Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo para que sejam apuradas as denúncias sobre a prática do "mensalão".

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Apelo para que sejam apuradas as denúncias sobre a prática do "mensalão".
Aparteantes
Ana Júlia Carepa, José Sarney, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 16/06/2005 - Página 19954
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, EMPENHO, ORADOR, BANCADA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), COMBATE, CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), PRISÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PERIODO, INVESTIGAÇÃO.
  • SAUDAÇÃO, LIBERDADE, GERENTE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), COMPROVAÇÃO, IDONEIDADE, ATUAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, ELOGIO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), POLICIA FEDERAL.
  • DEFESA, AFASTAMENTO, DIRIGENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PERIODO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero deixar bem claro desta tribuna o meu desejo e o meu empenho e de toda a nossa Bancada, Senadores do Partido dos Trabalhadores, para que não se jogue para debaixo do tapete o chamado escândalo do “mensalão”, mesmo porque não há tapete que possa esconder as denúncias feitas, se realmente esse rebuliço todo provocado por aí tiver algum fundo de verdade. Há que se investigar e buscar uma definitiva depuração da prática parlamentar em nosso País. Portanto, essa não é uma hora de vacilações.

Srª Presidente, já tive oportunidade, neste Senado Federal, de elogiar a operação desencadeada em Mato Grosso pelo Ministério Público, pela Justiça Federal e pela Polícia Federal, com o apoio direto e ostensivo do Ministério do Meio Ambiente, para apurar esquemas fraudulentos na comercialização de madeira. Foi um escândalo, que culminou com a prisão de mais de noventa pessoas. A Polícia Federal foi posta em campo, e, como eu já disse, dezenas de pessoas estão presas. Entre elas estão alguns cidadãos e algumas cidadãs que tinham suas carteirinhas do Partido dos Trabalhadores. São três; e todos os três, no mesmo momento em que foram presos, foram afastados do Partido dos Trabalhadores do Estado. Pediram seu afastamento imediato, até que se apure toda a situação. Isso é importante. O Presidente Lula disse que se deve cortar na própria carne, se for preciso. Lá em Mato Grosso, então, temos um exemplo concreto.

Todos do Partido dos Trabalhadores sabiam, naquele instante, que aquelas pessoas foram presas por suspeita. Acredito e espero que elas voltem com galhardia para o Partido dos Trabalhadores e que nada seja comprovado contra elas, mas, enquanto isso não é apurado, é importante que elas estejam afastadas.

Concedo o aparte ao Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora Serys Slhessarenko, tive oportunidade de acompanhar uma comissão do Senado, presidida pelo Senador Magno Malta, numa viagem à Itália para visitar a experiência da Operação Mãos Limpas. Uma das coisas que nos chamaram a atenção foi que, de todo o trabalho do Judiciário daquele país, de todo o trabalho policial, prenderam 830 pessoas. Tratava-se de máfia, da Cosa Nostra e de outras. Aqui, nesses dois anos e meio da experiência do Governo Lula, já temos quase 1.200 prisões.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Mil duzentas e trinta e nove.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Preocupa-me também o fato de, tão logo saia uma notícia sobre uma pessoa estar ou não envolvida em alguma coisa, essa pessoa, de imediato, estar sob suspeita por tudo e por todos. Essa pessoa perde a sua tranqüilidade. Agora, tomei conhecimento do caso do Dr. Antonio Carlos Hummel, que foi citado pelo Ministério Público do Mato Grosso. O delegado que presidiu o inquérito da Polícia Federal achava que não havia elementos comprometedores em relação ao Dr. Hummel e cumpriu, a contragosto, o mandado de prisão. Ele se apresentou à Polícia e foi preso. A informação que chega é de que não há absolutamente nada que prejudique a conduta pessoal do Dr. Hummel. Nada! Porém, o nome do Dr. Hummel foi colocado na imprensa e rodou o Brasil. Está sendo considerado uma pessoa imprestável. Pergunto o que ocorre num caso como esse. Se uma pessoa comete um ato ilícito, deve-se investigar a fundo para que ela pague pelo seu crime. No entanto, quando a pessoa é injustamente tratada, como se faz? Creio que o caminho de volta não existe mais. Infelizmente, essa situação é parecida com a pena de morte. Se houver um erro judicial ou de investigação num processo cujo réu tenha sido condenado à morte, como se tem notícia em países que adotam essa prática, como devolver-lhe a vida? Esses fatos me preocupam. Estamos agora debatendo esse assunto com o Senador José Jorge. Não queremos CPI de chapa de cor alguma. Não pode ser de chapa branca, chapa preta, chapa azul ou de qualquer cor. A CPI deve ser das cores do Brasil e precisa responder aos anseios do País. É isso que haveremos de fazer. Portanto, cumprimento V. Exª, Senadora Serys Slhessarenko, pelo brilhante pronunciamento que faz na tarde de hoje.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Sibá Machado. Conforta-me muito V. Exª ter se lembrado do companheiro Hummel. Aliás, não sei se ele é filiado ao nosso Partido, mas o estou chamando de companheiro.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Ele não é filiado ao nosso Partido.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Ele é uma pessoa da maior honestidade. Orgulha-me muito e faz-me muito bem V. Exª ter se lembrado do Sr. Hummel agora. No dia em que ele foi preso, tanto eu quanto a Senadora Ana Júlia Carepa, o Senador Sibá Machado e outros nos posicionamos prontamente em defesa do Sr. Hummel, que não é do nosso Partido. Eu nem sabia se era ou não, mas tínhamos as melhores informações sobre a honra e a dignidade...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

A SRª PRESIDENTE (Patrícia Saboya Gomes. Bloco/PPS - CE) - Senadora Serys Slhessarenko, peço permissão a V. Exª para interrompê-la por apenas um segundo, a fim de registrar a ilustre presença entre nós do Senador Wilson Martins, o que é uma grande honra para esta Casa.

Com a palavra a Senadora Serys Slhessarenko.

A SRª SERYS SHLESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Srª Presidente.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Serys Slhessarenko?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Já concedo o aparte a V. Exª, Senadora Ana Júlia Carepa. Gostaria de complementar porque o Senador Sibá Machado lembrou muito bem a questão do Sr. Antônio Carlos Hummel. No dia em que ele foi preso, nós três ficamos enfurecidas, porque dissemos que colocaríamos a mão no fogo pelo Sr. Antônio Carlos Hummel. Ainda brinquei: “Só se ele praticou um grande ato de corrupção na última semana que eu não esteja sabendo”. Tínhamos absoluta certeza de que ele era inocente. Felizmente, recebemos, nos últimos dias, as melhores referências a respeito dele. Ele está solto. Infelizmente, fica a mácula.

Mas, Senador Sibá Machado, em nome de que se depure tudo o que está ocorrendo no País, é até importante que esse tipo de coisa aconteça. O Sr. Antônio Carlos Hummel tem uma história, e vai se recuperar, sim, diante da sociedade brasileira.

Gostaria ainda de dizer que o Ministro Márcio Thomaz Bastos, tão elogiado pelo seu desempenho, tem dito e repetido sem se cansar que a ação de depuração dos costumes que a Polícia Federal vem promovendo é uma ação de caráter republicano que busca os criminosos quem quer que sejam, onde quer que se encontrem, seja a que extrato social pertençam, seja de que partido façam parte, e, assim, têm sido levados para a cadeia bandos e bandos de corruptos, em ações exemplares. Eu citaria alguns dados, mas, como V. Exª já os citou, não vou fazê-lo.

Concedo o aparte à Senadora Ana Júlia Carepa, rapidamente, pois ainda preciso de tempo para concluir meu discurso.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Obrigada, Senadora. Parabenizo V. Exª pela posição. Por isso mesmo, Senador Sibá Machado, qualquer CPI tem que ter as cores do Brasil, para que não aconteçam injustiças como a que aconteceu com o Sr. Antônio Carlos Hummel, e não apenas essa. A mesma revista que um Deputado Federal chamou de “revistinha” fez mais uma acusação leviana e inconseqüente em relação ao desmatamento na região amazônica. Fez acusações a Deputados do Partido dos Trabalhadores. Ontem registrei, e hoje pretendo ler por completo, a nota da Associação dos Madeireiros da região de Anapu e Pacajá, que publicou uma nota de repúdio, demonstrando sua indignação com as notícias veiculadas pela imprensa relativas ao Plano Safra Legal. É o combate a uma política pública, Senadora Serys Slhessarenko, que tem como objetivo beneficiar exatamente o agricultor familiar. E há alguns, lamento muito, que se dizem de esquerda e se unem àqueles que fizeram discurso contra a Irmã Dorothy, que combatiam e financiavam o crime organizado. Melhor fariam para o Pará e para o Brasil se combatessem os assassinos da Irmã Dorothy em vez de fornecer informações falsas e caluniosas a respeito de pessoas que passaram a vida defendendo o desenvolvimento sustentável, como os Deputados Zé Geraldo, Airton Faleiros e Chiquinho do PT, que todos na região dizem ser filho de Irmã Dorothy. Na região, existe um setor produtivo que quer a legalidade, e entende que é possível fazer o desenvolvimento sustentável. Mas existe outra parte, Senadora, que é aliada ao crime organizado. E é uma pena que os aliados do crime organizado estejam sendo ouvidos. É bom que a sociedade entenda que muita coisa que a imprensa diz não é verdade. Parabéns, Senadora.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu gostaria de falar rapidamente...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Peço dois minutos, Srª Presidente, por favor.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - V. Exª me permite um aparte, Senadora Serys Slhessarenko?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Pois não, Senador José Sarney.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Serei breve. Estamos todos solidários com as ações desencadeadas contra a corrupção no Brasil e que têm sido realizadas com muita competência pela Polícia Federal. Mas lamentamos os equívocos às vezes cometidos, como o caso do Sr. Antônio Carlos Hummel, do Ibama. Todos os ambientalistas com que tenho conversado dizem que foi uma das maiores injustiças. Trata-se de um homem de extrema competência, capacidade e grande honradez. E já que estou falando desse equívoco, gostaria de lembrar outro. A pobre mocinha do vestibular de Brasília que apareceu na televisão sendo algemada. Coitadinha! Nada tinha a ver com o problema. Entretanto, fica uma marca indelével em sua vida naquele episódio lamentável. São essas coisas que temos que dizer. É necessário ter cuidado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Querido Senador, Presidente, enfim, nosso querido José Sarney - permita-me chamá-lo assim, porque já o chamei de Presidente - V. Exª tem toda a razão. Não tecerei comentários a esse respeito porque meu tempo está se esgotando, e preciso encerrar minha fala. Mas V. Exª tem toda a razão, e vou me pronunciar em outro momento sobre a questão.

Eu gostaria de falar rapidamente sobre esse tal de “mensalão”, a CPI da compra de votos que está por vir, o vulgo “mensalão”, em que tentam envolver dirigentes do PT, sejam quais forem - não citarei nomes, até porque o tempo não me permite -, que estão recebendo ataques, neste momento, sem qualquer prejulgamento. Diria, desta tribuna, Srª Presidente, que todos que recebem os ataques sem qualquer prejulgamento deveriam solicitar afastamento dos cargos que ocupam a fim de que as investigações ocorram de forma independente de qualquer idéia preconcebida.

Defendo que meu Partido defenda seus pares sim. Mas eu, no lugar de qualquer desses companheiros, se estivesse sendo acusada, já teria pedido meu afastamento, para permitir que as apurações se dessem com tranqüilidade, com independência, que não pairasse dúvida alguma, e que todos voltassem com a cabeça erguida. É a minha defesa. Eu faria isso, já teria pedido meu afastamento. Respeito, encerrando aqui...

(Interrupção do som.)

            O SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Um minuto, Srª Presidente.

            Respeito nossos Líderes, e muitíssimo! Respeito o Senador Aloizio Mercadante, a Senadora Ideli Salvatti, o companheiro Deputado Arlindo Chinaglia, o companheiro Paulo Rocha, o companheiro, Líder de minha Bancada, Senador Delcídio Amaral. Tenho o maior respeito por todos. E, com certeza, a Bancada do Partido dos Trabalhadores também os respeita. Mas seguiremos, de forma impoluta, decisiva e determinada, nosso Líder maior, que é o Presidente Lula. Quando digo que respeitamos nossos Líderes, é com convicção que a Bancada diz isso. Mas, com muito mais convicção, digo que seguiremos e respeitaremos a nossa Liderança maior, que é o Presidente Lula.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/06/2005 - Página 19954