O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta confusão que se instalou no País, a insegurança gerada na sociedade brasileira em função da crise política, têm que ser analisadas também sob outro ângulo.

Primeiro, é inusitado o Governo tentar desqualificar as denúncias do Deputado Roberto Jefferson desqualificando o autor delas, como se não o conhecesse, como se o Governo nunca tivesse ouvido ou assistido à história política de Roberto Jefferson.

Não entendo como o Governo pode tentar desqualificar a história, os fatos concretos que a imprensa divulgou, denunciou, desqualificando o autor das denúncias. Parece que as pessoas se sentem invisíveis em determinado momento; parece que podem fazer o que querem, porque não há ninguém vendo, não há ninguém anotando, não há ninguém que cobrará mais tarde.

Ninguém precisa repetir a história do Deputado Roberto Jefferson. O Brasil inteiro a conhece. O ex-Presidente Fernando Collor de Mello conhece muito bem a história do Deputado Roberto Jefferson. O Presidente Lula a conhecia e, mesmo a conhecendo, disse que daria um cheque em branco para o Deputado Roberto Jefferson. Agora, aqueles que dariam um cheque em branco para o Deputado Roberto Jefferson desqualificam o que ele está falando porque ele não merece crédito. É claro que não merece crédito, mas não merecia antes também, quando foi feita a aliança.

Agora, a troco do que foi feita a aliança? Por que a Base do Governo está se desmanchando? A Base do Governo está se desmanchando porque foi um casamento sem sentimento sincero. A Base do Governo está se desmanchando porque o que fez a união entre o Governo e alguns Partidos que a formam foi um sentimento diferente daquele que leva a um casamento transparente. Foram interesses escusos que motivaram a entrada de algumas pessoas e de alguns representantes partidários no Governo.

É perigoso generalizar. Não se pode dizer que todos os membros desses Partidos participam dessa corrupção denunciada, como se todos agissem do mesmo jeito. Não acredito que todos no PTB sejam iguais ao Deputado Roberto Jefferson. Não acredito que todos participavam do “mensalão”, assim como no PL e no PP.

É preciso separar - a frase é antiga - o joio do trigo, senão também misturarão o que está ocorrendo com todos os Congressistas. Vejo que o Senador Pedro Simon está tranqüilo, pois sabe que ninguém o misturará com isso. Ninguém pode misturar o Senador Pedro Simon com algo ilícito, equivocado, porque S. Exª tem história.

Mas as pessoas não têm obrigação de saber quem está envolvido ou não nesta história. Nós temos obrigação de investigar, de dizer quem está envolvido, de dizer à Nação que não estamos, que o Congresso merece respeito, que as instituições têm de ter credibilidade e que precisamos fortalecer as instituições. Mas, para que elas sejam fortalecidas, não podemos ter medo nem nos omitir neste momento.

É preciso investigar profundamente, Senador Ramez Tebet, investigar sem aquela conotação de transformar a CPI em palanque político. Não queremos isso. Queremos investigar para entregar à sociedade os nomes daqueles que participaram desse escândalo que a Nação está repudiando.

Concedo o aparte ao Senador Ramez Tebet.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Peço também um aparte na seqüência, Senador Osmar Dias.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Osmar Dias, V. Exª tem se caracterizado nesta Casa pelo equilíbrio, pela sensatez. V. Exª não se ocupa apenas de um problema que conhece muito bem, que é o agronegócio, que são os problemas atinentes à agricultura. Antes disso tudo, antes das questões administrativas, temos que ver a questão moral que está abalando a sociedade brasileira. Eu diria que, mais do que nunca, há necessidade de um choque moral. E não um choque de 110 Volts, mas de 220 Volts, que é mais forte. Não é possível abafar a CPI dos Correios com argumento jurídico. Se ela for abafada, ninguém mais acreditará na classe política; haverá uma desesperança total no seio da sociedade brasileira. Esse é um ponto. V. Exª se está referindo à acusação do “mensalão” ou da mesada que membros de alguns Partidos recebiam. Nós do Senado não podemos ficar calados, embora o problema...

(Interrupção do som.)

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - ...seja atinente à Câmara dos Deputados. Mas penso que o Presidente Lula precisa tomar uma outra atitude. É preciso uma profunda reforma ministerial. Aquela presunção de inocência de que ninguém pode ser julgado sem trânsito em julgado é para o aspecto penal.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - No campo político, quem ocupa cargo de confiança tem de estar acima de qualquer suspeita. Senador Osmar Dias, o Presidente precisa tomar a atitude de pedir aos seus Ministros e a todos os seus colaboradores que coloquem os seus cargos à disposição, promovendo uma reforma ministerial e dando uma reposta à sociedade, ao lado das investigações que devem ocorrer. Agradeço a V. Exª a oportunidade de manifestar este meu ponto de vista.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Agradeço e fico honrado com o aparte de V. Exª, Senador Ramez Tebet.

A pedido do Presidente, não concederei mais apartes, porque o meu tempo está se esgotando.

Aproveito estes segundos que me restam para dizer que a minha preocupação não é fazer acusação ao Governo do PT ou acusar o PT em relação a tudo o que está ocorrendo.

Amanhã, o PDT vai reunir a sua Bancada e a Executiva para tomar uma posição. Queremos que o PT não jogue a culpa para o Governo, nem que o Governo devolva a culpa para o PT, porque PT e Governo são apenas um. Não há como negar o envolvimento nem do Governo nem do PT nessa situação. Portanto, fica feio para o PT querer tirar o corpo fora nesta hora; tem que assumir a responsabilidade, Senador Tião Viana. Eu sei que V. Exª é um dos que assumem. Deve assumir, mandar investigar, instalar a CPI, ir à fundo na investigação.

Fica feio para o Presidente Lula dizer que o PT é o culpado, como está no jornal hoje. Não sei se Sua Excelência o disse. Mas fica mais feio ainda querer desqualificar as denúncias desqualificando o seu autor, porque não foram as denúncias do Deputado Roberto Jefferson que começaram esse processo, mas uma gravação, um fato concreto nos Correios, com repercussão em outros órgãos do Governo, fazendo com que a sociedade brasileira hoje esteja desanimada. A sociedade brasileira ouviu todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral de que viveria um verdadeiro sonho, de que poderia dormir tranqüila, pois acordaria com o sonho maravilhoso de um país diferente, mas desperta agora de um pesadelo, com uma dor-de-cabeça imensa, pois a corrupção não diminuiu, continua aí, e precisa ser combatida. E um dos instrumentos de combate à corrupção é, sem dúvida alguma, a instalação de uma CPI no Senado Federal, ou uma CPI mista. Mas não podemos, de forma alguma, pensar que qualquer manobra jurídica na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, ou de onde quer que seja, possa sepultar a oportunidade de cumprirmos nossa responsabilidade perante a Nação.