Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à condução da política econômica quanto ao pagamento da dívida externa. (como Líder)

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à condução da política econômica quanto ao pagamento da dívida externa. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20377
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DADOS, SUPERIORIDADE, VALOR, DESPESA, BRASIL, PAGAMENTO, DIVIDA PUBLICA, PROTESTO, DESVIO, RECURSOS, INVESTIMENTO, INFRAESTRUTURA, DESENVOLVIMENTO.
  • CRITICA, DISCURSO, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, RETORNO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ALEGAÇÕES, AMEAÇA, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, FRUSTRAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ATUAÇÃO, DIRIGENTE.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, GOVERNO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, DEPOIMENTO, ROBERTO JEFFERSON, DEPUTADO FEDERAL, CONTESTAÇÃO, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC. Pela Liderança do P-SOL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, refletindo a respeito da crise que se abate sobre o povo brasileiro, sofrido, cansado, com a esperança rota, já estraçalhada, traído por quem se anunciava o condutor e o construtor de novos tempos, fico imaginando se esse processo de corrupção não se inaugurou logo no início do Governo Lula.

Senador Mão Santa, chama-me a atenção o fato de que chegaremos ao final deste ano com uma transferência - pasmem! - de cerca de R$300 bilhões, que se destinam e se destinarão ao pagamento do serviço da dívida ativa. Hoje, pela manhã, li notícia, que precisamos confirmar, de que, de 1995 para cá, o País já desembolsou quantia próxima de R$1 trilhão só para o pagamento da dívida ativa.

Senador Mão Santa, isso é desvio de dinheiro público para finalidades essenciais. Toda essa dinheirama poderia estar servindo ao propósito de se investir no nosso País. É dito aqui, vez por outra, que se perdem em torno de 30% da produção de grãos do nosso País só do deslocamento dos locais de produção para os portos, porque as nossas estradas estão em pandarecos, a nossa infra-estrutura portuária encontra-se carecendo de investimentos pesados.

A situação é a seguinte, Senador Mão Santa: o Governo procura culpados ora no Parlamento, ora na Oposição, ora na mídia, que vem sendo apontada como a vilã, como a grande culpada do que ocorre ultimamente em nosso País. A mídia, a meu ver, repercute, ora com acertos, ora com alguns equívocos, apenas o que aflora, o que surge nessa história imunda de corrupção no nosso País.

Fiquei igualmente pasmo quando me detive por alguns minutos a ouvir o pronunciamento do ex-Ministro José Dirceu, quando de sua despedida do cargo que exerceu por dois anos e meio no Governo. Dizia S. Exª que viria para a “planície” lutar contra aqueles que pretendem interromper o processo democrático. Olhe que coisa arrogante, que coisa inadequada, que coisa não razoável!

E aqui faço uma grande distinção que está precisando ser feita. Tenho encontrado com militantes do PT por onde ando, no meu Estado, aqui em Brasília, que estão igualmente atordoados, aturdidos, decepcionados, tristes e envergonhados.

Atribuir-se ao PT a condução desse processo de corrosão da política, da atividade pública, da gestão pública, penso que não é de todo verdade. Quero crer que a cúpula do PT se apropriou do Partido e, em nome desse Partido de tradições e lutas, que tem história neste País, Senador Mão Santa, deu-lhe a condução que não condiz - tenho certeza absoluta - com o sentimento da grande maioria da militância do PT.

Portanto, aqui quero fazer uma distinção: quando tratar de PT, leia-se, Senador Mão Santa, cúpula da direção do Partido. E digo: se a cúpula do PT, se a cúpula palaciana se dirigisse ao povo brasileiro com humildade e reconhecesse erros cometidos e esse desvão por onde se meteu e se comprometesse com uma ação enérgica, no sentido de recuperar...

(Interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - ... o tempo perdido, retomar essa história do seu início, dar-lhe um curso de seriedade, de trabalho, de dedicação a uma causa que era propalada aos quatro ventos por ocasião da campanha, tenho certeza absoluta de que o povo brasileiro, mesmo triste, envergonhado, decepcionado, acolheria esse pedido de desculpas que o povo brasileiro merece e que a ele está sendo devido.

A situação tomou uma proporção tão grave que não vejo, além da apuração dos fatos, outra solução para a cúpula do PT e de seus periféricos aliados senão pedir desculpas à população brasileira.

Tenho certeza de que o povo brasileiro entenderia e consideraria a possibilidade de retomarmos o curso da história e uma linha de trabalho, para que pudéssemos sair dessa situação com algum ganho.

Senador Mão Santa, os fatos são do domínio público hoje, e aqui se cobra a produção de provas. Eu já disse, de outra feita, que o Deputado Roberto Jefferson, amigo íntimo do Presidente da República, membro de um Partido que compõe a base de sustentação do Governo no Congresso, ao fazer as suas revelações e ao dar as suas declarações...

(Interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

Na verdade, o Deputado fez, em nome do Governo, uma autoconfissão e colocou todo o Governo sob suspeição.

Defendo a tese de que, enquanto não se passar essa questão toda a limpo, não se pode conceder a esse Governo o direito de ver aprovado no Congresso, neste plenário e no da Câmara, matérias que tratem da alteração da estrutura do Estado.

Tenho dito que, enquanto durar o processo de apuração dos fatos e de punição de quem deva ser punido, o Governo deve administrar o feijão-com-arroz. Aquelas medidas consideradas indispensáveis e essenciais para o dia-a-dia da gestão...

(Interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - ...pública terão o respaldo deste Congresso. No entanto, medidas que impliquem a alteração da constituição do Estado brasileiro não poderão ter a aprovação deste Plenário nem do Plenário da Câmara. porque, repito, esse Governo encontra-se em estado profundo de suspeição. Nessa situação, não se devem correr riscos de aprovar medidas que se traduzam na alteração do Estado brasileiro.

Senador Mão Santa, faço um apelo à cúpula do PT - e não ao PT: que se dirija à Nação brasileira com humildade. Chega de arrogância, chega de arrogância! É muita prepotência! A pessoa está saindo derrotada do Palácio do Planalto...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª que conclua o seu pronunciamento.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Um ex-Ministro deixa o Palácio do Planalto e, ao invés de adotar uma postura de humildade pois sai de lá derrotado, se dirige à Nação brasileira com arrogância, dizendo que combaterá aqueles que pretendem interromper o processo democrático.

Olhe que coisa irresponsável, dita por alguém que tem e teve a responsabilidade, até pouco tempo atrás, de dividir a condução dos assuntos públicos deste País com o Presidente da República.

Senador Mão Santa, essas pessoas estão precisando exercitar um pouco de humildade. Quando V. Exª diz que foi prefeitinho, exercita humildade.

Para concluir, a mídia é culpada do que está acontecendo? Não, Senador Mão Santa. A mídia reproduz o que está acontecendo e os fatos que surgem aos borbotões.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - A Mesa concede mais um minuto a V. Exª para que conclua.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Senador Mão Santa, na Câmara, no Senado, no meio da rua, em qualquer esquina deste País, as pessoas estão aflitas, discutindo essa situação.

A mídia apenas reproduz esse estado de espírito, os fatos que dizem respeito a esse processo - profundo, triste, tenebroso, imundo, que nunca vi ocorrer, com tanta intensidade, em nosso País - de corrupção, de utilização de recursos públicos, de estatais, para compra de consciências, de votos neste Parlamento.

Assim, Senador Mão Santa, prego a suspeição deste Governo e que ele tenha mais humildade com este País, que, em má hora, elegeu um governo que se comprometeu a fazer transformações profundas e se aliou às elites nacionais e internacionais e aos banqueiros internacionais para prosseguir na faina de judiar, cada vez mais, da população brasileira, aprofundando o ciclo de miséria que este País vive há tantos anos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20377