Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância, para a apuração das denúncias de corrupção nos Correios, da atuação do relator e do presidente da CPI.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Importância, para a apuração das denúncias de corrupção nos Correios, da atuação do relator e do presidente da CPI.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2005 - Página 20383
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPEACHMENT, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, AVALIAÇÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • DEFESA, CONTINUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, BENEFICIO, DEMOCRACIA, SAUDAÇÃO, IMPARCIALIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • ANALISE, PARALISAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA PARTIDARIA, ESPECIFICAÇÃO, ESCOLHA, MEMBROS, MINISTERIO.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabamos de ouvir o discurso, sempre bem lançado, do Senador César Borges, cuja capacidade e prestígio são indiscutíveis.

Mas, hoje, tenho razão para estar otimista, porque a chapa branca da CPI dá um sinal positivo em relação ao que vai acontecer lá.

Para surpresa geral, Sr. Presidente, todos os jornais do Brasil colocam a declaração do Relator, que é do PMDB, Deputado Osmar Serraglio, que diz: “Para Relator da CPI dos Correios, Lula pode acabar como Collor”.

Em primeiro lugar, quero dizer que nós não desejamos que Lula acabe como Collor. Desejamos comprovar tudo o que for possível do Governo Lula, de seus auxiliares e dele próprio, mas não queremos impeachment, não queremos retirar o Presidente da República, até porque isso se reverteria em benefício para o próprio Lula. Diriam que foi golpismo, que as elites são sempre as mesmas, que não podem deixar um torneiro mecânico no Governo e que ele estava fazendo o melhor Governo do mundo. Tudo isso vão dizer. Mas, na realidade, trata-se do pior Governo, de uma equipe péssima de derrotados que não souberam fazer nada de positivo em relação a este País.

O Deputado Osmar Serraglio, Relator da CPI dos Correios, diz que a situação é grave, que os fatos são terrivelmente preocupantes e que o País vive momentos de crise tremenda. E S. Exª diz isso sendo do PMDB, que, segundo toda a imprensa, será altamente contemplado. Vejam V. Exªs: vão moralizar o Governo, contemplando o PMDB. Esta é uma dúvida: não sei se vão levar o Senador Pedro Simon, mas isso não é tão provável, porque as indicações recentes do PMDB deram algum problema ao Governo - e ainda estão dando, até porque já estão até no Supremo Tribunal Federal.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o fato de esse Relator ter a coragem de dizer que as coisas são gravíssimas já nos enche de alegria, porque sabemos que se vão apurar os fatos com imparcialidade e celeridade. O Senador Ney Suassuna, com sua autoridade de Líder, declarou que tudo deve ser apurado celeremente, porque o País está nessa crise há mais de um mês - eu diria que a crise já dura dois anos.

Que a CPI convoque todos que merecem ser convocados e que possamos - não só os membros da CPI, como todos os Parlamentares - interrogá-los, para que essa verdade que era tão contestada nesta Casa venha à lume e para que sofra punição quem merece ser punido!

Louvo a discrição do Presidente Lula. Se o Presidente Lula disse que assinava um cheque em branco para o seu grande parceiro Roberto Jefferson, não há sentido, hoje, em dar uma declaração que venha a ofendê-lo. O Presidente está discreto nesse ponto, querendo que se apure o que Roberto Jefferson disse.

Tudo isso são sinais positivos, que estão surgindo agora, porque tudo até aqui foi negativo. O medo estampado na fisionomia dos Parlamentares do PT de que houvesse a Comissão Parlamentar de Inquérito e a tristeza deles com o depoimento, completo e arrasador, do Sr. Roberto Jefferson - que não vou dizer que é santo - dão-nos a segurança de que a consciência nacional acordou para o mau Governo existente. A consciência nacional já conseguiu mudanças no Governo, mas poucas ou quase nenhuma. Afinal de contas, este Governo mudou há um ano, para melhorar, para fazer coisas notáveis, mas o que se viu foi o Vampiro na Saúde, que continua lá, obedecendo ao Sr. Jorge Solla, que muitos aqui desejam que seja Ministro, o que é inacreditável.

Mas tudo pode acontecer neste Governo. Querem que o Sr. Jorge Solla seja Ministro, e nós, da Bahia, que o conhecemos, achamos graça na afirmativa. Mas tudo pode acontecer: muita gente pode vir a ser Ministro, até porque os bons quadros do PMDB estão recusando-se a participar do Ministério, e o PMDB não está interessado em apontá-los.

Evidentemente, fora do Partido, existem nomes muito elevados; até surgiram nomes de capitães da indústria para Ministro, mas não é essa a tese da base aliada. Essa é a tese do Lula, que não tem a coragem de fazer. Está pensando em fazer, gostaria de fazer, mas lhe falta coragem. E observa-se um contraste tremendo: um homem que veio da luta, do Nordeste, que lutou pelos sindicatos e por grandes causas, nessa situação de hoje não poder fazer aquilo que deseja, porque as bases aliadas de que necessita no Congresso não o permitem.

Ora, Sr. Presidente, quem teve a votação que o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva obteve em todo o País tem a força para fazer o Ministério dos mais capazes, mas, quando se começa um Ministério com 20 derrotados nas urnas, evidentemente, esse Ministério não representa a vontade nacional, mas sim a vontade dos sofredores da derrota, daqueles que querem vingar-se não só dos adversários, o que seria pouco, mas do País, dos seus Estados, o que é mais grave.

Por isso, Sr. Presidente, quando alguém tem a coragem de dizer que os fatos são gravíssimos e têm de ser apurados, só tenho a louvar. Nunca ouvi falar antes do Dr. Osmar Serraglio, achei que era mais uma invenção do PT, mas, na realidade, a sua entrevista nos encoraja. Mas temo que S. Exª, tendo dado a entrevista tão cedo, sofra pressões e mude sua linha de ação. Mantendo-se na sua linha de ação, evidentemente, o País vai aplaudi-lo, mas, se S. Exª aceitar as pressões, como outros tantos as têm aceitado nesta Casa e na Câmara dos Deputados, decepcionará o eleitorado da sua terra. Mas o amor próprio de cada um é maior, sem dúvida, do que o sentido de aceitar as pressões, sobretudo se elas são irresponsáveis.

Sr. Presidente, V. Exª está trabalhando demais nesta Casa. Sempre que falamos, V. Exª está na Presidência. Precisamos de pessoas como V. Exª no Governo. Quando digo isso, sei que o estou prejudicando: se estou elogiando V. Exª, eles não farão nunca o que digo. É evidente que estamos precisando de pessoas capazes como V. Exª, que, no Ministério da Saúde, honrariam o Governo do Presidente Lula, mas não sou hoje um otimista quanto a isso. Se souberem do que falo - e estão-me ouvindo os arapongas nesta hora -, V. Exª estará com o câmbio baixo. Mas fique certo de que V. Exª está forte em seu Estado e entre seus colegas, que o respeitam e que sabem da sua atuação.

Sr. Presidente, a crise, sendo tão séria quanto o é, exige de nós reflexões e compreensão. É muito difícil que cheguemos a dizer que este Governo mudará o método de ação; acostumou-se no caminho errado e, dificilmente, voltará a caminhar certo. Mas desejamos que acerte e escolha Ministros corretos. O número já diminuiu: primeiro, ele ia demitir todos, mas, agora, só demitirá quatro ou cinco. Mas que, pelo menos, desses quatro ou cinco, tirem os piores, aqueles que estão lesando a coisa pública, tirem aqueles que não merecem o respeito da sociedade, tirem aqueles que o meu amigo, Senador Demóstenes Torres, entende que poderiam estar em presídios e não em ministérios.

Peço a V. Exª, mais uma vez, que, se for ouvido, opine sempre por uma mudança mais radical. Que o PT volte a ser aquilo que disse que era e não o que está sendo. As lutas internas do PT já o demonstram. Querem tirar o Delúbio, mas não podem tirá-lo. Caso contrário, Delúbio irá falar. Querem tirar o Silvio Pereira. Não podem tirá-lo, senão o Silvio Pereira irá falar. O Governo é refém dos seus próprios correligionários. Enquanto não se livrar disso e resolver governar para a Nação, vamos viver os dias tristes que estamos vivendo. Não é com uma ou duas modificações que o assunto será resolvido. Será, sim, com homens competentes, sérios, dignos, que possam fazer tudo o que a Nação precisa. A Nação hoje, mais do que ontem, precisa muito mais.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2005 - Página 20383