Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do governo Lula no que se refere às denúncias de corrupção.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Defesa do governo Lula no que se refere às denúncias de corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2005 - Página 19431
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • ANUNCIO, ENCONTRO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESIDENTE, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, DISCUSSÃO, REFORMA POLITICA, PREVISÃO, INSTALAÇÃO, CONSELHO NACIONAL, JUDICIARIO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), REUNIÃO, CONSELHO, POLITICA MONETARIA, REVISÃO, AUMENTO, TAXAS, JUROS, EXPECTATIVA, PROPOSTA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), REDUÇÃO, TRIBUTOS.
  • EXPECTATIVA, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), DEPOIMENTO, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL, CAMARA DOS DEPUTADOS.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRITICA, COMPARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, CARTA CAPITAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LEITURA, ENTREVISTA, ESCRITOR, CONFIRMAÇÃO, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), POSSIBILIDADE, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JUSTIFICAÇÃO, INCAPACIDADE, REPRESENTAÇÃO POLITICA, MINORIA, DISPUTA, CAMPANHA ELEITORAL, CHEFE DE ESTADO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, penso que vamos ter uma boa semana, uma semana com muitos assuntos, a começar pelo Presidente da República recebendo o Presidente do Senado e o Presidente da Câmara para tratar do andamento da reforma política. É uma pauta importante, que, infelizmente, anda a passos de tartaruga. Teremos também, amanhã, a instalação do Conselho Nacional de Justiça no Supremo Tribunal Federal, avanço importante, oriundo da reforma do Judiciário, que esta Casa teve a capacidade de aprovar depois de tramitação de mais de uma década. Teremos, igualmente, a reunião do Copom. Há uma grande expectativa de que, devido a índices com deflação, tenhamos a inflexão, a mudança na trajetória de aumento de juros. Teremos ainda o anúncio da chamada “MP do bem”, mais uma leva de medidas de desoneração tributária para alguns setores, entre eles a questão do custo de equipamentos e máquinas, a questão da exportação. Provavelmente, deverá ser incluída uma reivindicação - semana passada, houve uma grande manifestação - das micro e pequenas empresas, pois podemos alterar os seus níveis de enquadramento.

Portanto, teremos uma semana com assuntos extremamente importantes para o cotidiano, não apenas aqueles assuntos que a Oposição sistematicamente traz a esta tribuna.

É claro que haverá também a instalação da CPI dos Correios e o depoimento do Deputado Roberto Jefferson, na Câmara. Esperamos que efetivamente S. Exª traga as provas, porque, entre a entrevista à Folha de S.Paulo, há uma semana, e agora, mudou a versão, mudou o foco, ampliou as acusações. Mas não apresentou nenhuma prova a não ser a sua palavra.

Vamos ver como fica a situação. O Presidente Lula foi muito claro hoje na conversa radiofônica que faz todas as semanas e que vou reprisar: “É importante saber que a questão da corrupção no Brasil não é uma coisa nova. E quanto mais se combate a corrupção, mais ela aparece na imprensa. E nós estamos combatendo a corrupção como jamais foi combatida neste País”.

Já tive oportunidade de perguntar quantas operações o Governo, a Polícia Federal sob o comando do Governo do PSDB e do PFL, teve a oportunidade de realizar, se desbaratou quadrilhas, se prendeu todo e qualquer tipo de agente público - desembargador, governador, prefeito, policial, servidor, parlamentar -, como o próprio Presidente Lula disse e prova na sua execução de governo, cortando na própria carne. Quando se descobre alguém vinculado ao PT envolvido nas quadrilhas, manda-se para a cadeia do mesmo jeito. Há exemplos recentes de personalidades, de figuras do PT envolvidas em corrupção presas em flagrante. Muitas vezes solicitei que apresentassem as operações que executaram durante o seu governo, que apresentassem os presos com o mesmo grau de amplitude e de significância, em termos de cargos ocupados, que apresentassem presos do seu próprio Partido para demonstrar que não têm conivência com a corrupção.

Mas, infelizmente, as coisas vão mudando e mudando, e temos que apresentar as cobranças.

Semana passada, fiz a leitura de alguns trechos de um artigo de Wanderley Guilherme dos Santos. Ele está, nesta semana, com uma entrevista na CartaCapital que considero extremamente relevante.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Peço, Sr. Presidente, que seja incluída na íntegra nos Anais desta sessão.

Wanderley Guilherme dos Santos, no início dos anos 60, escreveu o livro Quem vai dar o Golpe no Brasil, que prenunciou a derrubada do Presidente Goulart, em 1964. Ele teve o faro do golpe alguns anos antes.

Ele se refere, na entrevista, a esse clima de golpe, de crise, de criação de crise. Alguns, como há pouco ouvi, querem comparar Presidente Lula ao Collor. Isso é algo inadmissível. Inadmissível. Como petista, como brasileira, com um conhecimento mínimo das trajetórias e da história, não posso admitir, Senador Paim. Não dá para se admitir isso.

Na entrevista dada por Wanderley Guilherme dos Santos, ele diz:

(...) para alcançar esse objetivo, o PSDB chegou a pensar em “golpe branco”, em impeachment, a partir das denúncias de corrupção. Mas recuou. Acredita que o partido não promoverá a iniciativa, mas, se ela surgir, apoiará. Ou seja, se o cavalo passar arriado, o ex-Presidente Fernando Henrique montaria.

Segundo o entrevistado, “a palavra crise entrou no vocabulário diário da política desde janeiro de 2003”. Há setores da elite brasileira que não se conformam e não vão se conformar nunca com a eleição de um metalúrgico para a Presidência da República e com um Partido que teve a capacidade de aglutinar setores da sociedade civil no combate a todas as formas de malversação de recursos públicos, de desmonte da máquina pública, da privatização e da injustiça social.

A palavra crise estava sempre na pauta.

Continuo a leitura da entrevista:

WGS: (...) Falou-se de crise todos os dias. Agora, sim, há uma crise política. É uma crise importante. Mas é uma crise normal em sistemas democráticos funcionando, operando. Quer dizer, democracia com uma oposição musculosa como não havia, por exemplo, no governo Fernando Henrique.

CC: Oposição mais forte...

WGS: Agora tem. Não tinha imprensa contra, agora tem.

Ele fala, inclusive, que o PT, na Oposição, não tinha a força que tem hoje a Oposição, porque no máximo o PT mobilizava em torno de 140 Deputados. A crise de agora, segundo o Wanderley, não tem uma única causa. Ela não se refere apenas à causa dos interessados mais evidentes, que são os próprios políticos.

WGS: (...) Para os políticos de oposição esse é um momento muito importante. Interessa a eles que a crise seja caracterizada como tal: uma crise.

(...)

Por outro lado, é verdade também que se essa denúncia do mensalão tivesse sido feita durante o governo Fernando Henrique não teria provocado grandes marés.

(...)

WGS: Primeiro, porque é uma denúncia genérica.

Não há provas.

(...) Há pagamentos mensais feitos pelo tesoureiro do partido do governo etc. etc.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Bloco/PT - AC) - Senadora Ideli Salvatti, V. Exª tem mais um minuto para conclusão.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Não apresentaram nenhuma prova.

Sérgio Motta tinha uma fita gravada sobre a compra de votos no processo de aprovação da reeleição, e nada ocorreu. A Oposição não tinha a capacidade de fazer acontecer. “E isso envolvia uma figura chamada Sérgio Motta”. As denúncias, agora, vêm do Deputado Roberto Jefferson, que tem um histórico, um passado e não apresenta provas.

Mais para a frente menciona, de forma muito clara, Wanderley Guilherme dos Santos que “Desde janeiro de 2003, temos tido sucessivas rodadas de denúncias, nos jornais, acompanhadas de uma pesquisa”. Para desespero, as rodadas de pesquisa não apontavam a queda da popularidade do Presidente Lula.

Portanto, todo esse arcabouço de geração de crise dá-se por vários motivos.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Bloco/PT - AC) - Senadora Ideli, infelizmente, não posso estender o tempo de V. Exª, porque outros Senadores serão prejudicados. Concederei mais 30 segundos, no máximo, para V. Exª concluir.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Wanderley menciona, inclusive, que outra causa da crise, que parece ser o temor do PSDB, é Anthony Garotinho e não o candidato do PSDB a disputar as eleições. Fala algo que é bastante ilustrativo:

CC: Por que o PSDB teria chegado a esse ponto?

WGS: Pelo pavor do sucesso do governo Lula. O PSDB sabe que, com mais dois anos de governo, como vinha até agora, ele levaria uma surra em 2006.

Sr. Presidente, já que não pude fazer a leitura na íntegra, peço a V. Exª que inclua nos Anais a entrevista de Wanderley Guilherme dos Santos.

Muito obrigada.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

FHC apoiaria “Golpe Branco” (revista CartaCapital, 15/06/2005.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2005 - Página 19431