Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a entrevista do Deputado Miro Teixeira ao Jornal Folha de S.Paulo. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Comentários sobre a entrevista do Deputado Miro Teixeira ao Jornal Folha de S.Paulo. (como Líder)
Aparteantes
Jefferson Peres, José Agripino, Pedro Simon, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2005 - Página 18214
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENTREVISTA, MIRO TEIXEIRA, DEPUTADO FEDERAL, DECLARAÇÃO, COMPROMETIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, DENUNCIA, ROBERTO JEFFERSON, CONGRESSISTA.
  • EXPECTATIVA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, MIRO TEIXEIRA, DEPUTADO FEDERAL, REGISTRO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), DEFESA, DEMISSÃO, MINISTRO DE ESTADO, COMPROMETIMENTO, CORRUPÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Três ovas.

Quantas ovas? Eu gostaria de um Senado com 81 ovas, porque seria desejável uma Câmara com 513 ovas, um Presidente com uma ova e um Ministério com todas as ovas.

Sr. Presidente, trago a denúncia da Folha de S.Paulo - denúncia não, uma mera reportagem - este País está confuso. Eu estou hoje com as primeiras páginas de todos os jornais. É impressionante a centimetragem mencionando corrupção que ocupa espaço nas primeiras páginas dos jornais. Estou praticamente com todos os principais editores de economia do País. O assunto é corrupção, claro que influenciando a economia. Diz a jornalista Sônia Racy que este Governo é um concordatário ético. Estou com os editoriais dos principais jornais do País, esses que vêm na mídia. Praticamente todos se dedicam à questão da corrupção.

Mas hoje eu ainda ouvia, juntamente com o Senador Tasso Jereissati, o Senador Pedro Simon. É algo estarrecedor. Volto a dizer que não é denúncia, é uma matéria do jornalista Fernando Rodrigues entrevistando o Deputado Miro Teixeira, ex-ministro e ex-líder do Governo Lula.

Folha - Qual foi o outro fato relatado por Roberto Jefferson?

Miro - Como eu já disse, o relato do Roberto Jefferson foi mais amplo. Não posso relatar em detalhes, pois não tenho elementos de prova. Mas ele descreveu uma cena de corrupção em um ambiente ministerial a que ele assistiu. Foi quando eu o exortei a ir ao presidente da República.

Folha - Quando foi isso?

Miro - Final de 2003. E eu volto à Câmara no final de fevereiro.

Folha - O senhor não poderia elaborar mais sobre qual foi esse ambiente ministerial onde teria se dado a cena de corrupção?

Miro - Foi em torno de uma mesa ministerial.

Folha - O senhor não poderia dizer qual foi o ministério?

Miro - Não, porque eu entraria em um processo. Num crime contra a honra, quem reproduzir responde pelas mesmas penas.

Folha - Quem estava com Roberto Jefferson nessa cena de corrupção?

Miro - Ele descreveu que estavam o ministro, representantes de três partidos e um diretor de departamento. Eu estranho que ele tenha omitido esse relato na entrevista à Folha. Das duas, uma. Ou era mentira e agora ele não a mencionou ou era verdade e ele quer se valer da influência dessas pessoas para protegê-lo - as pessoas que teriam participado dessa tal cena de corrupção que ele diz ter presenciado.

Folha - Na sua sala no ministério, quando relatou esse fato, com quem estava Roberto Jefferson? Estava também o deputado João Lyra (PTB-AL) e quem mais?

Miro - Mais uma outra pessoa.

Folha - Foi o deputado José Múcio Monteiro (PE), líder do PTB na Câmara dos Deputados?

Miro - Não, não foi o Zé Múcio. Não me recordo da terceira pessoa. Não importa, porque ficou mudo, assim como o Lyra.

Lembro-me de uma época, Senador Antonio Carlos Magalhães, em que a figura do Ministro se impunha. Criei-me nesse ambiente: “Dr. Capanema ligou, vai entrar o Ministro”, ou seja, “o Ministro vai lá em casa hoje, então, não me faça nenhuma besteira.” Era aquela figura vetusta, geralmente. Hoje está minimizada a importância do cargo de Ministro.

Faço perguntas bem objetivas, Senador Pedro Simon: esse Ministro ainda é Ministro? Isso o Deputado Miro Teixeira certamente esclarecerá. Tenho plena confiança em S. Exª, profunda estima pessoal, profundo respeito pelo Deputado e sei que S. Exª esclarecerá isso, não se furtará a prestar mais esse serviço à Nação. Ou devo colocar sob suspeição alguém que já tenha saído do Ministério, Senador Pedro Simon?

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Tenho o maior respeito pelo Deputado Miro Teixeira. É uma das figuras mais notáveis que conheci, ao longo do tempo, neste Parlamento. Por isso, a sua afirmativa dizendo que, além do que está aí, o Presidente do PTB lhe falou de fatos muitíssimos mais graves e que ele nunca tinha ouvido nada igual, e que ele não quer falar...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Em oito mandatos.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Em oito mandatos, ele nunca tinha visto nada igual.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E olhe que ele viu o Collor, viu o Orçamento...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Acho que, até em sigilo, a Mesa, o Ouvidor, alguém deve ouvi-lo para ver do que se trata, pela credibilidade que merece o Sr. Miro Teixeira. Não é possível uma afirmativa como essa sair no jornal e não acontecer nada. A coisa mais grave e mais séria, nada igual ele imaginou nos seus últimos mandatos, mas ele não vai falar porque não tem elementos. Concordo que ele não fale porque não tem elementos, mas seria interessante que a Mesa designasse nomes e que, em segredo de Justiça, as Lideranças e o Conselho de Ética o ouvissem. Creio que isso seria muito importante.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Tem razão V. Exª.

Ouço o Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Arthur Virgílio, serei brevíssimo. O que me espanta é o seguinte: o Senhor Presidente da República é amigo pessoal de Miro Teixeira; ele não chamou Miro, agora, para saber? Ele não tem curiosidade de saber quem foi esse Ministro acusado de ter acertado corrupção em seu gabinete? O Presidente da República não quer saber. É um espanto!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador.

Ouço o Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, quero apenas concordar com as palavras do Senador Pedro Simon. É muito grave! E veja V. Exª que a afirmação parte não só - como disse o Senador Jefferson Péres - de um dos maiores amigos do Presidente Lula, mas realmente de um dos homens públicos mais respeitados deste País, Líder e ex-Ministro do Governo. É necessário, fundamental que se faça algo como o que foi sugerido pelo Senador Pedro Simon, para dar satisfação, porque não podemos assistir a isso simplesmente de braços cruzados. Não me lembro - não sou tão antigo na política - de ouvir relato de corrupção explícita dentro da sala do Ministério, dentro da sala do Ministro, com o próprio Ministro. Eu nunca tinha ouvido isso. Não podemos deixar esse fato passar em branco de maneira alguma, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estamos vendo, por exemplo, o Senador Amir Lando, que é um homem de bem...

Ouço o Senador José Agripino, por favor.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª faz muito bem em trazer a transcrição da entrevista do Deputado Miro Teixeira, porque vai ficar claro para a opinião pública, para aqueles que não lêem a Folha de S.Paulo, que o que está ocorrendo é um festival de denúncias intrabase do Governo. São eles próprios que anunciam os fatos e que dão uma credibilidade dobrada, triplicada, porque a pessoa tem todo o direito de pensar que V. Exª ou eu, que somos Líderes de Oposição, estamos exagerando, mas um cidadão que foi Ministro e é Deputado da Base do Governo dizer o que disse à Folha de S.Paulo?! Fecho os olhos e imagino a composição da Mesa: representantes de três Partidos, um Ministro de Estado e um chefe de departamento conversando sobre corrupção, sobre uso de dinheiro público. Opiniões dadas entre integrantes da Base do Governo! Então, impõe-se essa CPI, e é muito bom que V. Exª traga para cá esse diálogo, para que os que estão nos ouvindo pela TV Senado possam também tomar conhecimento do que a Folha de S.Paulo divulgou no dia de hoje.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerro, Sr. Presidente, agradecendo a todos os ilustres aparteantes e ressaltando duas idéias básicas: a primeira é que, de fato, a CPI se impõe, é uma realidade e vem para apurar todos os fatos e todas as responsabilidades; a segunda é uma exigência, Senador Pedro Simon, que faço em nome do PSDB - e tenho certeza de que representando com muita clareza o que pensa a Nação. O PSDB quer o nome desse Ministro. O PSDB sabe que não se referiu o Deputado Miro Teixeira a uma figura honrada como o ex-Ministro Amir Lando. O PSDB quer a demissão desse Ministro. O PSDB quer que esse Ministro seja apontado à execração pública que merece. Meu pai dizia que ladrão de dinheiro público não se aposenta e não muda; no máximo, tira férias quando ele se sente pressionado por um ambiente negativo a ele. O PSDB exige “o nome desse boi” porque, neste momento, pode esse Ministro estar praticando algum delito. Esse Ministro hoje haverá de estar tramando alguma coisa, haverá de estar planejando algo contra o País. Esse Ministro enodoa a figura do Presidente da República e a figura dos seus colegas que forem honrados.

Não podemos continuar compactuando com esse clima de laissez faire, laissez passer em relação a um quadro que está simplesmente desmontando a credibilidade das instituições neste País. O PSDB, com muita clareza, exige o nome e exige a demissão desse Ministro arrolado pelo Deputado Miro Teixeira, que, tenho certeza absoluta, haverá de dizer quem é...

(Interrupção do som.)

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concluirei, Sr. Presidente.

            Não se precisa de CPI coisa alguma! O Deputado Miro Teixeira precisa dizer quem é, e temos que chamar esse Ministro às responsabilidades. Neste momento, se ele é delinqüente, está delinqüindo. E, se neste momento é delinqüente e alguém quer esconder seu nome, não fica bem para quem quer esconder o seu nome. Fica incômodo, Senador Jefferson Péres - V. Exª tem toda a razão -, para o Presidente Lula.

O Presidente Lula deve estar mais excitado do que qualquer um de nós para ter esse Ministro longe do seu Governo e, se ele é assim como descreveu o Deputado Miro Teixeira, se Deus quiser, o mais perto possível da cadeira.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2005 - Página 18214