Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de uma política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, para coibir o desmatamento da região. (como Líder)

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SOBERANIA NACIONAL.:
  • Defesa de uma política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, para coibir o desmatamento da região. (como Líder)
Aparteantes
Jefferson Peres, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/2005 - Página 16724
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, DADOS, INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE), DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, REDUÇÃO, INDICE, ESTADO DO ACRE (AC), AUMENTO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), MOTIVO, DIFERENÇA, MODELO, DESENVOLVIMENTO, ARTIGO DE IMPRENSA, AMBITO INTERNACIONAL, DEFESA, INTERNACIONALIZAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, PREJUIZO, SOBERANIA, ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, SOJA, SUGESTÃO, EXIGENCIA, BANCO MUNDIAL, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), FINANCIAMENTO, BRASIL.
  • ANALISE, NECESSIDADE, POLITICA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO AMAZONICA, DEFESA, DESTINAÇÃO, METADE, RECURSOS, FUNDO CONSTITUCIONAL DE FINANCIAMENTO DO NORTE (FNO), FINANCIAMENTO, PRODUTIVIDADE, BIODIVERSIDADE.

O Sr. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP. Pela Liderança do PSB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Tião Viana, embora tenha me deixado por último entre os Senadores que usam da palavra pela Liderança, V. Exª gostará muito do que vou dizer. Quero usar como argumento o seu Estado, o Acre, até para que possamos estabelecer diferenças entre os Estados amazônicos.

Na Amazônia, cada estado é diferente do outro. Os índices de desflorestamento anunciados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais têm causado, no mundo todo, comentários. Alguns nos atingem, atingem até nossa própria soberania.

O Estado do Acre reduziu o desflorestamento em 23%, enquanto o Estado de Mato Grosso aumentou o desflorestamento em 40%, no período de agosto de 2003 a agosto de 2004. Esses dados mostram, com clareza, que existem dois modelos e amazônias diferentes.

Insisto em falar sobre a Amazônia, Senador Romeu Tuma, porque corremos sérios riscos. Morei dez anos fora do País. Não fui voluntariamente, fui exilado. Não podia viver aqui porque havia uma ditadura infame. Aprendi muito. Aprendi a conviver com as diferenças e a conhecer com certa profundidade o comportamento dos países ricos - não é à toa que são tão ricos.

Tenho acompanhado a questão na imprensa internacional. Tenho uma série de matérias do Le Monde. Tenho em mão o editorial do The New York Times de hoje, que aponta um caminho que me parece muito prejudicial para o Brasil. Fala-se muito da internacionalização da Amazônia. Atualmente, com a globalização do mercado, dos problemas ambientais, sabemos todos que as queimadas na Amazônia ampliam o efeito estufa e que os problemas são globais.

De acordo com o editorial do The New York Times, até o Governo brasileiro pareceu chocado com as notícias que divulgam o aumento do desflorestamento e investiu US$140 milhões em projetos de conservação. O editorial continua a análise.

Não vou fazer referência ao Le Monde, vou me ater ao editorial, porque nosso tempo é muito exíguo.

Mais adiante, o editorial afirma que o conflito para salvar a Amazônia vem fazendo muitas vítimas, a mais notável é Chico Mendes, em Xapuri, no Acre; depois, a irmã Dorothy Stang, de naturalidade norte-americana, recentemente assassinada em defesa da floresta, mas sobretudo em defesa de um novo modelo, exatamente a ação nossa.

Falando da Amazônia, Sr. Presidente, amazônida como nós, concedo o aparte ao Senador Jefferson Péres. 

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Capiberibe, V. Exª tem razão. Podemos perder a Amazônia a longo prazo não pela internacionalização, mas pela destruição, feita pela irresponsabilidade de brasileiros. Nesse dado alarmante relativo ao aumento do desmatamento, alguns Estados como o meu, o Amazonas, tiveram a devastação diminuída. No Amazonas, o desmatamento diminuiu em 38%, o que é um dado alentador, mas não me deixa satisfeito, Senador. Quero chegar a 0% de desmatamento. Haveremos de chegar lá. Parabéns pelo seu pronunciamento.

O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP) - Muito obrigado, Senador. Parabenizo o Estado do Amazonas por essa informação, porque é fundamental.

O editorial do The New York Times cita a Ministra Marina Silva. Tenho convicção de que a Ministra Marina Silva pensa num modelo diferente para a Amazônia, como o Senador Jefferson Péres, como tantos Senadores, como tantos Deputados representantes da Amazônia no Parlamento e como muitos amazônidas. A maioria do povo da Amazônia não quer esse desenvolvimento destruidor. Estamos produzindo, e o editorial carrega as tintas para culpar a soja.

Na verdade, os fatores de desflorestamento da Amazônia são vários, não é apenas a soja. Há a pecuária, os pequenos agricultores familiares que desmatam, a mineração, um conjunto de fatores e, sobretudo, a falta de política para a Amazônia. É isto que destrói a nossa região: a falta de uma política, a falta do programa Amazônia Sustentável. Esse programa é decisivo para a mudança de modelo, mas, enquanto o programa não vem, não podemos cruzar os braços.

Sr. Presidente, V. Exª me permite conceder um aparte ao Senador Sibá Machado?

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - De maneira muito objetiva, em função da escassez do tempo.

O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP) - Senador Sibá Machado, concedo o aparte a V. Exª, que tem toda autoridade para intervir no tema.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador João Capiberibe, agradeço muito a V. Exª e ao Sr. Presidente a oportunidade deste aparte. O assunto é muito provocante. Creio que todos ficamos mal impressionados com os números do desmatamento. Estou terminando um estudo dos escritos da Professora Berta Becker - acabei de falar dos geógrafos -, uma das geógrafas mais respeitáveis do Brasil. Ela trata muito bem do assunto no seu livro mais novo, intitulado Amazônia e a Geopolítica no Terceiro Milênio. Estamos vivendo uma guerra pelo poder naquela região, onde temos o poder constituído, o poder legal, o Poder Público e um poder obscuro, escondido, clandestino, um inimigo que não sabemos exatamente quem é, que tem um nome tão, digamos, superficial que não conseguimos identificá-lo. Acredito, Senador Capiberibe, que o nosso problema não será falta de leis, porque já temos, digamos assim, uma rota para o desenvolvimento regional. O que precisamos agora é constituir um aparato para coibir aqueles que insistem em fazer um trabalho fora da lei. Parabenizo V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP) - Sr. Presidente, para encerrar, gostaria de dizer que o editorial sugere que as agências de fomento internacional, como o Banco Mundial e o BID, estabeleçam exigências para continuarem financiando o Brasil.

A opinião pública internacional vai se mobilizar, sim, até porque as florestas tropicais têm uma função decisiva em relação à contenção do efeito estufa. Sugiro que façamos a nossa lição de casa. A minha proposta - já conversei com alguns Senadores e quero conversar com todos os meus Pares nesta Casa - é que estabeleçamos que 50% do FNO, do fundo criado pela Constituição Federal para financiar o desenvolvimento da região, seja destinado ao financiamento da cadeia produtiva das espécies animais e vegetais da biodiversidade amazônica, e 10% destinados a financiar pesquisas com a biodiversidade.

Portanto, darei entrada ao projeto nesta Casa...

(Interrupção do som.)

O SR JOÃO CAPIBERIBE (Bloco/PSB - AP) - ...com o apoio das Srªs e os Srs. Senadores.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/2005 - Página 16724