Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento do PT com relação as denúncias do Deputado Roberto Jefferson.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA PARTIDARIA.:
  • Posicionamento do PT com relação as denúncias do Deputado Roberto Jefferson.
Aparteantes
Alvaro Dias, Flávio Arns, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2005 - Página 18204
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SENADO, ASSINATURA, REQUERIMENTO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), REMESSA, DOCUMENTO, SOLICITAÇÃO, APOIO, DEPUTADO FEDERAL, GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, IMPOSSIBILIDADE, ORADOR, INTERFERENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • DEFESA, INTEGRIDADE, TESOUREIRO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Vamos colaborar com a rigidez do Regimento, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvindo atentamente todas as preocupações ao longo dos últimos dias, penso que é um direito natural das pessoas exigir a tomada de providências com extrema urgência. É claro que, com uma notícia daquelas, transmitida pela televisão, exibindo a gravação de uma fita com uma pessoa recebendo dinheiro de propina, a reação é constrangedora. Qualquer pessoa, em sã consciência, olhará aquilo e sentirá náuseas com a situação. E, é claro, vai querer que providências sejam tomadas com extrema urgência.

Imagino o papel da Polícia, como bem lembrou o Senador Romeu Tuma. É claro que vou acreditar que não pode haver interferência alguma no trabalho da Polícia, nem para apressar, nem para desacelerar. Não pode haver. E gostaríamos muito de ver uma prisão efetuada naquele momento, com rapidez. Mas acredito que isso não foi feito porque a Polícia Federal precisa chegar a um fato muito maior do que apenas uma pessoa presa, imediatamente, em um flagrante. É necessário alcançar a pseudo-rede instalada.

Sr. Presidente, na oportunidade passada, eu disse que não posso acreditar que uma inteligência dessa natureza se limite a um mês, a alguns dias, de uma pessoa que, em um belo momento, acorda e diz: “Sou capaz de criar uma situação como aquela”. Quero acreditar que a corrupção é um dos males que assolam o convívio humano. Também já disse o mesmo em relação ao narcotráfico. Países do mundo inteiro se juntam na tentativa de combater o narcotráfico, mas o que se vê, todos os dias, é que ele está vivo, intacto e dominando. No que se refere à corrupção, trata-se de um mal da humanidade que acompanha gerações a fio, um fantasma. E todos nós somos obrigados, a qualquer momento, a conviver com notícias dessa natureza.

Mas vamos aos fatos. Em primeiro lugar, falarei do papel que cabe ao meu partido, o PT, ao qual sou filiado. O PT tem muito clara sua posição a respeito dos fatos, Sr. Presidente. Nossa posição é muito clara: jamais comungamos com esse tipo de coisa.

E gostaria de responder a um internauta que me enviou um e-mail, constrangido, a fim de saber se recebo qualquer tipo de benefício dessa natureza. Quando criança, levei uma surra muito grande de minha mãe, Sr. Presidente - disse ontem em meu pronunciamento. E ela usou esta frase: “Entre um boi e a corda, a diferença é o preço, mas o gesto é igual”. Jamais esquecerei da surra que minha mãe me deu. Digo a esse internauta e a todas as pessoas que estejam nos assistindo e ouvindo neste momento: nosso Partido faz o caminho inverso; não recebemos um real, mas pagamos ao PT. Eu pago, com muito orgulho, a contribuição partidária estabelecida em nosso Estatuto. Nós, ao nos filiarmos ao PT, assinamos o gesto estatutário de que, ao assumir o mandato por força eletiva, esse esforço não é individual, mas coletivo e do Partido; portanto...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Sibá Machado?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Concederei na hora em que concluir este pensamento.

Neste momento, digo que fazemos o caminho contrário. Eu pago R$1.904,00 por mês ao meu Partido, com muito orgulho e satisfação. É o caminho de volta. Nunca recebi, não receberei. É este o entendimento do PT. Falo em meu nome, mas essa é, sim, a relação com V. Exª, com todos os nossos Parlamentares e todas as pessoas - seja em âmbito municipal, estadual ou federal - que exercem mandato por força eletiva.

Com relação ao fato de hoje, documento lido, muito bem discutido e apresentado aqui pelo Senador Paulo Paim, poderíamos, no afã da emoção, ter dito imediatamente: “A posição do PT é esta!”. E se estivéssemos cometendo algum tipo de injustiça com qualquer pessoa? Além disso, esta Casa é, acima de tudo, uma Casa política. Assim sendo, acredito que ninguém aqui é ingênuo, Sr. Presidente. Ninguém aqui é ingênuo! Todos sabem muito bem o que vieram fazer nesta Casa. E uma das coisas que aqui vieram fazer é a política. Respeito as pessoas de coração sincero, que, ao propor uma CPI, querem a apuração, de fato, do problema. Mas também não somos ingênuos, pois sabemos da vontade de alguns em aproveitar o fato político, já que têm apenas o interesse da queda pela queda, de qualquer natureza!

Ainda penso que, na simplicidade do nosso Presidente Lula, por ter sido operário e haver vencido uma eleição da forma como venceu, ainda há muitas pessoas que dormem pouco pensando nisto: que não toleram saber que um operário metalúrgico é a grande liderança do País e que conduz uma nova liderança mundo afora!

Devo dizer, com relação à posição de nossa Bancada, que não se trata de heroísmo, de quem assinou ou deixou de assinar. Quem assinou ou deixou de assinar agiu baseado nos princípios em que acredita, seja pessoal, seja coletivo. Portanto, a decisão coletiva de treze Senadores é a de que o problema atual abordado pelo Deputado Roberto Jefferson tem que ser apurado por aquela Casa.

O Senado Federal não pode, em momento algum, interferir nas questões internas da Câmara dos Deputados. A Mesa Diretora, a Presidência da Câmara dos Deputados, suas instituições de fiscalização e controle, seja o Conselho de Ética, seja a Corregedoria, seja a própria CPI que possa ser instalada, é que têm que decidir. Portanto, a Bancada do PT nesta Casa assina um documento, sugerindo aos nossos Líderes naquela Casa que trabalhem com esse tipo de encaminhamento em todas as reuniões, a fim de que possam decidir. E nós firmaremos nossa posição conforme a da Câmara dos Deputados. Toda e qualquer posição que aquela Casa adotar acompanharemos, conforme já foi dito aqui pelo nobre Senador Paulo Paim.

Concedo o aparte, com muita honra, ao nobre Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Sibá Machado, evidentemente que em nenhum momento V. Exª esteve sob suspeita de receber algum tipo de mesada. Só lamento que o dinheiro que V. Exª paga ao PT esteja sendo transferido pelo tesoureiro Delúbio Soares para os deputados do PP e do PL. Quer dizer, V. Exª está inocentemente dando seu dinheirinho, 30% do seu salário - acredito que V. Exª precise muito dele -, que, ao chegar à Tesouraria do PT, vai para o PP e para o PL, como disse o Deputado Roberto Jefferson. Em segundo lugar, quero parabenizar, admirado, a Bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado, que não queria nenhuma CPI ontem e tão rapidamente mudou de idéia. Assisti aqui ao discurso de V. Exª, da Senadora Serys e de outros, na segunda-feira, contrários à CPI, e hoje já querem duas. Não entendi essa mudança rápida: de nenhuma CPI para duas. Vamos primeiro instalar uma para, depois, se instalar a outra, como seria natural. Dá a impressão de que não querem nenhuma, vamos dizer assim. Era só isso.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Poderia ouvir os demais apartes, Sr. Presidente? Depois eu concluo.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª a observância do tempo. V. Exª tem 4 minutos, improrrogáveis.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Eu gostaria de ouvir rapidamente o nobre Senador Flávio Arns.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Eu gostaria que ficasse bem claro para todos os Senadores, colegas e para a população brasileira que a tomada de decisão do Partido dos Trabalhadores, conforme o que preconiza a Constituição Federal, é a investigação de um fato determinado. O requerimento que circulou aqui no Senado e na Câmara objetivava investigar os Correios e a situação de todas as estatais: Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaipu, todas as estatais.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Então, dissemos: o fato determinado dos Correios tem de ser investigado, e esperamos que a Comissão de Constituição e Justiça corrija o requerimento e, ao mesmo tempo, a questão do “mensalão”, fato relacionado aos deputados. Que eles, de fato, adotem as investigações, pode ser uma CPI, mas pode também ser uma investigação da Corregedoria da Câmara dos Deputados, que, num bom trabalho, investigou o Deputado André Luiz, que também pegou propina na CPI do Bingo. Então, nesse sentido, a sociedade espera que haja investigação, clareza, doa a quem doer.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Sr. Presidente, mais três Senadores pediram aparte. Estou preocupado com o meu tempo, pois preciso concluir o meu pensamento.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Então, V. Exª use a palavra para concluir o seu pensamento. V. Exª tem mais dois minutos. Infelizmente, fica suspenso o aparte aos Senadores.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Então, eu peço encarecidamente a compreensão dos demais...

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Nem o meu aparte, Senador Sibá Machado?

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Preciso concluir meu pensamento, mas ouço V. Exª.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Não quero ironizar, mas V. Exª falou em vaca e corda. O PT assina a CPI depois que a vaca foi com corda e tudo para o brejo. O povo diria isso. Estou empolgado com a festa que o PT está fazendo, pois resolveu apoiar a CPI. Agora, essa CPI dos Correios é muito pouco. Não tem graça mais. É preciso que seja uma CPI ampliada, que alcance todas as áreas do Governo e faça uma verdadeira assepsia. O País exige isso, Senador Sibá.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Senador Alvaro Dias, aproveitando as palavras de V. Exª, digo que quem tiver de ir com a vaca para o brejo vai ter de ir mesmo, seja segurando a corda, seja montado sobre ela. Não haverá aqui meias palavras com ninguém.

Sr. Presidente, para concluir, o Deputado Miro Teixeira admite, na imprensa, que manteve essa conversa com o Deputado Roberto Jefferson, mas, por dois momentos, seja como Ministro ou como Deputado, exigiu que o Deputado Roberto Jefferson assumisse a denúncia. S. Exª não o fez. Então, não podemos aqui ser levianos, pois as pessoas aqui não podem viver de inocência. O nosso partido, o PT, aguarda a decisão da Câmara com o seguinte entendimento: analisar um fato consumado sem porém fazer dele uma festa política. Neste caso, nós estaremos lá para dar cobertura, e já me coloco à disposição do meu partido para participar dessa Comissão.

Quanto à situação da denúncia do Deputado Roberto Jefferson, que fique muito claro: trata-se de um deputado para outros deputados.

(Interrupção do som.)

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - Cabe à Câmara dos Deputados tomar posição sobre esse fato, e nós, do Senado, vamos aguardar, infelizmente, que eles tomem essa providência. Essa é a nossa sugestão.

Na reunião do meu partido, defendo que se vá a fundo para que o nosso tesoureiro... Eu só conheço um Delúbio. O Delúbio que conheço é aquele da organização partidária, que nos fez chegar até aqui e que incomoda, felizmente para nós, e infelizmente para o PFL, porque o nosso Partido é muito organizado em todo o Brasil. Sou muito agradecido a toda a nossa direção e a nossa militância por isso.

Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2005 - Página 18204