Discurso durante a 62ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Réplica ao discurso do senador Aloízio Mercadante.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Réplica ao discurso do senador Aloízio Mercadante.
Publicação
Publicação no DSF de 18/05/2005 - Página 15037
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, EMPRESA ESTRANGEIRA, SERVIÇO PUBLICO, BRASIL, POSSIBILIDADE, MA-FE, UTILIZAÇÃO, SERVIÇO.
  • QUESTIONAMENTO, PROCEDIMENTO, GOVERNO FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, DIREITOS, MINORIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o Governo tentou ser mais vigoroso desta vez e prefiro assim. O primeiro discurso foi muito pálido; esse até desestimula.

E começou com a alegação de que foi o seu Governo, ou seja, o meu Governo, que teria trazido para cá a Gtech. E poderia responder: foi o seu Governo que trouxe para a República brasileira o ladrão Waldomiro Diniz. Portanto, devolvo, no mesmo pé, o intuito que V. Exª teve de empregar a malícia que não cabia, porque estou falando de fatos e não de ilações. O povo brasileiro está enojado com o que viu no episódio dos Correios e Telégrafos. Parece que isso não enoja o PT; o PT tem estômago de avestruz. Hoje em dia, essa é a verdade que deve ser proclamada para a nação brasileira.

Acuso o Governo Federal de ter apadrinhado, até o momento, e protegido o ladrão Valdomiro Diniz, certamente com medo das suas ligações para dentro e para fora do oficialismo, impedindo investigações, impedindo o sagrado direito de se constituir aqui uma comissão parlamentar de inquérito. Agora já se sabe que vai sair uma comissão parlamentar de inquérito mesmo, a dos bingos, e vai sair a comissão que investigará a privatização do setor elétrico. É hora mesmo de vermos quem tem contas a pagar, e quem tiver contas a pagar que o faça perante a nação.

No episódio de São Paulo, vejo uma confusão, que pode ser reflexo da análise política que muitas vezes tem sido feita de maneira equivocada pelo Líder do Governo nesta Casa: a confusão entre ideologia e corrupção. Não tenho nenhuma dúvida de que este Governo teria privatizado, sim, se tivesse governado antes com a cabeça com que governa hoje. Mas não vou perder tempo com isso. Vou dizer apenas que não temos alternativa a não ser ir fundo nessa investigação e que a forma de se ter estatais saudáveis não é outra a não ser limpando-as de quaisquer perspectivas internas de corrupção. O que estamos sentindo é o perigo de estar, neste País, institucionalizado um esquema quadrilheiro. Essa foi uma acusação da revista Veja, mostrada desta tribuna e da tribuna da Câmara dos Deputados. Há muito tempo, se diz que este Partido pagaria mesada a Deputados, e parecia algo absurdo a arrecadação de tanto dinheiro. Ela sugere a hipótese do enriquecimento ilícito de um ou de uns, mas sugere a hipótese de uma certa justiça social: a distribuição da rapina por mais gente. É possível! E essa não é a forma de se montar maioria política; essa não é a forma de se montar governabilidade.

Aqui nesta Casa, a Oposição nunca deixou de votar os assuntos essenciais. Nunca deixou de colaborar, nesta Casa, quando se tratava do interesse nacional. E sempre dissemos que não nos interessava a figura dos cargos públicos, não nos interessava a figura da discussão menor, até porque nos preparamos para, no momento certo, diante das urnas, no sagrado momento do povo, competir com o Presidente Lula pelo seu direito de continuar, pelo nosso direito de voltarmos ou de ser eleito um terceiro, quarto ou quinto grupo para dirigir a Nação.

Portanto, Sr. Presidente, tenho a convicção absoluta de que essa página não ficará em branco. Temos a convicção de que o Governo erra, e erra estrategicamente, taticamente. Erra taticamente quando oferece uma solidariedade que parece a da omerta, a lei do silêncio dos mafiosos. Eu não falo, você não fala e ninguém cuida de restaurar a dignidade, a probidade, neste País. Erra quando não se escuda na Nação o Presidente Lula para restabelecer esse Governo enfermo que finge conduzir. Seria tão fácil se o Presidente tivesse a coragem de demitir todos os indesejáveis de seu Governo, de nomear um governo de efetivo calibre, compromissado com a ética, de fazer um governo que se volte para projetos afins com a ação. Não pode imaginar, iludindo-se, que para tocar uma agenda legislativa tem que fazer uma retaliação, uma divisão, um loteamento de cargos públicos, concedendo a uns o direito de prevaricar e a outros o direito de colocar na Nação uma enorme e dolorosa interrogação.

Este Governo não tem problemas de governabilidade. Poderia, perfeitamente, governar com um projeto, com uma agenda, dialogando com a Oposição. Está mergulhando no lodaçal porque quer. O Presidente Lula não está sendo alertado sobre o mal que está arruinando o seu passado, sobre o mal que está corroendo o seu presente e sua perspectiva. O Presidente Lula precisa saber que, mais do que nunca, quem fala como brasileiro hoje é o Líder do PSDB, para dizer a ele que há uma saída, e uma só: não inventar desculpas, passar a mão na cabeça de quem quer que seja, mas retomar o espírito do Lula correto, justo, probo, que eu conheci, e dar um rumo a esta Nação. Não lhe faltarão as vozes da Oposição, não lhe faltará o nosso apoio para essa caminhada e não lhe faltará a nossa crítica impiedosa se o caminho for compactuar, direta ou indiretamente, com a corrupção e com a dissolução dos costumes políticos, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/05/2005 - Página 15037