Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política no país. (como Líder)

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações sobre a crise política no país. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20347
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • APOIO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, IMPORTANCIA, EXERCICIO, FUNÇÃO FISCALIZADORA, CONGRESSO NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, OMISSÃO, PROVIDENCIA, AUTORIDADE, GOVERNO FEDERAL, CONHECIMENTO, DENUNCIA, PAGAMENTO, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CRITICA, TENTATIVA, ISOLAMENTO, RESPONSABILIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-Sol - AC. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a crise política que o País atravessa em função de denúncias de corrupção envolvendo dirigentes do PT e integrantes do Governo é grave e está apenas no começo. Ramificações e fatos novos deverão chegar ao conhecimento público, provocando indignação e revolta da sociedade, com os trabalhos a serem desenvolvidos pela CPMI dos Correios, sem impedimento da criação de outra CPI Mista, formada por Senadores e Deputados, para investigar o pagamento de propina a Parlamentares, no escabroso caso do “mensalão”.

Ambas as CPMIs contaram com o meu apoio, assim como qualquer iniciativa que vise a combater a corrupção.

Os Parlamentares não podem fugir de sua obrigação de esclarecer os escândalos, doa a quem doer, ou que não fique pedra sobre pedra, de acordo com expressões utilizadas pelo próprio Presidente Lula. O ex-Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, ex-Ministro José Dirceu, é citado em todas as denúncias, Senador Efraim. Informado sobre o pagamento do “mensalão”, foi incapaz de tomar uma atitude concreta para investigar os fatos, tal como acontecera anteriormente, em relação ao caso Waldomiro, ex-assessor de seu gabinete, também envolvido com propinas. Nada a respeito foi cabalmente esclarecido, barrada a pretensão de uma CPI para investigar o caso, muito menos punidos os envolvidos.

Outros Ministros foram avisados do famigerado “mensalão”, assim como o Presidente Lula, mas nada aconteceu. Neste caso, mais uma vez, o Presidente e seu ex-Chefe do Gabinete Civil tiveram comportamentos semelhantes, limitando-se a negativas verbais. O Presidente e o ex-Ministro Dirceu, amigos próximos e confidentes de longa data, não possuem segredos entre si, Senador Mão Santa. Dirceu costuma dizer que não tomava nenhuma iniciativa no Governo sem o consentimento do Presidente Lula, o que faz supor, na prática, que ambos estiveram de acordo, coincidentemente, pelo menos na tentativa de esquecimento do “mensalão”, quando o comportamento exigido pela responsabilidade dos cargos que ocupam deveria ter sido exatamente o contrário.

Até o denunciante oficial da falcatrua, Deputado Roberto Jefferson, fala sobre tudo e todos mas poupa a figura do Chefe do Governo, fazendo questão de destacar-lhe a inocência. “Mas o Presidente foi avisado e nada fez, assim como Dirceu”, devem estar questionando brasileiros e brasileiras. Mais uma coincidência de comportamento. O Presidente Lula, na realidade, foi omisso diante da vergonhosa compra de apoio político na Câmara. Com o respeito devido ao Chefe do Governo, excluí-lo totalmente dos acontecimentos é prestar desserviço ao País e ao esclarecimento dos fatos, com serenidade e isenção, como requer uma democracia consolidada. Não se trata de acusá-lo indevidamente de nenhuma irregularidade, mas de avaliar precisamente o contexto dos fatos e os setores e personagens envolvidos.

O isolamento do Chefe do Governo, a pretexto de poupá-lo politicamente ou preservar sua imagem, distanciada do centro das investigações, corresponde a uma espécie de acordo verbal com a participação de quase todos os partidos. O resultado de tal estratégia seria o afastamento do Presidente do núcleo dos acontecimentos, quando Sua Excelência deveria ser o exemplo da disposição de nortear as investigações em busca do esclarecimento total das denúncias e posterior punição dos culpados. Como conseqüência, um Presidente enfraquecido e o Governo à deriva quando os resultados das investigações forem sendo levados ao conhecimento da opinião pública.

Nada pode obstar o trabalho da CPMI dos Correios e de outras que se venham a constituir. Lamentavelmente, não há falta de escândalos, neste País, e sim de vontade coletiva do Governo em proporcionar à sociedade o completo esclarecimento das denúncias de corrupção. O Presidente da República tem a obrigação de estar informado e tomar atitudes drásticas para eliminar as dúvidas sobre integrantes de seu partido e de seu Governo, sem que isso signifique incriminação ou desconfiança antecipada em relação ao seu comportamento. Isolado, aí sim, o Chefe do Governo perderia o rumo dos acontecimentos.

É preciso lembrar que após as primeiras notícias sobre o escândalo nos Correios e os “mensalões”, e quando dúvidas surgiam em relação ao comportamento do Deputado Roberto Jefferson, o Presidente Lula, precipitado ou não, fez declarações em defesa do Parlamentar, dando solidariedade ao parceiro da base política do Governo e afirmando que a ele passaria um cheque em branco. Se o Presidente da República não estava ciente de fatos de tal gravidade, falhou redondamente o ex-Ministro-Chefe do Gabinete Civil em sua responsabilidade de informá-lo e assessorá-lo.

É preciso desmistificar fatos e personagens, ainda que nesse conjunto esteja incluído o Presidente da República. O Brasil exige a verdade, do mais alto mandatário ao mais humilde servidor desta Nação.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20347