Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Gravidade das denúncias do Deputado Roberto Jefferson, de que congressistas aliados recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Gravidade das denúncias do Deputado Roberto Jefferson, de que congressistas aliados recebiam o que chamou de um "mensalão" de R$ 30 mil do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Aparteantes
Demóstenes Torres, José Jorge, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17941
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), TESOUREIRO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que os Parlamentares do País esperassem acontecimentos que maculam o Governo Federal, jamais esperávamos que eles fossem tão graves. É inacreditável o que aconteceu! É inacreditável, mas é verdade.

Ouvi apenas o final do discurso do nobre Líder do PT, e ele, sempre gentil e crédulo, espera providências.

Não sou tão otimista, embora ache que a inteligência do Presidente da República vai obrigá-lo a mandar, antes de quarta-feira, abrir a CPI não apenas dos Correios, mas de todas as instituições do Governo que estiverem sendo acusadas.

Por boa vontade, pode-se dizer que o Presidente chorou. Mas pergunto: se chorou, que providência tomou? Não há providência quando isso já foi há algum tempo!

O Líder Roberto Jefferson, seu parceiro e amigo, em quem ele depositava e deposita confiança de entregar até um cheque em branco, avisou-o. Talvez por isso ele elogiasse tanto a figura do Líder Roberto Jefferson!

É inacreditável que tudo isso esteja acontecendo neste País sem que providências sejam tomadas. Ainda existe um ou outro - creio que, no Senado, não mais - que não deseja que a Comissão de Justiça aprove a constitucionalidade do pedido de CPI.

Andei por várias partes do Brasil neste fim de semana, e só se falava em CPI, antes mesmo de o Deputado Roberto Jefferson contar uma parte do que sabia. Estou convencido de que ele não contou tudo, Sr. Presidente. Estou certo de que ele contou uma parte, e, por isso mesmo, é natural que o PT esteja receoso de ouvir outras partes, como as tantas gravações que têm saído nas revistas e que envolvem membros desse Partido.

É um diretor do Ibama que vai preso e algemado - e isso aconteceu nessa quinta-feira - com mais 39 funcionários. Nos Correios, é o eminente Maurício Marinho, homem da confiança do Partido dos Trabalhadores; indicado pelo PT, mas de confiança, porque não passa pela peneira quem não seja de confiança.

Qualquer Senador ou Deputado do PT pode até achar que este discurso é exagerado, mas nenhum deixa de dizer - nenhum! - que o Sr. José Dirceu vê todas as nomeações. Daí por que muitos estão até contra ele.

O Líder do Governo, Senador Fernando Bezerra, declarou isso na revista Veja da semana passada. Mas as coisas aqui estão passando um pouco calmas demais. Temos que dizer essas verdades, a bem do Partido dos Trabalhadores.

Duvido que o Sibá Machado - duvido! - concorde com isso. Duvido que, se o chamassem para receber o mensalão, ele iria aos cofres públicos para recebê-lo. E, assim como ele, muitos dos seus colegas de Partido agiriam da mesma forma.

Quero dizer, Sr. Presidente, que essa situação não pode mais perdurar. Peço a Deus neste instante para perdoar os pecados do Ministro Palocci da semana passada, porque ele prestou tão bons serviços ao País que merece um perdão divino, quando disse que ia dar 1,5 milhão a cada Parlamentar para votar contra a CPI. Isso nunca foi do Ministro Palocci! Aquele foi um momento terrível que aconteceu na vida desse grande homem público, que nós mesmos, da Oposição, sustentamos quando o PT queria retirá-lo. Mas ele também entrou nesse assunto, infelizmente, e não devia ter feito isso. Mas, como ele tem serviços prestados à Nação, quero pedir a Deus: “Perdoe o Palocci! Palocci merece o nosso perdão, ó, Senhor! Tenho certeza de que ele não vai mais fazer o que fez e de que vai melhorar e vai endurecer com todos aqueles que querem o mensalão que o Governo estava dando”!

Meus amigos brasileiros, a situação é de catástrofe. Catástrofe não significa golpe, para depois dizerem que estamos pregando o golpe.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - V. Exª...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Queremos vencer nas urnas - darei um aparte a V. Exª nesse minuto - e vamos vencer nas urnas, não porque sejamos ótimos, mas porque o PT é ruim demais.

Na Administração Pública, o PT realmente não procedeu como a grande maioria - 53% da população - esperava, confiava. Aquele que veio de torneiro mecânico e se tornou político, que se fez político e tornou-se Presidente com o apoio de todo o povo vive este momento dramático por causa dos seus áulicos.

Aqui se defendeu tanto - até eu não acreditava - o Sr. Delúbio! Mas ele é mesmo o homem da mala. Ninguém podia esperar isso do Sr. Delúbio. Eu não o conhecia, de maneira que o defendia, mas alguns colegas meus que o conheciam melhor, porque viviam na área, tinham-me avisado de que isso seria possível.

Eu peço perdão a eles por não haver acreditado, mas fui crédulo, até mesmo em relação ao próprio Presidente da República.

Chegamos a uma situação, Sr. Presidente, em que ou o Presidente não governa e os seus auxiliares dominam o Governo e fazem essa série de roubalheiras - não tenhamos subterfúgios -, ou ele governa e passa a ser, o que não acredito, conivente.

De modo, Sr. Presidente, que eu estou muito triste, mas quero conceder o aparte ao Senador José Jorge, meu Líder.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Também peço um aparte em seguida, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Também peço um aparte depois, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Pois, não.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Antonio Carlos, quero-me solidarizar com o seu pronunciamento. A população, na última pesquisa, já se manifestou: 65% acreditam que há corrupção no Governo Lula, antes mesmo desse fato mais grave do “mensalão”. Na verdade, só há um caminho para isso: que, amanhã, o Presidente Lula se ponha a favor dessa CPI, para que possamos investigar, de forma tranqüila e serena, e dizer a verdade, doa em quem doer. A Oposição não vai ser barulhenta como o PT era à época; ao contrário, vamos ser uma Oposição tranqüila, competente, investigativa, apurando realmente a verdade para liberar os que não têm culpa e punir aqueles que são culpados. Minha solidariedade a V. Exª, também, no seu pronunciamento.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª tem razão e me dá oportunidade de dizer que também no PT existem homens decentes, capazes, que poderiam estar, inclusive, no Governo. Mas não estão e, ao contrário, recebem punição. Não conheço o Deputado José Eduardo Cardoso, mas procurei saber quem ele era. Tive as melhores referências desse jovem homem público, mas ele está sendo expulso da direção do PT porque não obedeceu ao Presidente José Genoíno. Então, homem de vergonha e de caráter, abriu mão da Vice-Liderança. Existem homens assim. E por que esses não estão no Governo? Por que V. Exª não está no Governo? Muitos poderiam estar, mas o Governo não quer ninguém que aja com seriedade e dentro dos princípios da moralidade. Bem ou mal, falo isso contristado, a responsabilidade é apenas e exclusiva do Senhor Luiz Inácio da Silva, Lula.

Concedo o aparte ao Senador Sibá, até porque pode-me responder, e, depois, ao Senador Demóstenes.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Antonio Carlos Magalhães, indignação todos têm numa hora assim. Fico imaginando, quando o Presidente José Sarney assumiu o seu Governo, qual não foi o esforço de S. Exª para evitar que se reproduzisse aquilo para o que a sociedade tinha acabado de dizer ‘não’: uma herança de violência, de truculência, de cerceamento. Além disso, não posso acreditar que uma inteligência capaz de organizar e instalar essa teia de corrupção seja algo criado e inventado de última hora. Creio que inteligência desse nível requer um tempo muito longo para poder se estruturar. É muito difícil descobrir-se, de imediato, esse tipo de pessoas e saber como se relacionar com elas. É comum que muitas pessoas procurem um Governo que veio nos braços do povo como o atual. Isso é natural, no meu entendimento. E até que se construa, digamos assim, o perfil, o eixo dessa atuação, é provável que algumas pessoas queiram-se dar bem. Mas, como estou inscrito para falar daqui a pouco, quero somente registrar que, neste episódio da CPI dos Correios, é grande e sincera a vontade de muitas pessoas, inclusive da Oposição, de que ela seja instalada, como grande e sincera também é a preocupação de alguns, inclusive minha, de que a CPI saia do rumo da investigação e se transforme em um pequeno debate de antecipação eleitoral. Creio que está aí o contraponto dessa queda-de-braço da instalação da CPI, mas estou tranqüilo quanto à sua criação. Nesse outro episódio, acredito que existam dois caminhos muito rápidos a serem tomados. Um, já dito pelo Senador Arthur Virgilio, é o de que a Câmara escolha um dos seus fóruns internos para analisar, e ainda não seria uma investigação, mas o Deputado Roberto Jefferson deve poder explicar quem são essas pessoas, como foi essa história. Na seqüência, vou sugerir ao meu Partido, que já tem reunião marcada para quarta ou quinta-feira, que analisemos a lisura do nosso militante, o tesoureiro do Partido, Delúbio Soares. Gosto de trabalhar, como V. Exª, às claras, à luz do dia. Imagino que todos vamos querer essas explicações. Tão logo seja possível, vamos obtê-las. Sendo ou não convincentes, não poderemos verificar se existe alguém apenas interessado em ver a casa ou o circo pegando fogo, em fazer chantagem de qualquer ordem ou denúncias sem fundamentação. Como V. Exª, quero reiterar que todos queremos o esclarecimento. Obrigado pelo aparte.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª, evidentemente, não precisa nem da luz do dia. Mesmo no crepúsculo, vão-se encontrar esses fatos, que estão ocorrendo com o apoio do Partido de V. Exª.

Sei o quanto V. Exª sofre, mais ainda por ter de explicar. No entanto, não vai fazê-lo, porque o inexplicável não se explica.

Concedo o aparte ao Senador Demóstenes.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Antonio Carlos, V. Exª faz um pronunciamento firme, duro e correto. V. Exª, até hoje, jamais havia mencionado o nome do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva como envolvido em qualquer ato de bandalheira que o Governo, porventura, tenha praticado, mas V. Exª lembra que foi o próprio Roberto Jefferson quem fez, hoje, a afirmativa de que o Presidente Lula sabia do “mensalão”. E, mais, no dia de hoje, o Governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo, veio a público dizer, na Globo Online, que, há um ano e meio, dentro de um carro, na cidade de Rio Verde, revelou ao Presidente Lula que dois Deputados Estaduais do PSDB, cujos nomes não mencionou, haviam recebido uma proposta para aderir a um Partido governista qualquer. Assim, receberiam R$ 1 milhão de bônus e mais um “mensalão” de R$40 mil. Como é o Governador que está afirmando, um homem que tem credibilidade e respeito, é sinal de que o Presidente sabia da existência do “mensalão”, no mínimo, há um ano e meio. Não consigo entender o porquê do choro em janeiro. O que está acontecendo? V. Exª está colocando o dedo na ferida. Não pode nem haver mais discussão se a CPI deve ser instalada. Devemos estendê-la, porque, a partir de agora, estamos vivendo, neste País, um mar de lamas verdadeiro, Sr. Presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania,...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - ...uma indignação que nós, Parlamentares, não podemos mais calar. O que o Brasil está vivendo hoje, Sr. Presidente? Será que os eleitores do Presidente da República estão contentes com o que estão vendo neste País? E o Deputado Roberto Jefferson? Será que foi sincero, Senador Antonio Carlos Magalhães? Devemos buscar as explicações. Diante da declaração do Governador de Goiás de que o Presidente sabe da existência do “mensalão” há um ano e meio, devemos tomar providências mais severas do que a CPI dos Correios, Sr. Senador.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª tem absoluta razão. Essa indignação que sente V. Exª também é a do povo brasileiro, é aquela que Rui Barbosa chamava de ira sagrada. É da ira sagrada que V. Exª está possuído. Não podemos mais continuar nessa situação, porque queremos bem ao País, queremos que as instituições sobrevivam e, para sobreviverem, elas precisam realmente deixar as máculas com que, infelizmente, o Governo as está marcando.

Veja a coincidência, Sr. Presidente, no dia de hoje, o Corregedor reúne, no País, vários países para tratar da corrupção. É ironia do destino tratar da corrupção hoje no Brasil, no dia em que acontece coisa tão grave, porque acontecimentos desse tipo já vinham ocorrendo há algum tempo, e sempre chamamos a atenção para isso da tribuna.

Lamento, Sr. Presidente, inclusive por causa de V. Exª, que sabe da estima, do respeito e da amizade que tenho por V. Exª.

Assim como V. Exª, há outros colegas aqui e na Câmara que merecem nosso respeito, mas o Partido como um todo já não merece o respeito do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2005 - Página 17941