Discurso durante a 70ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Acusa o senador Eduardo Suplicy de ter quebrado a relação de confiança existente na bancada de senadores do PT.

Autor
Delcídio do Amaral (PT - Partido dos Trabalhadores/MS)
Nome completo: Delcídio do Amaral Gomez
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Acusa o senador Eduardo Suplicy de ter quebrado a relação de confiança existente na bancada de senadores do PT.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Ideli Salvatti, Paulo Paim, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2005 - Página 16559
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OPOSIÇÃO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), ACUSAÇÃO, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, QUEBRA, CONFIANÇA, CONGRESSISTA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, CRITICA, ASSINATURA, APOIO, COMISSÃO.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna hoje para explicar claramente os últimos acontecimentos, especialmente os ocorridos na quinta-feira, aliás, na quarta-feira - como muito bem me corrigiu a Senadora Heloísa Helena -, frutos de uma decisão que a Bancada do PT, por consenso, deliberou.

Quero registrar que não têm sido fáceis, ou não o foram, os debates na Bancada do PT com relação às assinaturas da CPI dos Correios.

Foram momentos importantes para mim, um Senador novo, que nunca havia tido mandato. Mas coordenei reuniões muito ricas em que todas as Senadoras e todos os Senadores foram ouvidos. Todos os nossos Líderes manifestaram seus entendimentos de maneira sincera, honesta e leal.

Penso que crescemos muito, Sr Presidente, como Bancada, que tem V. Exª como uma das suas principais estrelas.

Confesso que essas decisões não foram fáceis. Sempre por consenso, sem votar absolutamente nada na Bancada, fomos não só fazendo uma avaliação dos fatos como um todo, mas, com muita maturidade, com respeito ao Partido, com respeito à história do PT, das nossas Senadoras e dos nossos Senadores, procuramos encaminhar a decisão mais conveniente para o momento, que ajudaria o Governo a enfrentar essa situação, até porque temos como Presidente o nosso principal líder, o grande ícone do Partido dos Trabalhadores, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na quarta-feira, depois de uma longa reunião e de uma série de encontros promovidos por esta Liderança, encaminhamos - não votamos - a não-assinatura da CPI dos Correios, a despeito, Sr. Presidente, de muitas posições contrárias a esse consenso, contrárias não somente fruto da sensibilidade dos nossos Senadores e Senadoras, como também da própria história de cada um. Mas, em respeito ao PT e ao Governo, nós, de comum acordo, não colocamos em votação essa questão e, consensualmente, deliberamos pela não-assinatura.

Ao final da reunião, por uma sugestão do próprio Senador Aloizio Mercadante, Líder do Governo, a Bancada não só entrou em consenso sobre a assinatura, como decidiu que, depois, se todos os esforços de convencimento que ocorriam na Câmara não tivessem sucesso, aqueles Senadores e Senadoras que tivessem interesse em assinar poderiam fazê-lo. Com isso, estávamos protegendo uma decisão de Bancada e, acima de tudo, sendo coerentes com todo o trabalho que o Governo vinha desenvolvendo e, mais do que nunca, com as ações incisivas e rigorosas na apuração dos fatos pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, com demissão dos funcionários que prejudicaram a imagem de uma das instituições mais respeitadas do Brasil, senão a mais respeitada: os Correios.

Encaminhamos as questões dessa maneira. Tratou-se de um fato histórico, de um comportamento exemplar, Sr. Presidente, da nossa Bancada.

As horas foram passando. Ainda estávamos em sessão no plenário do Senado quando o nosso caro Senador Eduardo Suplicy assomou à tribuna e, falando de pressões e de todas as preocupações que perpassavam sua mente naquele instante, disse que quebraria o acordo, porque efetivamente se sentia constrangido, não se sentia bem em relação aos fatos.

Evidentemente, Sr. Presidente, o posicionamento do Senador Eduardo Suplicy provocou uma reação forte na Bancada, a começar pelo Senador Cristovam Buarque, depois pelo Senador Paulo Paim, pela Senadora Ana Júlia Carepa, enfim, por Senadoras e Senadores que teriam interesse, tendo em vista o acordo feito, de assinar a CPI.

Meu querido amigo Senador Eduardo Suplicy, não vim questionar a história política de V. Exª, que é uma das maiores lideranças do Partido dos Trabalhadores. V. Exª tem respeitabilidade e credibilidade na Casa e uma história ilibada. Vim como amigo, aproveitando a oportunidade, meu caro Senador Eduardo Suplicy, para dizer a V. Exª que não pretendo tirar-lhe nada.

Quando conversamos pelo telefone, na quarta-feira à noite, V. Exª me disse: “Se quiserem expulsar-me do PT, não vou sair do Partido. Por mim, não saio. Se quiserem tirar a minha candidatura ao Senado, será uma decisão do Partido”.

Meu caro amigo Senador Eduardo Suplicy, nenhum de nós da Bancada quer tirar nada de V. Exª, o que conquistou com muito trabalho, com muitas horas de dedicação, honrando o PT junto à nossa militância, junto aos movimentos sociais, com toda a história de V. Exª.

Venho principalmente, meu caro Senador Eduardo Suplicy, destacar que o que ocorreu na quarta-feira, para um político e companheiro, não é bom, porque entramos em consenso sobre um posicionamento, o que honrou muito toda a Bancada, num momento de extrema dificuldade.

Foi quebrado o acordo, meu caro Senador Suplicy. Estamos no Senado Federal, estamos no Parlamento. Nós aqui não temos caneta; não temos cargo executivo. O que vale, Sr. Presidente, é a palavra.

Senador Suplicy, também não posso deixar de registrar, até para ser coerente com a minha Bancada, que, assim como V. Exª foi bastante pressionado, tendo recebido vários e-mails questionando o posicionamento - V. Exª diz, inclusive, num dos artigos estampados nos jornais, que logo depois que dei a entrevista para a imprensa, choveram reclamações -, V. Ex não pode esquecer, meu caro Senador Suplicy, que, assim como V. Exª registrou várias mensagens contestatórias àquela decisão que tomamos, outros Senadores e Senadoras da nossa Bancada também o receberam. Muitas, muitas.

Meu caro Senador Suplicy, na Bancada não existem aqueles mais sensíveis, medianamente sensíveis ou menos sensíveis. Todos temos contato com as nossas bases. Todos ouvimos os reclamos das pessoas que acreditaram no nosso projeto, nas nossas propostas. Ninguém nasceu na nossa Bancada e em outro Partido do Senado com uma espécie de dom divino de sempre repercutir mais intensamente o desejo de nossa gente.

Meu caro Presidente, aproveito a oportunidade para deixar registrado, com todo o respeito, meu caro Senador Eduardo Suplicy, que tenho pela sua história, por tudo que V. Exª construiu pelo Partido dos Trabalhadores, que houve uma quebra de confiança. Quando V. Exª disse que podíamos retirar sua candidatura do PT, naquele momento, quem nos tirou alguma coisa foi V. Exª, que nos tirou a confiança de companheiros e de amigos. O importante, Senador Eduardo Suplicy, é que não quero aqui questionar o mérito da iniciativa de V. Exª, não quero nem entrar no mérito da decisão, mas quero entrar no mérito daquilo que consensualmente encaminhamos na Bancada.

Senador Eduardo Suplicy, a maneira como as coisas aconteceram, sinceramente, nós, Bancada do PT no Senado Federal, não ficamos em uma situação confortável, porque foi passada a imagem de que existem em nossa Bancada alguns mais justos e outros talvez menos justos, ou até mais injustos. E isso, meu caro Senador Eduardo Suplicy, não pode acontecer.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Delcídio Amaral?

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Pois não, Senadora Ideli Salvatti.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Delcídio Amaral, em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-lo pelo pronunciamento absolutamente tranqüilo. Estou até invejosa da sua tranqüilidade. Exercer o cargo de liderança de uma Bancada, como tive a oportunidade de fazê-lo no ano passado, algumas vezes, já disse, com tantas estrelas - algumas delas com pontas que acabam se chocando e até se magoando entre si - é difícil. Parabenizo V. Exª pela serenidade com que faz esse pronunciamento, retratando, indiscutivelmente, o sentimento que perpassa - tenho este entendimento - pela maioria da Bancada do PT no Senado Federal. Sou uma pessoa normalmente brava. De vez em quando, fico brava. E não há nada que me deixe mais enfurecida que deliberações tomadas no conjunto e que são suplantadas por decisões individuais. Nada individualmente é melhor ou mais correto que o que se delibera ou que se faz no coletivo. Não digo isso apenas para decisões partidárias. Para mim, isso é uma regra de vida. O que é feito, decidido e construído em conjunto é sempre melhor que qualquer coisa, por melhor que seja, feita individualmente. Penso que esse é um reconhecimento da humanidade. A humanidade tem de ser solidária e agregar interesses, convergir ações. É isso que nos diferencia das feras, dos animais. Atitudes individuais, mesmo que em um primeiro momento possam parecer as mais corretas e mais justas, sempre são atitudes individuais, que confrontam interesses coletivos quando não respeitam uma decisão coletiva. Outra coisa que me deixa mais brava ainda é quando existe um acordo coletivo e se decide, individualmente, quebrar o acordo. Além de quebrar acordo coletivo, existe outra coisa que me deixa mais brava - quero usar a palavra novamente: é quando se percebe que houve premeditação, ou montagem, algo que pode vir a dar margem de que o ato não foi tão natural assim, que a cena foi construída. Nesse caso, é algo, para mim, mais angustiante, porque não é o arroubo de uma decisão fruto de paixão. É quando paira no ar algo premeditado. Da forma como foi feito, tenho esse sentimento, que não é só meu. Não foi conversado? O Senador Paulo Paim falou, ocupou a tribuna, estava lá com os documentos. Tudo havia sido combinado. Mas, de repente, o fato ocorre em determinado horário. Houve inclusive artigos publicados logo em seguida. Então, deixa-me ainda mais angustiada se houver a confirmação de que os fatos não foram tão emocionais nem impulsivos. Parabenizo novamente V. Exª por sua tranqüilidade no pronunciamento neste momento difícil. Gostaria de não estar participando deste debate, Senador Delcídio Amaral. Preferiria que a discussão ocorresse na Bancada e não na tribuna do Senado Federal.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Delcídio Amaral?

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Ouço V. Exª com prazer, Senador Tião Viana.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Também gostaria de me inscrever para um aparte.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Caro Senador Delcídio Amaral, externo muito respeito pela manifestação de V. Exª. Saiba que é difícil para qualquer Senador do PT apartear um pronunciamento da grandeza do de V. Exª, primeiramente porque V. Exª está conseguindo o que, talvez, nenhum de nós conseguiu: expor de forma muito respeitosa e responsável uma crítica que considera justa e que se identifica com o sentimento de tristeza que envolve nossa Bancada, sem dúvida alguma. Além disso, V. Exª consegue preservar todo o respeito à história, à vida, à grandeza pessoal do Senador Eduardo Suplicy. Entendo que S. Exª não deve nos causar surpresa neste momento porque age de acordo com o que é. E essa é uma ação diária de S. Exª que nunca foge daquilo que é em todos os momentos de desconforto, de dificuldade, de encontrarmos um pensamento comum, uma resultante comum na Bancada; S. Exª nunca deixou de ser aquilo que é. E nós, que o conhecemos há muitos anos, temos que aprender a conviver com ele e a valorizá-lo muito. Apenas entendo que a ação de S. Exª nos entristeceu, como V. Exª muito bem diz. Por quê? Porque havia um acordo, havia um entendimento. Eu, às 19 horas, estava aqui, o Senador Eduardo Suplicy foi ao cafezinho e me disse que estava mantido o acordo, que todos ficássemos tranqüilos, mas S. Exª teve um outro convencimento. Mas S. Exª representa muito em minha vida, pois quando ainda era militante do movimento estudantil, por volta de 1981, o Senador Suplicy já era uma referência de tese, de conceito de vida, de visão de sociedade. S. Exª saberá fazer essa travessia conosco, e penso que todos nós temos a capacidade de procurar compreendê-lo. Devemos ter essa capacidade. Mas não deixo, com isso, de reconhecer que errou, que causou tristeza na Bancada, porque quebrou um princípio fundamental na história do Partido dos Trabalhadores, que é o sentimento da unidade, como disse o Senador Paim. O Senador Paulo Paim também tinha todas as razões históricas e disciplinares para agir da mesma maneira que o Senador Suplicy agiu, mas S. Exª renunciou, enfrentou o sacrifício perante o setor da sociedade que o acompanha para preservar o Partido e, com isso, reconhecer a confiança em nosso Governo, o Governo do Presidente Lula. E eu, da mesma forma, assim agi. V. Exª é sabedor que defendi a CPI desde o início, acreditando que deveríamos, neste momento, dar uma demonstração à sociedade de que não temos nada a temer, que o aparelho de Estado fará a sua parte. Mas se a Oposição quer, vamos fazer a CPI e mostrar que o PT não tem nada a temer. Não foi esse o entendimento. Segui os líderes, segui a Bancada, entendendo que devo fazer sacrifícios em nome da unidade e da afirmação de um partido que nada tem o que temer em relação à corrupção. Acredito que o aparelho de Estado que o Presidente Lula dirige é capaz de responder a todas as expectativas da sociedade do ponto de vista moral, para elucidar como deve esse episódio dos Correios. Agora, não foi o entendimento de todos. Tivemos esse desfecho e temos que conviver no processo democrático assim. Só gostaria de concluir dizendo a V. Exª que é um dos mais maduros momento que vejo no Parlamento, uma demonstração de grandeza humana, de convergência entre ética e dignidade na atividade de V. Exª Na verdade, são duas coisas indissociáveis. Acho que a manifestação de V. Exª traduz apenas um olhar para o Senador Suplicy com todo o respeito histórico que ele merece, mas dizendo que estamos sofrendo. Creio que, pelo que ele representa, ainda vai errar algumas vezes mais conosco, mas temos que ter o coração grande para acolher qualquer erro de uma pessoa com tamanha alma como a do Senador Suplicy.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Obrigado, Senador Tião Viana.

Concedo o aparte ao Senador Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero agradecer a maneira amiga e respeitosa com que V. Exª, como meu Líder, está me transmitindo seus sentimentos e os da Bancada. Assumo inteiramente a responsabilidade por meus atos. Eu o fiz para o bem do Partido dos Trabalhadores, da Bancada à qual pertenço e da qual V. Exª é o Líder e, sobretudo, para o bem do Presidente Lula e de seu Governo. A minha companheira Senadora Ideli Salvatti, junto com quem tantas vezes atuei, inclusive quando era Deputada Estadual, e a quem apoiei como Senador, hoje nem quis dirigir a palavra a mim, nem me cumprimentou, está brava. Vai continuar brava, mas eu queria dizer... Sr. Presidente, vou pedir ao responsável pelo som, não sei se é homem ou mulher quem está lá... Sr. Presidente Renan Calheiros, eu teria até direito ao art. 14, mas acho que será mais respeitoso e amigo falar com o Senador Delcídio assim, em aparte. E para a Senadora Ideli, eu queria relembrar alguns fatos da história. Outro dia assisti ao filme A Queda, que mostra a tragédia que foi Adolf Hitler. É um filme maravilhoso do ponto de vista de sua importância feito pelos próprios alemães. Adolf Hitler foi eleito pela maioria do povo alemão. Não estou dizendo que a decisão da Bancada, por maioria, tenha sido algo que faz lembrar. É só para dizer que há ocasiões na história em que mesmo a maioria pode errar, e alguém que queira respeitar essa idéia tem que dizer: “Desta vez, houve erro”. E, nessa ocasião, o Partido dos Trabalhadores - e quero dizer com toda a franqueza - por sua Direção Nacional e pela nossa Bancada, tomou uma decisão que não era a mais correta, que não defende o melhor para o Presidente Lula; uma decisão que nos colocaria em uma situação muito pior. O que a Senadora Ideli Salvatti e V. Exª ainda não compreenderam bem é que, por volta das 19 horas, percebi que aquele documento que entreguei ao Senador Paulo Paim, no qual eu dizia que se quisesse poderia também tomar a mesma atitude, se tornaria inócuo. E é possível, Senador Delcídio Amaral, que a minha atitude dentro do PT seja considerada um agravante, mas assumo também essa atitude. Por que razão? Na hora em que tive a estimativa, de quem sabe muito bem das coisas no Congresso Nacional, de que o PT, PP, PTB, PL conseguiriam retirar as assinaturas necessárias - e faltaram poucas, somente nove -, por volta das 20 horas, resolvi fazer o pronunciamento dizendo que achava adequado haver a CPI e que o Presidente e todos os Ministros não deveriam ter receio algum, como hoje muito bem disse Sílvio Pereira: “Não há por que ter receio disso, vamos ter uma atitude serena”. Palavras corretas: vamos ter uma atitude serena, colaborar com essa CPI. Naquele momento, é possível que, se eu não tivesse tomado aquela atitude, então aquelas nove assinaturas teriam ocorrido, e o Deputado Arlindo Chinaglia teria chegado aqui, à meia-noite, com o número de assinaturas necessárias para invalidar a CPI, e ela não teria existido. O importante agora é todos nós contribuirmos para que essa CPI se faça da maneira mais isenta, imparcial e responsável. Quero dizer mais, Senadora Ideli: não tenho preocupação alguma. V. Exª preferiria que o nosso diálogo fosse apenas entre nós, na Bancada. Eu, por mim, tornaria as reuniões de Bancada abertas, transparentes, poderiam ser gravadas, com notas taquigráficas. Não tenho receio algum de dizer as coisas que penso no Parlamento da maneira mais transparente possível. Quero já dizer que tudo o que eu falar dentro da Bancada todos os meus companheiros podem comentar à vontade, porque não tenho o que esconder na minha vida pública. Muito obrigado. Meus cumprimentos, meu abraço. E confirmo que V. Exª é o meu Líder escolhido quando votarmos em fevereiro. V. Exª sempre tem me tratado com a maior fidalguia, respeito, amizade, inclusive hoje nas suas palavras. Então tenho a convicção de que essa minha decisão está sendo muito bem compreendida por todos os filiados do PT e, sobretudo, pelo povo brasileiro, e é para o bem do Presidente Lula.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Sr. Presidente, para concluir, eu gostaria de deixar muito claro que todos os Senadores e Senadoras do PT pautaram o seu comportamento em respeito ao Partido, em respeito ao Governo. E, graças a Deus, no Parlamento, e graças a Deus, no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, ninguém recebeu o dom divino de ter mais sensibilidade para as questões sociais que outros. Todos nós aqui trabalhamos diretamente e, mais do que nunca, defendemos uma série de posições que encontram a empatia e a esperança nas pessoas que discutem a política e discutem um futuro melhor para os nossos Estados e para o Brasil.

Ouço o Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Delcídio Amaral, V. Exª conversava comigo hoje e dizia que o bom seria se o debate fosse feito na Bancada - e assim também eu entendia. Mas o Senador Suplicy legitimamente entendeu que poderíamos fazer o debate aqui no Plenário do Senado. Senador Suplicy, darei uma informação, resultado do que V. Exª me deu uma missão ao pedir que fosse à Câmara. Pois, bem. Fui à Câmara, e a Bancada tinha encerrado a reunião. Aqueles onze decidiram que não retirariam a assinatura. Conseqüentemente, os outros Partidos que esperavam essa decisão, também não retiraram. Se V. Exª tivesse conversado comigo, antes de subir à tribuna, talvez tivesse cumprido o acordo. Mas, Senador Delcídio Amaral, quero mais é cumprimentar V. Exª, que, de forma equilibrada e tranqüila, dialoga com o Senador Suplicy, mostrando a ele que houve uma quebra de acordo - e S. Exª reconhece isso -, que lamentamos. Senador Tião Viana foi muito feliz. É claro que nós estamos tristes, porque tínhamos caminhado juntos, do início ao fim, ao longo desses dias. Infelizmente, o Senador teve outra posição. Senador Delcídio Amaral, de forma muito equilibrada - por isso que nem mesmo faria o aparte - V. Exª faz o relato fiel da discussão na Bancada. É preciso que fique claro, Senador Suplicy, que, quando V. Exª formulou o documento, era apenas para mostrar nossa convicção, que gostaríamos que ficasse registrada nos Anais - vou falar depois e entregar para que seja publicada nos Anais da Casa. Gostaríamos que ficasse clara a nossa posição em relação à CPI, apenas isso. V. Exª se precipitou, mas respeito assim mesmo a sua posição. Meus cumprimentos, meu Líder, pelo equilíbrio e pela forma como estabeleceu o debate desse tema.

O SR. DELCÍDIO AMARAL (Bloco/PT - MS) - Sr. Presidente, para concluir, deixo bem claro que não questiono o mérito da decisão do Senador Suplicy; não questiono o mérito, mas questiono a política, a decisão política. E política se faz com palavra; política é compromisso! Essa é uma das razões por que eu, Sr. Presidente, mui respeitosamente, vim aqui. Primeiro, quero relatar claramente o que ocorreu, sem esconder nada, sem assumir qualquer postura mais marqueteira, uma postura mais surpreendente, mas, acima de tudo, para relatar, com absoluta sinceridade, o que efetivamente ocorreu.

Sr. Presidente e meu caro Senador Eduardo Suplicy, em 1974, o Brasil perdeu a Copa do Mundo na Alemanha. Aquilo foi uma grande decepção para todos nós, brasileiros, para todos que amamos o Brasil. Eu me lembro de que, naquela ocasião, quando a Seleção Brasileira chegou, encontraram um meio de os jogadores saírem rapidamente; do próprio avião cada um tomou seu carro e sumiu, com medo de uma reação forte da população.

Um dos principais jogadores da Seleção Brasileira à época, Paulo César Caju, quando foi ligar o seu carro, percebeu uma falha. Estava ali perto um dos populares que tinham ido receber a Seleção Brasileira com carinho, apesar da mágoa e da tristeza. O Paulo César Caju ficou preocupado, receoso de receber um insulto. Mas o que aquele brasileiro, tão brasileiro como Paulo César e tão brasileiro como nós, sentia reflete o que nós estamos sentindo. Ele olhou para o Paulo César Caju e disse assim: “Paulo César Caju, que papelão”. E assim acabou.

Meu querido Senador Eduardo Suplicy, eu quero externar meu sentimento. Sou um homem positivo nas coisas; acredito sempre, acima de tudo, nas pessoas, e eu sei que nós vamos suplantar isso. Mas hoje, confesso a V. Exª, é um dia para nós de muita... Nós não merecíamos isso, seus companheiros de Bancada. E parafraseando aquele torcedor brasileiro em 1974, eu digo: Meu caro Eduardo Suplicy - se V. Exª me permite chamá-lo assim - que decepção!

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2005 - Página 16559