Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Líder do PDT, Leonel de Moura Brizola, pela passagem de um ano de sua morte, relembrando sua atuação na vida política brasileira.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Líder do PDT, Leonel de Moura Brizola, pela passagem de um ano de sua morte, relembrando sua atuação na vida política brasileira.
Aparteantes
Heloísa Helena, Osmar Dias, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2005 - Página 20436
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LEITURA, TRECHO, DISCURSO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Papaléo Paes, Senadoras e Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros na Casa e que assistem aos nossos trabalhos pelo sistema de comunicação do Senado.

Senador Paulo Paim, o Rio Grande do Sul deu muito ao Brasil. Talvez, a página mais bela dessa contribuição tenha sido a Revolução Farroupilha. Senador Sibá Machado, esse foi o primeiro movimento para transformar este País numa democracia e libertar os negros. Durou dez anos, com a atuação de Bento Gonçalves e dos lanceiros negros. Hoje o Piauí vem aqui homenagear um filho ilustre desse grandioso Estado do Brasil: Leonel Brizola.

Venho aqui, diferentemente do Senador Maguito Vilela, que está esperando procuração para falar pela Liderança do PMDB, falar pelo MDB do Deputado Ulysses Guimarães, do Senador Teotônio Vilela, do Presidente Tancredo Neves, do Presidente Juscelino Kubitschek, cassado quando era Senador pelo Estado de Goiás.

É uma homenagem ao Governador Leonel Brizola. Hoje faz um ano que faleceu Leonel Brizola.

            Hoje, dia 21 de junho, faço minhas, Senador Paulo Paim, Senador Sibá Machado, Senador Suassuna, as palavras de Brizola aconselhando Lula. Ninguém foi mais verdadeiro, mais gaúcho, mais bravo, mais lutador do que Leonel Brizola, possuidor daquela virtude a que Ulysses se referiu quando disse: “Se lhe falta coragem, faltarão todas as virtudes”. Brizola, que representava a coragem do Rio Grande do Sul, deixou um recado, mas o núcleo duro não deixou o Presidente Lula ouvi-lo. Ele disse, nas suas últimas palavras: “Lula foi eleito para mudar o Brasil, e não para mudar de lado”. Brizola entendia que a salvação era o trabalhismo de Alberto Pasqualini, do Rio Grande do Sul, de Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, de Rui Barbosa, baiano do Brasil - e tem muito a ver citar Rui Barbosa.

            Sibá, atente bem V. Exª, que emprestamos ao Acre, lá de nosso Piauí, com sua inteligência: Rui Barbosa, ninguém mais do que ele, merecia chegar à Presidência. É a destinação. E ele não chegou, não foi Presidente. Mas perguntai a uma criança brasileira - não sabemos o nome de dez Presidentes -, toda criança sabe o nome de Rui Barbosa. E assim é com relação a Brizola. Ele não chegou à Presidência numa destinação, assim, de Rui Barbosa. Mas Brizola acreditava no trabalho, como Rui. E, como Rui, disse que o trabalho vem antes. O trabalho e o trabalhador têm que ter a primazia, o respeito e o apoio, porque eles é que fazem a riqueza e o capital.

            E Lula trocou de entendimento das coisas. Mudou para o lado dos poderosos, dos ricos, dos banqueiros. Só quem está se dando bem é banqueiro nesta pátria do ganho fácil.

De Brizola, sem dúvida nenhuma, todos nós nos lembramos. Eu me lembro da emoção, quando renunciou Jânio da Silva Quadros. Sete meses de governo, Paulo Paim, e lá no meu Piauí nós ouvimos a voz dele.

O Senador José Jorge lá no Pernambuco ouviu a Cadeia da Legalidade. Brizola colocou na Assembléia a Rádio Guaíba e liderou este País para que se obedecesse à Constituição e tomasse posse o Presidente legítimo, o vice-Presidente, também gaúcho, João Belchior Goulart, que se encontrava na China. Os militares não queriam. E hoje, contrariando o entendimento dos militares, ficou para a História. João Goulart, a imagem de Francisco, o Santo, que carregava a bandeira paz e bem, promoveu a paz neste País. Tomaram-lhe o Poder e ele entregou, para que não houvesse mortes. E a Cadeia.da Legalidade!

Mas quero dizer aqui alguns trechos de quando os militares não queriam respeitar a Constituição. E ele falava, lá do Rio Grande do Sul para todo o Brasil, as palavras gravadas, que faço minhas, e que são trazidas à história do Brasil pela Jornalista Dione Kuhn em seu livro, a cujo lançamento meu amigo Paulo Paim me levou.

Então, eu concedo a palavra ao representante do Rio Grande do Sul, para esta homenagem também a Brizola, Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, cumprimento V. Exª pela homenagem que faz da tribuna, quando lembramos um ano da morte do ex-Governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Engenheiro Leonel de Moura Brizola.

Senador Mão Santa, Brizola ficará para sempre na nossa mente pela forma como ele pensava este País. Brizola era um lutador, era um guerreiro, era um homem que pensava no social em primeiro lugar. Eu que falo tanto em movimento negro, Brizola foi, pelo PDT, o primeiro a organizar os negros dentro de uma agremiação política partidária. Eu sei que o meu tempo é pouco. Quero só dizer a V. Exª que jamais vou esquecer quando Brizola teve que sair do País. As suas fotos foram queimadas, os livros, proibidos de circular, e quem lia os trabalhos de Brizola poderia ser preso. Tenho comigo a imagem de Brizola, de forma permanente. Ele continua sendo uma grande referência, não só para o povo gaúcho, mas também para o povo brasileiro.

Concluo dizendo que Quilombo Silva, onde V. Exª esteve comigo lá em Porto Alegre, para evitar que eles fossem à força retirados da terra que eles têm de direito, passou também pela mão de Leonel de Moura Brizola, que naquela época já tinha sido avisado, já tinha apontado que era legítimo que os quilombolas ficassem com aquela propriedade. Brizola conversou, tenho certeza, a partir da reunião que tivemos com V. Exª na Assembléia Legislativa, unindo todos os Poderes.

O Presidente Lula, calculo eu, ainda esta semana, deve de uma vez por todas assegurar a titularidade para a terra da família Silva, legítimos representantes dos quilombolas. Parabéns a V. Exª. Quero dizer que estou muito orgulhoso de ter caminhado com Leonel Brizola ainda nas Diretas Já, mas de ter caminhado também com V. Exª, Senador Mão Santa, lá no Quilombo Silva e naquela audiência pública memorável de que participei com V. Exª e esposa, em Porto Alegre, e que o Rio grande do Sul também jamais há de esquecer. Parabéns, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo as palavras do Senador Paulo Paim e reivindico ao Senador Papaléo Paes, cardiologista - o sentimento da generosidade está no coração, S. Exª bem sabe disso -, que me permita conceder apartes, já que há precedente, quando o Plenário permite. Estou vendo vários Senadores querendo participar da singela homenagem desta Casa à grandeza maior política da história contemporânea que foi Brizola. Como exemplo, a Câmara Federal fez uma sessão solene para homenageá-lo.

Então, concedo a palavra ao Líder do PDT, Osmar Dias, já confiando na sua generosidade, n’O Espírito das Leis de Montesquieu, no respeito a Brizola, ao Rio Grande do Sul, a nossa democracia, à Heloísa Helena e a Sibá Machado.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, o Plenário não poderá, neste momento, alterar o Regimento. Temos de seguir o Regimento da Casa. Cada Senador já recebeu uma comunicação de reiteração, feita pelo Presidente da Casa, exatamente porque muitos Senadores estão se queixando à Presidência por não terem o espaço suficiente, devido ao fato de alguns nobres Senadores ocuparem esse espaço além do que deveriam, de acordo com o Regimento. Vamos conceder, na medida do possível, a palavra àqueles que estão pedindo um aparte, mas saiba V. Exª que também não podemos impedir que os próximos oradores façam uso da palavra.

A Senadora Heloísa Helena fará uso da palavra, de acordo com o seu consentimento.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Papaléo Paes, quero adverti-lo de que talvez essas palavras sobre o brizolismo o estejam atraindo, porque V. Exª quer mudar de Partido, como eu. Está apertado, porque houve um equívoco. Segundo a Senadora Heloísa Helena, que sabe todo o Regimento Interno e sua modificação, são dez mais cinco. Mas saíram dez mais dois. Eu compreendo.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - São dez mais cinco quando estamos em sessão não-deliberativa. Hoje, a sessão é deliberativa.

Senador Mão Santa, vamos aproveitar o seu tempo.

O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Sr. Presidente, colaborarei com a Mesa. Apenas agradeço ao Senador Mão Santa pela homenagem ao nosso Líder Leonel Brizola. Como Líder do PDT, peço a minha inscrição para falar logo a seguir e deixar tempo, então, para os outros aparteantes, cumprimentando o Senador Mão Santa e agradecendo essa homenagem.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Ouço, com prazer, a Senadora Heloísa Helena, fundadora do P-SOL e candidata a Presidente da República.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador Mão Santa, quero também solidarizar-me com o pronunciamento de V. Exª. Sei que atinge não apenas o povo do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, mas todos os trabalhistas históricos do Brasil, além dos Parlamentares do PDT desta Casa - o Senador Osmar Dias já disse que vai pronunciar-se sobre este assunto. Mas eu não poderia deixar, Senador Papaléo Paes, de fazer este aparte, até porque Brizola foi especial num período muito difícil da minha vida. Quando eu estava passando pelo tribunal de inquisição do PT, naquele processo de expulsão - e hoje agradeço todos os dias por lá não mais estar para ter que justificar tanta podridão -, eu estava em primeiro lugar na intenção de voto da Prefeitura de Maceió. E o Brizola me procurou e, com muita humildade, me ofereceu o PDT como abrigo. Disse-me claramente que eu não precisava me comprometer com as concepções do programa do PDT, mas que ele se sentia na obrigação de me entregar o PDT como um abrigo, para que eu pudesse disputar a eleição. E lembro a última vez que eu o vi, junto com o Lupi, que hoje é o Presidente do PDT, Senador Sibá. Lógico que eu não imaginava que ele pudesse morrer tão rápido, porque, apesar da idade, ele era uma pessoa muito brilhante, inteligente, cheio de saúde. Uns dois meses antes da sua morte, eu o encontrei no seu apartamento no Rio. Milton Temer, eu, ele e Lupi fomos tomar café juntos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Ele abriu a janela do apartamento que dava para aquele marzão lindo de Copacabana e disse “Olha, este apartamento não vale nada. O que vale é esse mar tão lindo”. Ele, que era um homem mais do campo, mais rural, dizia uma coisa assim, no auge da sua humildade. Eu, às vezes, ficava polemizando por ele estar fazendo algumas reuniões com o PFL; eu brigava com ele por isso. E, humildemente, tratando de como a conjuntura estava se dando, ele dizia que se sentia no final da vida, como se o sol estivesse se pondo. Por isso, ele achava que seria muito importante eu estar junto do PDT, com eles. Lógico que fizemos uma outra opção de construir um abrigo para a esquerda socialista democrática. Mas a lembrança que tenho de Brizola é de brilhantismo, de inteligência, de capacidade de luta e, ao mesmo tempo, de humildade, um lado dele que eu não conhecia. Então, saúdo o pronunciamento de V. Exª e saúdo também todos os trabalhistas históricos que, além dos Parlamentares, fazem o PDT, ou seja, todos que foram parte, companhia, presença fundamental na vida dessa grande Liderança política. Parabéns a V. Exª!

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo as palavras da Senadora Heloísa Helena ao meu discurso.

Atentai bem, Heloísa Helena! Vamos entender as coisas: mulher, eu só tenho uma, mas Partido, temos que ter mais de um, nesse pluripartidarismo. Fui Prefeitinho da minha cidade e governei o Estado do Piauí. Agora eu quero lhe dizer, Senador Osmar Dias, que durante toda a minha trajetória política eu estive ao lado do PDT. Vamos dizer: sou do PMDB, sou casado com o PMDB, mas a amante mais atraente, mais forte, tem sido o PDT, ao longo da minha vida.

E Deus me permitiu receber Leonel Brizola, candidato a Presidente da República, na Cidade de Parnaíba, ao lado de Elias Ximenes de Prado Júnior, um Che Guevara nosso que morreu. E, quando governei o Estado, eu entreguei a Cohab para ele, Prado Júnior - o nosso Che Guevara -, que nos deixou. Ele fez 40 mil moradias populares no Estado do Piauí - o PDT nos ajudando a governar mais do que o Governo do núcleo duro. Essa é a realidade!

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, mais um minuto para V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E outro para o Sibá. Está certo?

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) - Um minuto, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Para o Sibá ou para mim?

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PMDB - AP) -

Para V. Exª, uma vez que não é mais permitido aparte.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Papaléo Paes, permita-me então, Excelência.

            Quando a ditadura viria impedir João Goulart, então soaram aquelas palavras para alertar o Brasil no discurso que ele fez na Rádio Guaíba, na cadeia da legalidade - o José Jorge ouviu, em Pernambuco. Lerei apenas algumas frases, para inspirar V. Exª a liderar o povo do Amapá, a vencer as eleições futuras, a governar como Brizola governou.

Ele dizia - o discurso é longo, mas citarei apenas algumas frases:

Não pretendemos nos submeter. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos chacinem, neste palácio. Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade de seu povo.

(...)

Penso com independência. Não penso ao lado dos russos ou dos americanos. Penso pelo Brasil e pela República. Queremos um Brasil forte e independente. Não um Brasil escravo dos militaristas e dos trustes e monopólios norte-americanos. Nada temos com os russos. Mas nada temos também com os americanos, que espoliam e mantêm nossa pátria na pobreza, no analfabetismo e na miséria.

E mais:

Vejam se não é loucura. Esse homem está doente. [Falava contra o homem do Exército.]

Queremos ordem civilizada, ordem jurídica, a ordem do respeito humano.

(...)

Não aceitarei qualquer imposição.

(...)

Venham, e se eles quiserem cometer essa chacina, retirem-se, mas eu não me retirarei e aqui ficarei até o fim. Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Eu, a minha esposa e muitos amigos civis e militares do Rio Grande do Sul. Não importa. Ficará o nosso protesto, lavando a honra desta nação. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor do que vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Podem atirar. Que decolem os jatos. Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Que essas palavras de Brizola fiquem na mente de todos os brasileiros.

E a última frase de Brizola: “Lula foi eleito para mudar o Brasil e não para mudar de lado”.

Esta é uma homenagem do Piauí ao maior Líder contemporâneo de nossa História.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2005 - Página 20436