Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Governo do PT.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Críticas ao Governo do PT.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20374
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, CRITICA, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXCESSO, NUMERO, MINISTERIOS, INFERIORIDADE, RECURSOS, INVESTIMENTO, SEGURANÇA PUBLICA, SAUDE, TRANSPORTE, ENERGIA ELETRICA, DESVIO, VERBA, GARANTIA, MORDOMIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • DEFESA, AUTONOMIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESPECIFICAÇÃO, CANDIDATURA, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, NEGAÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO.
  • COMPARAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNALISTA, ESTADO DO PIAUI (PI), COMENTARIO, DECLARAÇÃO, FERNANDO GABEIRA, DEPUTADO FEDERAL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, COMPARAÇÃO, DITADURA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão de segunda-feira, Senadoras e Senadores presentes à Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pela TV e pela Rádio Senado, há pouco assistimos o Líder do PFL mostrar todas as capas de revista do nosso País, quase todas ligadas à corrupção.

Senador Alvaro Dias, Senador César Borges, que saudades tenho da minha mocidade quando as capas das revistas eram Miss Martha Rocha; Emilia Corrêa Lima, Miss Brasil cearense; Teresinha Morango; Adalgisa Colombo e outras belezas da nossa Pátria.

Que pensa a nossa mocidade hoje? Como foi provado, Senador Geraldo Mesquita, as capas das revistas mostram a corrupção. Senador Geraldo Mesquita, não sei qual é a filosofia lá do Acre, mas, no nosso Nordeste, aprendo com o povo e nunca a sabedoria popular erra. Senador Demóstenes Torres, até a Bíblia tem os provérbios, a voz do povo. Na nossa região há um dito popular: “pau que nasce torto morre torto”.

Quero dizer que ajudei a eleger esse Governo, Senador Alvaro Dias, porque nele votei, assim como o Senador Geraldo Mesquita, e , como médico, tive um aprendizado: arrependimento não mata, porque estou vivo e votei no PT.

“Pau que nasce torto morre torto”. Começou errado.

Demóstenes é o nome do grande orador grego, mas S. Exª é melhor - acabou de nos brindar com sua oratória - do que o grego, que era gago. Este é falador, falante. E, já que estou na Grécia, Sócrates disse que “só há um bem: o saber”. E foi mais adiante: “só há um grande mal: a ignorância”. A ignorância do PT e do Governo é ousada, demais.

Senador Demóstenes Torres, Platão montou a primeira escola e, na primeira classe, ele ensinava: sede ousado! Na segunda classe, no segundo ano, outro ensinamento, Senador Geraldo Mesquita: sede ousado cada vez mais. E, no terceiro ano, os concludentes, Senador Alvaro Dias, na sala estava escrito: “Sede ousado, não em demasia”.

Ousadia com prudência, mas a ousadia do PT é audaciosa. A ignorância é audaciosa.

E aí está: no começo do governo, falou-se nesse negócio de coalizão. Coalizão tem; divisão também.

Senador Alvaro Dias, transporte-se para a Inglaterra ou para qualquer país parlamentarista, onde se elege o Primeiro-Ministro, a divisão é feita logo no começo. Tony Blair tem que ter apoio. É pluripartidarismo logo no começo. Agora, Senador Geraldo Mesquita, o Presidente... Nós tínhamos uma tradição de 12 a 16 ministros. Collor teve a coragem de diminuí-los. Depois, Itamar e Fernando Henrique aumentaram para 16. Aí, de chofre, o Presidente da República coloca quase quarenta ministros. E a grande vantagem de ser Oposição, ô Tião Viana, é não precisar ter na cabeça o nome desses e dessas. Graças a Deus não sei o nome nem sequer de meia dúzia, porque eles são inexpressivos e não têm nada a contribuir. É uma grande vantagem para a Oposição. Tião Viana tem dores de cabeça para gravar o nome de 38 ministros e ministras. Aumentou, mas o cobertor é curto. Alvaro, brilhante, lá do Paraná: eu fui prefeitinho, Governador de Estado e sei que o cobertor é curto, como dizem os nossos economistas, tira-se de um lugar e descobre-se o outro. Ele tirou da segurança, da educação e da saúde e agasalhou esses quase 40 companheiros derrotados. Falta dinheiro para a segurança, para a educação, para a saúde, para as estradas, para a energia - Juscelino: energia e transporte -, e o dinheiro foi para o PT, para a mordomia do PT.

E aí está: não tem mais jeito. Agora, Senador Alvaro Dias, buscar o meu PMDB, o PMDB de Ulysses, o PMDB de Teotônio Vilela, que, com altruísmo, com câncer, pregou a redemocratização; de Tancredo, que se imolou pela redemocratização; de Juscelino, que foi cassado bem aqui, nessa cadeira; de Alberto Silva? O PMDB nosso agora?

Pau que nasce torto tem de se endireitar no começo. Nome nós tínhamos, experiência nós tínhamos. Só agora, Demóstenes?! Não! Não, porque eu represento aqui Ulysses Guimarães. Ele está encantado no fundo do mar, Senador Geraldo Mesquita, mas disse: “Ouçam a voz rouca das ruas”. A voz rouca das ruas quer que o PMDB vá à luta. Senador Alberto Silva, meditai, atentai bem. Senador Demóstenes, lembro-me de que, na ditadura, Ulysses Guimarães teve coragem de ser candidato, ele e Sobral Pinto. Não vamos permitir que agora seja diferente. Esse Partido, que tem maioria aqui, vai se acocorar? Vai vender a sua tradição, a sua história e sua luta para fazer renascer a democracia? Onde está a nossa história e o nosso saber?

Lula, Rui Barbosa é fonte de inspiração. Atentai bem, Alberto Silva: ele, que foi precursor da República e da libertação dos escravos, como ministro da Fazenda de Deodoro, quando viu que os militares queriam meter o terceiro militar, pulou fora. Suassuna, você, que tem estudado e não foi aproveitado para dar aulas no PT, veja o que Rui Barbosa disse: “Não troco a trouxa das minhas convicções por ministério”. Iniciou a campanha civilista e ganhou. Essa é a história.

Agora? Agora, com o barco afundando em um mar que não é nem aquele em que Ulysses está encantado, é um mar de lama, de podridão e de corrupção nunca dantes vista?

Sejamos justos com o Presidente Collor. Eu recebi a esposa do Presidente Collor em Parnaíba, quando eu era Prefeito e Alberto Silva, Governador. Rui disse que justiça tardia é injustiça qualificada. É assim, Demóstenes, você que sabe tudo de Rui? Vamos ser justos com o Presidente Collor. Esse caso de agora é muito, muito, muito mais grave. O Presidente Collor, insinuante, simpático, de repente, é colocado como Prefeito pelo governo militar. Ele vai a Deputado Federal e é eleito Governador. Apareceu lá o PC Farias - o apelido dele, Alberto Silva, era Paulo Gasolina, porque gostava muito de carro, de negociar e de vender - e se aproximou do Collor na campanha para governador, mas Collor não o nomeou nada. Então, ele usou da sua influência para vender telefone no interior. Chamava e ligava do Palácio, mas não como membro da equipe - atentai bem, Geraldo Mesquita, seja justo. Dizia: “Ô, prefeito, eu estou aqui no Palácio, e há interesse do governador” - isso não existia - “em colocar telefones na sua cidade; me arrume cem compradores”. No fim de semana, ele pegava um carro do Palácio e ia lá. E assim ele ganhou dinheiro, assim ele contratou e assim Collor chegou à Presidência da República. E ele, que tinha dado certo nessa sua filosofia de ganhar dinheiro...

Senador Demóstenes, o livro de cabeceira de Tião Viana e de Jorge Viana, com certeza, é a Bíblia. O livro de cabeceira dele era Onassis. Ele quis, mas não tinha ligação nenhuma com o Collor, nunca foi nomeado na Prefeitura do Collor, no Governo do Collor e nem na Presidência. Esses não, esses estão todos aí. Não é o núcleo duro mais não: é o núcleo fedorento da podridão da corrupção. Essa é a verdade. É muito mais grave. É aqui, Parlamentares.

Senador Tião Viana, li muito e quero dizer que o PMDB, que tem como Presidente Michel Temer, na última convenção, decidiu que o Partido terá candidato próprio em respeito ao Brasil. Essa é a decisão. Nós não vamos vender nem mudar essa decisão. Será uma candidatura que ofereça uma nova opção, uma opção nacionalista, não uma opção liberal, como o Demóstenes falou, que favoreça os banqueiros, o ganho fácil. Primazia ao trabalho e ao trabalhador - ele é quem vem antes, ele é quem faz a riqueza. Queremos uma candidatura com esse compromisso, uma candidatura com um compromisso nacionalista, das nossas raízes, de Getúlio, de Juscelino, de Tancredo, de Jucá. Essa é a nossa idéia.

Quantos minutos ainda tenho, Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - V. Exª extrapola o tempo regimental em um minuto, mas a Mesa lhe concede mais dois minutos para concluir.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - De todos os jornais que li - e nós analisamos todos, estudamos a mídia -, selecionei o melhor dos analistas. É o jornalista Zózimo Tavares, do Piauí, que é membro da Academia Piauiense de Letras. Passo a ler:

Que pena!

O deputado federal Fernando Gabeira (PT) tem produzido reflexões lúcidas, sinceras e corajosas sobre a crise política brasileira. Como esta, ao comparar a ditadura com o governo Lula: “Uma neutralizou o Congresso Nacional pelo medo; o outro, pelo pagamento de mesada. Ditadura e governo Lula compartilham o mesmo desprezo pela democracia, ambos violentaram a democracia reduzindo o Parlamento a uma ruína moral”.

Gabeira completa: “Os militares prepararam sua saída de forma organizada. Nem muito devagar para não parecer provocação nem muito rápido para não parecer que estavam com medo. Já o núcleo duro do governo Lula parece perdido, batendo cabeça, ou melhor, enfiando-a na areia, sem perceber que a polícia está chegando”.

Um dos perseguidos pela ditadura, Gabeira revela: “Os militares batiam, davam choques e insultavam na sessão de tortura, mas vi muitos dizendo que me respeitavam porque deixei um bom emprego para combatê-los com risco de vida. Eles viam ideais no meu corpo arrasado pelo tiro e pela cadeia”. E mais:

“O PT queria que eu abrisse mão exatamente da minha alma e me tornasse um deputado obediente, votando tudo o que o Professor Luizinho nos mandava votar. Os militares jamais pediram isso. Desde o princípio, disseram que eu era um irrecuperável e limitaram-se à tortura de rotina. Jamais imaginei que seria grato aos torturadores por não me pedirem a alma. Não sabia que dias tão cinzentos ainda viriam pela frente.”

E, desolado: “Vamos ter de encarar juntos essa realidade. A grande experiência eleitoral da esquerda latino-americana, admirada por uma Europa desiludida com Cuba e Nicarágua, a grande novidade que verteu tintas, atraiu sábios, produziu livros e seminários, vai acabar na delegacia como um triste fato policial de roubo do dinheiro público e suborno de parlamentares”.

Para terminar, pela bondade e grandeza acreana, aqui foi dito que estamos sob suspeita. Eu não estou sob suspeita, nós não estamos sob suspeita. E quero dizer que V. Exª, Sr. Presidente, simboliza as virtudes e a pureza. Quero ver o PT e todos os Partidos grandes, como o meu PMDB.

Termino com a Bíblia e com Deus. Atentai bem, Senador Paulo Octávio, que é bíblico. V. Exª já leu a Bíblia, Senador Paulo Octávio? Vou ler o que diz Eclesiastes 10. Abram o livro, brasileiros e brasileiras, cristãos de todas as Igrejas. Diz-se em Eclesiastes 10:

Governante sábio educa o seu povo, e a autoridade de homem inteligente é bem estabelecida. Da mesma forma que o governante do povo, assim também serão seus ministros. Rei sem instrução arruinará seu povo. Uma nação será construída graças à inteligência dos chefes.

Isso está em Eclesiastes 10.

Ainda está em tempo, Lula. Leve Tião Viana, que enquadra essas virtudes!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20374