Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise do comportamento do Presidente Lula e das lideranças do Partido dos Trabalhadores, diante das denúncias de corrupção que envolvem o governo.

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Análise do comportamento do Presidente Lula e das lideranças do Partido dos Trabalhadores, diante das denúncias de corrupção que envolvem o governo.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2005 - Página 19486
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • CRITICA, COMPORTAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • DEFESA, MOBILIZAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AFASTAMENTO, DEMISSÃO, MEMBROS, SUSPEIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, DIREÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • COMENTARIO, INCOMPETENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ADMINISTRAÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA.
  • REGISTRO, GRAVIDADE, DENUNCIA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PARTICIPAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FRAUDE, CONCESSÃO, SELO, AUTORIZAÇÃO, DESMATAMENTO, ORGANIZAÇÃO, VINCULAÇÃO, CRIME, OBJETIVO, OBTENÇÃO, DOAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), MOTIVO, POSSIBILIDADE, OCORRENCIA, PREVARICAÇÃO.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “são 300 picaretas” - Luiz Inácio Lula da Silva.

“Os fatos lamentáveis das últimas semanas só confirmam que o PT virou uma máquina eleitoreira como qualquer outra” - Plínio de Arruda Sampaio.

Neste final de semana, visitei um psiquiatra amigo. Trata-se de um homem atualizado com os acontecimentos, um especialista em comportamento humano. Quis saber do renomado estudioso do cérebro as funções do choro em face da recente tragédia moral brasileira. Em português compreensível, o médico me informou que atende pela nomenclatura de compulsão pseudobulbar tanto o riso quanto o choro desmotivados. A patologia ainda não tem cura, mas neste mês a agência de medicamentos dos Estados Unidos deve liberar o uso de um remédio que promete bons resultados para o mal que acomete os integrantes do Governo Lula e do Partido dos Trabalhadores.

Vamos primeiro a um rápido histórico para se inferir de como o poder conferiu ao PT ternura espontânea. No primeiro ano do Governo do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a palavra de ordem era o riso. Apesar da recessão e dos sinais freqüentes de incompetência, o Governo do PT vivia em estado de celebração. As emoções eram tantas que, em determinados momentos, o Presidente Lula não resistia e chorava. As expansões comovidas do “chorão primeiro” tinham várias razões. O Presidente Lula chorava no lançamento de programas sociais, em encontro com dupla caipira na Granja do Torto, na inauguração de plataformas logísticas e na abertura de festival de cerveja.

O exemplo veio a calhar a ponto do empedernido Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu, ter uma recaída de ânimo e chorar diante do ditador Fidel Castro. A “República das Lágrimas” ruiu quando o brasileiro, despertado por um jornalista norte-americano, passou a desconfiar que o choro presidencial tinha um estímulo extra, ora fermentado, ora destilado. Para não chocar a opinião pública aboliu-se o choro das manifestações externas, mas, como se soube recentemente, continuou morando nos corações e nas mentes do PT.

Ao saber do “mensalão”, o Presidente Lula chorou, conforme atestou o Presidente do PTB, Roberto Jefferson. Na semana passada, um caso de choro duplo na reunião do Diretório Nacional do PT. Antes da malsinada entrevista coletiva que concedeu, o tesoureiro-geral Delúbio PC Soares fez das lágrimas um álibi da própria probidade. Já a ex-Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, deixou o encontro de cúpula aos prantos. Observem, Srªs e Srs. Senadores, o que não faz a fé de última hora? O Presidente do PT, José Genoíno, rogou ao Espírito Santo proteção celestial para enfrentar a imprensa brasileira na ocasião. Pode não ter chorado, mas começou a entrevista com cara de sexta-feira da Paixão e banhado na sudorese. Uma sintomatologia própria dos aflitos.

O Presidente Lula não precisa apenas se livrar das más companhias, a exemplo do que afirmou o Ministro das Cidades, Olívio Dutra, mas promover uma faxina ética ampla no seu Governo, sob pena de ser apontado como o responsável pelo patrocinato da rapinagem. Como se apresenta, a administração do PT é um paciente de enfermaria com fratura exposta. Já não há mais morbidez. O que se ouve é o bramido das últimas horas. A primeira providência para o Presidente se desatolar do lamaçal é a exoneração in continenti de todos os escalões suspeitos. Estou falando que a oportunidade da autolimpeza é agora, antes que a CPI chegue às portas do Palácio do Planalto.

O PT não tem como sustentar mais a hegemonia da moralidade, mas o Presidente Lula ainda possui alguma chance de purgar a sua biografia ao mandar para casa o Ministro José Dirceu. Com certeza, ao assim proceder, estará drenando o principal foco de infecção do seu Governo.

Notem, Srªs e Srs. Senadores, que o Presidente Lula, até o instante, gerenciou com pasmosa incompetência a crise política. Podia ter extirpado o “mensalão” na origem, mas preferiu ignorar a compra de Parlamentares, depois de ter chorado. Descoberto o escândalo dos Correios, fez das evidências um instrumento institucional do deboche, quando pediu aos jornalistas que mirassem na sua face o medo de uma CPI. Lula foi infeliz ao ironizar as circunstâncias. Blefou quando tinha de ter mantido a compostura.

Ato contínuo, expediu um cheque em branco para quem, duas semanas depois, se tornaria o seu principal detrator. Os fatos que se seguiram foram ainda mais lamentáveis. Ficou muito mal na fotografia o PT no desempenho do papel de caçado de CPI. A outra passada em falso foi repristinar a Reforma Política, como se a medida fosse a nau salvadora de um governo de afogados. Hoje, em seu programa de rádio, o Presidente Lula garantiu que o empenho do Palácio do Planalto com as investigações não deixará “pedra sobre pedra”.

Meu medo é de que o Governo do PT seja vítima da própria metáfora apocalíptica. Repito: caso o Presidente não limpe o seu Governo dos suspeitos, remova o aparelhamento do Estado pelo PT, reduza drasticamente no mercado da fisiologia o número de funções gratificadas e proponha ao Congresso Nacional uma agenda não-monetária, vai ser condenado à morte lenta. Para ter legitimidade de enfrentar uma CPI com a mínima dignidade, não resta ao Governo outra providência senão extirpar as carnes condenadas. Tem de possuir tutano cívico para dispensar todos os auxiliares, dos mais diversos partidos, envolvidos com a dilapidação do bem público. O Presidente Lula tem a obrigação de coagir o PT a afastar da sua direção o trio camarilha composto de Sílvio Pereira, de Marcelo Sereno e do professor Delúbio PC Soares.

São muito sérias as denúncias da revista Veja desta semana sobre o envolvimento do Partido dos Trabalhadores com as organizações criminosas que atuam no desmatamento ilegal da Amazônia. A fraude patrocinada por integrantes do PT e madeireiros resume-se na substituição de um instrumento institucional de controle do desflorestamento, a Autorização para o Transporte de Produtos Florestais (ATPF), por um selo emitido pelo próprio Partido. O PT, não o Governo Federal, não o Ibama, mas o PT passou a autorizar...

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Demóstenes Torres, desculpe-me interrompê-lo, mas esta Presidência interina tem que prorrogar a sessão por dez minutos.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O PT passou a autorizar a circulação de madeiras ilegais para ter em troca doações de campanha.

O aviso também vale para a Ministra Marina Silva. Não acredito no envolvimento da Senadora com atos de sabotagem à moralidade, mas, caso não limpe a própria casa, vai ser maculada, no mínimo, pela prevaricação.

Sr. Presidente, eu tinha plena convicção de que o PT era incompetente e não possuía quadros à altura do Brasil. Nunca acreditei que o Partido fosse dotado de candura natural, mas não podia supor que possuía tamanha fluidez para trafegar nos “propinodutos” e habitar os ambientes do crime organizado.

Presidente Lula, o senhor pode poupar o Brasil de mais uma desmoralização, ao eliminar os setores putrefatos do seu Governo. Pode mais, Presidente! Com o uso de uma simples caneta, o senhor poderá tirar o seu Governo da Parte Especial do Código Penal e trazê-lo de volta aos postulados da decência.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2005 - Página 19486