Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a texto do colunista Wanderley Guilherme dos Santos, que faz reflexão a respeito da política brasileira.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), GOVERNO MUNICIPAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a texto do colunista Wanderley Guilherme dos Santos, que faz reflexão a respeito da política brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2005 - Página 18721
Assunto
Outros > ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), GOVERNO MUNICIPAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, CONFLITO, PREFEITURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), POPULAÇÃO, PROTESTO, AUMENTO, TARIFAS, TRANSPORTE COLETIVO.
  • ANALISE, SITUAÇÃO, NATUREZA POLITICA, BRASIL, ELOGIO, PARTICIPAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCONTRO, AMBITO INTERNACIONAL, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, HISTORIA, POLITICA, BRASIL.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, é a primeira vez que venha à tribuna do Senado esta semana. Em primeiro lugar, estou vivenciando um momento pessoal extremamente difícil, tendo em vista que minha mãe está na UTI desde o último sábado. E é exatamente num momento como este, quando se tem uma pessoa tão próxima numa situação entre a vida e a morte, que determinadas coisas são contemporizadas, relativizadas, porque, efetivamente, tudo toma outra dimensão.

Não bastasse essa questão pessoal muito difícil para mim, vivo um momento político no meu Estado, na minha cidade, Florianópolis, também de muita gravidade. Desde a semana passada, vivemos eventos extremamente difíceis envolvendo a reação da sociedade, principalmente da juventude ao Sistema Integrado de Transporte, ao custo do transporte municipal em Florianópolis, com cenas lamentáveis de despreparo, de desmando, de violência, de falta de comando, de perseguição, inclusive a lideranças estudantis, coisa que até amargou para a nossa cidade, para o nosso Estado, referências internacionais. Vejo nos jornais que estão-se buscando negociações, parece que a situação volta à calma. Até brinquei dizendo que saí, na semana passada, do tiroteio virtual com o PSDB e cheguei em Florianópolis no tiroteio real com a Prefeitura, também do PSDB, por causa da questão do transporte.

Tive oportunidade de realçar várias vezes que a questão do transporte é um problema gravíssimo no nosso País, mas há responsabilidades municipais, há responsabilidades em que o sistema, como é o caso de Florianópolis, precisa ser revisto profundamente - planilha, todo o sistema - como também - a posição, de quem está no comando da Polícia Civil e da Polícia Militar de, efetivamente, respeitar as regras democráticas e da convivência. Espero que volte a prevalecer o bom senso.

O cenário nacional exige de todos nós a calma e a tranqüilidade que não estamos tendo neste momento no plenário. Os ânimos estão muito acirrados. Há uma situação em que muitos podem estar querendo apostar na crise. Tenho ouvido falas, que me arrepiam, no sentido de apostar no quanto pior, melhor. Fiz um aparte ao Senador Maguito Vilela, porque há diferença nos pronunciamentos da Oposição, mas algumas me assustam profundamente.

Quero realçar também que, junto com essa turbulência toda em cima do tema da corrupção, neste País que é corrupto, sim, neste País que tem uma corrupção, como já tive oportunidade de dizer aqui inúmeras vezes, entranhada, encardida do tecido do aparelho do Estado - e modificar isso não é tarefa para um único Governo, não é tarefa, eu diria, até para uma única geração -, junto com isso há a necessidade de intensiva participação e confluência de empenhos de toda a sociedade para que possamos combater a corrupção em nosso País.

No meio de toda essa situação, temos a realização do IV Fórum Global de Combate à Corrupção que não foi trazido para o Brasil por um acaso; foi trazido para o Brasil como o fruto, em primeiro lugar, do reconhecimento de que existe corrupção neste País, mas também do reconhecimento de que o atual Governo, quando o Ministro Waldir Pires levou a proposta de realizar o IV Fórum Global de Combate à Corrupção no Brasil, teve o apoio de todos os países, mais de cem países que estão participando do Fórum, no reconhecimento do esforço e das medidas adotadas pelo Governo para, efetivamente, mudar a estrutura estatal no combate à corrupção.

Ontem, na abertura do IV Fórum Global de Combate à Corrupção, como não poderia deixar de ser, o posicionamento do Presidente Lula foi condizente com sua história de vida, condizente com todos os compromissos e as ações que o seu Governo vem desencadeando no combate à corrupção. Sua Excelência disse claramente: não haverá nenhum tipo de transigência, não haverá panos quentes, vamos levar até as últimas conseqüências, vamos levar até o fim todas as investigações necessárias.

É por isso que, neste momento em que tantos apostam no quanto pior, melhor, na tal da crise, que eu não poderia deixar de registrar, e até pedi que fosse transcrito, na íntegra, o artigo do colunista Wanderley Guilherme dos Santos, do Valor Econômico do dia 2 de junho, que vem um pouco naquela reflexão a respeito do lacerdismo e daquelas iniciativas políticas que, na história do Brasil, se consolidaram em golpes, golpes brancos e uma série de iniciativas políticas que têm uma configuração no nosso País de forma muito nefasta e que todos nós precisamos afastar de pronto, combater de pronto.

O artigo do Wanderley Guilherme dos Santos começa com:

O “lacerdismo” transferiu o domicílio eleitoral para São Paulo.

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E segue discorrendo uma série de questões. Para nós, é muito importante quando ele diz que:

“Existe uma liderança consciente de que o Governo atual, a continuar no mesmo ritmo, dificilmente seria batido em 2006. A tentação de macular reputações com escândalos alheios é muito grande para aqueles cuja perspectiva de vida política útil é diminuta. São muitas as condições a serem preenchidas antes que se possa considerar a hipótese de que um golpe branco seja bem sucedido. Mas não é isso que impedirá a agitação, precisamente na medida em que não existam alternativas”.

Por aí vai o Wanderley Guilherme dos Santos no seu artigo, que peço que seja transcrito, na íntegra, nos Anais do Senado Federal.

Como comecei intimista, com a questão do meu drama pessoal, tive, nesses dias, oportunidade de conviver muito com o meu irmão. Pelo fato de ele morar e trabalhar em São Bernardo, quase não nos encontramos. O meu irmão é um pequeno empresário, tem uma pequena empresa de fabricação de moldes para a indústria.

Nas conversas, ao longo desses dias, acompanhando a situação da nossa mãe, ele me disse: “Ideli, tenho a minha microempresa há algumas décadas. Agora, estou ampliando-a e contratando mais gente. O meu material de trabalho é para indústria. Apenas posso crescer e empregar mais - hoje tenho onze funcionários e estou contratando mais três este mês - se a indústria neste País, como um todo, crescer, pois forneço para ela. Por favor, não deixe parar, porque, há muito tempo, eu não tinha uma possibilidade, uma potencialidade como esta”.

Ouvi do meu irmão esse apelo. E, ontem, tive a oportunidade de escutar, no avião - fui a São Paulo, ontem à noite, ver minha mãe, que havia recuperado a consciência -, um rapaz, que acredito tivesse uns 35 anos, não mais do que isso, que me abordou, dizendo: “Senadora, acompanhei todo o seu trabalho, as suas leituras e não posso deixar de falar com a senhora. Perdoe-me”.

Como já andamos meio ressabiados, Senador Cristovam Buarque, pensei que viria cobrança. Mas o que ele me disse calou fundo, e chorei no avião. Ele me disse assim: “Eu trabalho numa grande empresa, Senadora. Nós aqui embaixo não queremos turbulência. Nós aqui embaixo queremos calma e tranqüilidade.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Fiquem firmes. Não ouçam os chacais, porque vocês estão fazendo um bom governo. Continuem”.

Isso me animou, junto com a melhora sensível de minha mãe, a ter coragem de vir à tribuna no dia de hoje e dizer: podem ladrar, mas nós vamos ficar firmes e trabalhar para que este País continue crescendo, para que pessoas, como o meu irmão, tenham perspectivas de dar crescimento a pequenas empresas. Hoje há uma marcha dos micros e pequenos empresários trazendo as suas reivindicações ao Planalto. Vamos todos combater este mal que é o da corrupção e que não é responsabilidade única e exclusivamente de quem comanda este País, do Presidente Lula.

Muito obrigada.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Texto do colunista Wanderley Guilherme dos Santos, 02/06/2005.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2005 - Página 18721