A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/P-SOL - AL. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já tive a oportunidade várias vezes de deixar clara nesta Casa, com os comentários que passo a fazer, a metamorfose ética do PT e do Governo Lula. E já disse várias vezes que não o faço com alegria, até porque dediquei os melhores anos da minha vida a ajudar a construção do PT e sei o quanto a traição às bandeiras históricas da classe trabalhadora, a traição às concepções ideológicas e programáticas da Esquerda Socialista, como isso de fato mexe com mentes e corações, especialmente dos milhares de militantes espalhados pelo Brasil.

Então todas as considerações que faço em relação ao PT e ao Governo Lula hoje utilizarem o mesmo balcão de negócios sujos que, no passado recente, quando utilizado pelo Governo Fernando Henrique, nós condenávamos com ferocidade e com veemência, tudo isso realmente eu faço com tristeza.

Mas hoje eu tive realmente muita vontade de rir, quase que de gargalhar, ao identificar essa mudança, especialmente de dirigentes do PT e do Governo, em relação à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito. Sei que muitos estavam preocupados de forma verdadeira. Mas eu sei também que muitos que reagiram de forma quase que histérica nesta Casa, quando se falava em Comissão Parlamentar de Inquérito... Eu fico impressionada com o cinismo, com a dissimulação, com o descaramento de hoje apoiarem a Comissão Parlamentar de Inquérito. Para nós, do P-SOL, se quiserem propor dez Comissões Parlamentares de Inquérito, nós assinaremos as dez. Aliás, se quiserem abrir a Comissão Parlamentar de Inquérito do mensalão, nós assinaremos. Mas o primeiro depoimento que deverá haver na Comissão Parlamentar de Inquérito será o de Roberto Jefferson. No mesmo dia, também o do Sr. Delúbio, tesoureiro do PT. No mesmo dia, acareação entre os dois.

Esse negócio de querer ludibriar a opinião pública com trabalho na Corregedoria ou o que quer seja, “nã-nã-ni-nã-não!” Se quiserem abrir, vamos logo! Podemos até antecipar. Fazer acareação entre os dois. Todos os Senadores e Deputados, todo mundo quebra sigilo bancário, telefônico e fiscal. Está tudo muito bem! Vamos começar a apurar.

É evidente que não cabe tentar tirar a autoridade moral de quem já não tinha. Não tinha e isso era sabido pelo Governo. Até porque realmente essa moçada não tem amigos. É só oportunista. Num dia, aplaudem a pessoa e a acariciam, e trazem essa pessoa para partilhar da máquina pública. Em outro dia, batem nessa pessoa de forma desvairada nos meios de comunicação, quando ela mostra que onde toca no Governo sai secreção purulenta.

Então, nós vamos assinar a CPI. Estou querendo mesmo muito que se inicie a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios. É evidente que, com a montanha, com o amontoado de denúncias de crimes contra a Administração Pública que todos os dias saem nos meios de comunicação, tinha que haver muito mais CPIs, é verdade, porque muitos insígnes ladrões conhecidos da opinião pública, ao invés de restituírem o que roubaram, foram restituídos aos cargos públicos para continuarem roubando muito mais. Então, é essencial que se abram tantas Comissões Parlamentares de Inquérito quantas sejam necessárias.

Agora, na da CPI dos Correios, não fica pedra sobre pedra. Tem que abrir essa CPI, porque o que tem de licitação fraudulenta que foi montada, onde as necessidades e as especificações técnicas eram devidamente carimbadas para alguns empresários amigos do Palácio do Planalto ou da base de bajulação do Governo ganharem as licitações. Tem que abrir essa Comissão Parlamentar de Inquérito, porque ela é essencial. Ela é parte do mesadão, porque tem o mesadão, tem a mesadinha e tem não sei o quê, é tudo parte do mesmo balcão de negócios sujos. Porque não é só o mesadão. É o mesadão mais cargo, prestígio, poder, licitação, para viabilizar o interesse daqueles conhecidos delinqüentes de luxo, saqueadores dos cofres públicos, que não vão poder sair impunemente dessa que estamos identificando, com tristeza, mas com a indignação que qualquer pessoa, independente de convicção ideológica, de filiação partidária, mas apenas por repetir o que Dom Pedro Casaldáliga profetizava sobre ética: ética na política é vergonha na cara e amor no coração. E é neste momento que vamos ver isso.

Mas não vou deixar de registrar: estou sorrindo diante do cinismo e da dissimulação de muitos que, na semana passada, estavam aqui dizendo, em arroubos de arrogância e intolerância, que não se podia abrir CPI porque a Polícia Federal já estava investigando. Agora estão todos aqui. Sabem por quê? Porque a opinião pública é implacável. Muitos diziam aqui que a Rede Globo estava nas mãos do Governo. O Jornal Nacional de ontem teve que se render à pressão da opinião pública. Então, é muito interessante o que tem acontecido. É bom porque a população sabe. A capacidade auditiva do Congresso Nacional é diretamente proporcional ao grito e à pressão da população na rua. E a população tem que continuar pressionando, porque não basta apenas assinar e instalar a CPI. Há as manobras dentro da Comissão. A Base de bajulação do Governo deve indicar um cordeirinho, um carneirinho, um bonzinho daqueles que fazem tudo...

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Óleo de peroba...

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ...Óleo de peroba para tanta cara de pau. Colocarão lá os mansinhos, os cordeirinhos, os bonzinhos...

(Interrupção do som.)

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ...aqueles que aceitam que o Governo lhe ponha uma dobradiça nas costas. A população tem que investigar quem será indicado pelos Partidos para ver se não está num papel muito feio a Base de bajulação; tem também que acompanhar as reuniões da Comissão, porque, na hora de aprovar um requerimento de quebra de sigilo, a maioria da Comissão se junta e não aceita. Na hora de chamar para depor um delinqüente...

(Interrupção do som.)

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ...de luxo, amigo dos palácios ou do Congresso, aí não se aceita. Então, a opinião pública vigilante é o que poderá desvendar os mistérios sujos da corrupção, estejam eles onde estiverem.