A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, franciscanamente, peço todas as desculpas aos animais. Às vezes, é mais fácil pedir desculpas aos animais do que a companheiros. Infelizmente, a honestidade, a franqueza e o jogo aberto, às vezes, são até mal interpretados, mas é de fundamental importância que tenhamos a capacidade de fazê-lo.

Sempre digo que quem assiste à TV Senado e ouve os pronunciamentos muitas vezes acaba tendo uma visão catastrófica que não bate com a realidade. Ao longo da tarde, fui recebendo os informativos on-line da imprensa e, Senador Tião Viana, quero apenas trazer dois, por serem de fundamental importância para ilustrar o que estamos debatendo.

Passo a ler alguns trechos de umas notas:

Depois de resistir sem maiores traumas à forte volatilidade externa dos últimos meses, o mercado brasileiro também parece enfrentar sem grandes dramas a piora do cenário político das últimas semanas. Mesmo a bolsa, que tem sido o mercado mais volátil, conseguiu na última sexta zerar as perdas acumuladas em maio e já está no azul. Mas é no câmbio e no risco Brasil, que costumam ser os melhores termômetros do estresse dos investidores, que a serenidade fica mais patente. O dólar acumula queda de 5,65% neste mês, enquanto o risco Brasil caiu 8,5% no mesmo período.

No final da nota, um operador ouvido pela Agência diz: “Por enquanto, não há sinal de que vai acontecer alguma decisão que prejudique o desempenho da economia”.

Portanto, quem ouve o que é dito no plenário acha que há uma turbulência, e estão aí os indicadores econômicos, com a bolsa e o risco Brasil reagindo.

Faço questão de trazer outra notícia:

BRASIL É O 5º MAIOR INVESTIDOR DIRETO ENTRE EMERGENTES.

O Brasil é a nação latino-americana com maior volume de investimentos diretos feitos em outros países (IED), com um total de US$66 bilhões, e é o quinto maior do mundo em desenvolvimento, atrás apenas de China, Hong Kong, Cingapura e Taiwan, segundo dados da Comissão da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), divulgados há pouco no seminário “Global Players From Emerging Markets: Brazil”.

Meu inglês é horrível, já fui até admoestada nesta Casa.

De qualquer forma, são essas as notícias da realidade, do que está posto. Muitas vezes o cenário fica meio estranho aqui. Já tive oportunidade de ouvir que estamos vivendo um caos, uma catástrofe. Mas, como todos estão recebendo documentos, eu também não poderia deixar de registrar aqui - e eu nem sabia que tinha virado livro, Senador Paulo Paim - O Mapa da Corrupção no Governo FHC. Virou livro. Estão aqui registrados os principais casos de suspeita de corrupção, passo a passo: reeleição, Proer, DNER, Sudam, Pasta Rosa, Sivam e por aí se vão os escândalos. Gostaria de registrar que recebi o livro e vou lê-lo com bastante atenção, até porque não tive a oportunidade de estar no cenário nacional enquanto todas essas situações ocorreram.

Sr. Presidente, em minha fala do início da tarde, citei um único exemplo. Gostaria de citar mais alguns, pois todas as falas da Oposição têm seguido a lógica de que há um mar de lama e de que temos um Governo corrupto. Já tive oportunidade de vir à tribuna e dizer que nenhum outro Governo antes do Governo Lula tem a possibilidade de apresentar o mapa que foi divulgado no domingo passado pelo jornal O Globo, citando todas as operações, mais de 70, da Polícia Federal, em que mais de 1.200 pessoas foram presas. Em apenas oito operações, a Polícia Federal combateu em torno de R$2,7 bilhões em fraudes contra a Administração Pública. Muitas dessas operações desmontaram quadrilhas que atuavam na malha da Administração Pública brasileira, seja no Poder Executivo, seja no Judiciário, seja no Legislativo, na esfera federal, estadual ou municipal, há muitos anos.

Citei uma, mas gostaria de citar outras. A Operação Gafanhoto inclusive chegou a atingir pessoa recém-filiada ao PT, em uma demonstração clara de que o Governo Lula não tem refresco. Seja quem for, se foi pego com a “mão na botija”, tem prisão. A Operação Gafanhoto funcionava desde 1998, mas foram presos agora, no Governo Lula.

Desde 1992, havia o esquema dos Vampiros no Ministério da Saúde, que diz respeito à fraude de hemoderivados. Depois de doze ou quase treze anos é que o Governo Lula desencadeou a operação, também sem dó nem piedade, descobrindo inclusive pessoas nomeadas pelo atual Governo, desmontando o esquema.

A Operação Gabiru - que diz respeito à merenda escolar, dos Prefeitos - tinha mais de dez anos.

A Operação Ajuste Fiscal prendeu onze auditores fiscais da Secretaria da Receita Previdenciária, do INSS, que, nos últimos dez anos, mediante recebimento de propina, causaram um prejuízo de mais de um bilhão aos cofres da Previdência.

Portanto, são quadrilhas que funcionam há muito tempo, entra Governo, sai Governo, e não foram desmontadas.

E citei aqui o caso que considero o mais emblemático, que é o da fraude dos concursos. O líder da quadrilha disse que fraudava concursos desde a época do Governo João Batista Figueiredo, há 24 anos.

            Portanto, é de fundamental importância trazermos dados a respeito do combate efetivo à corrupção. Existe uma questão de ordem acatada e encaminhada à Comissão de Constituição, Justiça e de Redação da Câmara dos Deputados, que será apreciada nos próximos períodos.

O Sr Heráclito Fortes (PMDB - PI) - Senadora Ideli Salvatti, V. Exª me permite um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Vou apenas concluir, pois já se passaram vários minutos.

O Sr Heráclito Fortes (PMDB - PI) - Apenas para perguntar: em que Governo começou o caso Waldomiro, e que providência foi tomada?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Sr Presidente, o aparte sou eu quem concedo, regimentalmente. E já se esgotou o prazo.

O SR PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª tem a palavra, Senadora Ideli Salvatti.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte? Apenas para ajudá-la, Senadora Ideli Salvatti.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Gostaria apenas de concluir minha fala, dizendo, de forma muito tranqüila, que vamos acompanhar a deliberação da Comissão de Constituição e Justiça e vamos nos conduzir, com toda a serenidade, nos processos de investigação e de combate à corrupção, como nenhum outro Governo fez na história republicana das últimas décadas.

Muito obrigada, Sr. Presidente.