Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao pronunciamento do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, proferido na abertura do IV Fórum Global de Combate à Corrupção. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao pronunciamento do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, proferido na abertura do IV Fórum Global de Combate à Corrupção. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/06/2005 - Página 18737
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCONTRO, AMBITO INTERNACIONAL, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRITICA, INCOERENCIA, DISCURSO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, ATENDIMENTO, COMPROMISSO, INTERESSE PUBLICO, PRESERVAÇÃO, MORAL, INTEGRIDADE, GOVERNO.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é a primeira vez que subo à tribuna para abordar a crise política que sacode o País. Fiz questão de refletir, de pensar maduramente para falar com serenidade da tribuna porque me preocupam muito os desdobramentos e o desfecho dessa crise.

Ontem assisti ao veemente discurso do Presidente da República no Fórum Global de Combate à Corrupção. Sua Excelência falou na sua biografia, no seu compromisso de combater a corrupção, de cortar na própria carne. O discurso vem com um atraso de dois anos e seis meses. Deveria ter sido pronunciado no dia 1º de janeiro de 2003, porque, dois anos e meio decorridos, ele não corresponde, infelizmente, à prática.

Senadora Heloísa Helena, lamentavelmente, se há um culpado por essa crise, chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, Sua Excelência e todos os que o acompanham no Governo. A Oposição não fez nada para desencadear essa crise, Senador Rodolpho Tourinho. Nada. Revelação de uma gravação dos Correios feita não sei por quem; declarações do Deputado Roberto Jefferson, da Base governista. O que a Oposição fez? A Oposição está gritando “fora, Lula”? Está pedindo impeachment? Incitou baderneiros a quebrarem os vidros do Congresso Nacional? A Oposição está apenas estupefata, como todo o povo brasileiro, e pedindo a apuração, responsavelmente.

Quem gerou a crise?

O Presidente da República gosta muito de ditados populares, de expressões populares, de metáforas. Eu gostaria muito que Sua Excelência tivesse seguido dois adágios populares, Senador Tião Viana. Primeiro: “Dize-me com quem andas que eu te direi quem és.” Como Sua Excelência escolheu mal, depois de eleito, as suas companhias. E segundo, pior ainda, Senador Tião Viana: “Quem com porcos anda farelos come.” O Presidente da República não teve cuidado algum em selecionar sua base de apoio e até em firmar um pacto com a Oposição, Senador. Pode estar certo de que pelo menos os quatro minguados Senadores do PDT aqui votariam as propostas do Governo dentro de uma agenda positiva, de graça. Não quero indicar nem um contínuo para lugar algum.

Aliás, o PDT ainda era da base do Governo, no início. O Ministro Miro Teixeira me pediu que indicasse o Diretor dos Correios do Amazonas. Sabe o que eu fiz, Senador Tião Viana? Chamei os funcionários e disse: “Façam uma eleição. Eu não quero.” Eles fizeram, e quem está no cargo é um petista eleito pela categoria.

Senador Tião Viana, antes tarde do que nunca. Se esta crise não tiver um desfecho trágico, espero que o Presidente da República realmente passe a compatibilizar prédica e prática, porque Sua Excelência cometeu muitos erros. Fica difícil desculpar o Governo por desqualificar a entrevista do Deputado Roberto Jefferson. Dizer que ele não tem credibilidade, Senador Antonio Carlos Magalhães? Quem disse que daria um cheque em branco ao Deputado Roberto Jefferson e dormiria tranqüilo? Como dizer que não tem credibilidade o Deputado Roberto Jefferson?

Depois, quando o escândalo já tinha estourado, disse Sua Excelência: “Parceiro é parceiro, e sou solidário com os meus parceiros.” O Presidente da República não é solidário com ninguém, só com a Nação. Eu disse ontem, em aparte ao Senador Tasso Jereissati, e reitero, que o Brasil está precisando de um estadista. O estadista, entre outras virtudes - repito o que disse ontem -, não tem fígado nem coração, não persegue adversários e não protege amigos que cometem desvios. Estadista só tem compromisso com o interesse público. Talvez o Presidente Lula ainda possa tornar-se um estadista. Não tenho muita esperança, mas faço votos, Senador Tião Viana.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/06/2005 - Página 18737