Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre denúncias de corrupção no governo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre denúncias de corrupção no governo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Arthur Virgílio, Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2005 - Página 18255
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • GRAVIDADE, EXPANSÃO, CORRUPÇÃO, BRASIL, NECESSIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • CRITICA, FALTA, LIDERANÇA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, ATRASO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BUSCA, APOIO, COLIGAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros, aqui já se falou muito em Cristo e não sei o motivo, Antonio Carlos Magalhães.

Senador Leonel Pavan, não tem nada a ver eu vir aqui falar em Pilatos, em Cristo, em Judas, mas o Arcebispo do Rio de Janeiro disse que não tem nada a ver o Lula, porque não é católico, é caótico.

Senador Amir Lando, caos! Quando olho para o Amir Lando, lembro-me de Shakespeare: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

O Senador Arthur Virgílio lembra-me o Itamaraty, mas cito novamente Shakespeare: “É melhor ser um mendigo em Nápoles do que um rei na Dinamarca”.

Esse é o Brasil. Não há algo de podre, não, está podre mesmo!

Senadora Heloísa Helena, somos da Saúde: médico e enfermeira.

Antonio Carlos Magalhães, lembre-se das ciências médicas: a doença, o foco, a etiologia, que está em Santo André. Agora, temos endemia. Se não tiver tratamento, será uma epidemia. A corrupção, Senador Efraim Morais, hoje é uma epidemia igual à peste bubônica combatida por Oswaldo Cruz. Agora, os ratos estão aí. Senador Flávio Arns, é a epidemia da corrupção.

Na semana passada, eu trouxe seis revistas que mostravam, nas capas, a corrupção.

Senador Antonio Carlos, V. Exª se lembra da Martha Rocha? Eram capa de revista Emília Correia Lima, Senador Tasso Jereissati, do Ceará, e Adalgisa Colombo. Agora, as capas de revista são só a respeito de corrupção.

Agora, aqui: “O laranja de Roberto Jefferson”.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, Terezinha Morango, do Amazonas.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois é, Terezinha Morango. Mas a corrupção está muito maior do que o Amazonas, maior do que o Brasil.

É epidemia. E epidemia tem tratamento.

A CPI, eu entendo, é uma das vacinas, mas não a usaram. Deve-se revacinar.

Assim foi com a varíola e com a meningite. Acabou. Não deram mais nenhuma dose de repetição. E essa vacina foi usada.

Senador Antonio Carlos Magalhães, olhe o que o seu amigo Itamar Franco diz: “Lula devia pedir a CPI”. Ex-Presidente diz que é preferível ‘furar logo o furúnculo’, e que a manutenção de Jucá e Meirelles representa um ‘quisto’ no Governo”.

            Itamar, ó Lula, Itamar...! Eu sei que você não estudou e não gosta de estudar a História universal, mas e a do Brasil recente? Itamar teve problema com seu o Ministro Hargreaves e olha o que ele diz na entrevista: “A CPI atrapalha a política econômica? Conversa fiada! A CPI vai abalar o mercado? Conversa fiada! (...) Nem no período autoritário tivemos problemas para instalar CPIs”.

Agora, quero contestar meu amigo Tasso Jereissati. Cheguei a dizer até que, se ele for candidato a Presidente pelo PSDB, eu assino essa ficha.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Itamar é um Embaixador do Governo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É do Governo, e está lá com o Papa. É um abençoado!

Senador Tasso Jereissati, V. Exª, muito feliz, com os seus olhos verdes de esperança, de São Francisco do Canindé - que tentou levar esperança aonde havia desespero -, eu vejo de modo diferente. Sou otimista. Isso me faz lembrar Juscelino Kubtischeck, médico e cirurgião como eu, de Santa Casa, Prefeitinho, Governador, cassado! Ele dizia que é melhor ser otimista, pois o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errando e continua errando. Sou otimista, mas vejo a situação. Olha, eu acredito em Deus, no amor, no estudo e no trabalho. O que me fez chegar aqui foi o estudo e o trabalho, Antonio Carlos Magalhães. São valores em que eu creio: em Deus, no amor, no estudo e no trabalho.

É interessante o destino. O Aloizio Mercadante, bem-formado, filho de militar, outro dia me disse: “Mão Santa, tem um livro aí do Dick Morris, O Príncipe... Eu pensei que fosse O Príncipe, de Maquiavel. Esse eu já li umas sessenta vezes, Tasso. Mas eu gosto mesmo é de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos. Quem vê bem, vê com o coração”. Vamos parar por aqui. Mas quanto ao El Nuevo Príncipe, eu o comprei em espanhol, em Buenos Aires. “En el espíritu del clásico de Maquiavelo, Dick Morris, nos explica cómo manejar el poder com éxito”. Dick Morris foi o cirineu de Bill Clinton, desde o governo, foi secretário, e passou a escrever. Então, Tasso, a situação é mais grave.

Entendo que ainda há salvação: é o Lula ler esse livro, estudá-lo. Sua Excelência deveria tirar uma licença; colocar o homem do PL, em quem temos uma boa expectativa, o Vice-Presidente, José Alencar. Agora, o livro é em espanhol. Mas o Lula emprestou tanto dinheiro para a Espanha, para o Chávez, para o Paraguai, para Cuba, então podem traduzir o livro para ele, porque ele disse que não gosta de ler nem em português; em espanhol, então, vai ser mais complicado! Mas, com esse dinheiro que ele emprestou, ele arrumou el amigo cubano, lá, do maligno, um amigo... Então, serei breve, lerei apenas três linhas do resumo do livro: “Um líder político deve dominar a sua equipe e fazer com que marchem a seu próprio ritmo”. Ele não domina! Ele é um dominado pelo maligno que acoberta o crime, que vem lá de Santo André. Isso tudo o Paim sabe. Ele é dominado. Tem que se livrar do maligno. Esse é o meu primeiro conselho.

O segundo - atentai bem, ó Lula! -, pelo menos peça a gravação, já que Vossa Excelência pode ter preguiça de estudar. Vou ler um trecho do livro, Amir Lando: “El despido es un derecho legal que el presidente moderno no puede ejercer”. Traduzindo: o demitir é um direito legal que o presidente moderno não pode exercer. Não é fácil, Tasso, aí é que ele se engana. Atentai bem! Nós sabemos que na democracia da Inglaterra, de Tony Blair, da Itália, da Espanha, a coalização se dá no início, Senador Antonio Carlos Magalhães! É no início! É o primeiro-ministro quem compõe. Agora, como, Tasso Jereissati, se tínhamos 16 Ministérios, ele aumentou para 38 e colocou companheiros derrotados, fracassados? Então, é difícil demitir esses companheiros. Dick Morris prova o relacionamento, a dependência, o saber de coisas, de trapaças...

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Trinta mil casas.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É. Mas aí vem mais.

Quero dizer que o meu pessimismo...

(Interrupção de som)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ajudem-me. Peço a V. Exª, que o arejado do PT leve o livro e traduza para o Lula.

Atentai bem, Antonio Carlos Magalhães! Onde está o Lula? Está viajando. Sei que o nosso amigo Fernando Henrique, Heloísa Helena, gostava de uma mordomia moderada. O PT é uma mordomia deslumbrada, encantada. Não pára. Vemos que não há mais passagem porque os companheiros estão nos assentos do avião!

Olhem o que diz Dick Morris, estou terminando, Sr. Presidente, Senador Tião Viana. Preste atenção a essa colaboração Senador, ou V. Exª quer que o homem caia para ser o próximo candidato da alternância? Lembre-se dos livros em espanhol que estudávamos em Medicina - no nosso tempo não havia livros em português, eram em espanhol. Então, diz assim Dick Morris: “Un presidente, o cualquier ejecutivo de la rama política, tiene que comprender que su deseo de moverse por su estado o su nación socava su capacidad de conducir eficazmente.” Quer dizer: “o desejo de viajar enterra a capacidade de administrar”. “Cuanto más mueve su cuerpo, menos puede usar su mente. Tiene que mantener la rienda corta en sus viajes...”.

            E o homem foi comprar o Aerolula e não sei o quê, e o maligno manda ele viajar, e ele diz que é isso mesmo, para ficar governando no lugar, expandindo o mal.

Tiene que mantener la rienda corta en sus viajes y pasar tanto tiempo como sea posible en su escritorio dirigiendo la oficina. La Casa Blanca se maneja a sí misma cuando el presidente no está”. [Fica lá o maligno manejando, quando ele não está.] Por eso tiene que asegurarse de que no está ausente mucho tiempo”.

            Esse é o erro.

            Então, há ainda uma salvação, e quero dar a minha colaboração; colaboração do PMDB. Já passou o tempo da coalizão.

Fernando Henrique Cardos, todo sabido, chamou, mas eu não votei nele; votei no Quércia - eu era do PMDB. Mas ele chamou no começo; com cinco dias, deu três Ministérios para o PMDB. Agora, chamar para quê, Tasso, se está tudo ocupado por companheiros? O PMDB não vai, nós não vamos! Nós vamos garantir a nossa democracia!

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Fica esse daí. Mas o meu, o de Ulysses e o de Amir Lando, está aqui e no coração do povo. E nós saberemos, então, salvaguardar o que pregou Ulysses: “ouça a voz rouca das ruas” e, assim, salvaguardar a redemocratização conquistada pelo PMDB. Iremos, sim, garantir a alternância do poder e vamos dizer: acabou aquilo que estava podre lá na Dinamarca, e chegou aqui a podridão da corrupção.

Essas são as nossas palavras e o nosso agradecimento.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2005 - Página 18255