Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repercussão internacional da crise política no Brasil.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Repercussão internacional da crise política no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2005 - Página 19627
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • PROTESTO, BANCADA, MAIORIA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, ESCOLHA, PRESIDENTE, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA.
  • COMENTARIO, PUBLICAÇÃO, IMPRENSA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ARGENTINA, AMERICA LATINA, EUROPA, ANALISE, CRISE, POLITICA, BRASIL, QUESTIONAMENTO, IDONEIDADE, ETICA, GOVERNO BRASILEIRO.
  • QUESTIONAMENTO, CONTRADIÇÃO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, INVESTIGAÇÃO.
  • REITERAÇÃO, PROPOSTA, INDICAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, MEMBROS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje pela manhã, desperdiçou-se mais uma oportunidade de se iniciarem os trabalhos da CPMI dos Correios, respeitando-se a tradição do Parlamento de estabelecer uma necessária alternância na condução dos trabalhos de Comissão Parlamentar de Inquérito, valorizando essa prerrogativa fundamental da Minoria.

É evidente que temos um tempo, até as 19 horas, para que o bom senso prevaleça. É inacreditável que o PT e o Governo insistam em manipular essa Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, principalmente depois do depoimento que a Câmara dos Deputados ouve, neste momento, do Deputado Federal Roberto Jefferson, com a contundência que lhe é peculiar. Certamente, a Minoria de hoje se transforma em Maioria amanhã. E ficaremos com um precedente que coloca em risco a reputação desse instrumento precioso da democracia que é a Comissão Parlamentar de Inquérito. Não queremos que isso ocorra.

Não desejamos também, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que se desperdice a oportunidade da construção de uma nova imagem. A imagem do Parlamento, das instituições públicas, dos Partidos Políticos, dos políticos de forma geral está terrivelmente desgastada. Poderíamos emergir de um escândalo de proporções como esse, que repercute internacionalmente para um novo tempo de uma postura de maior respeito junto à Nação.

Sr. Presidente, e por falar em respeito, estamos perdendo o respeito internacional. A repercussão dos escândalos que explodem no Brasil ocupa páginas dos jornais mais conceituados dos maiores países do mundo. A edição de hoje, por exemplo, do The New York Times - está aqui a impressão em inglês - traz uma matéria cujo título é: “PT sabia sobre o esquema do ‘mensalão’”. A reportagem desse importante jornal norte-americano destaca que o que começou “como um escândalo comum de propina”, tornou-se “uma crise muito maior e potencialmente mais séria”. Será que o The New York Times vislumbra a crise com a proporção da sua gravidade, e alguns brasileiros, responsáveis até pelo Poder Executivo Federal, ainda não entenderam que a crise é de profundidade, porque é uma crise moral, significativa, que se abate sobre as instituições públicas brasileiras? O The New York Times destaca que essa crise “é a pior a atingir o Governo Lula, desde que Sua Excelência tomou posse, em janeiro de 2002, prometendo o Governo mais honesto e ético da história brasileira”. Essa foi a promessa do Governo Lula.

Agora, o Presidente da República afirma - e o Senador Arthur Virgílio já trouxe a esta tribuna - que não há razão para pudor. Que a base aliada não tem que ter pudor; tem que manipular a Comissão Parlamentar de Inquérito. Ora, o Presidente não está apenas sendo incoerente na relação discurso-prática; está sendo incoerente no discurso. Porque, ora diz: “Doa a quem doer, não ficará pedra sobre pedra. Vamos investigar tudo”. E, depois, diz: “Não há necessidade de pudor. É preciso assumir o comando da CPI de forma absoluta, integral”. E quem acredita na boa intenção de quem quer expulsar a Minoria, de quem quer obstruir os trabalhos? CPI é instrumento da Minoria. A CPI existe para que a Minoria possa cumprir com eficiência o seu papel de fiscalizar o Poder Executivo! O Governo, portanto, sem pudor - e quem diz isso é o Presidente da República, não é a Oposição, o próprio Presidente assume essa condição de despudorado, Sua Excelência denomina-se “despudorado” -, o Presidente é despudorado, o Governo é despudorado, a Base aliada é despudorada, segundo o conceito do Presidente Lula. Não é o conceito da Oposição. É o Presidente que afirma que não é preciso ter pudor.

Para a comunidade internacional, o escândalo já é amplamente conhecido. O periódico argentino La Nación, em sua edição de hoje, traz, em destaque: “ A crise política no Brasil: o Congresso começa hoje a analisar o escândalo”. O La Nación menciona que o Presidente Lula quer “aproveitar” o caso dos subornos para lançar, como na Itália dos anos 90, uma operação mãos limpas. Vejam a incoerência: o Presidente quer lançar, aqui, a exemplo do que ocorreu na Itália, uma operação mãos limpas, e deseja uma CPI capenga, uma CPMI comandada única e exclusivamente pela Situação.

O Clarín também reserva na edição de hoje espaço para os desdobramentos da crise. Contudo a manchete mais contundente do Clarín foi a exibida na edição do dia 13 de junho, a reprodução da frase atribuída ao Deputado Roberto Jefferson: “Si me tocan, se cae la República”. Estampa, em manchete, o jornal Clarín da Argentina.

O subtítulo da matéria do Clarín foi, na mesma linha, impactante: “A frase tinha dois destinatários: o Governo Lula da Silva e, segundo, o Partido dos Trabalhadores”.

O jornal La Nación, por sua vez, citou o ex-Presidente Collor e o seu temor de que “há risco de um impeachment”.

Queremos tranqüilizar o jornal La Nación: se depender da Oposição responsável, no Brasil não haverá o processo de impeachment. Esperamos que o povo brasileiro faça o seu julgamento, democraticamente, por intermédio do voto nas eleições do ano que vem.

O aprofundamento da crise brasileira, gerada na esteira das denúncias de corrupção que eclodiram de todos os lados nas empresas públicas e atingindo o próprio Parlamento, foi e vem sendo noticiado pela mídia estrangeira com cobertura exaustiva.

Os jornais do Chile La Tercera; da Bolívia, El Deber; El Comercio, do Peru; El Universal, da Venezuela, entre outros, ressaltam as “denúncias de suborno contra o Governo Lula da Silva”.

Na Europa, por exemplo, os importantes jornais da Espanha, El País, e El Mundo, igualmente ressaltam aspectos da crise vivida pelo nosso País.

Sr. Presidente, é evidente que isso faz mal à imagem brasileira no exterior. Discordamos de determinadas viagens do Presidente da República, sem muito sentido, especialmente dos equívocos por Sua Excelência cometidos em determinadas declarações, que também fazem mal à imagem do nosso País. Mas, sem dúvida, esse escândalo de corrupção abala de forma contundente a imagem brasileira no exterior.

Por isso, a nossa esperança ainda de que até o final do dia de hoje o bom senso prevaleça e essa Comissão se instale para valer: a CPMI dos Correios se instale para investigar, porque sinalizam para uma tentativa de acobertar.

É evidente que essa CPMI será referência. Teremos uma imagem ainda mais deturpada, deteriorada mesmo do Parlamento brasileiro, ou estaremos iniciando um processo de construção da nova imagem, que certamente é a aspiração de todas as lideranças políticas sérias do País?

Há esperança. Mas, certamente, se prevalecer essa imposição do Governo, resta-nos a alternativa da proposta que apresentei ontem, em questão de ordem, por meio do Presidente Renan Calheiros, a designação dos nomes para a instalação da CPI do Waldomiro Diniz no Senado Federal. A partir dessa CPI do Waldomiro Diniz, chegaremos, sim, aos Correios, chegaremos ao “mensalão”, porque, na verdade, o episódio Valdomiro Diniz foi a ponta desse iceberg de corrupção que estamos tentando desmoronar por intermédio de uma ação combativa da Oposição, certamente aglutinadora...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - ...das forças situacionistas éticas que desejam a reconstrução das instituições públicas do País com maior credibilidade popular.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2005 - Página 19627