Discurso durante a 75ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Governo Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao Governo Lula.
Aparteantes
Arthur Virgílio, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2005 - Página 17825
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, CRIAÇÃO, CRISE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), REFERENCIA, ATUAÇÃO, HENRIQUE MEIRELLES, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • CRITICA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), TENTATIVA, COPIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CONTRADIÇÃO, ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • CONTESTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, REFERENCIA, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), DENUNCIA, PERSEGUIÇÃO, IMPRENSA, ESTADOS, OPOSIÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Arthur Virgílio, cai a máscara do Governo. A coluna da insuspeita jornalista Christiane Samarco, que está ao lado de V. Exª, diz, hoje, que em uma conversa do Presidente Lula com o Senador Renan Calheiros, ontem, aquele faz a este uma sondagem sobre a substituição do Ministro Henrique Meirelles.

O que temos nós, o Congresso, a ver com isso? Quem tirou o Deputado tucano do seu mandato, quem fez o Deputado tucano renunciar à maior votação que um Deputado Federal obteve no Estado de Goiás foi o Presidente da República. Se, por um motivo ou outro, está pesando na biografia do PT - não sei se é a política econômica praticada por Meirelles ou se é a sua origem político-partidária -, então, que o PT assuma essa responsabilidade e não queira trazer para o nós do Congresso Nacional esse ônus.

Por várias e várias vezes, Senador Geraldo Mesquita Júnior, tenta-se trazer para o bojo da Oposição crises que envolvem o Presidente do Banco Central. Por diversas vezes quiseram jogar o ônus dessa responsabilidade para o Oposição. Aí vem aquele velho ditado popular: “Quem pariu Mateus que o embale”.

Quiseram forçar a convocação por parte da Oposição do hoje Ministro; quiseram criar crise envolvendo o Ministro para nós assumirmos, mas a Oposição brasileira, hoje, é responsável e experiente.

Todas as vezes em que isso acontecia, soubemos nos afastar da crise, porque não estamos aqui para avalizar crises plantadas dentro do Governo, para que daí surjam soluções do seu interesse.

Isso me lembra o que vem dizendo aqui, constantemente, a Senadora Heloísa Helena: o Presidente Fernando Henrique e o Governo passado passaram a ser objeto de desejo do atual Governo.

V. Exª é de uma região que deve ter a famosa bicicleta de cigano, que hoje evoluiu um pouco, já não é mais bicicleta, é motocicleta de cigano. Aquela “bicha” toda enfeitada, com um espelho retrovisor na frente e um outro atrás. O Governo atual parece isto: sem pedalar, desequilibrado e olhando pelo retrovisor.

Não passa uma semana sequer aqui sem que, para justificar os seus erros, dois anos e meio após ter assumido, teça-se uma verdadeira ladainha com a administração passada. Mas, gente, se a economia brasileira estava errada, por que não foi modificada no dia seguinte?!

Há cerca de 15 dias, foram buscar nos quadros do Governo passado uma das figuras mais competentes da área econômica, que é o Sr. Murilo Portugal. Por que não foram buscar nos quadros do PT? Onde estão os teóricos, formados pela escola petista, para assumir os destinos da economia brasileira? Aliás, se formos olhar bem, a parte do Governo que está dando certo não é comandada por petistas. E aí vem a exceção para salvar a regra, que é o Ministro Palocci. Se examinarmos, ele é contestado dentro do próprio Governo. Há a ala “paloccista” e a ala “antipaloccista”.

É difícil entender o que essa gente quer. Se a agricultura faz sucesso...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com o maior prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª citou a nossa amiga jornalista Christiane Samarco, dizendo que ela estava ao nosso lado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Tão jovem e tão decana!

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Exatamente. E tão bonita! Mas eu gostaria de esclarecer que ela está aqui ao nosso lado geograficamente, mas não politicamente. Politicamente, ela é neutra, como cabe a ela como jornalista ser. Apenas por coincidência ela nos honra com a sua presença. Como o grande público poderia pensar que ela estava ao nosso lado politicamente, eu gostaria de esclarecer que ela está geograficamente ao nosso lado, mas politicamente ela é neutra e, certamente, observa os fatos com o olhar crítico de todos os jornalistas.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradecendo a advertência de V. Exª, muito própria, quero justificar que ela está ao nosso lado porque está na tribuna da imprensa, juntamente com vários outros jornalistas, acompanhando o que acontece hoje e assistindo, mais uma vez, a está sexta-feira ingrata para o PT.

Quase não veio ninguém hoje; aliás, escalaram o Senador Sibá Machado. Todavia, S. Exª já saiu apressado dizendo que estava cansado e que não agüentava mais. Quando ia embora, fiz um apelo a S. Exª: “Fica, porque vou falar mal do Governo”.

Não tem jeito, tem que falar. Isso é pedagógico. A atual Oposição brasileira - e o Governo deve levantar as mãos para o céu - é a mais responsável de toda a história, até porque o que o Governou aprovou de positivo foi o que defendemos há oito anos. Se alguém mudou, foi o Governo.

Senador Geraldo Mesquita Júnior, já pensei em fazer uma ‘vaquinha’ e convidar para vir ao Brasil, Senador Arthur Virgílio, o famoso francês José Bové*, que foi preso e levou borrachada. Ele veio ao Brasil, participou daquele encontro de Porto Alegre e foi preso em Brasília porque era contra os transgênicos. E, hoje, quem defende os transgênicos no Brasil? O Governo do PT, que tanto os combateu. Eu queria saber o que o José Bové iria pensar se chegasse ao Brasil e percebesse a inutilidade do sacrifício dele de atravessar o Atlântico, de passar constrangimentos no Brasil e saber que foi enganado, que tudo aquilo foi em vão, que aquilo tudo foi inútil.

Volto à história do Dr. Meirelles: será que, se o Presidente Lula e seus companheiros tivessem dito, em praça pública, que, se eleito, colocariam o presidente de um famoso banco americano à frente do Banco Central, o povo teria lhe dado o crédito de confiança que deu?

A verdade é que se praticou estelionato eleitoral com várias vertentes, como o compromisso que assumiram com a Igreja Católica. Colocaram padres, muitos deles com boa intenção, para, nas praças públicas e nas igrejas, ora por meio de passeatas, movimentos ou manifestações de vários tipos, manifestarem-se contra a Alca. Quem estivesse com a Alca estava com o Satanás. A Alca era o fim do Brasil. E hoje negociam com a Alca. Os Estados Unidos querem parar a Alca, e o Brasil quer avançá-la, a tal ponto que o Ministro José Dirceu foi a Nova Iorque e a Washington discutir a Alca e voltou ufanista porque recebeu uma caneta da Condoleezza Rice.

O FMI é outra brincadeira! Combateu-se tanto o FMI, e o Governo, neste ano, fez, Senador Geraldo Mesquita Júnior, um acordo com o FMI para decisão sobre o Orçamento brasileiro. Pela primeira vez, na história do Brasil, Senador Arthur Virgílio, o Orçamento brasileiro teve interferência estrangeira. Cadê os petistas que chamavam de imperialistas os americanos, que chamavam de imperialistas os que queriam se intrometer na economia brasileira? E fazem um acordo de aproximadamente nove bilhões com o FMI.

Este ano, dois bilhões e novecentos para tapar buraco - 80% dos recursos. Aí se procura o ministério responsável; ninguém sabe, ninguém viu; consultam-se os governadores, para saber se eles foram ouvidos sobre os seus planos de meta, ninguém foi consultado.

Há um caso que não me canso de citar. É um comparativo: Santa Catarina recebeu mais de trezentos milhões. Como o Governador é do PMDB e diverge hoje - embora tenha sido importante na eleição dele - do Presidente Lula, ele não foi consultado. Montaram em Santa Catarina um governo paralelo.

O Estado do Piauí, que é o meu Estado, que tem um Governador do PT, só recebeu doze milhões - isso mesmo - para fazer dois pequenos trechos de estrada. Tapa-buraco!

Não condeno o Presidente Lula, nem o seu Governo com relação ao tratamento dado ao Piauí porque o governador é um incompetente, despreparado! Não veio aqui discutir, não participou das discussões; portanto, pagou o preço da omissão e da falta de vocação para a administração pública.

Se observarmos, por meio da Comissão de Infra-Estrutura, fizemos consultas e já recebemos respostas de quase vinte governadores. Não há um que diga: “Fui ouvido, participei desse 'acordão' com o FMI”.

Senador Geraldo Mesquita, o mais grave - e V. Exª sabe: as estradas para o escoamento de produção. Perguntamos sobre isso ao Ministro da Agricultura, que consultou o Presidente da Conab e não foi ouvido. Ele veio a uma reunião de comissão. O Ministro Mares Guia não foi ouvido.

Quem foi ouvido, afinal? Por isso é que tomamos a iniciativa de convocar os responsáveis pelo orçamento para prestar esclarecimento à Nação. Se preciso for, vamos ouvir o FMI para saber qual é efetivamente a participação dele nessa questão; se as concorrências que beneficiam essas estradas foram feitas de acordo com o FMI. O que se sabe é que algumas delas são concorrências ou tomadas de preço - ou sei lá que modalidade - realizadas há três, quatro, cinco anos. As famosas concorrências de prateleira! E o FMI que é tão rígido, Senador Geraldo Mesquita, nas concorrências internacionais, obriga que sejam internacionais as concorrências financiadas por bancos sob o seu comando e sob o seu domínio.

            É uma história que não está esclarecida e que precisa ser transparente, até porque a relação das obras só chegou ao Congresso no dia da aprovação do Orçamento. Confesso até que foi um erro nosso, movido pela boa-fé, ter-se aprovado o Orçamento naquele dia. E o fizemos movidos por aquele sentimento de não fazer com que o Orçamento ficasse para o ano seguinte, que fosse atrasado, na certeza de que se estava fazendo algo transparente. Qual nada!

            Consultei o Senador Arthur Virgílio e o Governador do seu Estado. Eles não foram ouvidos absolutamente para coisa nenhuma! Ninguém foi ouvido.

            Essa é uma questão que precisa ser esclarecida, em nome da transparência que este Governo prega. Esses esclarecimentos já poderiam ter sido feitos. Isso porque esse é um assunto que pode, no futuro, se transformar numa CPI. Primeiro, pela esquisitice do fato. Um simples acordo do Governo brasileiro com o FMI já é estranho. Não que seja incorreto, mas é estranho pelo que pregaram ao longo da vida.

(O Sr. Presidente fez soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sr. Presidente, vou encerrar esta fala de sexta-feira e vou parar por aqui.

O estoque de críticas está se acumulando. As denúncias que recebo - imagino o Senador Arthur Virgílio, como Líder do PSDB, o que não recebe! -, como mero Senador, já superlotaram o meu gabinete. Não sei mais onde colocá-las!

De forma que, ou o Presidente Lula acaba com os maus amigos, ou os maus amigos acabarão com o Presidente Lula.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com a devida permissão do Presidente, concedo a V. Exª um aparte.

O SR PRESIDENTE (Geraldo Mesquita Júnior. P-SOL - AC) - Com a palavra o Senador Arthur Virgílio para apartear.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Sr. Senador Heráclito Fortes, apenas para dizer que V. Exª tocou numa palavra-chave e tocou na bipolaridade política deste Governo. Bipolaridade é aquela coisa de o cidadão ter altos, euforia, e baixos, a chamada depressão. Isso acontece com qualquer pessoa e é plenamente tratável. No caso do Governo, não sei se é tratável a bipolaridade política dele. É um Governo que, na Oposição, histericamente adorava a figura das CPIs; no Governo, histericamente odeia a figura das CPIs. V. Exª, quando aventou a possibilidade de mais uma em cima de um outro malfeito do Governo, acaba de estragar o fim de semana dessa turma toda. Não vai ter futebol, não vai ter conversa mole mais lá. V. Exª tira o humor desse pessoal todo. Já soube que suspenderam - e eu reitero o que havia dito da tribuna - até mesma a tal quadrilha junina, tamanha a preocupação com a crise, tamanha a preocupação que eles estão demonstrando em não deixar pegar as quadrilhas do País.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Já é o trabalho que estão tendo com as quadrilhas. Para que a junina?! Faz-se desnecessária.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Exatamente isso. Ou seja, eles não querem dançar a quadrilha junina e não querem nos permitir fazer as quadrilhas dançarem.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Sr. Presidente, vou finalizar lembrando que V. Exª fez um pronunciamento aqui, logo no início da manhã, mostrando as pressões que se sofrem pelo uso da mídia, pelo uso da imprensa manietando a liberdade de imprensa.

Eu vinha no meu carro ouvindo a Rádio Senado - e a voz de Mão Santa é totalmente diferente da de V. Exª, e ele não estava aqui - e pensei: será que outro piauiense assumiu o Senado e está fazendo um discurso denunciando isso? Porque parece uma marca do PT.

No Piauí, a perseguição a jornais que são contra o Governo é cruel e comandada pela Secretaria de Comunicação aqui.

Os editais publicados regularmente, os balanços de empresas de economia mista, as campanhas publicitárias governamentais somente são distribuídos depois de se apurar quem está tratando bem o Governo e quem o está tratando mal.

V. Exª não está sozinho, tem a solidariedade também do Piauí, que passa pelo mesmo procedimento do Governo: ditatorial, cerceador da liberdade de imprensa.

Portanto, Sr. Presidente, isso não é exceção, mas uma regra. É a maneira de governar. E esse fato da imprensa não é novidade para nós. V. Exª, inclusive, fez pronunciamentos protestando pelo fato de o Governo, à socapa, na calada da noite, ter tentando garrotear a imprensa brasileira, por meio do famoso código, que, felizmente, pelo clamor da opinião pública, foi abortado. Assim também quis fazer com os artistas, mas, já que não consegue, faz no dia-a-dia, pontualmente.

Sobre esse assunto, Sr. Presidente, quero voltar a falar na próxima semana. Tenho certeza de que V. Exª fará apartes que serão enriquecedores, e mostraremos ao Brasil que, quando se está fora do poder, se diz e se age de uma maneira, mas, quando se entra no poder, a coisa muda.

É por isso que, desde muito cedo, digo que poucos, no Brasil, têm ideologia. Para a maioria, ideologia é caneta. E V. Exª está vendo isso, porque a verdade está-se mostrando.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2005 - Página 17825