Pronunciamento de Heloísa Helena em 30/05/2005
Discurso durante a 70ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Críticas ao Partido dos Trabalhadores.
- Autor
- Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
- Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Críticas ao Partido dos Trabalhadores.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/05/2005 - Página 16558
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
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- COMENTARIO, DISCURSO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, APOIO, ASSINATURA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
- ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANUTENÇÃO, CORRUPÇÃO, ANTERIORIDADE, GOVERNO.
A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu ia falar sobre outra coisa, mas vou voltar ao debate sobre o covil dos reinos da política. Eu estava querendo mesmo era falar sobre os novos dados do superávit, que é construído sob a infame prática de cortar recursos sociais, retirando recursos das áreas da saúde, da segurança pública, do saneamento básico, da moradia popular, recursos essenciais para os pobres do País, preferindo o atual Governo, repetindo o anterior, jogar mais da metade da riqueza nacional na lama da especulação.
Sr. Presidente e Srs. Senadores, eu me sinto forçada a entrar no debate da corrupção não apenas pela fala do Senador Suplicy, que acabou por incluir o processo de expulsão, de criação do P-SOL e outras coisas mais, mas também pelo que está apresentado na mídia desse fim de semana e também hoje. Sem dúvida, isso nos obriga a comentar um pouco sobre o fato.
Primeiramente, quero dizer ao Senador Suplicy e a todos os parlamentares que deixaram o nome no requerimento que não haverá expulsão nenhuma. Isso é blefe. Não vai haver expulsão, não vai haver punição, nada disso, porque os meses de glória da cúpula palaciana do PT e do Governo Lula, que acabaram motivando a expulsão do Deputado João Fontes, da Deputada Luciana Genro, do Deputado Babá e a minha, os meses de glória do Governo Lula já passaram. Então, não vai haver expulsão. Isso é conversa fiada.
Não vai haver expulsão, não vai haver punição também porque, se fosse respeitado o Estatuto, nós nem seríamos expulsos, pois o Estatuto do PT possibilita que o parlamentar, mesmo após o fechamento de questão, recorra de uma decisão, alegando questões de natureza ética, filosófica ou de foro íntimo para não votar. Pautados nos meses de glória e para dar à pocilga do capital um sinal de que expulsavam, aniquilavam e acorrentavam qualquer parlamentar do PT que fosse contra esse tipo de política econômica, eles nos expulsaram, evidentemente sob o silêncio de muitos militantes do Partido, a despeito da rebeldia e da solidariedade de muitos outros, como, também, do próprio Senador Eduardo Suplicy.
Não é somente por isso que não haverá expulsão. Não vai haver a expulsão do Senador Suplicy por uma coisa óbvia que move os neurônios oportunistas da cúpula palaciana do PT. Não é por respeito, por amor à história de vida. Não é nada disso! É porque sabem que, se expulsarem o Suplicy, haverá uma repercussão negativa nas candidaturas do PT ao Governo do Estado e à Presidência da República. Portanto, não haverá expulsão. É só conversa mole, conversa fiada. Não haverá nada, pois os meses de glória do Governo já passaram.
Hoje, qualquer pessoa honesta intelectualmente e que não está se lambuzando no banquete farto do poder sabe que, infelizmente, para a tristeza de todos nós, que somos militantes da esquerda socialista, para profunda tristeza de todos nós, qualquer pessoa honesta intelectualmente sabe que, no atual Governo, onde se toca sai secreção purulenta. Portanto, não há como discutir mais nada.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sei que não há novidade em relação aos detalhes da corrupção. Toda semana, minuciosamente, é apresentada a promiscuidade entre camarilhas de políticos, empresários, agentes públicos, base de bajulação e o aparelho de Estado, o aparelho público.
Os detalhes como esses crimes contra a Administração Pública são apresentados particularmente nos causam nojo, náusea, ânsia de vômito, porque, quando eram atos patrocinados pelo Governo Fernando Henrique, nos nossos adversários históricos, pelos nossos supostos inimigos de classe, adversários ideológicos, quando os crimes contra a Administração Pública, as negociatas, a promiscuidade e as camarilhas faziam o que queriam nos governos passados, de alguma forma nós nos animávamos ainda mais a fazer o debate ideologizado, programático, o debate de classe.
No atual Governo, é especialmente triste, Deputado João Fontes. É especialmente triste porque é o mesmo detalhamento, são as mesmas denúncias nos jornais, é tudo a mesma coisa: a cúpula de um partido, a base de bajulação, personalidades do mundo empresarial. É o mesmo negócio. É por isso que os que compartilham com a omissão e a cumplicidade para se lambuzar no banquete farto do poder perdem a autoridade moral de falar das malas-pretas, da corrupção dos outros governos porque usam a corrupção e as malas-pretas do governo passado para justificar o balcão de negócios sujos no atual Governo. Por que é triste? Porque os detalhes nos meios de comunicação são terríveis. É a mesma prática: utilizar o aparelho de Estado, o aparato público, entregar determinados e conhecidos delinqüentes de luxo. É a mesma visão patrimonialista, onde o aparelho de Estado é usado como uma caixinha de objetos pessoais para alguns conhecidos delinqüentes de luxo ou para partilhar o espaço com algumas camarilhas. Isso é muito triste, especialmente triste.
O Senador Eduardo Suplicy brincava conosco do P-SOL dizendo que soube que no nosso Partido já havia mais de quinze tendências. Não sei se há essas quinze tendências. Se houver, o Senador está sabendo mais do que eu. Pode até ser que haja muitas tendências mesmo, o que pode nos transformar num balaio de gatos. Mas é melhor um balaio de gatos do que um ninho de ratos. É melhor um balaio de gatos onde as disputas sejam ideológicas, programáticas, do que os velhos e conhecidos ninhos de ratos onde se disputam outras coisas que não as idéias, onde se disputam os velhos e conhecidos espaços de apropriação indevida daquilo que é patrimônio de todos, que é patrimônio público.
Portanto, Sr. Presidente, tive que fazer esse breve registro.