Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Solicita transcrição de artigo publicado pela Revista Veja, edição desta semana, intitulado "Lula em seu labirinto", do jornalista André Petry. (como Líder)

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Solicita transcrição de artigo publicado pela Revista Veja, edição desta semana, intitulado "Lula em seu labirinto", do jornalista André Petry. (como Líder)
Aparteantes
Marco Maciel, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20352
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • CUMPRIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), AUTORIDADE, REALIZAÇÃO, CONGRESSO, RENOVAÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, SITUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OMISSÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, FRUSTRAÇÃO, CIDADÃO.
  • EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ouvi alguns pronunciamentos há pouco. Parabenizo, inicialmente, o Senador Marco Maciel pelo retrato que traçou e que mostrou da nossa Convenção Nacional, quando tivemos a reconstrução do PFL, depois de amplamente discutida por todos os setores, por todas as executivas estaduais, com a participação de Parlamentares municipais, estaduais e federais.

Cumprimento, então, o Senador Marco Maciel e, em seu nome, a nossa executiva, o Presidente Jorge Bornhausen, bem como todos aqueles que participaram do documento que culminou com o encerramento da nossa convenção. Quero principalmente dar parabéns ao ex-Ministro Gustavo Krause pelo excelente trabalho. Em nome dele, saúdo também todos aqueles que fizeram um trabalho extraordinário.

Sr Presidente, ouvi outros discursos hoje e percebi que o próprio Partido dos Trabalhadores - nem todos os seus membros, mas alguns deles - tenta dizer que a culpa pelo que está acontecendo é da imprensa. Algumas declarações aqui nos deixaram apreensivos, porque são Parlamentares que não gostam quando a imprensa retrata os fatos reais.

Em função disso, venho aqui exatamente ler, e peço para que seja transcrito nos Anais da Casa, artigo da revista Veja, que traz na capa a seguinte manchete: “Com a demissão de José Dirceu, Lula tenta salvar o governo e sua biografia. Tem conserto?” Essa é a pergunta que a revista Veja faz em sua capa.

Quero transcrever um artigo que transmite a realidade dos fatos, aquilo que pensa o povo brasileiro, depois de todos os episódios que vêm ocorrendo tanto no Congresso Nacional como no Poder Executivo.

Sr Presidente, trata-se do artigo do jornalista André Petry, cujo título é “Lula em seu labirinto”. Diz o seguinte:

O presidente Lula até pode superar a crise atual e, quem sabe, reeleger-se para um segundo mandato. Mas é hipocrisia esconder que foi definitivamente alvejado pelos estilhaços do escândalo - e no coração. Do labirinto em que foi jogado pelo mensalão, Lula tem só duas saídas, e nenhuma delas é boa. Ou o presidente sabia de tudo (e foi conivente) ou não sabia de nada (e foi inepto). Não há uma terceira alternativa. A situação é tão lamentável, mas tão lamentável, que existe uma torcida silenciosa para que a verdade esteja na segunda hipótese. Ou seja: torce-se para que o presidente seja inepto, apenas isso...

É melancólico, mas a outra hipótese é ainda pior. Se a verdade estiver na primeira alternativa, a de que Lula foi conivente, o desdobramento inevitável é a instalação de um processo de impeachment por prevaricação, crime no qual uma autoridade incorre quando deixa de fazer o que a lei manda que faça - no caso, investigar.

É melancólico porque, tendo sido apenas inepto, então Lula pode permanecer presidente da República. Um Presidente da República que ignora o que acontece no núcleo de seu governo. Que desconhece o que seus principais auxiliares andam fazendo. Que vive alheio ao que se passa à sua volta. Mas, ainda assim, um presidente da República.

É melancólico porque, a esta altura, só farsantes são capazes de sustentar que não existia mensalão ou que jamais ouviram falar dele. E só quem faz da estupidez uma profissão de fé é capaz de acreditar, a esta altura, que o tremendo inchaço das bancadas de PL, PTB e PP se deu à base do convencimento político e ideológico.

É melancólico porque o Lula de hoje é o José Dirceu de ontem. Quando veio a público o caso de Waldomiro Diniz, José Dirceu levou um tiro no peito e, dali em diante, jamais remontaria sua autoridade, porque ficou patente que - na melhor das hipóteses - fora incompetente ao não saber o que fazia, nem quem era o assessor de sua plena confiança. Hoje, Lula está numa situação parecida. Na melhor das hipóteses.

É melancólico porque há um visível esforço coletivo para acreditar na versão presidencial - a de que foi informado do mensalão, mandou investigar, mas, sabendo que o caso fora arquivado numa sindicância da Câmara, deu-se por satisfeito. Algo não faz sentido. Roberto Jefferson, no embalo de inocentar o presidente, disse que ele ficou chocado quando soube do mensalão. Reagiu como quem é traído, como quem leva uma facada nas costas, como quem - nas palavras de Jefferson - flagra a esposa com outro. É curioso que o presidente, depois de receber notícia tão inédita e tão dramática, se tenha dado por satisfeito com tão pouco.

É melancólico porque, em trinta meses de governo, Lula apequenou sua figura pública, cuja nobre dimensão fazia tão bem ao país e, sobretudo, às camadas mais populares - que podiam ver em sua ascensão a possibilidade real de furar o hermético bloqueio político e social imposto aos de origem mais humilde.

É melancólico ver esse gigante da história brasileira agora apenas oscilando entre a espantosa hipótese de ter sido conivente e a mediocridade de ser inepto.

É melancólico.

Sr. Presidente, acredito ser exatamente isso o que pensa o povo brasileiro. Para tornar mais fácil a leitura desse artigo, pedi a um assessor meu que fizesse a sua transposição para o papel, tirando aqui da revista Veja. Dois, três ou quatro assessores que liam a matéria diziam: “Este é o quadro do Brasil, isto é o que nós pensamos, isto é o que pensa o Brasil”.

Sr. Presidente, V. Exª já me deu o suficiente, mas peço ainda um minuto para concluir.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Senador Efraim Morais, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Escuto V. Exª, Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Gostaria de interrompê-lo por breve instante apenas para agradecer a referência ao que acabei de dizer antecedendo o seu discurso e referendar o que V. Exª afirma com relação ao papel que cumpre o nosso partido. V. Exª é bem a expressão disso. V. Exª, que exercitou com muita competência e brilho a função de Líder da Minoria tem dado provas de sua preocupação para melhorar o País, sobretudo, denunciando os erros, os equívocos do atual Governo. Nossas bancadas, tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados cumpre com muito destaque esse papel oposicionista. V. Exª tem razão quando homenageia também o Partido pela convenção realizada na semana passada.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL- PB) - Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim, atentamente ouvi o pronunciamento de V. Exª e do grande homem público Marco Maciel, intelectual da Academia Brasileira de Letras. A contribuição do PFL na democracia é reconhecida. Quando prefeito de minha cidade, tive como vice-prefeito um membro do PFL. Relembro a luta do PFL, que naquele tempo avançou - penso que houve um pouco de retrocesso, ressalvada a intenção de contribuir para a democracia. Sou do PMDB, de Ulysses, que no Piauí é dirigido pelo Senador Alberto Silva, nosso líder. Naquele tempo, houve prévia para o lançamento de candidato à Presidente da República. E eu, solicitado pelo vice-prefeito e por meu irmão, que hoje é deputado federal pelo PFL, entrei na luta e vi como era bela. Na cidade de Parnaíba houve uma prévia para saber quem seria candidato a Presidente da República. Disputavam Aureliano Chaves, aquele extraordinário homem público que foi vice-presidente, e Marco Maciel. E Marco Maciel foi o vencedor em nossa cidade. E eu, embora não tivesse voto, estava participando dessa luta. Penso que é hora de repetir a história. Se Marco Maciel, no início de 90, era cotado para Presidente da República, por que não agora, que S. Exª está mais experimentado, mais provado, mais querido e mais aceito e acreditado, não só no Nordeste, mas no Brasil todo? Além disso, não tem mais Aureliano Chaves, que está no céu, que foi um obstáculo àquele sonho. O PFL deve marcar posição e voltar ao que iniciou: às prévias para candidato a Presidente da República.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Sr. Presidente, agradeço ao Senador Marco Maciel pelo aparte e agradeço pelas referências feitas à minha atuação política nesta Casa.

Senador Marco Maciel, feliz é o partido que tem V. Exª como um dos seus filiados. Digo isso em razão da história de V. Exª neste País, das ações de V. Exª para com o seu Estado, meu querido Pernambuco, vizinho lá da minha Paraíba. Sei da importância do cidadão Marco Maciel, do político Marco Maciel, do pai de família Marco Maciel, do intelectual Marco Maciel. O Brasil hoje precisa de homens como V. Exª, principalmente neste momento. Nós, que fazemos o PFL, nos orgulhamos de ter V. Exª em nossos quadros.

Agradeço ao nobre Senador Mão Santa, lá do PMDB do Piauí, PMDB de Ulysses Guimarães, por sua interferência.

Sr. Presidente, só um minuto pediria a V. Exª para concluir. Essa situação nos preocupa. A saída do Chefe da Casa Civil, de volta à Câmara dos Deputados, não significa que as investigações pararam. Não, pelo contrário, mais do nunca as oposições irão buscar na CPI instrumentos legítimos, instrumentos democráticos e instrumentos constitucionais para que possamos apurar todos os acontecimentos.

São artigos como esses que precisam ser esclarecidos para que o povo entenda que quem nomeia ministros, quem nomeia diretores, quem nomeia dirigentes de autarquias é o Presidente da República, é o Presidente Lula. Mais adiante, vem Diogo Mainardi, cujo artigo peço que seja transcrito também: “Roberto Jefferson garantiu que Lula não sabia o que os petistas faziam por baixo do pano. Eu sabia. O leitor sabia. Todo mundo sabia. O único que não sabia era seu maior beneficiário: Lula”. São palavras do jornalista Diogo Mainardi publicadas no artigo “Eu sabia. Todo mundo sabia”, pela revista Veja.

Sr. Presidente, li “Lula em seu labirinto”, do jornalista André Petry, da revista Veja, que certamente estará transcrito e peço a V. Exª para que fique registrado nos anais desta Casa também este artigo do Diogo Mainardi.

Amanhã teremos a primeira reunião da CPI. Espero, realmente, que se possa fazer uma CPI do jeito que quer o povo brasileiro, da forma que espera o povo brasileiro: transparente, apurando e não abafando. O governo ganhou a primeira parada, elegeu o presidente e o relator, mas, para mim, o maior relator e o maior presidente é o povo brasileiro. Esta Casa fará o que quer o povo brasileiro.

Agradeço a tolerância de V. Exª, nobre Senador Tião Viana.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EFRAIM MORAIS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Lula em seu labirinto” - André Petry;

“Eu sabia. Todo mundo sabia” - Diogo Mainardi.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20352