Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a iminência de crise em decorrência das denúncias do Deputado Roberto Jefferson.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a iminência de crise em decorrência das denúncias do Deputado Roberto Jefferson.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2005 - Página 17944
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, JOSE GENOINO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), AUSENCIA, PROVIDENCIA, AFASTAMENTO, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL, BANCADA, APOIO, GOVERNO.
  • COBRANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIALOGO, SOCIEDADE, BANCADA, OPOSIÇÃO, ESCLARECIMENTOS, CRISE, PROVIDENCIA, DESLIGAMENTO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, PRESERVAÇÃO, LEGITIMIDADE, GOVERNO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o momento exige claras definições por parte de ninguém menos do que o Senhor Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Não é hora de escapismos, não é hora de tapar o sol com a peneira. É hora de nos darmos conta, todos, especialmente os do Governo, de que o Brasil vive um momento de crise, que, desejavelmente não se aprofundará. Mas que só não se aprofundará se medidas bastante sérias e profundas forem adotadas por este Governo.

Eu, por exemplo, leio a revista Veja, da última semana, e lá consta que determinado empresário não se quereria misturar com determinado dirigente do Partido dos Trabalhadores. Ou seja, não pode ser visto com Fulano de Tal; para ser claro, com o Sr. Delúbio Soares.

Se o Sr. Delúbio serve para ser companhia de quem quer que seja, ele tem de dizer isso com força, e não virar uma figura das sombras. Se ele não serve para ser companhia do empresário Fulano de Tal, Senador Jereissati, ele não serve para ser companhia do Presidente da República.

Dou um exemplo, porque baixou um certo silêncio. A cada contrariedade, cada Ministro costumava mandar para as redações, pelos seus assessores de imprensa, reclamações e mais reclamações, que viravam cartas de leitor.

De repente, a Veja não recebe carta alguma, a Folha de S. Paulo não recebe carta qualquer, o jornal O Globo é pura e simplesmente ignorado.

A impressão que se passa para o País é de uma certa tentativa de se colocar um véu sobre a cabeça do Governo, imaginando que o tempo vai ser cura para esse mal, e o tempo não será a cura para esse mal; ao contrário, o tempo não corre a favor do Governo, ele corre contra o Governo.

Ainda há minutos, tive a ocasião de dizer que a expectativa da Oposição é de todos nos portarmos com muita serenidade nesse episódio. Primeira definição: exigirmos a mais cabal investigação de todas as responsabilidades.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Por quem?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pela CPI, pela Comissão Parlamentar de Inquérito, que, a meu ver, é inevitável, é inexorável a trajetória até ela, e ela até já se torna pequena diante desse novo escândalo que nasce a partir da explosiva entrevista do Sr. Roberto Jefferson à Folha de S.Paulo.

Hoje eu vi a entrevista do Sr. José Genoíno, sempre talentoso, ao Bom Dia Brasil. Em algum momento, ela ficou patética, e ficou patética, Senador Tourinho, porque ele dizia coisas do tipo assim: “Não é verdade”; “Isso também não é verdade”; “Aquilo também não é verdade”. Aí perguntaram: “Vai romper com o Sr. Roberto Jefferson?” “Ainda estamos estudando, estamos aprofundando; estamos vendo. Quem sabe. Talvez.”

Não é hora de “quem sabe”, não é hora de “talvez”. É hora de decisão clara. Não é possível o Governo a essa altura imaginar que pode. O Ministro Palocci diz: “Eu não conversei nada disso com o Sr. Roberto Jefferson”. E ao mesmo tempo o Sr. Roberto Jefferson continua fazendo parte da Base de Apoio ao Presidente Lula com o seu Partido, com o seu esquema, com os tais cargos, com tudo o mais.

Sr. Presidente, tudo que a Oposição não quer é qualquer solavanco institucional. O que a Oposição quer é a apuração de todas as responsabilidades. Ela que tem como favas contadas que se instalará a CPI, sim. E a Oposição diz ao Presidente Lula que ele, a meu ver, tem dois caminhos muito claros. Um caminho muito claro - é claro, pode não ser bom, mas é claro - é o Presidente Lula continuar no escapismo, ou seja, aparecer amanhã, em cadeia de rádio e televisão, dizendo que tomou providências, e que foram 1.700 as investigações pela Corregedoria; que foram 1.200 as investigações pela Polícia Federal, e 3.400 as investigações por não sei mais quem; que foram 7.900 as investigações por segundo por quaisquer entidades ligadas ao Governo, quando nós sabemos que a grande aspiração da sociedade é ver a Comissão Parlamentar de Inquérito funcionando.

A outra atitude é o Presidente se credenciar a um diálogo elevado com a Oposição; se credenciar com um diálogo elevado com a sociedade, fazendo uma faxina moral no seu Governo, livrando-se dos indesejáveis no seu Governo e dos indesejáveis no seu Partido, para não deixar qualquer dúvida e, não deixando qualquer dúvida, o Presidente possa, independentemente do que venha a ser o resultado eleitoral de 2006, conduzir este País a um porto seguro, que seria o porto seguro da alternância do poder, o porto seguro da normalidade.

Hoje eu sinto um quadro muito movediço. Sinto o Presidente deixando estiolar, Sr. Presidente, a confiança que o levou ao poder. Sinto o Presidente deixando que se evapore o seu patrimônio político. E sinto o descrédito se abalando muito fortemente sobre um Governo que não está sabendo dar as explicações necessárias.

Tenho dito aqui e repito com a maior serenidade: longe de mim tocar fogo em qualquer paiol, até porque a hora é grave. O Presidente da República precisa dar respostas cabais, porque o tempo marcha contra ele - repito - e, assim sendo, ele termina, de certa forma, levando os ânimos a uma certa exacerbação. O Presidente terminará fazendo com que a política comprometa a economia, e a economia terminará devolvendo, sob a forma de complicação, a sua resposta para a política.

Há corrupção, sim.

Essa coisa da mesada tem de ser esclarecida de maneira cabal.

Essa coisa dos Correios tem de ser esclarecida de maneira cabal.

Essa coisa do IRB tem de ser esclarecida de maneira cabal.

As denuncias, enfim, que estão desmoralizando um Governo que veio com toda a perspectiva de ter a cabeça erguida o tempo inteiro diante da Nação, essas denúncias todas estão se acumulando e criando um quadro de crise.

Não há Oposição golpista. É bom que, de uma vez por todas, nos tratemos com honestidade. Não há nenhuma vontade nossa de piorar as coisas no País. Queremos apenas que aquele que tem a Liderança a exerça e a exerça mostrando que não tem rabo preso com ninguém e fazendo aquilo nós reclamamos, uma faxina moral no Governo; livre-se dos seus indesejáveis e readquira as condições de dialogar com a sociedade, dialogar inclusive com a Oposição.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2005 - Página 17944