa proposição foi formulada, ao dialogar com o Embaixador da Coréia e com o Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Reunificação do Parlamento Coreano, quando estiveram aqui, na semana passada. Haveria um jogo em Seul e outro na capital da Coréia do Norte, para, assim, promover a confraternização entre coreanos do norte e do sul. Isso seria muito importante para a paz, mas, em especial, para refletir sobre a nossa história, a história que V. Exª acaba de recordar do seu próprio Partido - o MDB, ao qual eu pertenci, e o PMDB até hoje. Houve muitos que alertaram, conforme V. Exª, que poderiam o MDB e o PMDB perderem força se não estivessem muito firmes naquilo que inclusive congregou tantos de nós na luta pela democratização do País. É muito importante o que V. Exª nos diz a respeito de quão seria coerente para nós, do Partido dos Trabalhadores, assinarmos o requerimento dessa Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Aceito a sugestão e pondero ao Presidente Augusto Botelho, que preside a sessão, que acredito seja positiva. Avalio que haverá um número de Senadores suficiente e necessário para mantermos a nossa sessão até a meia-noite. E digo mais, Senador Pedro Simon, aos Líderes do PT, o meu Líder Delcídio Amaral e o Líder do Governo, Aloizio Mercadante, que continuo refletindo sobre tudo o que aconteceu hoje na reunião da nossa Bancada. Daqui a instantes, quando eu estiver com o direito de falar da tribuna, lerei a carta que enviei, ontem à noite, ao Presidente. Estou prestes a tomar uma decisão relativa à questão da assinatura do requerimento da CPI, e o farei da tribuna do Senado. Estou recebendo muitas mensagens, uma após a outra. O diálogo com o povo brasileiro, o diálogo que encetei nos últimos dias, continua vivo. Portanto, a proposição de V. Exª é muito importante. Precisamos, como Congresso Nacional, como Senado Federal, no dia de hoje, estar abertos ao sentimento do povo, perceber como o povo está reagindo a nós; precisamos ser o verdadeiro pulmão que é o Congresso Nacional, quando o povo percebe e precisa que estejamos aqui refletindo e dizendo as coisas, tais como as que V. Exª há pouco disse. Congratulo-me com V. Exª e registro que as palavras de V. Exª estão tocando fundo o coração e a mente das pessoas, inclusive daqueles do PT que aqui se encontram, como os Senadores Cristovam Buarque, Paulo Paim e eu, que estamos refletindo, pensando e tomando decisões. Cumprimento-o, portanto, por suas ponderações, que são de grande relevância para o momento que vivemos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª. E quero lhe dizer, Senador, que, nesses longos anos que o conheço, V. Exª é um homem de uma linha reta, da dignidade, da correção, da seriedade. V. Exª é um homem de princípios. Por exemplo, V. Exª defende o direito democrático de se expressar.
Houve um momento em que o Lula tinha de ser candidato, e V. Exª se apresentar para uma opção era um escândalo. V. Exª pegou a antipatia de muitos, mas manteve a sua palavra. V. Exª esteve sozinho aqui. O PT era V. Exª. E, muitas vezes, oitenta Senadores caminharam atrás de V. Exª, e para caminhos que não imaginávamos que iriam, e em uma época difícil. Não era a época da democracia. V. Exª possui autoridade e condições. Não há ninguém que possa existir e que possa não respeitar quem é V. Exª, que o Brasil inteiro conhece.
Ouço-o com o maior prazer, companheiro Cristovam.
O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PT - DF) - Senador Pedro Simon, em primeiro lugar, quero dizer que, hoje à noite, quando o Senador Suplicy falar da tribuna do Congresso, ele o fará também em meu nome. Segundo, quero dizer que, de tudo, o que mais me preocupa hoje é que um discurso como o seu é visto por grande parte das pessoas que compõem o Governo como se V. Exª estivesse contra o Lula e contra o Governo. Isso, a meu ver, é um equívoco total de entendimento das coisas. O discurso de V. Exª é o de quem quer que o Governo Lula dê certo. O seu discurso é o de quem deseja, apesar de ser do PMDB, que o PT dê certo. Agora, alguns acham que ser a favor de uma causa é compactuar com tudo, é ficar em silêncio, é ficar omisso, é bajular até. O que V. Exª está fazendo é um discurso forte, comprometido com seus princípios, mas, sobretudo, entendo que é um discurso que o Presidente Lula deveria ouvir, e sobre ele refletir, como se fosse de um aliado, como talvez ele não tenha muitos, até mesmo dentro do nosso Partido. O senhor é um aliado das mesmas causas do Presidente Lula, e eu gostaria muito que ele tivesse tempo de escutar, refletir e entender aquilo que V. Exª disse aqui esta noite.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª, que vem defendendo uma linha que admiro muito; os pronunciamentos de V. Exª são de alguém que é PT, que tem uma vida de cultura, de capacidade, que tem milhares de horas de leitura, de competência e de capacidade, e que fez uma opção pelo PT, que era aquele PT que ganhou as eleições. V. Exª se jogou, de corpo e alma - seu nome, sua biografia, sua história - naquilo que para V. Exª era o garantido, era o certo. No momento em que isso não está acontecendo, V. Exª, ainda mais da maneira elegante como o faz, vai, orienta, aconselha o Governo, mostrando que esse outro é o caminho. Pelo amor de Deus! V. Exª está fazendo da forma mais carinhosa, mais construtiva e mais serena. No entanto, ou V. Exª tem o silêncio - não lhe respondem -, ou tem um certo desdém - “é um intelectual, não está entendendo as coisas”. V. Exª pode ficar convicto de que ficará com a sua atuação e com o seu trabalho marcados. V. Exª está fazendo a coisa certa, na hora certa.
Pois não, Senador Antero.
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Simon, primeiro, gostaria de cumprimentá-lo. Já assinei a manifestação que V. Exª fez oralmente na tribuna do Senado. Reputo, da mesma forma que V. Exª, a reindicação de Claudio Fonteles um bem para o Brasil e principalmente para este Governo. Entretanto, reporto-me a alguns detalhes da fala de V. Exª: a nomeação do Ministro da Previdência. Depois de tudo o que aconteceu, o próprio Presidente da República disse, naquela famosa entrevista coletiva - uma entrevista que permitia tréplica, uma entrevista moderníssima...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não são notícias de jornal que...
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - ...o Presidente disse que sabia de tudo aquilo antes de nomeá-lo. Disse que, antes de ser nomeado, o Ministro não faltou com a ética, pois lhe contou tudo. S. Exª sabia de tudo, e disse isso. Sabia de tudo e, ainda assim, nomeou-o. Pelo menos, deveria ter evitado essas situações. Aliás, quem nomeia o que foi presidente do INSS também tem coragem. Nós, mato-grossenses, quando alguém é muito corajoso, falamos assim: “tem coragem para mamar em onça virgem no Pantanal”. Onça virgem ainda não pariu, e mamar em onça virgem é difícil. Essas coisas acontecem. Por quê? Porque não se faz um governo assim: esse cidadão é competente? É ético? Atende aos anseios da Nação? Atende aos compromissos da campanha? Atende aos compromissos do Governo? Então, vai ser nomeado. Não é assim. Broadcast de agora: o Líder do Governo, esperançoso, está convocando a Bancada de Deputados do PT para uma reunião para retirada de assinaturas e está cobrando do PMDB...
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A que horas?
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Às 18 horas e 06 minutos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, a que horas será a reunião da Bancada?
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Está acontecendo agora a reunião da Bancada do PT. Estão reunidos, agora, para retirar assinaturas, e a Direção Nacional vai cobrar. Estão cobrando também do PMDB, que contribuiu com 37 assinaturas. Estão cobrando, mas estão encontrando uma certa dificuldade.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Se o PMDB não retirar assinaturas, eles vão demitir o Ministro da Previdência.
O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Pois é, além disso, há a requalificação da base. É a essa requalificação que o Genoíno se refere. Quem retirar a assinatura estará requalificado, passou no teste do Genoíno. Quem não retirar, não estará requalificado. V. Exª toca numa questão fundamental quando reverencia - eu também reverencio - o comportamento e a postura ética do Senador Eduardo Suplicy. Tenho uma pequenina divergência com relação a isso. Precisamos fazer a reforma política no Brasil, para que a fidelidade partidária seja fidelidade ao partido e não à cúpula dirigente do partido. Faz-se necessário um debate acadêmico para saber o que é partido e o que é governo; o que é partido no governo; o que é ser fiel ao programa do partido e o que é ser fiel ao que determina quem está no poder. Todos os partidos que chegaram ao poder se transformaram em partido de holerite. Nós acreditávamos que seria diferente com o PT. Senador Pedro Simon, sinceramente, sabe o que o Lula está fazendo? Está fazendo com que o medo derrote a esperança, embora tenha feito sua campanha eleitoral dizendo que a esperança iria derrotar o medo. Não tenho dúvida alguma de que, com esse comportamento, fará com que o medo de uma apuração de uma CPI dos Correios derrote a esperança. E só há um caminho: refundar o Governo: fazer com que todas as pessoas peçam demissão, porque não tem coragem de demitir ninguém - até o Waldomiro pediu demissão - e, depois, inaugurar um novo Governo. E não dá para ninguém da base do Governo ser cobrado quando assume uma postura ética. A nossa credibilidade já está no chão. Temos 87% de rejeição junto à opinião pública, e a retirada de assinaturas vai nos levar a 100%, Senador Pedro Simon. Cumprimento V. Exª por sua longa vida pública. Parece-me que é de Santo Agostinho a frase: “As palavras convencem, e os exemplos arrastam”. V. Exª, com sua vida pública, é um exemplo para quem quer e para quem insiste em tentar fazer política com ética neste País.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito a V. Exª pelo aparte.
Sr. Presidente, como o Presidente Eduardo Suplicy está esperando para ocupar a tribuna, encerro dizendo que, se depender de nós, ficamos aqui, ainda mais porque se tem conhecimento de que a Bancada do PT está reunida e que está pedindo para que a Bancada do PMDB também se reúna. Acho que quem puder permanecer no Senado fará muito bem.
Muito obrigado, Sr. Presidente.