O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª., Senadora Heloísa Helena, que preside esta sessão, Srªs e Srs. Senadores, Senador Mão Santa, graças a Deus chegamos a sexta-feira. Foi uma semana de muito vai-e-vem, em que o País parou para ouvir, lá na Casa vizinha, a Câmara dos Deputados, na Comissão de Ética, o Deputado Roberto Jefferson, que fez um rosário de acusações a Parlamentares, ao Poder Executivo, a ministros, diretores de autarquias. Enfim, fez uma denúncia que gerou uma CPI, a CPI Mista dos Correios. Vem a CPI do Mensalão e, no próximo dia 22, Senadora Heloisa Helena, parece-me que o Supremo colocará em pauta a decisão do caso Waldomiro. Quatro ou cinco ministros já se pronunciaram e votaram a favor de que o Presidente desta Casa indique os nomes da CPI do Waldomiro.

Então, é bom que o País todo e toda a população brasileira se coloquem de alerta, porque vem aí mais uma CPI. Na realidade, é isso o que deseja o povo brasileiro. O povo brasileiro quer que se passem a limpo todas as denúncias do Deputado Roberto Jefferson. É uma surpresa para muitos. Tive oportunidade de, no dia seguinte e até o dia de ontem, abrir alguns sites deste País, que repetiram com muita freqüência uma consulta ao povo brasileiro, e as declarações ou as acusações, seja como for, do Deputado Roberto Jefferson convenceram 70% da população brasileira, Isso deixa o nosso Poder, o Poder Legislativo em uma situação que deve ser bem analisada e estudada por todos nós.

Repito que temos uma oportunidade única de nos recuperarmos perante a opinião pública. E a única forma de fazê-lo, Senadores Mão Santa e Arthur Virgílio, Srªs e Srs. Senadores, é se apurarmos tudo: pessoas que foram citadas, do Poder Executivo, do Poder Legislativo, outras denúncias que começam a chegar e, acima de tudo, o DNA que V. Exª há pouco traçava, Senadora Heloisa Helena, da CPI, batizada CPI Chapa Branca. Realmente ela tem esse DNA, porque tem a maioria do Governo, o Presidente do PT, o Vice-Presidente do PMDB, o Relator do PMDB, e a maioria é da Base aliada que defende o Governo do PT, o Governo de Lula.

Pois bem; eu sou daqueles que entendem que o maior presidente e o maior relator é a sociedade, é o povo brasileiro. Na hora em que a CPMI começar realmente a trabalhar, que os fatos forem surgindo, com o apoio da imprensa - tenho certeza disso, porque em todos os tempos tivemos esse apoio e agora teremos novamente -, aí sim, teremos a força do povo brasileiro, da sociedade, como aconteceu no passado. Tenho certeza de que acontecerá isso se os fatos denunciados se concretizarem. A partir daí, não tenho a menor dúvida, vamos conseguir apurar, melhorar e recuperar o Poder Legislativo. O caminho é só esse e mais nenhum. Com a ajuda de Deus, espero que isso aconteça.

Senadora, na época em que eu era Líder da Minoria, que está se transformando em maioria agora - e lembro do Senador Mão Santa nesta tribuna -, recordo-me do início tumultuado do Governo Lula em relação a V. Exª. E ainda ontem eu ouvi umas palavras aqui do Líder do Governo em relação à nossa estimada amiga, Senadora Patrícia Saboya Gomes, que foi brutalmente expulsa de seu partido, e S. Exª a estava defendendo, estava achando que era leninismo, era não sei o quê, não sei o quê lá mais, esquecendo-se de que o partido de S. Exª, até com o apoio dele e de muitos outros, havia expulsado V. Exª do PT, Senadora Heloísa Helena. É aquela história do PT: o discurso é um, a prática é outra. Mais uma vez isso se comprovou aqui neste plenário.

Fui solidário a V. Exª, fui solidário à Senadora Patrícia e serei solidário a qualquer parlamentar, porque se trata de uma violência expulsar alguém de um partido por uma questão ideológica; expulsar alguém que assume a verdade acima de tudo. E V. Exª tinha razão: o Brasil hoje sabe disso, principalmente o seu querido Estado de Alagoas.

Quando Líder, eu gostava de, na sexta-feira, fazer um pequeno apanhado das manchetes dos jornais de maior circulação. Hoje farei isso novamente. Contudo, para surpresa minha, como eram mais de vinte manchetes, tive de selecionar algumas para que houvesse tempo de lê-las.

Vejam V. Exªs o que se registra hoje na nossa imprensa nacional.

Correio Braziliense, manchete principal: “A queda”.

Para não ficar num mesmo periódico, vamos ao Jornal do Brasil: “A queda do primeiro ministro”.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Eu concederei depois...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Atentai bem: tem de ser agora, na queda.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - É na queda?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O repórter se inspirou num filme, um sucesso, que está passando agora: sobre a queda de Hitler.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Muito bem.

Então, vou repetir: Correio Braziliense: “A Queda”; Jornal do Brasil: “A queda do primeiro ministro”; Jornal do Commercio, lá do nosso Pernambuco: “Cai Dirceu”. Está aqui, na seqüência: “A Queda”, “A queda do primeiro ministro”, “Cai Dirceu”.

Folha de S.Paulo: “Mensalão derruba José Dirceu”.

O Brasil está nos ouvindo e vendo por meio da Rádio e da nossa Televisão: são manchetes dos jornais de hoje.

Estado de S. Paulo: “Sob suspeita, Dirceu cai e deflagra ampla reforma ministerial”.

Em O Globo, lá no Panorama Político, a colunista Tereza Cruvinel diz “Dirceu vai à guerra” e faz o seguinte comentário: “Deixar o governo Lula, projeto de sua vida nos últimos 25 anos, foi uma decisão dramática para José Dirceu, que já havia chegado perto dela no caso Waldomiro”. Quer dizer, reincidente.

Depois dessa, vem uma outra manchete de O Globo: “Dirceu: ‘Lula, eu só errei numa coisa: deveria ter saído no caso Waldomiro’”. Aqui é réu confesso. É o próprio José Dirceu dizendo. Estou exatamente transmitindo e comunicando essas palavras a quem não teve oportunidade de ler essa manchete, principalmente lá no nosso Nordeste, em cidadezinhas pequenas, onde os grandes jornais não chegam - mas a TV Senado chega lá!

Outra manchete de O Globo: “Não me envergonho de nada”, frase de José Dirceu. Eu não sei como é esse “não me envergonho de nada”. Aliás, acho que não deve se envergonhar mesmo. Quem está envergonhado é o povo brasileiro, é o partido dele, são aqueles companheiros que acreditavam nele. Ele, tenho certeza de que não está.

Mas vejam o que vem depois do “Não me envergonho de nada”, outra manchete do mesmo jornal: “Vou continuar governando o Brasil como deputado”. Quer dizer, governou como ministro e agora vai governar como deputado. É bom que o Deputado José Dirceu entenda que são 513 deputados - ele e mais 512. Agora, para que ele possa governar a partir da Câmara, terá de se explicar ao Poder Legislativo, como Deputado. Ele terá de ir ao Conselho de Ética, da mesma forma como foi o Deputado Roberto Jefferson. Existem vários suspeitos, várias acusações. Tudo isso deverá ser defendido e provado por José Dirceu.

Vem a Folha de S.Paulo de novo e diz: “Dirceu cai vítima de seu próprio veneno”. Ora, Senadora Heloísa Helena, V. Exª conhece muito bem esse veneno não é? V. Exª andou por perto desse veneno na época em que era do PT.

O SR. PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Com soro antiofídico...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Graças a Deus, é o soro!

Diz a Folha de S.Paulo: “Dirceu cai vítima de seu próprio veneno”. Por quê? Porque se afastou dos companheiros, se isolou, com um projeto político pessoal, e assim por diante.

Vem o jornal O Estado de S. Paulo de novo. Diz a colunista Dora Kramer: “Atirando da planície”. Lá no meio, ela faz uma ressalva interessante: “José Dirceu sai tarde demais, com a majestade perdida e a reputação”. Está aqui, Dora Kramer, que todos os brasileiros gostam de ler: “José Dirceu sai tarde demais, com a majestade perdida e a reputação”. Estou lendo, estou vendo aqui matérias em todos os jornais deste País, do Nordeste ao Sul do Brasil.

O jornal O Estado de S. Paulo: “Crise no Governo Lula. Volta para a Câmara é ato de humildade, diz Mercadante”. Que ato de humildade, hein? Se o cidadão é Deputado Federal e se licencia para ser ministro, ao sair do Ministério, como disse aqui Dora Kramer, com a majestade perdida e a reputação, ele volta a ser Deputado Federal. Que humildade? Se ele pensa em humildade mesmo, que renuncie a seu mandato de Deputado Federal e volte, com humildade, a ser um cidadão comum. Aí sim seria humildade. Não, mas ele precisa do mandato para se defender.

A SRª PRESIDENTE (Heloísa Helena. P-SOL - AL) - Nobre Senador Efraim Morais, permita-me interrompê-lo - V. Exª, terá todo o tempo necessário, bem como o Senador Mão Santa e o Senador Arthur Virgílio - apenas para prorrogar a sessão por mais meia hora a fim de que todos possam falar.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª e vou diminuir as manchetes.

Veja V. Exª, a seguinte manchete - depois dessa volta humildemente - do jornal O Estado de S. Paulo: “Dirceu deve ser chamado a depor no caso Jefferson”. Não é só no caso Jefferson, vai ter que depor na CPI dos Correios e vai ter que depor na CPI do Waldomiro, que, tenho certeza, está chegando.

Aqui temos um artigo, cuja manchete dá para ler muito bem, desse extraordinário colunista Clóvis Rossi. Eu já o citei, aqui, neste meu mandato, por várias vezes, pela sua independência, pela sua transparência. Ele faz um alerta: “Sai Dirceu, entra PMDB, crise fica”. Isso porque não adianta sair Dirceu e alguns companheiros do PT e entrar o PMDB com mais dois ou três Ministros, tomando conta de alguns Ministérios. Não interessa. Eu sei que o PMDB tem uma grande Bancada na Câmara e tem a maior Bancada nesta Casa. Mas eu repito: nós temos o Presidente da CPI, nós temos a maioria da CPI, nós temos o Relator da CPI, Senador Arthur Virgílio, porque o Presidente da CPI, o Relator da CPI e a maioria da CPI, tudo isso é igual a povo brasileiro, à sociedade brasileira. E quando a sociedade quer, quando o povo deseja se apura tudo nesta Casa, faz-se tudo no Poder Legislativo, no Poder Executivo, até porque quem coloca e quem tira Presidente, quem coloca e tira Deputado e Senador é o eleitor, é o povo brasileiro.

Pois bem, então, como diria o Senador Mão Santa, atentai bem a imprensa e o povo brasileiro para esta manchete: “Sai Dirceu, entra PMDB, crise fica”. Vamos esperar pela reforma que se diz que vai acontecer na próxima semana.

Outra matéria que está tocando fundo a sociedade brasileira e a classe política é a manchete da Folha de S.Paulo, que diz: “Indicados do PT demitidos voltam a cargos nos Correios”. Senadores e Senadoras, esses companheiros que foram demitidos dos Correios estão sendo fiscalizados. Está sendo feita uma auditoria, a CPI vai chegar lá, mas, com uma pressa enorme do Governo, pessoas do PT demitidas voltam aos cargos nos Correios. A CPI não começou, não se teve ainda o primeiro depoimento na CPI dos Correios e os companheiros já estão voltando. Paciência!

Bom, só tem mais duas manchetes, Senadora, e acho que esta é a mais grave de todas. Está aqui no jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, a maior manchete, com letras garrafais. Diz aqui, Senador Mão Santa: “Denúncia aponta para contas do PT em Miami”. Vou repetir: “Denúncia aponta para contas do PT em Miami”.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Efraim.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Deixe-me terminar as manchetes, pois só tem mais uma.

Então, veja bem. A Deputada Denise Frossard diz ter ouvido histórias sobre mala preta do PT. É uma ex-juíza, hoje Deputada pelo PPS do Rio de Janeiro, que gera esta manchete: “Denúncia aponta para contas do PT em Miami”. Aqui não teve nenhuma manchete que foi feita por mim, pela Oposição ou por V. Exª, Senador Mão Santa, que é do PMDB de Ulysses Guimarães.

A última, é do Correio Braziliense: “Um substituto para Meirelles”. É o que vínhamos dizendo há tempo: é melhor o Presidente Lula afastar o José Dirceu, afastar outros companheiros do seu Partido, de outras legendas, inclusive o Meirelles, antes que o Supremo mande afastar. É isso o que o Brasil está esperando, é isso o que deseja o povo brasileiro.

Essas são algumas manchetes que estamos lendo para o povo, trazendo ao conhecimento daqueles irmãos que não têm oportunidade de receber O Globo, a Folha de S.Paulo, o Jornal do Commercio, O Estadão, o Correio Braziliense, o Jornal do Brasil, a imprensa em geral.

Escuto, V. Exª, Senador Mão Santa, do PMDB do Piauí.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - A Senadora Heloísa Helena não gosta de mordomia. A mordomia de S. Exª é zero. Vejo-a num carinho e tal. Mas eu gosto, moderada. Eu e o Fernando Henrique Cardoso - ele era Presidente, eu Governador -, gostamos de uma mordomia moderada. Senador Arthur Virgílio, não sei a sua, ainda não analisei muito bem, mas a da Senadora Heloísa Helena sou testemunha, porque somos vizinhos, é mordomia zero. Eu não, como Fernando Henrique, gosto de uma mordomia moderada. Mas o PT, pelo que tenho observado, outro dia fui a uma viagem, é uma mordomia deslumbrada. Estão encantados! Então, essa conta em Miami tem que ser averiguada, porque eles estão deslumbrados. Miami é sinônimo de mordomia, de Disney World, de Key West. Então, isso tem que ser averiguado. Penso que vou pedir uma CPI da mordomia deslumbrada do PT.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Muito bem.

Senadora Heloísa Helena, que preside esta sessão, meus caros Senadores, diante de todas essas manchetes e da saída do Ministro braço direito do Presidente Lula, do ‘Primeiro-Ministro’, da queda do Deputado José Dirceu, vou encerrar deixando bem claro e para a tranqüilidade da sociedade brasileira que não vamos parar por aí não. Isso não resolveu nada! O brasileiro não quer saber quem está sendo demitido ou foi demitido por estar sob suspeita. É obrigação do Governo tomar essas atitudes. E aquela história se o ministro pediu, renunciou ou se renunciaram ou lhe tiraram, não se sabe. A realidade é que estão sob suspeita ele e outros. Tenho certeza de que o Presidente Lula não vai acatar muito os meus conselhos, mas sugiro a Sua Excelência que faça com todos aqueles que estão sob suspeita em seu Governo o que fez com o José Dirceu: exonerasse, demitisse, para que se possa apurar realmente os escândalos que envolvem o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Não paramos por aí. Vamos continuar, porque esse é um desejo do povo brasileiro. Vamos seguir esse rumo. Temos um rumo e é reto: é aquilo que deseja o povo brasileiro.

Vamos pedir a Deus que tenhamos uma semana mais produtiva. Essa crise só teve um lado positivo, que foi o Procon, aliás, o Copom; não, foi o Procon mesmo, pois foi a força do povo que exigiu que não subissem os juros. Então, o Copom funcionou de acordo com o Procon. O povo contestou, gritou, cobrou, e, com medo da crise, o Governo disse: vamos dar uma enganada, depois a gente volta. Espero que isso não seja verdade.

Senadora Heloísa Helena, Srs. Senadores, tenham um bom fim de semana! Até a próxima segunda-feira, quando voltaremos para conversar, mais uma vez, com o povo brasileiro, fazendo a nossa missão de minoria e de Oposição: uma oposição responsável que busca resultados e que, acima de tudo, como deseja o povo, fiscaliza o Governo e procura passar a limpo o que acontece neste momento no nosso País.