Discurso durante a 74ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoraração dos 20 anos de Redemocratização do Brasil, homenageando a cantora Fafá de Belém.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoraração dos 20 anos de Redemocratização do Brasil, homenageando a cantora Fafá de Belém.
Aparteantes
Alvaro Dias, Antonio Carlos Magalhães, Antonio Carlos Valadares, Arthur Virgílio, Delcídio do Amaral, Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, Heloísa Helena, Heráclito Fortes, José Agripino, José Sarney, Luiz Otavio, Marcelo Crivella, Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2005 - Página 17706
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, HOMENAGEM, MARIA DE FATIMA PALHA DE FIGUEIREDO, CANTOR, ESTADO DO PARA (PA), PARTICIPAÇÃO, COMICIO, DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA, ANISTIA, REPRESENTAÇÃO, CULTURA, CIDADANIA, REGISTRO, MUSICA, SIMBOLO, CAMPANHA, DEMOCRACIA, ESPECIFICAÇÃO, HINO NACIONAL.
  • HOMENAGEM, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO, IMPLEMENTAÇÃO, DEMOCRACIA.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senado homenageia hoje, ainda dentro das comemorações pelos vinte anos de redemocratização do Brasil, mais que uma personagem atuante de nossas lutas, homenageia um símbolo vivo de nossa própria história: Maria de Fátima Palha de Figueiredo, a Fafá de Belém.

Homenageamos a artista que virou ícone comovente dos comícios pelas diretas, como antes já o fora da campanha pela anistia, a artista que cantara as águas do Araguaia e Pauapixuna, que imortalizara os bois amazônicos, vermelhos ou não, a artista que solta a voz para o mundo, com as raízes solidamente fincadas no solo e na cultura da Amazônia.

Ela emprestou sua voz e sua arte ao grito de um povo. Com sua emoção, embalou sonhos de um país e de uma inteira geração. Com sua música, sonhamos a anistia pregada pelo velho Teotonio. Com sua emoção, cantamos as diretas com Tancredo, Ulysses, Teotônio, Dante de Oliveira, Montoro e milhões dos mais anônimos brasileiros. A artista que como poucos interpreta com sua música o romantismo mais apaixonado soube como ninguém viver os sentimentos mais arraigados de nossa brasilidade. Benditos os artistas que expressam não apenas a cultura de seu povo, mas encarnam, eles próprios, os sentimentos, os corações e a alma de sua gente!

Neste momento, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, saúdo mais que a artista brasileira que, com seu canto amazônico e sua música romântica, encanta e conquista três continentes. Saúdo a cantora que, com sua militância cidadã, representou os sonhos de sua geração, conquistou o seu tempo e entrou para a história do Brasil.

Ainda vejo Fafá junto ao leito de hospital do velho Teotonio, meu pai, meu querido e saudoso pai, às vésperas do coma final, às gargalhadas que marcaram um e outro, e me pergunto como um moribundo pode, tão gostosamente, relaxar e gargalhar como se a morte já não o espreitasse, como se a vida já não se esvaísse.

Eles tinham mais que identidade de visões, de anseios e de aspirações. Eles eram cúmplices, cúmplices de sonhos e de esperanças, com essa cumplicidade que alicerça as grandes amizades e cimenta as alianças mais sólidas. Juntos na anistia, juntos nas diretas-já, juntos nos palanques, juntos no leito de hospital.

Há exatos seis dias lembramos os 88 anos que estaria completando o velho Teotonio. Aqui estivesse, tenho certeza, gargalhadas ainda mais estridentes se sobreporiam a todos. Não estariam mais partilhando, você e ele, Fafá, sonhos, estariam comemorando conquistas.

Ainda lembro, ferida e sofrida, embora altiva, mais que nunca, com as campanhas cruéis movidas pelo despeito, pela covardia e pela má-fé dos que foram derrotados pelas campanhas das diretas e foram varridos pela redemocratização.

Fafá, sofrida, mas, altiva. Quem venceu a ditadura e todo o seu arsenal de arbítrio venceria também a ignomínia e toda a sua infâmia. Tão marcante foi sua coragem cívica, tão comovente sua ousadia cidadã que ela hoje se sobrepõe à sua própria obra musical. Tão abrangente que encanta países estrangeiros, tão elaborada que conquista continentes pela linguagem universal da emoção, do sentimento e da arte.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Quando V. Exª puder, peço que me conceda um aparte.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Já concedo, com muita honra, Presidente Sarney.

Muito se poderia falar de uma artista que se fez universal, a partir da expressão mais genuinamente regional. Muito se poderia louvar dessa mulher que, vivendo o seu tempo, se fez personagem da história de seu país.

Não esperem de mim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nenhuma crítica musical, que não poderia ser apenas superficial e passageira, para não ser injusta com uma obra abrangente como a de Fafá de Belém, que navega por vários gêneros e muitos ritmos. Nem poderia ser aprofundada, pois exigiria um conhecimento especializado que minhas limitações não permitem. Conforta-me o propósito que o Senado a homenageie hoje por três músicas. Não são apenas três composições, são três símbolos.

Concedo o aparte ao nobre Senador José Sarney.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senador Teotonio Vilela, estou aqui há duas horas justamente para ter esta pequena oportunidade de inserir no discurso de V. Exª, com sua permissão, este pequeno aparte. Refiro-me ao tempo porque julgo extremamente importante a homenagem que V. Exª faz a essa extraordinária cantora brasileira. Entendi que seria meu dever estar presente para associar-me não somente a V. Exª, mas à homenagem do Senado à participação de Fafá de Belém nos 20 anos de redemocratização do Brasil. Sem dúvida alguma, trata-se de uma data que diz muito aos políticos, a todos que participaram daquele momento extraordinário da vida brasileira. V. Exª menciona, no processo político, um dado extraordinário: a participação da música popular brasileira naquele movimento que levantou o País inteiro. Fafá de Belém, sem dúvida, foi a estrela máxima daqueles momentos extraordinários. Fui testemunha. É esse o testemunho que quero trazer. Falo de multidões imensas nas praças públicas do Brasil, ansiosas por liberdade e democracia, acompanhando, pela presença de Fafá de Belém, os anseios do povo para que ultrapassássemos aquela etapa histórica. Fafá enchia de alegria aquelas multidões. Juntava-se a essa alegria o desejo de democracia e de liberdade. Recordo-me de que V. Exª mencionou três músicas. Não chegou a dizer quais seriam as três músicas que se referem a esse período da vida de Fafá de Belém.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Quis criar uma expectativa, Presidente.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Quero incluir na lista de V. Exª uma música a que Fafá deu uma dimensão extraordinária, por sua interpretação: o Hino Nacional Brasileiro.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - É uma delas, Presidente.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Era comovente. Ela quase levava as pessoas às lágrimas. Havia um sentimento maior nos acordes, na letra do Hino Nacional Brasileiro, quando Fafá, com a dimensão da sua interpretação, dava a todos nós um significado transcendente não só de patriotismo, como também do nosso dever perante o nosso País. Quero ajuntar a este pequeno aparte, que é sempre menor do que ela merece, o querer bem que ela passou a despertar em todos nós. Querer bem esse que, no que se refere à minha pessoa, já é um querer bem de duas décadas, que cada vez se consolida na admiração pela voz divina, pela artista extraordinária, pela grande expressão da música popular que ela traz como cantora do Brasil. Minha lembrança caminha para a figura de Tancredo Neves, que gostaria de ter ao meu lado. Ele queria tanto bem a Fafá, tinha tanto carinho por ela, que são poucas as palavras que estou proferindo neste momento para expressar o sentimento de nós dois naquele palanque, Fafá ao nosso lado, com seus braços estendidos. Sua voz extraordinária ganhava as multidões, para que ficassem saciadas do desejo de liberdade que trazia naqueles comícios a que assistíamos há vinte anos. (Palmas.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Agradeço muito honrado ao Presidente Sarney o aparte e, sobretudo, proclamo o meu mais profundo respeito ao Presidente da transição. O ex-Presidente José Sarney assumiu a Presidência da República num momento trágico, difícil e soube manter a mais escrupulosa lealdade ao ministério, ao programa de governo, aos compromissos políticos, aos princípios do Dr. Tancredo.

V. Exª, sentando na cadeira de Presidente da República, logo nos devolveu o direito de eleger os prefeitos de capitais e os governadores, convocou a Constituinte, enfim, mostrou ao Brasil que tínhamos um Presidente democrata. Sobretudo, deu uma grande aula de tolerância, de humildade, de um homem que veio comandar o País como um pacificador, um conciliador.

Naquela época, o Brasil tinha grandes líderes, competentes, sábios até. Duvido, Senador José Sarney, que algum deles reunisse as qualidades que o momento exigia, de um Presidente leal, humilde, conciliador, democrático e, sobretudo, comprometido com aquelas multidões dos comícios do Dr. Tancredo, que a Fafá tanto abrilhantou, com a presença de tantos brasileiros entusiasmados com o compromisso da democracia.

Muito honrado com o aparte de V. Exª.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Muito obrigado a V. Exª.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Concedo o aparte ao Líder Arthur Virgílio e, em seguida, aos Senadores Eduardo Suplicy e Antonio Carlos Magalhães, enfim, a todos os que o solicitaram.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Teotonio Vilela Filho, a homenagem a Fafá de Belém passa pela lembrança e pela homenagem ao Senador Teotônio Vilela, pai. Ela nos faz lembrar os tempos da conquista da anistia, a primeira etapa da anistia, nos remete às multidões nas ruas, clamando por eleições diretas, nos envia para a campanha épica e trágica de Trancredo Neves, que resultou na sua morte e, portanto, na posse do Presidente constitucional José Sarney, que conduziu com tanta maestria, com tanta sabedoria a transição democrática que implantou as bases da democracia sólida deste País de grande democracia, que é o Brasil. Evidentemente, temos que nos reportar à Fafá com muita emoção. Presidente José Sarney, no dia em que V. Exª foi comunicado de que teria que assumir o mandato, Fafá, algumas pessoas, alguns Deputados e Senadores, eu próprio, estávamos na sua residência oficial. Foi com muita emoção que percebemos todo aquele peso de uma responsabilidade de que V. Exª se desincumbiria tão bem, que se abateu sobre seus ombros. Mas houve a alegria dos comícios. Essa grande intérprete da música popular brasileira, que, aliás, paraense de nascimento, é uma das maiores intérpretes também do Boi Bumbá da minha terra, teria sido grande nas artes brasileiras com ou sem uma participação política mais ativa, teria sido, portanto, uma cantora da elite, das nossas melhores cantoras. Por outro lado, terminou sendo uma cidadã com o senso exato de saber correr o risco e enfrentar a possível censura sobre a sua carreira. Sem dúvida alguma, deu um grande passo para a emancipação política da mulher brasileira. Evidentemente, se emociona ela, se emociona V. Exª e me emociono eu. Portanto, tenho que quebrar este clima. Fafá despertava tanta emoção nas pessoas do Brasil inteiro, que vou relatar um fato ocorrido com um Senador colega nosso, que à época era um jovem militante da democracia, o Senador Leonel Pavan, infelizmente ausente na sessão de hoje, por estar cumprindo uma missão em sua terra. A parte mais tocante era quando a pomba branca era solta para que voasse, o que representava o nosso povo reconquistando seu espaço de liberdade. O Senador Leonel Pavan, emocionado com a presença da Fafá e da multidão, dizia “A pomba não pode fugir, porque será um vexame para mim” e segurava forte a pomba. Perguntava “É agora”? Respondiam: “Não é agora”. E o Pavan vivia um clima de absoluta tensão. No final, disseram: “Solta a pomba, Pavan”. Ele soltou a pomba, mas ela não voou porque estava esganada. A pomba tinha sido enforcada pelo hoje Senador Leonel Pavan, que dizia: “Foi absoluta emoção”. A pomba não voou, mas talvez tenha sido o momento mais bonito por revelar toda a capacidade de se emocionar de um jovem brilhante, de um homem público que nascia ali, sempre com o compromisso da democracia e da liberdade. Portanto, tenho certeza de que jamais houve um casamento tão perfeito quanto a gargalhada contagiante da nossa querida e amada Fafá e a alegria, a generosidade do Senador Teotônio Vilela. Tenho certeza de que o Brasil será entendido sempre como um País de enormes afirmações. E sei que falo pela Senadora Heloísa Helena e pelo Senador Garibaldi Alves Filho. São enormes afirmações, sobretudo aquelas de praça pública, que desmentem a idéia do brasileiro conformista, desmentem a idéia da brasileira submissa. Se há alguém que não foi submisso foi Teotônio Vilela; se há alguém que não foi conformista foi Fafá de Belém.

O SR TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Sinto-me honrado com o aparte de V. Exª, Senador Arthur Virgílio.

            Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.

O Sr Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Cumprimento V. Exª, Senador Teotônio Vilela Filho, por tomar a iniciativa de homenagearmos Fafá de Belém no Senado Federal. E gostaria de dizer a V. Exª brevemente como o encontro de V. Exª com Fafá de Belém, ao lado do Presidente Renan Calheiros, me faz lembrar uma pessoa que foi um dos maiores amigos de seu pai, o saudoso Teotônio Vilela. Eu estive muito próximo, com Henfil, nos momentos em que Fafá de Belém, amiga de seu pai, se engajava nas batalhas pelas Diretas Já, pela democracia e pela anistia, e fico pensando em tudo que significou Henfil, assim como seu amigo e irmão Carlito Maia e tantos outros que conviveram com Fafá de Belém naqueles dias. Fico contente de vê-la aqui no Senado Federal. Há poucos dias, eu a ouvi cantando o Hino Nacional de maneira tão bela quanto tantas vezes cantou em 1983 e em 1984, em nossos comícios. Fico feliz de vê-la tão bonita com sua voz e com esse seu jeito, lutando pelas coisas nas quais seu pai, V. Exª e todos nós tanto acreditamos, para que o País se tornasse verdadeiramente uma democracia e uma nação com justiça. E para isso ainda há muito por fazer. Meus parabéns, Fafá de Belém e Senador Teotonio Vilela Filho!

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Agradeço a V. Exª pelo aparte, eminente Senador Eduardo Suplicy.

Concedo um aparte ao ilustre Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Senador Teotônio Vilela Filho, após as palavras do Senador José Sarney, eu não deveria sequer aparteá-lo porque já representam o pensamento inteiro do Senado Federal e, principalmente, desta nação brasileira. Entretanto, fico feliz de que o orador desta sessão seja V. Exª.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado, Senador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - A vocação de seu pai se liga à vida democrática do País e muito à Fafá de Belém, pelo que realizou por todos nós naquela época, de modo que é perfeito V. Exª ser o orador e estar fazendo magnífico discurso e, mais do que isso, homenageando a musa de todos os brasileiros, essa cantora notável e, sobretudo, essa democrata de todos os momentos do País. Muito obrigado a V. Exª, que recebe o meu abraço e a homenagem à memória também de seu pai.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado por sua generosidade e por meu pai, nobre Senador Antonio Carlos Magalhães.

Concedo um aparte ao nobre Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Teotonio Vilela Filho, estava aqui ouvindo o discurso de V. Exª, olhando na Presidência o Senador Renan Calheiros e a cantora Fafá de Belém; e aqui, na minha frente, o Senador Arthur Virgílio, que, abelhudamente, ocupou meu lugar e está olhando o protetor de tela do meu computador, que é a fotografia do meu netinho. Eu observava que no discurso de V. Exª, bem pronunciado e colocado, e somente V. Exª poderia fazer esse discurso, pois V. Exª leva o nome de seu pai, que foi o “Menestrel das Alagoas”, o ícone do movimento das Diretas Já, doente, portador de câncer, cabeça raspada, peregrinando pelo Brasil inteiro, e pugnando pelas Diretas, que afinal ocorreram. Quando conheci Fafá de Belém, eu já havia sido Governador, eleito em 1982. Creio que ela não se lembra, pois faz muito tempo. Eu não era avô ainda. O encontro, que se deu em São Paulo, reuniu Governadores recém-eleitos. Fui o primeiro Governador eleito em meu Estado, após a revolução. Houve uma reunião em São Paulo e, naquela ocasião, chegou, esvoaçante, vaporosa como sempre, a cantora Fafá de Belém. Lembro-me, Senador Teotonio Vilela Filho, de sua risada, que era mais fulgurante do que é hoje. Não esqueci nunca. Ela se referia aos governadores como se estivesse em casa. Curiosamente, ela era uma cantora, mas se sentia em casa no meio de muitos governadores. Eu era pouco mais que um menino, tinha 36 anos à época. Posteriormente, acompanhei Fafá de Belém no movimento das Diretas Já, e a via nos palanques dando o toque de emoção aos comícios. Comício é palavra de orador, mas é emoção. E quem carrega a emoção é fundamentalmente a música, a canção. E a responsável pela emoção da campanha das diretas era a mensagem que seu pai levava, que Ulysses Guimarães levava, que Tancredo Neves levava, mas que Fafá de Belém cantava, porque cantava o Hino Nacional como ninguém mais cantou. Fazemos agora, Senadora Heloísa Helena, a homenagem a Fafá de Belém, que não é mais a gata que conheci em 1982, mas continua bonita.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Não apoiado.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Homenageamos nesta sessão especial a cantora, a musa de quem todos gostamos e de quem eu me lembro como a mulher que levou para a campanha das Diretas o toque especial da emoção com o Hino Nacional. Cumprimentos ao orador, e maiores ainda à Fafá de Belém.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado, nobre Líder José Agripino, pelo aparte, que, como todos os outros, somente enriquece meu pronunciamento.

Concedo um aparte ao nobre Senador Flexa Ribeiro, conterrâneo de Fafá de Belém.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Nobre Senador Teotonio Vilela Filho, Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, minha querida Fafá de Belém, após os apartes dos nobres Senadores que me antecederam, é difícil fazer um aparte ao brilhante pronunciamento de V. Exª. Concordo com os nobres Senadores de que a escolha do Senador Teotonio Vilela Filho para fazer esta homenagem não poderia ser melhor. S. Exª representa aqui a figura saudosa do ex-Senador Teotonio Vilela, seu pai, que é, como foi dito, um ícone lembrado e relembrado por todos nós. Saudoso também é Tancredo Neves, lembrado pelo Senador José Sarney, da campanha Diretas Já. Fafá de Belém, você é minha amiga de longa data. Digo aos Senadores que me antecederam que tenho o privilégio de conhecer você desde pequenininha - não tão pequena assim, pois eu já era maior do que você, quero te preservar. Mas quero dividir você, porque não desejo egoisticamente dizer que você é do Pará. Quero dizer que você hoje é da Amazônia, você é do Brasil, você é do mundo! Senador Teotonio Vilela, o pronunciamento de V. Exª me deixou emocionado, pela forma como se pronunciou em relação a seu pai; das lembranças da relação que ele teve com Fafá; do modo como ele enfrentou corajosamente a agonia em seu leito de dor. E o Senador José Agripino disse aqui que ele, caminhando pelo Brasil, defendendo as suas idéias, defendendo a redemocratização, já acometido da sua enfermidade, não se deixou abater, pois tinha um compromisso com a Nação brasileira. O Presidente Sarney incluiu o Hino Nacional na relação das três canções da Fafá de Belém, e o Senador Teotonio Vilela Filho já o havia incluído. A Fafá, ao interpretar o Hino Nacional, coloca a alma dos brasileiros, o sentimento da brasilidade de toda a Nação. Apenas ela sabe entoar o Hino Nacional dessa forma. Fafá, você hoje já não é somente do Brasil; você é internacional. Para aqueles que conhecem a Amazônia, há um pássaro encantado lá, que é o Uirapuru. Diz a lenda que esse pássaro, ao cantar, encanta as pessoas. Assim é a Fafá de Belém. Ela, ao cantar, encanta aqueles que a ouvem. Fafá, que Deus continue a iluminá-la. Espero que você continue unindo a sua linda voz a esse sentimento de brasilidade e de responsabilidade que tem com todos nós, brasileiros, e com esta Nação, que, com certeza, tem um destino vigoroso no contexto mundial. Presidente Renan Calheiros, parabéns por esta homenagem que o Senado Federal presta hoje à nossa Fafá de Belém!

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado, querido Senador Flexa Ribeiro, pelo aparte de V. Exª.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Teotonio Vilela Filho, hoje não é Sete de Setembro, nem aqui é o Campo do Ipiranga, mas, certamente, o discurso de V. Exª faz lembrar um dos momentos cívicos mais importantes da nossa história. Por isso, inicio minhas palavras apresentando minhas congratulações pelo discurso que V. Exª profere. Os atos políticos são geralmente marcados por grande simbolismo. No que se refere ao processo de abertura política, a arquitetura que se construiu com êxito e permitiu ao País voltar à democracia plena, teve no seu ilustre e saudoso pai um dos seus líderes que se imolou por uma causa. Acompanhei muitos dos passos de seu pai, aqui no Senado. Tivemos em 1984 o coroamento de um processo, que culminou com o 15 de março de 1985. No cenário que se formou e marcou todo esse processo, não podemos deixar de reconhecer a presença de pessoas que ajudaram na mobilização da sociedade. Naturalmente, além do segmento político, não podemos deixar de lembrar que a esse se associaram amplos segmentos da sociedade brasileira. A campanha de Tancredo Neves, tendo como Vice o Presidente José Sarney, se converteu num grande movimento de integração nacional. E mais do que isso, fez despertar na sociedade fundos e puros sentimentos da nacionalidade ou - para usar a expressão de Machado - , “o instinto da nacionalidade brasileira”. Nesse quadro, nobre Senador Teotonio Vilela Filho, não posso deixar de destacar a figura de Fafá de Belém, porque, nos comícios, sua presença era essencial, uma vez que trazia, com sua voz, o sentimento de todos nós. Ao cantar o Hino Nacional, nos fazia a todos atentos à necessidade de transformar o País. Bem houve, portanto, V. Exª quando tomou a iniciativa desta homenagem, com apoio do Presidente Renan Calheiros e o assentimento dos demais colegas. Espero que, com esse discurso, V. Exª traga à reflexão de todos nós o quanto é importante nos momentos de dificuldades, de grande clamor nacional, que sejamos capazes de unir-nos para construir aquilo que a Nação tanto almeja. Foi o que aconteceu em 1984. Foi o que, a partir de 1984/1985, permitiu ao Brasil ver a democracia restaurada e, mais do que isso, as suas instituições consolidadas. Por isso, reitero cumprimentos a V. Exª, fazendo votos para que suas palavras possam continuar a iluminar o nosso futuro. Muito obrigado.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito honrado com o aparte de V. Exª, nobre Senador Marco Maciel. Apenas quero dizer que a iniciativa desta homenagem a Fafá de Belém foi do próprio Presidente Renan Calheiros. Coube a mim, com muita honra, a tarefa extremamente gratificante de fazer esta saudação a ela, que se está tornando uma saudação unânime do Plenário desta Casa.

Concedo o aparte ao nobre Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Teotonio Vilela Filho, no momento da homenagem, torno-me tímido. Não sou muito afeito a homenagens. Isso é conseqüência da formação. Mas esta é um homenagem necessária e eu diria imprescindível, porque pedagógica, já que ressalta o bom exemplo. Voltei ao plenário porque não resisti à necessidade, ao dever de associar-me a esta homenagem, aplaudindo o brilhante pronunciamento de V. Exª e a iniciativa inspirada do Senador Teotonio Vilela Filho. Fafá de Belém tem o seu nome vinculado às grandes Lideranças do nosso País, a Lideranças saudosas como Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves. Esta homenagem - repito - é pedagógica porque é a do bom exemplo, porque ressalta a participação importante de Fafá de Belém, estimulada pela noção excepcional de responsabilidade cívica, inteligência política e consciência. Quero trazer a palavra não de um Senador, mas de um Estado. Tive a felicidade de ser o organizador do primeiro grande comício Pró-Diretas, no dia 12 de janeiro de 1984, em Curitiba, no Paraná. Muitos temiam pelo insucesso do evento, alegando que Curitiba não era uma cidade muito afeita a concentrações populares, que havia muita frieza em relação a tais eventos e que não se recomendava iniciar por Curitiba os grandes comícios. Desafio aceito, Fafá de Belém, Raul Cortez, a saudosa Dina Sfat, Bete Mendes, Ruth Escobar, o extraordinário apresentador Osmar Santos, todos significaram atração fundamental para que mais de 60 mil pessoas comparecessem à chamada Boca Maldita, em Curitiba, dando a fantástica largada pelas eleições diretas no País,...

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Tive a honra de participar desse comício.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - ... com a presença dessas grandes lideranças nacionais, inclusive V. Exª. Portanto, foi um dos momentos mais emocionantes, mais fascinantes da minha vida, mas também, certamente, um dos momentos mais emocionantes e fascinantes da população do Paraná, que participou ativamente da redemocratização do País, oferecendo esse apoio popular indiscutível. E é evidente que o carisma, o fascínio que despertava na população Fafá de Belém foi fundamental para que aquela concentração se transformasse no grande evento que foi. E no dia seguinte é que se deu o estrangulamento da pomba (risos) na cidade de Camboriú, Santa Catarina, do nosso querido Leonel Pavan, e depois então, na Praça de Sé, em São Paulo, o gigantesco comício que significava que o movimento era irreversível e que chegaríamos, sim, às eleições diretas no nosso País. Daí a saudação do povo do Paraná a Fafá de Belém, que realmente não é só do Pará: é do Pará, é do Paraná, é de Alagoas, é de todo o País. O coração do Paraná politizado a Fafá de Belém, a Musa das Diretas.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Nobre Senador Alvaro Dias, o aparte de V. Exª só enriquece meu pronunciamento. Muito obrigado.

Concedo um aparte ao nobre Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Teotonio Vilela Filho, estou acompanhando atentamente todos os pronunciamentos. Vi a preocupação de V. Exª em definir quem trouxe quem a este plenário. Quero confortar V. Exª, porque temos uma certeza: ou Alagoas está unida, e vocês dois trouxeram a Fafá ao plenário, ou a Fafá uniu Alagoas e veio com vocês ao plenário. (Risos.) De qualquer maneira, hoje o Senado da República resgata para a história, por meio desta homenagem a Fafá, o que já deveria ter sido feito há muitos anos. O Senador Alvaro Dias acaba de relembrar, por exemplo, a participação de inúmeros artistas nos comícios realizados: primeiro, os da Diretas Já; depois, os da campanha do Dr. Tancredo. Todos tiveram papel brilhante, só que Fafá teve um destaque: ela foi praticamente a todos, aos mais distantes. Entrava em aviões - sou testemunha porque participei daquela caminhada nos bastidores -, verdadeiras espeluncas em que se entrava como passageiro e se chegava como sobrevivente. Não tenho a estatística perfeita para dizer que participou de todos, mas fez pelo menos 80% a 90% dos comícios, enfrentando as maiores dificuldades e sempre com um sorriso, animando os que, já desgastados pelo cansaço da viagem, se abatiam. Era comovente - já foi dito aqui pelo Senador Marco Maciel, pelo Presidente José Sarney e por vários outros - a maneira contagiante com que ela levantava as multidões. Esse fato de o nosso impetuoso Senador Leonel Pavan estrangular o pombo, desrespeitando inclusive normas que regem o respeito aos animais, é apenas um desses episódios. Mas eu que vivi toda essa epopéia, toda essa saga pelo Brasil afora sou testemunha disso. Mas a Fafá tem outro fato interessante: é a presença dela em momentos marcantes da vida brasileira. A vinda do Papa ao Brasil, ela no Aterro, cantando “Ave Maria no Morro”. Eu me lembro de que, nesse dia, tive a honra de ser convidado pelo então Presidente Marco Maciel para participar das festividades no Rio de Janeiro e, à noite, eu estava num restaurante quando ela chegou. Foi aplaudida de pé. Certa vez, fui a Portugal. Chego em Lisboa e escuto uma música brasileira tocando, vi que era “Vermelho”, logo no aeroporto. Mais adiante, em outro ambiente, a mesma música; na terceira vez, comento com o motorista que está comigo: “O que está havendo aqui, que epidemia é essa?” E o português me disse: “Pois, pois, não sabes nada; esta mulher - que era a Fafá cantando - faz o Estádio do Benfica correr tudinho atrás dela, cantando o Vermelho”. (Risos.) Bom, passa-se o episódio das Diretas, o Brasil inteiro esperava que Fafá estivesse fazendo daquela oportunidade um trampolim para seguir carreira política. E as especulações começaram, que ia ser candidata a Deputada, que ia ser candidata a isso e aquilo. Não foi candidata a nada. Continuou solidária com aqueles amigos das Diretas, participando de campanhas pelo Brasil afora. E eu, lá no Piauí, fui um dos beneficiados. E aí vem a figura profissional que é a D. Maria de Fátima Palha de Figueiredo. Certa vez, marcou comigo um comício e estava em Mato Grosso. Por um motivo ou outro, perdeu o avião e não chegava, não chegava. Já no último momento, eu tenho a notícia: a Fafá chegou em Teresina num monomotor, num famoso teco-teco, para não faltar ao compromisso; e lá estava. Outra feita, estávamos na cidade de Oeiras, Sr. Presidente, e a Fafá começa a cantar. Palanque mal-feito, de última hora, desaba. A metade cai para um lado, e ela, do outro lado que ficou inteiro, continuou cantando. O músico, de perna para cima, fez com que ninguém percebesse que a metade do palanque tinha caído. Essa é a figura profissional que o Senado Federal faz bem em homenagear e reconhecer, por todo esse talento e por tudo isso que ela fez naquele momento muito importante. Sou testemunha, como disse aqui o Presidente José Sarney, do carinho que o Presidente Tancredo Neves tinha pela Fafá, tanto que me deu de presente uma relíquia fantástica, a primeira edição - edição bruta - do hino que ela cantava e que eu tenho guardada na envelhecida fita cassete. E é interessante porque, antes de ser feita a limpeza da fita, ela é iniciada com o final de uma gargalhada de Tancredo. É uma peça rara que eu guardo com muito carinho, e sei que aquilo, para mim, pelo menos, tem um grande valor. Mas eu queria finalizar dizendo que ela também fez carreira, fez escola. Agora, na última eleição municipal lá do Piauí, eu tive a felicidade de convidar para ir ao Estado a sua filha Mariana, que tem as mesmas características: de esbanjar alegria, de profissionalismo e, acima de tudo, de amizade - essa é outra característica que contagia a Fafá. Eu tenho a felicidade de ser amigo dela há muito tempo. Não vou dizer a data nem a idade, para não incorrer na grosseria do José Agripino. Mas sei que já faz muito tempo, tempo que nos aproxima de uma aposentadoria baseada em uma amizade sincera ao longo desses anos.

Portanto, eu me congratulo com V. Exª por esta oportunidade que o Brasil tem de homenagear esta grande cantora, que, tenho certeza, pelo seu talento, está apenas começando uma carreira brilhante por este Brasil afora. Parabéns, Fafá! Parabéns, Senado!

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado, sinto-me honrado com o aparte de V. Exª, Senador Heráclito Fortes.

Concedo um aparte a outro conterrâneo da Fafá, o nobre Senador Luiz Otávio.

O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador Teotonio Vilela, nós vamos encerrar de maneira especial esta semana de trabalhos do Senado Federal, depois de votações muito importantes como a de ontem, quando votamos diversas matérias, depois do encontro histórico do nosso Presidente do Congresso e do Senado Federal, Senador Renan Calheiros, com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, para que possamos retomar a vida normal no País com uma agenda positiva, eu diria, uma agenda mínima, estabelecida entre o Congresso Nacional e o Chefe da Nação, o Presidente Lula, para realmente voltarmos a trabalhar de forma harmoniosa, mesmo entendendo o momento político, as questões partidárias e a proximidade das eleições. Foi um gesto histórico e, com certeza, é motivo de júbilo podermos aqui, hoje, neste início de noite, homenagearmos V. Exª, seu pai, Teotonio Vilela, o Estado de Alagoas e a nossa musa das Diretas-Já, a nossa querida Fafá de Belém.

O Pará inteiro se orgulha muito desta querida amiga fraterna, não só o atual Governador Simão Jatene, o ex-Governador Almir Gabriel, que dão especial atenção a Fafá, mas todo o povo do Pará. Inclusive, nas grandes festas, como no Círio de Nazaré, Fafá de Belém, sempre, na nossa procissão de quase dois milhões de católicos que homenageiam a nosso Padroeira, Nossa Senhora de Nazaré, dá oportunidade a todos os paraenses, a todos os brasileiros e ao mundo inteiro de ouvi-la cantar o hino da nossa Padroeira.

Certamente, este momento que estamos vivendo aqui hoje, nesta noite, registra uma das poucas oportunidades de vermos uma mulher paraense ser homenageada, com a sua presença física aqui. É muito comum nesta Casa e nas Casas Legislativas se fazerem homenagens póstumas. Normalmente se fala muito e se lembra muito das pessoas que já foram. São raros os momentos como este que estamos vivendo. Fiz questão de vir aqui fazer o meu registro, dar o meu testemunho de um paraense que se orgulha de você, Fafá de Belém, até pelo seu próprio nome, como o Senador Heráclito Fortes registrou, essa sua imagem, essa sua voz que leva para outros países, principalmente para Portugal, a quem devemos o nosso descobrimento, a nossa colonização.

Fiquei também muito emocionado, quando ouvi pelo rádio do carro, pela Rádio Senado, que foram trazidas tanto a rádio como a televisão pelo Presidente José Sarney, na sua manifestação, no seu aparte. O Presidente José Sarney, como sempre, nos permite a satisfação de poder ouvi-lo dizer o que presenciou e testemunhou ao longo da história brasileira.

Eu, mais uma vez, faço as homenagens do Congresso Nacional em nome do povo do Pará, do Senador Flexa Ribeiro e da Senadora Ana Júlia Carepa - que não está presente, acredito que não está em Brasília no momento -, registrando o nosso regozijo e o nosso orgulho conjunto do povo inteiro do Pará, por esta homenagem que hoje prestamos a você, Fafá de Belém.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado, nobre Senador Luiz Otávio, pelo aparte de V. Exª.

Concedo o aparte ao nobre Líder do PT, Senador Delcídio Amaral, e, em seguida, ao Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Meu caro Senador Teotonio Vilela, gostaria de parabenizá-lo mais uma vez. V. Exª sabe da admiração que tenho por todo o trabalho, não só de V. Exª, mas do nosso querido Senador Teotonio Vilela, como foi dito aqui, o Menestrel das Alagoas, um homem emblemático, cuja história se confunde com a História do Brasil. Coragem, ousadia, amor acima de tudo a sua Alagoas e amor acima de tudo ao Brasil, respeito, credibilidade.

Hoje é um dia importante, uma quinta-feira, às 19 horas e 37 minutos, com a presença de Fafá, mulher, mãe, paraense. Eu a admiro. Infelizmente, não tive a felicidade de vivenciar essas peripécias todas que o Senador Heráclito Fortes acabou de relatar aqui muito resumidamente, mas a minha admiração, a admiração da minha família é muito grande, pela sua expressividade, pela sua competência, pela artista que você é, pelo que você representou nessas caminhadas por todo o Brasil, cantando por liberdade, por um futuro melhor para a nossa gente.

Certa vez, fui tomado de surpresa, Fafá, quando fui com minha família a Lisboa. Estávamos num restaurante amplo, de cujo nome não me lembro, e ouvimos um riso largo. Acho que era o ano 2000. Minha mulher disse assim: “Engraçado, essa gargalhada eu só ouvi de uma pessoa!...” E aí, Fafá, nós tivemos a satisfação de vê-la em Lisboa em shows que você fazia, e descobrimos que você é um grande sucesso em Portugal. Então, envaidece-me muito estar aqui presente com o Senador Teotonio Vilela Filho, com o Senador Renan Calheiros, alagoano também, Presidente do Senado Federal, e com a nossa querida Senadora Heloísa Helena, uma mulher tão importante para o País como você é.

Cumprimento você, mais do que nunca, pelo que você representa para todos nós. Você, como paraense que é - eu sou sul-mato-grossense, mas tenho título de cidadão de Tucuruí, porque vivi muitos anos no Pará -, não está aqui como uma Senadora, como a Senadora Ana Júlia Carepa, como o Senador Luiz Otávio, como o nosso querido Senador Flexa Ribeiro, mas você representa o Pará: a maneirice do Pará, a alegria, a festa e, acima de tudo, a fé. Parabéns para você. Falo aqui não só como Líder do PT, mas também pela Bancada de Mato Grosso do Sul, que você continue tendo muito sucesso, que você seja feliz, porque, acima de tudo, você merece. Um abraço.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª, Senador Delcídio Amaral.

Concedo um aparte ao nobre Senador Antonio Carlos Valadares.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - Nobre Senador Teotônio Vilela, quero apresentar a V. Exª, em primeiro lugar, os meus mais efusivos parabéns, a minha admiração pela forma brilhante com que V. Exª se conduz na tribuna do Senado Federal, representando os sentimentos dos Srs. Senadores e, creio, neste momento, também, de toda a nacionalidade pela importância desta figura edificante, simpática, amiga e acolhedora que é Fafá de Belém. V. Exª foi preciso ao expressar com sentimento, amor e lealdade tudo aquilo que poderíamos dizer, mas não o faríamos com a mesma capacidade, a mesma inteligência e a mesma oportunidade histórica com que V. Exª traçou a personalidade da homenageada. Eu pediria licença a Fafá de Belém e à Casa para fazer um registro. Entre tantos sites sobre a biografia de Fafá de Belém, abri neste momento um deles, que é o Clique Music:

Veio de uma família de classe média alta da capital paraense, e desde criança se destacava nas reuniões familiares com sua voz afinada. Adolescente, fugia de casa à noite para ir encontrar com os amigos nos bares e cantar.

Em 1973, conheceu o produtor do Quinteto Violado, Roberto Santana, que a incentivou a investir na carreira de cantora. Seguindo o conselho, se apresentou em alguns lugares no Rio de Janeiro, Salvador e em Belém.

O sucesso veio em 1975, quando gravou "Filho da Bahia" (Walter Queiroz) para a novela "Gabriela", da TV Globo. Logo em seguida, saiu o primeiro compacto, e em 1976 veio o primeiro LP, "Tamba Tajá", com destaque para o carimbó "Este Rio É Minha Rua".

O disco seguinte, "Água", de 1977, consagrou Fafá de Belém, vendendo cerca de 100 mil cópias, a bordo de sucessos como "Foi Assim" e "Pauapixuna" (ambas da dupla paraense Paulo André e Ruy Barata), "Raça" e "Sedução" (ambas de Milton Nascimento/ Fernando Brant).

Apresentando-se descalça, com suas interpretações exageradas e se vestindo de maneira a realçar suas formas voluptuosas, conquistou uma legião de fãs. Em 79, lançou “Sob Medida” (Chico Buarque) no LP “Estrela Radiante”, onde se equilibrava entre números regionais e urbanos. Na década de 80, Fafá consagrou-se principalmente como cantora romântica, mas nunca deixou de gravar outros estilos, como forró, bolero e guarânia. Em 84, ficou famosa como “Musa das Diretas”, durante a campanha política pelas eleições diretas, gravando o “Hino Nacional Brasileiro” (...).

E assim por diante. Para não tomar o tempo da Casa, eu gostaria de enfatizar aquilo que disse e dar continuidade ao Senador Heráclito Fortes, do Estado do Piauí: a homenageada tinha todas as qualidades. Tinha a simpatia e ainda tem. Tinha a beleza e ainda tem. Tinha a lealdade ao País e ainda tem. Não quis ser política. Deu continuidade a sua vida profissional, que sempre foi o amor da sua vida. Fez como o grande patriota ou a grande patriota, que, ao ser chamada em um momento difícil da Nação, consagrou a sua vida em defesa da democracia e, em seguida, entregou aos políticos, para que eles dessem continuidade a essa obra magistral. Mas aproveito a oportunidade, Fafá de Belém, para dizer que estamos abertos no Senado Federal e no nosso Partido, para que, mesmo sendo cantora e artista consagrada, possa vir a se tornar uma política consagrada, vivenciando, numa Casa Legislativa, ou até mesmo no Executivo, a sua experiência, o seu patriotismo e o seu amor ao Brasil!

A SRª FAFÁ DE BELÉM - Muito obrigada!

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª, nobre Senador Antonio Carlos Valadares, e pela generosidade nas referências ao meu pronunciamento.

Concedo um aparte ao nobre Senador Marcelo Crivella.

O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PL - RJ) - Senador Teotonio Vilela, venho parabenizar V. Exª por uma iniciativa que está seguramente, diria, sintonizada com a alma do povo brasileiro. Fafá de Belém é uma pessoa muito importante para todos nós e para mim, que, como Senador do Rio de Janeiro, não poderia deixar de estar aqui, porque você vive no Rio de Janeiro, Fafá, e suas músicas nos tocam, tocam as pessoas, não só do Brasil. Lembro-me de uma vez que voltamos juntos de uma viagem a Angola, e talvez tenha sido a viagem mais curta que fiz naquele trajeto, porque vínhamos conversando tão animadamente sobre a vida, sobre as coisas do nosso povo, sobre o Brasil. Fafá, é muito bonito você estar aqui conosco no Senado Federal. A sua carreira, sua voz, tudo o que você representa para o povo brasileiro tocam profundamente cada um de nós, que estamos aqui exatamente pela generosidade desse povo que a elegeu como a Musa das Diretas e como uma cantora tão importante do nosso elenco e que também nos elegeu Senadores e políticos. Sabe, Fafá, você tem mais lutas pela frente! Talvez, agora, você entre numa fase da sua carreira em que os palcos não serão tão assíduos, as gravações, os convites, os sucessos... Como artista - e aí me incluo também - temos uma fase na carreira. Tem sua filha, a quem assisti outro dia na televisão: uma simpatia, parecidíssima com você, o seu sorriso, é a sua alma e os seus olhos. E aqui nesta Casa discutimos coisas importantes, Fafá de Belém, como por exemplo, direitos autorais. Importante para você e para todo artista brasileiro. São mais de 3.600 rádios neste País e nem um terço delas paga direitos autorais, nem um terço das televisões paga. A sua presença aqui também nos traz à consciência de que há um dever a fazer, com tantas outras Fafás de Belém que estão começando ou que já tiveram muitos anos de trilha na carreira artística, mas que continuam como símbolos neste País de luta, da alma do povo brasileiro, da nossa esperança. Fafá, parabéns, seja bem-vinda à nossa Casa. E, na qualidade de representante do Rio de Janeiro, quero lhe saudar, quero lhe homenagear em nome dos meus colegas que viajaram e também em nome do Partido Liberal, do qual sou Líder. Parabéns e obrigado por estar aqui conosco. Parabéns, Senador Teotonio Vilela. Obrigado pelo aparte.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Eu que agradeço, nobre Senador Marcelo Crivella.

Concedo aparte à nobre Senadora Heloísa Helena.

            A Srª Heloísa Helena (P-Sol - AL) - Senador Teotonio Vilela Filho e Fafá, linda, fico “superdescabreada”, como dizemos no interior, tímida para fazer determinadas homenagens e determinados apartes. Fico “superdescabreada”. Deixei até um pequeno bilhete, porque não ia falar, mas você não sabe que fui cobrada pelo mulheril lá fora, de que seria inadmissível que nenhuma mulher falasse. Como não tenho muitas palavras apropriadas para o momento, vou roubar - desapropriar, digamos assim - um pequeno verso de um grande revolucionário chamado Carlos Marighella, que tenho certeza de que é o canto de Fafá: “Eu canto a vida, eu canto as liberdades, assim como os lírios do campo, livres e selvagens. Se já não nascem como antes, existe algo sombrio, e é preciso abrir uma clareira no bosque”. Obrigada, Fafá, por ter sido parte de uma clareira no bosque para que pudéssemos nascer como lírios, livres e, às vezes, necessariamente selvagens. Uma beijoca muito grande. E um abraço para o Senador Teotonio e para o Presidente Renan, que promoveu esta sessão.

O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (PSDB - AL) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª, Senadora Heloísa Helena.

Sr. Presidente, como dizia, três músicas interpretadas por Fafá de Belém já a tornariam mais do que merecedora desta homenagem. Afinal, quantos LPs ela gravou nem sei ao certo. Mas que importa? São tantos que confesso não saber. Quantos CDs, quantas músicas gravadas, quantos shows aqui e na África, na Europa e na América? São vários, são tantos, de ritmos e encantos que só os documentaristas mais atentos o saberão. Mas que importa, se só um disco já bastaria para garantir lugar privilegiado na Música Popular Brasileira para uma intérprete de tão raros recursos musicais e para essa cantora de raríssima sensibilidade para seu tempo e seu povo? Que importa quantas músicas, quantos shows, se apenas três momentos já bastaram para lhe garantir um lugar único não apenas na música brasileira, mas na História do Brasil?

Quem não lembra o grito cívico de Fafá, intérprete privilegiada de nossos sons e canções, perguntando ao Brasil quem é esse menestrel de coragem cívica inaudita que percorria as prisões e os porões da Ditadura, semeando as sementes da anistia? Ela se fez ícone da campanha da anistia, como Teotônio se erguera profeta de sua causa e símbolo de sua esperança.

Que mais precisaria que ela entoasse a não ser o Hino Nacional, preso nos nossos milhões de corações, que irrompia das gargantas do Brasil permeado com o grito das Diretas Já? Quem não lembra Fafá de Belém sacudindo o País com os acordes do Hino Nacional entoado não apenas com o formalismo protocolar das cerimônias oficiais mas com o incontido sentimento de brasilidade e cidadania, que só se forja nas lutas e só se retempera nas ruas?

E onde havia um grito pelas diretas, lá estava Fafá, timbrando com o Hino Nacional um dos momentos mais comoventes e lúcidos da saga de nossa cidadania.

Que mais precisaria que ela cantasse a não ser a ave-maria brasileira e cabocla que encantou o Papa e o mundo?

Que mais precisaria que ela fosse além da jovem que se cobriu de véus e se vestiu de Brasil, quebrando todos os protocolos, para avançar firme e reverenciar o Pontífice que o País todo admirava?

Três músicas, três momentos, e toda a saga de um povo em busca de sua liberdade e no reencontro sagrado com o divino. Apenas três músicas, somente três momentos que poderiam sintetizar toda a vida de um artista e contar a longa história de um povo. Qualquer saudação a mais que hoje proferir será, provavelmente, tão restrita que a identificará mas não fará justiça à sua trajetória de arte e de cidadania. Fafá de Belém, Fafá da Amazônia, Fafá das Diretas e da Anistia, Fafá de Tancredo e Teotônio, Fafá de Ulysses...

Srªs e Srs. Senadores, felizes os artistas que podem tão umbilicalmente se ligar a momentos tão mágicos da vida de seu país. Felizes os cidadãos que podem virar ícones das lutas de seu povo. Três músicas, três momentos, que mereceram para a brasileira Maria de Fátima Palha de Figueiredo três palavras definitivas, mas sobretudo gloriosamente consagradoras: Fafá do Brasil.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2005 - Página 17706