Discurso durante a 70ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para o aumento da obesidade no país.

Autor
Augusto Botelho (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Alerta para o aumento da obesidade no país.
Aparteantes
Leomar Quintanilha.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2005 - Página 16549
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, ESTIMATIVA, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE (OMS), AUMENTO, NUMERO, POPULAÇÃO, MUNDO, EXCESSO, PESO, APRESENTAÇÃO, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), INCIDENCIA, BRASIL.
  • ANALISE, PREJUIZO, EXCESSO, PESO, POPULAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, CAMPANHA, SAUDE PUBLICA, SEMELHANÇA, COMBATE, TABAGISMO.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, a Organização Mundial de Saúde (OMS) está seriamente preocupada com uma das mais graves doenças do século XXI: a obesidade.

Se medidas preventivas apropriadas não forem tomadas imediatamente, as perspectivas que se apresentam para este século indicam que mais pessoas morrerão por excesso do que por falta de comida, inclusive no Brasil, conforme pesquisas recentes realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A excessiva acumulação de gordura no corpo é um problema que está atingindo tanto os países mais ricos como as camadas mais pobres das populações dos países em desenvolvimento.

A Associação Internacional para Estudo da Obesidade estima que 30% da população dos Estados Unidos é obesa e que uma das conseqüências diretas dessa epidemia é uma perda anual de 4 bilhões de dólares, em decorrência de queda na produtividade da economia americana.

Dos anos 80 aos dias atuais, as taxas de obesidade triplicaram nos Estados Unidos, Reino Unido, Europa Oriental, Oriente Médio, Austrália e China.

As estatísticas brasileiras não nos fornecem informações fidedignas sobre obesidade. No entanto, todos os fatores sociais que nos rodeiam indicam que caminhamos na mesma direção dessas regiões mais ricas, apesar de também convivermos com a subnutrição crônica, confirmando nossa condição de país das grandes e cruéis desigualdades.

O endocrinologista Walmir Coutinho, chefe do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares, afirmou à revista Veja, de 30 de junho de 2004, que “na favela tem mais obeso do que desnutrido”, o que comprova a complexidade, a gravidade e a extensão social desse problema.

Não estamos, de modo algum, negando a importância nem a prioridade de programas contra a fome, pois não podemos admitir o escândalo de, em pleno século XXI, ainda existir fome num País que é um verdadeiro celeiro da humanidade e grande exportador de alimentos.

Estamos, sim, preocupados com a saúde e bem-estar da população brasileira, que está sendo constantemente atingida pelos problemas da obesidade, inclusive a chamada obesidade mórbida.

As estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam a existência de mais de um bilhão de adultos acima do peso, dos quais 300 milhões são considerados clinicamente obesos.

No Brasil, são quase 39 milhões de adultos com excesso de peso, dos quais 10,5 milhões são considerados obesos, sem contar as crianças e adolescentes, pois o IBGE não incluiu a população com idade inferior a vinte anos.

Essa é outra grande preocupação, em termos de saúde pública, pois a atual população de jovens está sendo educada, ou talvez deseducada, com hábitos alimentares não saudáveis, que incluem muitos hambúrgueres, doces, sorvetes e outros alimentos com elevados índices de gordura e de açúcar.

Sr. Presidente Mão Santa, infelizmente, estamos preparando as condições para o surgimento de enfermidades graves como diabetes mellitus tipo II, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, algumas formas de câncer e doenças ósseas.

É realmente preocupante o futuro da nossa juventude, por ela não incorporar hábitos saudáveis, como exercícios físicos e alimentação adequada, incluindo frutas, verduras, alimentos integrais e não gordurosos.

A obesidade pode ser diagnosticada facilmente pelo Índice de Massa Corporal, IMC, que é obtido pela divisão do peso em quilogramas pelo quadrado da altura da pessoa.

Sr. Presidente Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, como médico, cidadão e homem público, sinto-me na obrigação de pedir a colaboração de todos os membros desta Casa, do Congresso Nacional e do Poder Executivo e de todos quanto têm responsabilidade pública, para que trabalhem efetivamente no sentido de combater o problema da obesidade, que poderá, neste século XXI, matar mais que muitas guerras, que o trânsito caótico, que o narcotráfico e outras calamidades.

O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Senador Augusto Botelho,V. Exª me permite um aparte?

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR) - Com todo prazer, Senador.

O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Estou ouvindo com atenção e com certa preocupação a exposição de V. Exª nesta tarde, quando revela o número assombroso de brasileiros já acometidos de obesidade: quase 40 milhões de pessoas. Isso, de fato, é uma preocupação nacional. É importante que o próprio Governo cuide disso. Fazendo uma avaliação da minha própria vida - eu que tive oportunidade de freqüentar universidade, de visitar escolas e de visitar o Congresso Nacional -, pude observar que são raras as famílias brasileiras que se preocupam em consultar um nutricionista, um profissional da área para avaliar se a sua dieta normal é adequada, se não é causadora de distúrbios inúmeros, entre eles o da própria obesidade. Vimos há pouco tempo uma matéria divulgando a situação preocupante em que vivem os americanos, naturalmente em decorrência da dieta extravagante que ali é praticada. Seguramente essa situação se repete aqui no Brasil. Se temos um número tão elevado de pessoas com obesidade é porque as famílias, as pessoas não tiveram a preocupação, na sua grande maioria, salvo as exceções, de consultar um nutricionista ou profissional habilitado para a indicação adequada e correta da sua forma de se alimentar. Isso é preocupante. Com uma alimentação adequada, naturalmente, preserva-se mais a saúde. E a medicina preventiva fica mais barata para o Estado do que a curativa. V. Exª tem razão, é médico, é da área, compreende isso muito bem e coloca com propriedade a questão.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR) - Agradeço o aparte de V. Exª. Enriquece muito a minha fala a sua observação, Senador.

É obrigação de todos nós trabalhar para reduzir e eliminar as causas e efeitos deletérios da obesidade, que deve ser combatia a partir da infância com medidas educativas a favor de hábitos alimentares saudáveis, que devem ser ensinados e mantidos desde os primeiros anos de vida de nossas crianças, para que possamos ter um País com mais saúde e com um futuro mais promissor.

Trabalhar pela melhoria do bem-estar e da saúde de todos os brasileiros é obrigação de todos os cidadãos, principalmente daqueles que detêm maior poder econômico, político ou social: não é apenas obrigação dos médicos e dos profissionais da área de saúde. Essa é uma obrigação dos meios de comunicação social, dos jornais, das rádios, das emissoras de televisão; é obrigação de todas as igrejas, dos professores de todos os níveis, das escolas, das universidades, do Conselho de Comunicação Social e de todos que têm compromisso com a construção de um Brasil desenvolvido.

O Professor Kenneth Cooper, criador do famoso “Teste de Cooper”, afirma - como o Sr. Senador acabou de dizer - que é mais barato e eficiente manter a boa saúde do que recuperá-la depois de perdida. Daí a importância de praticar esportes e levar uma vida mais saudável, com uma alimentação mais adequada.

Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, sabemos perfeitamente que o combate efetivo à obesidade não é tarefa fácil nem de curto prazo, pois requer mudanças de hábitos sociais e comportamentos mais saudáveis. As mudanças sociais que ocorreram nas últimas décadas contribuíram fortemente para o aumento do número de pessoas obesas, atingindo indivíduos de todas as idades e classes sociais e representando uma verdadeira epidemia.

O Brasil não adotou ainda uma atitude firme em relação à obesidade. Existem algumas recomendações do Ministério da Saúde e de instituições médicas sobre o assunto. No entanto, ainda temos uma postura muito tímida em relação a um problema tão grave no tocante a muitas vidas que podem ser perdidas.

A nossa atitude em relação ao cigarro é muito firme e uma das melhores que há no Brasil no que tange ao combate ao hábito de fumar. Mas, no que diz respeito à obesidade, estamos engatinhando. Precisamos adotar uma política mais afirmativa quanto a essa questão, utilizando principalmente os meios educativos, a rede de emissoras de televisão governamental - a TV Senado, a TV Câmara, a TV Justiça, a Radiobrás, além de emissoras de rádio do setor público - poderia fazer muito mais por uma causa tão importante e meritória, salvando vidas e melhorando a saúde da população brasileira.

Deixo aqui o meu apelo para que todos possamos contribuir para missão tão importante.

Finalmente, eu gostaria de aqui relembrar as recomendações da Organização Mundial de Saúde para um combate mais efetivo à obesidade que servem para todos os brasileiros, de todas as idades, inclusive para mim: redução de alimentos muito energéticos e ricos em gorduras saturadas; redução de açúcar; diminuição da quantidade de sal na dieta; aumento do consumo de frutas e verduras frescas; prática de atividade física moderada durante, pelo menos, uma hora por dia.

Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância!

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2005 - Página 16549