Discurso durante a 81ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a artigo de autoria do Doutor Jorge Werthein, dirigente da Unesco no Brasil, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "Mais cidadania e menos medo", abordando a importância do envolvimento da sociedade na superação da violência.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Comentários a artigo de autoria do Doutor Jorge Werthein, dirigente da Unesco no Brasil, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado "Mais cidadania e menos medo", abordando a importância do envolvimento da sociedade na superação da violência.
Publicação
Publicação no DSF de 14/06/2005 - Página 19495
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, DIRIGENTE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), BRASIL, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, NECESSIDADE, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, COMBATE, VIOLENCIA, ELOGIO, PROGRAMA, ABERTURA, ESCOLA PUBLICA, FIM DE SEMANA, IMPORTANCIA, MEDIDAS LEGAIS, DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL, BENEFICIO, JUVENTUDE, ENSINO MEDIO, PREVENÇÃO, VINCULAÇÃO, CRIME, RECUPERAÇÃO, CIDADANIA.
  • REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), BRASIL, ELOGIO, INCENTIVO, EDUCAÇÃO, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no dia 7 de junho deste ano, a Folha de S.Paulo publicou mais um artigo do Dr. Jorge Werthein, dirigente da Unesco no Brasil. Intitulado “Mais cidadania e menos medo”, o artigo aborda a importância do envolvimento da sociedade na superação da violência.

Ao trazer dados do Mapa da Violência de São Paulo, pesquisa realizada pela Unesco, Jorge Werthein enaltece iniciativas tais como o programa “Escola da Família”, que, ao permitir a abertura das escolas estaduais nos fins de semana, fez com que fossem reduzidos os índices de violência nas regiões abrangidas por essas escolas. O dirigente da Unesco também atenta para a importância de o Estado e as entidades da sociedade civil priorizarem medidas que tenham impacto direto no ensino médio, cujos alunos pertencem a faixa etária particularmente vulnerável à violência, ao tráfico de drogas e à criminalidade em geral.

A correlação entre medidas de caráter educativo e diminuição da violência está longe de ser acidental. O resgate da cidadania perdida no subemprego e na violência passa, necessariamente, pela educação.

É nesse sentido que vem atuando a Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - desde sua fundação, em novembro de 1945, oportunidade em que o ilustre Anísio Teixeira atuou representando o Brasil. Próxima de completar 60 anos de existência, a Unesco vem trabalhando na ingente tarefa de construir a paz na mente do ser humano. Tal construção tem como pedra fundamental a educação, em todos os níveis, abrangendo todas as faixas etárias.

No contexto brasileiro, em que o crescimento da economia tem de ser sustentado se quisermos acabar com a histórica desigualdade social, a atuação da Unesco é nada menos que fundamental. Garantir cada vez mais e melhor educação ao povo brasileiro significa aumentarmos a competitividade do País, ampliarmos a inserção brasileira nos mercados globais. Significa, também, Srªs e Srs. Senadores, aparelharmos as crianças, os jovens e adultos com meios efetivos de lutarem por um futuro mais digno.

Sr. Presidente, o primeiro escritório de representação da Unesco no Brasil data de 1946; em Brasília, as atividades foram iniciadas há pouco mais de 30 anos, em 1972. Ouso dizer, porém, que jamais este Órgão Especializado da ONU viveu momento tão profícuo com o Governo e com a sociedade civil quanto nos últimos anos.

É certo que a Educação, a Ciência e a Cultura, objetivos precípuos da Unesco, devem fazer parte de todo e qualquer projeto de nação. No entanto, mais certo ainda é o fato de que, no Brasil, políticas educacionais por vezes foram tratadas ao sabor das circunstâncias, sem a necessária priorização delas por parte do Governo e da sociedade civil.

É nesse sentido que um administrador eficiente e infatigável pode fazer toda a diferença. Esse é o caso de Jorge Werthein, representante da Unesco no Brasil desde 1996. Só um idealista incorrigível como ele seria capaz de dar impulso exponencial às atividades da Unesco em tão curto intervalo de tempo, transformando o escritório brasileiro no escritório da Unesco mais importante do mundo.

Durante sua gestão, Jorge Werthein aumentou de 25 para 250 o número de funcionários da Organização. O volume de recursos captados aumentou cerca de 25 vezes, perfazendo 30% do volume de operações da Unesco em todo o mundo! Os investimentos saltaram de 12 para 300 milhões de reais por ano!

Nos dias de hoje, a Unesco conta com escritórios-antena em várias capitais brasileiras, como em Porto Alegre, Natal, Cuiabá, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. As diretrizes da Organização são universais, mas devem estar atentas às especificidades das comunidades e dos governos locais. A descentralização praticada pela Unesco permite o aumento da capilaridade de sua atuação, fazendo com que sua expertise chegue aos grotões mais longínquos do território brasileiro.

Em 1997, foi criado o Grupo de Parlamentares Amigos da Unesco, iniciativa pioneira do Brasil no contexto da América Latina. É uma honra para mim ser um membro desse Grupo, o que me dá a oportunidade de acompanhar mais de perto as atividades do escritório brasileiro da Unesco.

Posso dizer com segurança que a ampliação das atividades dessa Organização nos últimos anos é impressionante. Muitos são os projetos de abrangência nacional que contam com a participação ou com o assessoramento técnico da Unesco, mediante parcerias estabelecidas com o Governo e com entidades da sociedade civil.

É o caso, por exemplo, do Programa Brasil Alfabetizado, que envolve desde o Ministério da Educação até empresas e governos locais, com um público-alvo de 4,5 milhões de pessoas até 2006. É o caso, também, do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas, parceria estabelecida pela Unesco com o MEC e com o Ministério da Saúde no sentido de educar preventivamente nossos jovens.

Outro exemplo de enorme importância é a parceria com a Rede Globo, no Programa Criança Esperança, que a partir de 2004 passou a contar com a participação da Unesco. Em seu ano de estréia na parceria, a Unesco ajudou a fazer com que a arrecadação subisse dos 9,5 milhões de reais obtidos em 2003 para os R$16 milhões arrecadados em 2004.

Os exemplos citados são apenas alguns entre aqueles que possuem maior abrangência e visibilidade, Sr. Presidente. No espaço de tempo deste pronunciamento, seria impossível mencionar todos os admiráveis programas de cunho socioeducacional que contam com a contribuição da Unesco.

Comecei este discurso citando artigo recente de Jorge Werthein na Folha de S.Paulo porque estou certo de que parte da solução para os enormes desafios sociais brasileiros passa por medidas simples e criativas, como a abertura de escolas públicas nos fins de semana.

Vencermos a brutal desigualdade da sociedade brasileira e a baixa qualidade do ensino público na chamada educação de base requer, acima de tudo, compromisso. Requer a obstinação e a ousadia que Jorge Werthein vem demonstrando possuir desde que iniciou seu trabalho no escritório da Unesco no Brasil, em 1996.

Trabalho não nos falta. Afinal, não basta universalizar o ensino, há que universalizar a qualidade dele também. Da mesma forma, os sistemas educacionais convencionais devem ser complementados por métodos diversificados de formação de jovens e adultos, como, por exemplo, o estímulo para maior intercâmbio científico por meio de comunidades virtuais - uma das bandeiras mais recentes da Unesco.

Em um momento delicado da vida política nacional, é válido lembrar que a educação e a cultura, pedras fundamentais do trabalho da Unesco, servem para transformar não apenas as mentes, mas também as mentalidades. A única revolução de que o Brasil precisa é a educacional. É por isso que estão de parabéns Jorge Werthein, os funcionários da Unesco e todos os brasileiros que acreditam que isso é possível.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/06/2005 - Página 19495