Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Replica ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (como Líder)

Autor
Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. LEGISLAÇÃO ELEITORAL.:
  • Replica ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 10/06/2005 - Página 19338
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. LEGISLAÇÃO ELEITORAL.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, AUSENCIA, TENTATIVA, FAVORECIMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, DADOS, DIVIDA PUBLICA, DEFESA, SUPERAVIT, CONTROLE, GASTOS PUBLICOS, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL, COMPARAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ERRO, PRIVATIZAÇÃO, PATRIMONIO PUBLICO.
  • SOLIDARIEDADE, VEREADOR, EXPECTATIVA, REVISÃO, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), RETORNO, NUMERO, VAGA, CAMARA MUNICIPAL, DEFESA, DEBATE, SENADO, ALTERAÇÃO, LEGISLAÇÃO ELEITORAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 09/06/2005


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALOIZIO MERCADANTE NA SESSÃO DO DIA 01 DE JUNHO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Concedo a palavra ao nobre Senador Aloizio Mercadante pela Liderança do Governo. S. Exª dispõe de cinco minutos.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pela Liderança) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, reporto-me inicialmente ao pronunciamento do Presidente Lula.

O Presidente falou à Nação, como tem falado de forma recorrente, em todos os momentos, por exemplo: “Não esperem de mim medidas populistas mesmo estando a um ano e meio das eleições”. E destacou: “O País não pode ser eternamente em desenvolvimento; não podemos fazer o País retroceder”. Disse mais: “Não existe brincadeira em economia. Nós não vamos gastar mais do que temos, porque um dia alguém terá que pagar a conta”. “Aumentamos os juros 15 dias antes das eleições municipais, numa demonstração de que o Governo não pretende adotar medidas populistas por conta do calendário eleitoral”.

A coisa mais fácil na história recente do Brasil são os governos que olham para as eleições sem olharem para o dia seguinte. Tivemos planos econômicos elaborados às vésperas das eleições, medidas de gasto público absolutamente irresponsáveis e insustentáveis, para tentar angariar votos e apoio popular, que deixaram como herança essa que nós herdamos.

Quando o Presidente Lula assumiu o Governo, a dívida pública era 61,5% do Produto Interno Bruto. Quando o Presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu o Governo, a dívida era 34% do PIB, correspondia a R$67 bilhões; oito anos depois, chegara a R$760 bilhões.

Repetirei mais uma vez: nesses oito anos, o Governo anterior vendeu a mineração, que foi conquistada na Segunda Guerra, quando o Brasil passou a ter o controle do subsolo; vendeu todo o setor elétrico de distribuição e 80% da geração - o Governador Geraldo Alckmin agora quer vender a empresa de transmissão mais rentável do País. Ainda agora, querem continuar privatizando e vendendo patrimônio. Além disso, vendeu a siderurgia, a petroquímica; vendeu todo o setor de telecomunicações; vendeu quase todo o setor financeiro público e aumentou a dívida de R$67 bilhões para R$760 bilhões, saltando de 34% para 61,5% do Produto Interno Bruto. E, se não bastasse, aumentou a carga tributária de 27% para 35,5% do PIB.

Ora, falar em gasto público com essa lógica fiscal irresponsável que o País vinha praticando é a coisa mais fácil, Senador José Agripino. Esse é o caminho mais fácil, e o Brasil já o conhece. Deixa que o Governo seguinte paga a conta. Vende-se o patrimônio, aumenta-se a carga tributária e liberando-se o gasto público, na crença de que um dia alguém irá consertar este País.

Não podemos continuar nesse caminho. Não é correto falar em gasto público, se não podemos aumentar a carga tributária. Não podemos e não vamos aumentá-la.

Se houver aumento de receitas, defendo que o Governo devolva impostos, especialmente para o setor de investimentos, como está fazendo agora. Defendo, por exemplo, a isenção total de impostos para quem quiser investir, desde que 80% da produção sejam voltadas para exportação. Precisamos investir o que temos, precisamos ter sustentabilidade fiscal. A dívida pública caiu para 51% do PIB, e é por isso que o superávit foi feito sem aumentar a carga e sem vender patrimônio.

É difícil manter o superávit? É. Mas é ele que está desendividando o Brasil. É ele que está dando estabilidade e futuro, é ele que vai permitir que possamos voltar a investir mais sem voltar a carga tributária e sem endividar. Não há outra solução, não há solução mágica em economia. As tentativas de dar calote na dívida pública, o corralito da Argentina, ou o quorum, em 1992, mostram que o ônus econômico é muito maior do que os ganhos. Precisamos de um trabalho sério, suprapartidário e sustentável. Qualquer que seja o Governo, no futuro, o Brasil não poderá abrir mão da responsabilidade fiscal. O que podemos fazer é melhorar a gestão. Reduzimos o gasto com a folha de pagamentos. É preciso melhorar a gestão para gastar melhor os poucos recursos que temos, para investir mais em logística, utilizar medidas criativas como o Projeto de Parceria Público-Privada. Esses são os esforços para que o Brasil possa investir mais em infra-estrutura e logística e sustentar o crescimento econômico.

O que temos hoje? Basta olhar estes dois anos e meio. Desafio V. Exª a debater qualquer indicador econômico relevante nos oito anos do Governo Fernando Henrique Cardoso e nos dois anos e meio do Governo Lula. O País, no ano passado, obteve a maior taxa de crescimento dos últimos dez anos, mesmo que o PIB venha a ser corrigido. Até agora, não está clara a questão das telecomunicações. Alcançamos recorde de exportações e de saldo comercial. Houve uma melhora na dívida pública. Geramos três vezes mais emprego do que nos oito anos do Governo anterior. A agricultura bateu recordes de produção e exportação.

Enfrentamos dificuldades sim... Creio que há coisas que precisam ser corrigidas. Há uma inflexão a ser feita na política econômica. A meta inflacionária foi muito baixa no início deste ano. Não precisava ter ido a 4,5%, o que pressionou a política monetária. A política de juros sobrecarregou a política fiscal e fez o dólar se depreciar em demasia, amortecendo a inflação que vem de fora do Brasil e que vinha do passado, de contratos mal feitos. A inflação caiu, desabou, o que abre espaço para os juros voltarem a cair progressivamente.

Quando assumimos, a taxa de juros era de 27,5%. Atualmente, estamos com uma taxa de juros de 19,5%, que é muito alta, mas bem menor do que a que herdamos. Como ontem, a taxa de juros americana também caiu. Tudo caminha para que a taxa de juros básica possa cair, e isso vai permitir ao dólar voltar a um ponto de equilíbrio para que as exportações continuem fortes e o País possa crescer e se desenvolver.

Por essa razão, qualquer que seja o indexador, contas externas ou contas públicas, crescimento da economia e emprego, onde o Governo aumentou o gasto público? No Programa Bolsa-Família! Sete milhões de famílias recebem hoje uma complementação de renda de R$ 75,00. Doze milhões de crianças pobres têm a chance de permanecer na escola pública. E o Governo, agora, aumenta em mais um ano a escolaridade obrigatória, pois a educação é o maior desafio em termos estruturais no País. Aí, sim, aumentamos em 66% os gastos para combater a pobreza e a desigualdade, para promover a inclusão social e as crianças freqüentarem a escola, para diminuir a fome e a desnutrição infantil, para plantar hoje a semente do futuro do País. Só aí aumentamos o gasto público.

Vamos trabalhar a eficiência da máquina pública, vamos melhorar a capacidade de investimento do setor público, mas vamos continuar, sim, como disse o Presidente, com muita responsabilidade!

Não vamos nos aventurar pelo populismo fiscal, não vamos em busca fácil de votos, porque o País não sustenta, posteriormente, o gasto público e a responsabilidade.

Ao terminar, Sr. Presidente, gostaria de dizer aos Vereadores que aqui se encontram em uma campanha de longa data - cinco meses! - que foi um erro da Justiça Eleitoral alterar regras eleitorais em um ano de eleição. Isso prejudica a democracia, prejudica a disputa, e não podemos continuar praticando casuísmos eleitorais, pois as pessoas se preparam, constroem uma vida, disputam uma eleição e, no meio do processo, as chapas são reduzidas e pessoas que poderiam estar legislando são deixadas de fora, mesmo porque, como a alteração foi feita de última hora, sequer há economia de gastos nas Câmaras Municipais.

O Congresso Nacional tem a obrigação de criar uma nova regra para o futuro, estabelecer uma regra clara. Mas quem pode rever a decisão é o Supremo Tribunal Federal. É a ele que compete julgar o mérito da ação de inconstitucionalidade apresentada. O Poder Judiciário poderá sim, reverter a decisão. O Congresso Nacional não pode fazer nada em relação ao passado, mas pode, deve e seguramente fará em relação ao futuro, a fim de que possamos ter critérios nacionais permanentes que dêem a representação nas cidades, evitando que haja novos casuísmos eleitorais nas mudanças das regras eleitorais.

Tantas vezes fomos vítimas de casuísmos de última hora, que não ajudam a democracia nem a cidadania, não se conseguindo avançar o processo de consciência política de participação popular no País.

Portanto, os Vereadores têm o nosso apoio. Espero que o Supremo Tribunal Federal possa decidir a questão com isenção e constitucionalidade. O Senado Federal tem obrigação de construir uma regra permanente, clara e transparente a fim de que nunca mais se repitam episódios lamentáveis como esse de modificar regras em ano de eleição.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2005\20050609DO.doc 12:26



Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/06/2005 - Página 19338