Discurso durante a 68ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a editorial do Jornal do Brasil, edição da semana passada, sobre os escândalos envolvendo a classe política brasileira.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA POLITICA.:
  • Comentários a editorial do Jornal do Brasil, edição da semana passada, sobre os escândalos envolvendo a classe política brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2005 - Página 16383
Assunto
Outros > REFORMA POLITICA.
Indexação
  • COMENTARIO, APOIO, EDITORIAL, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DEFESA, NECESSIDADE, REFORMA POLITICA, REFORMULAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PRESERVAÇÃO, MORAL, REPRESENTAÇÃO POLITICA, PAIS, RETORNO, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA, CLASSE POLITICA, DEMOCRACIA, QUESTIONAMENTO, ABOLIÇÃO, FIDELIDADE PARTIDARIA, AMPLIAÇÃO, NUMERO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, EXIGENCIA, NEGOCIAÇÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, FAVORECIMENTO, CORRUPÇÃO.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o noticiário da imprensa nacional tem divulgado sucessivos escândalos envolvendo a classe política brasileira. A situação atingiu tal magnitude que é válido falar-se, como o fez com toda propriedade, o Jornal do Brasil em editorial na semana passada, em ruína moral. Não há como deixar de dar razão ao importante órgão da imprensa carioca quando diz que o Brasil somente conseguirá remover os escombros deixados pela ruína moral dos políticos brasileiros, atualmente responsáveis pela mais séria ameaça à nossa democracia depois do fim do regime militar, quando reorganizar em definitivo o seu quadro partidário. Tenho defendido nesta Casa a tese de que a reforma política deveria preceder a todas as outras reformas, como condição de êxito para, senão superar, ao menos minimizar as mazelas que a todos infelicitam. Neste particular foi também feliz o JB ao observar que, na terra arrasada em que se transformaram os partidos, tem prevalecido um conjunto perturbador de ações nocivas ao nosso país; um vale tudo no qual se incluem a pouca vergonha das infidelidades, com múltiplos casamentos ao sabor das conveniências eleitorais, os devaneios programáticos, capazes de promover guinadas radicais para saciar o apetite pelo poder; as articulações miúdas, cuja mesquinhez é justificada por uma falsa governabilidade. Tudo isso assusta, é claro, o eleitor brasileiro, que tem manifestado a sua descrença na classe política, o que se pode aferir através das pesquisas de opinião. O mais grave ainda é a descrença que se manifesta na democracia. Não faz muito tempo uma pesquisa com universitários no Rio de Janeiro mostrou que a esmagadora maioria do jovens, com idade entre 18 e 25 anos, responderam não ser a democracia o melhor regime no qual almejam viver. Não tenho dúvida de que essa imagem negativa do sistema que hoje prevalece nas mais importantes nações civilizadas do mundo é o resultado desta ruína moral a qual se refere o JB. A classe política está desacreditada. E o descrédito é atribuído pelo jornal, com toda razão, às práticas despudoradamente inseridas no cotidiano da esmagadora maioria das agremiações partidárias e que resultam num preocupante relativismo moral que turva o ambiente democrático. Sim, o jornal tem razão em dizer que o clímax desta situação é alcançado na sucessão infindável de atos corruptos, realizados com a omissão dos partidos que acolhem bandidos engravatados. Mais do que isso se constata que as legendas não são mais somente siglas de aluguel visando obter dividendos eleitorais; transformaram-se em veículos de intermediação de negócios escusos. Formam-se grupos - ou quadrilhas? - como estratégia para a garantia de benesses privadas. As cenas de tevê mostrando um alto funcionário de estatal embolsando um maço de notas em troca de viabilização de um contrato é somente mais um entre tantos exemplos que surgem diariamente e aguçam a crise moral da representação política no país (afora os incontáveis episódios não captados pela ação da imprensa).

Sim, não há como deixar de dar razão ao JB quando afirma: Eis o paradoxo de um país que experimentou, nos últimos 20 anos, o maior avanço democrático da América Latina e um dos mais notáveis crescimentos eleitorais do mundo. Não é pouco. O mal-estar atual, conforme tem insistido o JB, decorre do fato de que a sociedade se modernizou muito mais rápido do que suas instituições públicas e seus representantes. Não é demais afirmar que o esfacelamento moral cresceu à proporção da pulverização partidária, cujas conseqüências apontam para uma precária governabilidade. A distribuição mais horizontal do poder, afinal, ampliou o número de partidos e exigiu negociações mais complexas entre os poderes Executivo e Legislativo. Novos ingredientes foram acrescidos quando foi abolida a fidelidade partidária, considerada coisa da ditadura. A redemocratização exigia mudanças, mas não a ponto de se ter “a porta arrombada”, expressão utilizada pelo então presidente eleito Tancredo Neves. Foi o que ocorreu. De lá para cá, criaram-se dezenas de siglas, a política passou a constituir-se num espaço de beltranos e sicranos e se exacerbou o modelo instituído ainda nos anos 50, com voto por meio de listas abertas. Tudo somado, o sistema partidário desmilingüiu-se de vez - problema amplificado pela impunidade que costuma adornar a horta de benefícios concedidos aos nossos políticos. A principal confirmação do desastre está na incapacidade dos partidos de oferecer aos eleitores opções distintas o suficiente para construir suas identidades, criar lealdades e servir como atalho no ato de votar. O esperado DNA programático de cada um é substituído pela genética dos acordos de circunstância. A modernização das propostas cede espaço ao avanço da traquinagem. Sem justificativa moral que os sustentam, os partidos e seus integrantes perdem credibilidade. Sem política geral, perde a democracia. Portanto, não há mais como protelar. A reforma política deve sair das gavetas e se tornar realidade neste País, por ser um inegável instrumento de moralização dos costumes no Brasil.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente e Srs. Senadores. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2005 - Página 16383