Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Posicionamento favorável à instalação de CPI para apurar denúncias de corrupção no governo.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Posicionamento favorável à instalação de CPI para apurar denúncias de corrupção no governo.
Aparteantes
José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17931
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). ESTADO DO PIAUI (PI), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, POPULAÇÃO, DEFESA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, ENTIDADE, CRITICA, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL.
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, EXPLORAÇÃO, NIQUEL, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para quem governa o Brasil pior não poderia ter sido esse começo de semana.

Esta é uma segunda-feira ingrata não apenas para o Presidente da República como também para os seus companheiros de Partido. Agora começa-se a entender o porquê daquela insistência em não se apurar denúncias e não se querer CPIs.

A história tem mostrado, e lamentavelmente ninguém se preocupa em guardar uma cartilha que anda por aí vagando pelo mundo, que se mostram os erros do passado que nós não devemos repetir.

Sr. Presidente, desde o primeiro momento se sabia que era inevitável uma apuração mais acurada dessa questão envolvendo essa tradicional e secular instituição brasileira que são os Correios e Telégrafos.

Diferentemente de qualquer órgão público no Brasil, os Correios penetram na casa de cada um de nós, trazendo correspondências, cobranças. O carteiro, funcionário símbolo daquela instituição, é presença marcante não apenas nas grandes capitais, com seu fardamento amarelo e, muitas vezes, enfrentando cachorro valente...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Em seguida, Senador.

Como também nas pequenas cidades do interior. Então, a capilaridade dessa denúncia não foi bem avaliada pelos pensadores de plantão e os que decidem o que se pode e o que se deve fazer no Palácio do Planalto.

Concedo o aparte a V. Exª, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Gostaria, Sr. Senador Heráclito Fortes, de trazer para V. Exª uma cópia da cartilha que a Liderança do PT na Câmara elaborou no sentido de evitar a CPI dos Correios. Ela diz o seguinte na capa: “CPI dos Correios é Palanque Eleitoral da Oposição”. Essa cartilha, na realidade, não desmente as denúncias feitas em relação aos Correios, mesmo porque é uma acusação gravada, em que o próprio Maurício Marinho recebe dinheiro na frente das câmeras, mas simplesmente faz uma série de acusações ao governo anterior, e a outros governos, e muitas dessas acusações são erradas, com informações erradas, etc. Imprimi da página do PT na Internet, porém, agora, estou temeroso de que eles a retirem de lá, para que outras pessoas não possam ter acesso à cartilha, como fizeram com aquela outra cartilha que o Governo publicou. Então, eu tirei um exemplar para mim e outro para V. Exª e quero oferecê-lo logo que V. Exª acabar o seu discurso.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Eu gostaria de receber, inclusive, com a dedicatória de V. Exª. Aliás, nós estamos colecionando uma série de publicações impossíveis desse Governo, como a politicamente correta, que mandaram tirar de circulação e tivemos que gastar nossos recursos para mandar reproduzir e distribuir entre pessoas interessadas no Febeapá que assola o Governo no momento.

E aquela das atividades profissionais, em que se faz apologia sobre a atividade da prostituta, chegando aos detalhes de se ensinar inclusive comportamento, voz, como se deve portar em uma esquina e daí por diante.

Sr. Presidente, essa questão dos Correios é simbólica. Ouvi aqui companheiros nossos dizerem: “Não, foram apenas R$3 mil”, como se o valor alterasse o gesto! Digo isso baseado no que representa a própria Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Pagam-se R$0,10, R$0,30 ou até R$1 por uma correspondência que atravessa o mundo e chega as suas mãos - uma correspondência que, às vezes, muda a sua vida.

De forma que o que se está discutindo não é o valor, mas a necessidade de aprovação. Até porque é necessário e é preciso, de uma vez por todas, tirar da zona de suspeição as pessoas que não estão envolvidas.

Penso que o próprio Presidente Lula merece um crédito de confiança da Nação brasileira. Contudo, é preciso que S. Exª urgentemente tome providências e dedetize as suas cercanias, livrando-se dos maus companheiros.

Amigos bons e amigos maus nós temos, mas governar só se deve fazer com os bons, porque senão vai ocorrer exatamente o que está ocorrendo no atual Governo.

E o que me deixa mais estarrecido é que esses fatos estão se repetindo na mesma cadência de uma crise que o Brasil viveu anos atrás - e que se esperava ficar livre dela para sempre: o episódio do Governo Collor. Subestimou-se a CPI: “Não estou nem preocupado com ela, olhe para a minha cara, eu tenho aquilo roxo”! Cada um, a seu modo, está demonstrando o mesmo tipo de comportamento, e os fatos estão acontecendo!

Desdenha-se, e o fogo em volta começa a abrasar o ambiente. Aceiro, quando não é bem cuidado, Senador José Jorge, sabe bem V. Exª no que dá: uma fogueira de proporções incontroláveis! É lamentável que isso aconteça num País que depositou toda a sua confiança, toda a sua perspectiva em um Presidente que saiu da camada mais baixa da sociedade e que prometeu, ao final de quatro anos de mandato, dar a todos os brasileiros três refeições por dia. Passado o tempo relativo a dois terços de governo, ele não conseguiu sequer ainda justificar aquilo que foi símbolo inicial da sua gestão, que é o Fome Zero.

A megalomania dos projetos é uma marca do Governo. No meu Estado, o Piauí, o Governador não foge da mesma linha: anunciou, há dois anos e meio, que um projeto da Vale do Rio Doce de exploração de níquel, na cidade de Capitão Gervásio Oliveira, seria a redenção do Estado. E espalhou pelo Estado afora outdoors e propagandas caras dizendo: “O Piauí agora vale” e que, no ano de 2005, 20 mil empregos estariam assegurados. O ano 2005 já passou da metade, e a mina continua sendo uma reserva técnica da Vale do Rio Doce. No Estado do Pará, há minério igual sendo explorado a preço mais baixo. Portanto, infelizmente, aquela mina do Estado do Piauí é apenas uma reserva de mercado de uma empresa privada que o Governo quis usar por meio de uma mídia falsa, vendendo um clube de falsa felicidade aos piauienses, sempre crentes e carentes de boas notícias.

Sr. Presidente, o mais certo que o Governo faria em um momento como este era determinar imediatamente a instalação dessa CPI. Seria o melhor, até porque, já que a CPI possui um fato específico, determinado, ela chegaria ao seu término sem muita delonga. Mas o Governo está parecendo canoa de pobre atravessando o rio cheio, Senador Tião Viana. Aparece um furo aqui; o canoeiro tira a camisa, arranca um pedaço, tapa ali, vem com uma latinha e começa a tirar água do seu bojo. Só que o volume, em determinado momento, começa a ser maior do que a capacidade de retirada de água. Aí o que se vê? Ele tem de começar a se desfazer de pertences, como os mantimentos. É evidente que está assegurado que ele vai chegar do outro lado do rio, mas todo despedaçado, quebrado, pela metade, cabisbaixo, cansado; e o objetivo, a esperança da travessia não se concretiza. Ele apenas escapa. Não é isso o que desejamos ao atual Governo.

Sr. Presidente, uma coisa me impressionou muito na sexta-feira e, por dever de justiça, quero terminar a história que comecei. Eu estava nesta tribuna e falei que o Governo a que V. Exª pertence - e sei que V. Exª é um homem que não concorda com os fatos que estão acontecendo, que é um crítico desse tipo de comportamento e, por isso, eu me sinto muito à vontade para dizer isso - mais parecia uma bicicleta de cigano! Comecei a contar a essa história. Hoje, os ciganos evoluíram, já devem usar motocicleta, mas falo da bicicleta da minha infância, que anteriormente era a burra; a burra dos ciganos, muito famosa.

Fui aparteado aqui e não concluí o meu raciocínio. Ao sair da tribuna, recebi um telefonema de uma senhora aposentada, moradora de Taubaté, que liga constantemente para cá criticando pronunciamentos. É uma figura simpática - eu não a conheço pessoalmente - e sempre faz críticas do que acontece aqui. Ela me disse: “Senador, V. Exª não terminou de contar a história”. E repetiu exatamente aquilo que não concluí. Vou repetir agora, até em respeito a essa senhora, o que mostra o grande alcance da TV Senado.

O que é a bicicleta do cigano, Senador Paulo Octávio, com o que está parecendo o atual Governo? É uma bicicleta enfeitada. Tem um patinho na frente, é toda cheia de renda no aro e tem dois retrovisores. O cigano, por sua característica, é um narcisista. Gosta de olhar o dourado do dente, de apreciar a beleza, geralmente com óculos de grande porte, o ray-ban. Ele começa a se olhar e se esquece do que está na frente. Quando menos espera, se espedaça num obstáculo e sai todo quebrado.

A bicicleta de cigano, no momento, é o que melhor representa o atual Governo, olhando para o retrovisor, fazendo do ex-Presidente da República, segundo a Senadora Heloísa Helena, o seu objeto de desejo. Ainda não vi um dia aqui nesta tribuna em que o ex-Presidente Fernando Henrique não tenha sido citado quatro, cinco ou seis vezes. Para frente, o prometido, os objetivos do Governo não interessam. O que mais interessa aqui é olhar pelo retrovisor e esquecer-se das perspectivas do futuro. E aí está: a CPI dos Correios é o obstáculo diante do qual o Governo tropeçou e bateu. Sairão desse episódio o Presidente da República e todo o Governo com galo na cabeça, feridos - felizmente, ainda não de morte -, mas a primeira providência a ser tomada é pegar o “diabo” desse espelho retrovisor e jogá-lo fora, porque não serve para nada.

O Governo deve ter visão do futuro, Senador José Jorge, deve-se preocupar com a palavra empenhada, para seguir Eclesiástico, que diz que o homem é senhor da palavra empenhada e escravo da palavra anunciada. Chegou o momento de o Governo cumprir aquilo que anunciou ao povo brasileiro e também aos seus aliados.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - A grande queixa dos aliados é a falta do cumprimento das promessas. Essa é uma conta que deve ser acertada entre eles e não conosco, os que fazemos oposição.

Senador Tião Viana, pelo rumo em que as coisas estão caminhando, depois da entrevista do Deputado Roberto Jefferson, se o Governo estiver pensando que vai levá-lo sozinho para o cadafalso está muito enganado. O Deputado Roberto Jefferson teve, pelo menos, a coragem de assumir seus erros, mas também mostrou que não está sozinho. Essa canoa, se virar no meio da correnteza ou se afundar, com certeza, levará muita gente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2005 - Página 17931