Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da atual crise política.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Análise da atual crise política.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2005 - Página 20260
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, IDONEIDADE, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • ANALISE, CRISE, NATUREZA POLITICA, BRASIL, CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • NECESSIDADE, ETICA, ISENÇÃO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFORMULAÇÃO, MINISTERIO, ALTERAÇÃO, DIREÇÃO, AUTARQUIA, ATENDIMENTO, INTERESSE NACIONAL, RECUPERAÇÃO, IDONEIDADE, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, é importante que V. Exª esteja presidindo esta importante e muito significativa sessão. Que, com sua grandeza de espírito, V. Exª, que tem feito pronunciamentos profundos neste cenário, possa nos orientar e nos coordenar no que pensar neste momento!

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostei muito do discurso do nobre companheiro que saiu nesse momento da tribuna. O nobre Senador do Acre foi muito firme. Repete, com as conseqüências, o pronunciamento que fez uma semana atrás. Há uma semana, S. Exª alertava o Governo, dizendo que, na sua opinião, o Governo deveria fazer uma profunda reformulação e que os Ministros deveriam colocar os cargos à disposição, para que o Presidente pudesse ter ampla liberdade para enfrentar as horas que está vivendo.

Hoje, S. Exª vem felicitar o Governo e dizer - faz isso com muita categoria - que o Governo e o PT estão preparados para enfrentar a hora que estamos vivendo. Que bom! Que bom que isso esteja acontecendo!

Venho aqui com um profundo sentimento de respeito, primeiro, ao querido Chefe da Casa Civil. Falei várias vezes, desta tribuna, que eu achava que ele deveria sair, mas sempre fiz questão de salientar o meu respeito pelo Presidente da Casa Civil. Eu não via e nunca vi nada que atinja a sua dignidade, honorabilidade, capacidade. Não, não vi nada a esse respeito. Quem tem de sair por isso é o Ministro da Previdência. Ainda não saiu e está na hora de sair, senão, daqui a pouco, o Tribunal o condena e é o Tribunal que vai demiti-lo.

Está na hora de demitir o Presidente do Banco Central, que está sendo processado. Nunca vi, na História da Humanidade, um presidente do Banco Central ser investigado. As contas estão abertas no Supremo Tribunal Federal. Já era hora de sair.

Mas o Ministro José Dirceu realmente tem condições especiais: a sua vida, a sua biografia, a sua história, desde o tempo da UNE. Fui presidente da junta da UNE e respeito os jovens que por lá passaram, principalmente a sua geração, que sofreu, tombou e lutou contra a ditadura. Lutou como estudante, lutou como líder, teve de ir para o exílio, voltou, mudou inclusive a sua face, lutou na guerrilha, até que se organizou a democracia e organizou o seu Partido. E foi braço direito de Lula na construção do PT e no Governo.

Não se podem atirar pedras e, de repente, disse bem V. Exª, jogar às trapas um homem como esse, porque ele prestou e está prestando serviços.

Mas a vida é muito triste. A vida é cruel. Se olharmos a história, vamos ver gente que até hoje não se sabe por que chegou tão alto, uma vez que não tinha biografia, não tinha história para ser presidente, como um Collor de Melo. E vamos ver gente com uma biografia fantástica, como o Dr. Ulysses, como Teotonio Vilela, mas que não teve nenhuma chance. Vamos ver, ainda, o Dr. Tancredo, que teve a chance, mas, na hora de sentar na cadeira, não conseguiu. A vida é assim.

A mim emocionou o discurso que pronunciou o Chefe da Casa Civil, ele mostrou a categoria de um líder. Mostrou ali que a hora não era de esperar. Poderia ter dito: “Vamos nos reunir e decidir que sai esse, sai aquele, sai A, sai B, sai C”. Não fez isso, preferiu sair. Saiu o mais importante, o mais respeitado, o mais significativo, o que nada tinha a dever. Saindo, ele entra: entra na história por sua grandeza - alguns ficam até o fim, chorando, choramingando, pedindo pelo amor de Deus para ficar. Ele sai pela porta da frente. E diz que vem para defender a si, o seu PT e seu governo. Tenho certeza de que muita coisa vai mudar a partir de segunda-feira na Câmara dos Deputados. Que bom que isso aconteça!

O importante nisso, caro Presidente, é analisar a profundidade das coisas. Não podemos ficar nessa crise, querer fazê-la crescer, aumentar, dividir. Temos de entrar nesta crise com o objetivo de encontrar uma saída para ela. E uma coisa somos obrigados a dizer, meu Presidente: o culpado não foi o Fernando Henrique. Acho que Fernando Henrique foi deselegante, não cumpriu a tradição dos ex-presidentes da República, como Itamar Franco e José Sarney. O ex-Presidente da República deve observar a tradição de manter respeito ao governo que está no poder. Isso é assim nos Estados Unidos: foram cobrar do Presidente Clinton que dissesse palavras pesadas contra o Presidente Bush quando ele invadiu o Iraque, mas ele só respondeu que sabia que o presidente em exercício enfrentava dificuldades e que o respeitava. Não foi o Fernando Henrique nem as palavras dele que fizeram essa crise. Reparem que também não teve origem aqui a crise, não foi a Senadora Heloísa Helena, expulsa do PT, a culpada por essa crise. Não vejo nada que ela tenha feito que possa ter ocasionado isso.

Perdoem-me a sinceridade, mas há certas coisas que não consigo entender. Em primeiro lugar, temos um Presidente como o Lula. Não vou repetir aqui sua história, sua biografia, não vou repetir aqui a história do homem que veio do nada; que veio da miséria, da fome; que é um sobrevivente que tinha de morrer antes de completar dois anos de idade; o pai abandona a mulher e seus filhos, que vêm para São Paulo num pau-de-arara e são jogados naquela selva de miséria onde um mata o outro. Lula consegue vencer, faz um curso de mecânico, perde um dedo, entra num sindicato, vai à luta e consegue fazer uma greve sindical que empolga o País, cria um partido - o único partido de trabalhadores no mundo - e se elege depois de três derrotas. É um grande homem. Mas não existe um grande homem sozinho, mesmo sendo ele um herói, um cara que tem toda a capacidade, toda a credibilidade, toda a possibilidade de avançar. Lula não é Deus. Lula foi longe, longe, longe, e o mundo o respeita.

Cá entre nós, o Lula não é um tocador de obras, isso é simples. Pode-se dizer o que quiser do governador de Brasília, mas ele é um tocador de obras. Pode-se falar o que quiserem de Mário Covas, prefeito e governador, mas ele era um tocador de obras. O Lula não é. Ele é um homem de idéias, de pensamentos, de debater, de andar pelo mundo. Perdoem-me, mas faltou ao PT entender que um homem com a grandeza do Lula deveria estar em um pedestal para falar, para discutir, para debater e tinha de ter uma equipe embaixo dele para tocar obras. Até agora, não tem. Era para ser o Chefe da Casa Civil - pelo menos, quando criaram o Ministro das Relações Políticas, disseram que o Ministro das Relações Políticas ficaria no relacionamento político e o Chefe da Casa Civil seria o tocador de obras, seria o coordenador do Governo, seria o super secretário. Isso não aconteceu, na verdade, não aconteceu.

Então, esta hora deve ser aproveitada para isto: primeiro, a moral. Olhem como o PT errou. O PT tinha de ser um partido que não se deixasse atingir por calúnia. Diante de uma acusação, deveriam dizer: “Nós sabemos que é calúnia. Afasta para ver e depois ele volta”.

Essa história, por exemplo, de o Presidente dizer que ainda não vai julgar... Primeiro, não julgava por manchete. Tudo bem. Mas o Procurador da República denuncia o Ministro da Previdência, o Supremo Tribunal aceita, o relator aceita: ele tem de ser afastado, porque o normal é que uma pessoa que esteja sendo acusada no Supremo Tribunal Federal não ocupe cargo, porque pode usá-lo para dificultar as investigações. Ele pode estar usando o cargo em que está para que as pessoas em volta dele não saiam para falar contra ele.

Nós temos um presidente de Banco Central que é ministro - é o primeiro presidente do Banco Central que é ministro. Ele está sendo processado no Supremo Tribunal, e as suas contas, a sua biografia, as suas contas bancárias, o seu sigilo fiscal, o seu sigilo telefônico estão sendo visados no Supremo. E esse homem é o presidente do Banco Central... Não é nem licenciado! Então eu digo aqui...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Um minutinho só, já lhe concederei o aparte.

José Dirceu saiu num gesto de grandeza pois, se quisesse, poderia ter até ficado. O Governo agora tem de fazer uma limpeza, cortar na carne. E para cortar na carne, não precisa esperar a CPI, não precisa esperar a condenação do Supremo. Sou muito sincero: precisam sair o Ministro da Previdência, que é do meu partido, e o presidente do Banco Central. Eles tem de ser afastados, pelo menos afastados temporariamente, enquanto durar o processo.

O PT tem por obrigação iniciar uma nova caminhada, restabelecer que o PT é o partido da ética e da seriedade, como ele era na oposição, quando ele atirava pedras - foi o melhor atirador de pedras da história da humanidade o PT na oposição. Ele agora deve zelar, zelar para valer por seu nome e por sua honra.

O PT deve buscar agora escolher ministros que realmente queiram e tenham condições de fazer. Escolheu o Tarso Genro, um grande ministro; escolheu o ministro da Agricultura, um grande ministro; escolheu o Ministro das Relações Exteriores, um grande ministro; escolheu o Ministro da Exportação, um grande ministro; escolheu Patrus Ananias, um grande ministro. Mas há alguns que... Não dá. Se não dá, tira. O Dr. Lula, meu querido amigo Lula, não pode ter ministro porque é amigo. Essa tese que se espalhou pelo Brasil de que ele não tem coragem de mexer com amigo tem de ser derrubada. Presidente da República não tem amigo, não tem companheiro, não tem colega. O que vale é o interesse da República, doa a quem doer.

Se tiver de afastar, que afaste, e essa é a última chance, Sr. Presidente. Falo com a autoridade de quem viu e sofreu. Fui 1º vice-presidente e secretário-geral e, a quatro mãos, toquei dez anos com o Dr. Ulysses o MDB. Nas horas dramáticas estava lá o MDB à frente da sociedade brasileira, levando-a contra tudo e contra todos a estabelecer a democracia, e derrubando os militares sem nenhum golpe, sem nenhum tiro.

O Dr. Ulysses foi um herói. O MDB foi um Partido fantástico. Ninguém mais deve estar na História do Brasil, no futuro, como o nosso MDB. Fizemos um papel excepcional. Na Constituinte, elegemos dois terços na Câmara e dois terços no Senado, e todos os governadores, à exceção de Sergipe, que não era do PMDB, mas do PFL, teve o apoio do PMDB.

O Brasil todo estava do nosso lado. O MDB era o Brasil. Mas não se deu conta. Chegou no Governo, morre o Dr. Tancredo e pagamos a conta. Sarney, que não era nosso, era o Presidente da Arena, que precisamos para fazer maioria no Colégio, assume. Penso que agiu com dignidade e respeito. Tenho o maior carinho pelo Presidente Sarney. S. Exª foi uma vítima da fatalidade.

Mas o MDB não teve competência nem de ficar no Governo e fechar do seu lado, nem de sair e fazer a sua vida. E fruto desse vai não vai, desse disse não disse, o Dr. Ulysses, herói da pátria, termina com meia dúzia de votos na eleição. E um Collor, que nem sabia quem era, nem de onde vinha, nem o que queria, terminou elegendo-se Presidente da República.

Esse exemplo deve servir para o PT, porque o patrimônio do PT não são os votos que o Lula fez, isso é passado. O patrimônio do PT é a credibilidade, a seriedade, a honorabilidade que tinha, tem, mas está em jogo, está em xeque. Ou diz que tem e se mantém, ou não tem e era uma vez. É isso o que o Governo tem que fazer.

Lamento profundamente a saída do Fonteles. Acho que é o melhor nome na História deste País, hoje. Mas reconheço que a escolha do seu substituto, Antonio Fernando, é um grande nome. Conheço o Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, um homem da mesma equipe que o Fonteles, e representa uma garantia de que será bem representado. Mas daria um conselho ao Lula: pega esse Fonteles e leve para dentro do Palácio. Fazer, por exemplo, o que fez o Itamar Franco, criou uma comissão ligada a ele composta de elementos da sociedade, para receber qualquer dúvida, qualquer interrogação, e fazer a fiscalização do seu Governo e levar diretamente ao Presidente. Acho que se ele fizesse isso, e colocasse o Fonteles, estaria resolvendo o primeiro problema, que é o da seriedade.

O outro, por amor de Deus, meu grande amigo Lula, não vá agora atrás de alguns líderes do partido A, do partido B, do partido C, que se querem apresentar para salvar a pátria com nomes predeterminados. Ele tem que escolher os melhores; o Lula, neste momento, tem que escolher o que tem de melhor, de mais capaz, de mais competente, que resolva os problemas e, principalmente, se há uma “vírgula” de dúvida com relação a seu passado não pode colocar. Daria este conselho ao Lula: que ele arrume agora uma equipe que faça neste um ano e oito meses o que ele não fez até aqui. Isso é bom para nós, é bom para o Brasil.

É bom para todos nós que ele faça um grande governo. É muito melhor que a próxima eleição tenha o Lula de candidato, o PSDB com o seu candidato, que tenha a Heloísa Helena de candidata, que o PMDB tenha um candidato, mas que estejamos debatendo grandes teses para o Brasil, grandes propostas para o Brasil, do que estarmos enlameados. Quer dizer, o PSDB contando as coisas que aconteceram no Governo do Lula e o PT contando as coisas que aconteceram no Governo do PSDB. E nós todos no chão, sem autoridade para nos levantarmos.

Temos dois caminhos e a verdade é esta: o Lula se reconfortando, o Lula crescendo, o Lula fazendo um grande governo, não significa dizer que ele ganha, mas que é bom para o Brasil. E é bom para o Brasil no sentido de que nos compenetremos, pois está na hora de debatermos uma grande tese para a sociedade brasileira.

A Heloísa vai ter condições de discutir? O que ela diverge do PT? Nas grandes teses? Não, eu divirjo do PT, porque, quando eu era do PT, defendia isso, mais isso, mais isso, e o PT fez aquilo, mais aquilo, mais aquilo. Não vamos baixar a lama, vamos ficar nas teses! Vamos ver o que o PSDB vai dizer. Olha, o Fernando Henrique fez isso e o PT não fez. Enfim, vamos discutir. Vamos fazer uma tese construtiva na hora da eleição e não uma tese destrutiva, que, parece, querem alguns que aconteça.

Dou aparte a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, o Brasil está ouvindo. Ninguém fala melhor do que V. Exª. Esse negócio de dizer que Cícero foi o maior orador, isso lá para os romanos e porque V. Exª não tinha nascido. Mas quero dizer: V. Exª é bíblico, é franciscano. Está escrito, Senadora Heloísa Helena, quem planta colhe. Lula plantou a sua vida, a sua bibliografia, colheu a Presidência, mas ele plantou a mais desgraçada equipe administrativa na História deste País. Aumentou de 16, num ato tresloucado, para 38. O melhor de ser Oposição, Tião Viana, é porque não sei nem o nome desses; são tão incompetentes, tão incapazes e nenhum brasileiro sabe o nome de meia dúzia.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Até porque são muitos, são 34.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Agora, quem planta colhe. Eu aqui, com lealdade, e fui na busca da esperança - onde houver desespero, busque a esperança. Votei em Lula, Heloísa Helena. Não fomos ouvidos pelo núcleo duro. Tião Viana nos ouvia, mas de pouca influência. Eu levei aquele que ajudei a fazer, até levar o PT ao Piauí. Se arrependimento matasse, eu estaria aqui estirado, morto. Mas levei também, atentai bem, ao Líder Mercadante naqueles banquetes, useiros e vezeiros, dessa mordomia tresloucada. A do Fernando Henrique era moderada. Essa é cantada. Levei o nome de V. Exª para representar a grandeza do nosso Partido, as virtudes, a honestidade e a seriedade. Aí, foi a diferença. O nome de V. Exª foi vetado pelo núcleo duro.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - A mágoa de V. Exª é compreensível. Não há dúvida de que, no momento em que Lula chegou na Presidência... Fui um dos que falou pessoalmente com ele: “Presidente, o senhor está no ponto mais alto em que um homem público chegou no Brasil, o senhor não tem compromisso com ninguém. Graças a Deus, o senhor não fez acordo com empresários, não fez acordo com banco nem com multinacional. O senhor pode fazer o governo que quiser”. Hoje, neste Brasil, todo mundo é PT. Fala-se com os empresários, todo mundo só fala em PT; fala-se com os homens das universidades, intelectuais, todo mundo é PT. Escolha o melhor para aquela posição. Ele me traz 19 que perderam as eleições no Governo do Estado. Isso não é argumento para fazer um governo. Pode até ter homem de muita capacidade, mas não é argumento para pegar 19 e colocar no Governo, não era isso que ele deveria ter feito. Aí começou: para colocar esses 19, ele tinha que aumentar para 34. O Collor que era o Collor baixou para sete. O Fernando Henrique já fez muita coisa: elevou para 19. Estamos com 34. V. Exª tem razão.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Trinta e oito.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Isso porque não se fala no Ministro do Exército, no Ministro da Guerra, no Ministro da Marinha, no Chefe da Casa Militar, no homem do SNI, que, nos outros Governos, eram Ministros, tinham cargo de Ministro embora não fossem chamados de Ministro, porque é um cargo muito alto; então, eles ficavam na posição deles. Mas V. Exª tem razão: isso é uma coisa que o Presidente deve ver. Agora é a hora de ele fazer aquilo que não fez quando assumiu: um governo de gabarito, sério, apresentando uma, duas, três, quatro, cinco, seis propostas. Isso é o que vamos fazer e tocar para frente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ouço V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Pedro Simon, não é novidade para V. Exª que sou seu fã de carteirinha, desde minha chegada a esta Casa. Aprendi muito com V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É que nós dois tivemos a sorte muito grande de conviver com Teotônio, Ulysses, Tancredo, Arraes. V. Exª era ainda um gurizinho.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Aprendi muito. Nessa época, mensalão, conchavo, acordos dessa natureza, nem pensar! E isso me marcou muito. Talvez o patrimônio que carrego na vida pública seja exatamente esse exemplo que aprendi, quando cheguei aqui, com esse grupo que V. Exª acaba de citar e mais alguns que deixamos de nomear, como Renato Archer e outros. Era um grupo grande. Mas fiquei muito feliz em ouvi-lo falar sobre um dos caminhos para a saída do Presidente Lula, que é exatamente a reforma do Ministério, colocando pessoas de qualificação na sua equipe. E pelo visto o Presidente está bem intencionado. O jornal Correio Braziliense, de hoje, em matéria assinada por Eumano Silva, Rudolfo Lago e Denise Rothenburg, entitulada “De Volta ao Congresso” fala do desejo de mudança do Presidente, de retirar alguns Ministros e diz: ”Senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, é um nome que Lula gostaria de ver no seu Ministério”. Fico feliz porque, diante de tudo o que foi dito, V. Exª não poderá rejeitar uma convocação para servir não ao Governo Lula mas ao Governo do Brasil. Tenho certeza de que, se isso vier a acontecer, pelo menos na sua área de atuação, V. Exª fará uma limpeza em regra. Essa figura das eminências pardas, dos arrecadadores, dos tesoureiros que não ocupam função mas que têm sala ao lado, que mandam e falam em nome do Governo, não terá vez. Talvez seja esse um dos caminhos do Presidente Lula. Não sei se é especulação do jornal ou se essa conversa já anda nos bastidores, mas, de qualquer maneira, não para mim mas para todo o Brasil, é um alento, um conforto e uma tranqüilidade, pois, se isso vier a acontecer, finalmente, o Presidente Lula vai começar a se aliar a homens de bem. Muito obrigado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª.

Quero dizer que, antes de Sua Excelência assumir o governo houve uma sondagem nesse sentido, e eu, com toda a sinceridade, disse não porque criaria um problema muito grande com o PT do Rio Grande do Sul, e eu não tinha obrigação de criar um problema desse. Hoje, é a mesma coisa. Eu posso e quero ajudar, mas sou daqueles que pode ajudar nesta tribuna, debatendo, discutindo, analisando, sendo convocado para reuniões de colaboração. Mas não posso assumir um Ministério - não fui convidado nem sondado, isso é notícia que não tem significado -, porque diriam que “o Dr. Pedro Simon ficou três anos falando na tribuna para terminar ganhando o Ministério, que era o que ele queria”. Como V. Exª sabe, não aceitei ser Ministro do Governo Itamar Franco porque coordenei a CPI, lutei na CPI, cassamos o mandato do Presidente, e eu não queria que colocassem na minha biografia: lutou para cassar o mandato e, depois, pegou um Ministério. Assim foi feito com o Dr. Getúlio, quando o levaram ao suicídio. O pessoal da UDN, que fez a banda de música, que matou o Dr. Getúlio, foi para o Ministério.

Então, a maneira de ajudar é a que estou fazendo. E o Lula sabe que estou fazendo de coração, que estou torcendo e que quero que ele faça um bom Governo. Se depender de mim, estarei, nesta tribuna, ajudando para que ele o faça.

O ato de ontem foi muito importante; um ato de grandeza. Depois do discurso do Deputado, que olhou para as câmaras de televisão apontando e dizendo que ele, o Zé, tinha que sair para não levar gente justa com ele, e ele sair é um gesto de humildade, um gesto de grandeza. O normal seria dizer: “Vamos esperar para sair todo mundo junto. Vamos esperar para que esqueçam esse discurso”. Mas ele saiu em 48 horas. Isso é gesto de grandeza, que merece ser respeitado. Isso é gesto de quem tem espírito público. Isso não é gesto daquele que teria toda a condição de dizer: “Presidente, agora, não. Depois que ele fez isso, vamos esperar uns dias”. Não. Foi o primeiro que fez e o primeiro que saiu. Começou bem.

Que o Presidente Lula entenda que deve escolher um grande Governo, mas que fique bem claro o que digo: o Lula é um homem excepcional, que tem mil qualidades. Não é à toa que é uma liderança que o mundo olha com expectativa, mas o Lula não é um tocador de obras. Ele tem que ter uma equipe que coordene essa ação e execute esses planos do Governo. Até aqui não teve. Era para ser o Chefe da Casa Civil, que não fez. Isto ele terá que fazer: reunir uma equipe que tocará as obras, porque, caso contrário, tudo ficará igual. Que Deus ilumine o Lula e o PT!

Para completar, apenas digo: está na hora de o PT e o PSDB transferirem sua sede nacional para Brasília e realizarem suas reuniões nacionais em Brasília. Chega de serem partidos paulistas. PT é só São Paulo; PSDB é só São Paulo. Nós, do PMDB, fizemos nossas reuniões em Brasília. O PFL faz suas reuniões em Brasília. Lugar de fazer reunião nacional é em Brasília e não em São Paulo. Está na hora de o PSDB e o PT fazerem as suas reuniões nacionais aqui, na Capital.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2005 - Página 20260