Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Atesta que o PFL não defende a queda de Lula. Classifica de gravíssima a situação do País. (como Líder)

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Atesta que o PFL não defende a queda de Lula. Classifica de gravíssima a situação do País. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Azeredo, Eduardo Suplicy, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2005 - Página 20738
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DESPREPARO, ADMINISTRAÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, AUSENCIA, BUSCA, APOIO, MEMBROS, BANCADA, SUPERIORIDADE, QUALIFICAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, QUALIFICAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SENADO, POSSIBILIDADE, INDICAÇÃO, POSSE, MINISTERIOS, CRITICA, SUPERIORIDADE, NUMERO, MINISTRO DE ESTADO, PREJUIZO, GOVERNO FEDERAL.
  • ESCLARECIMENTOS, INEXISTENCIA, APOIO, BANCADA, OPOSIÇÃO, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, MODELO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHAES (PFL - BA. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os fatos são mais fortes do que as versões. Fez-se a CPI, conforme salientou o Senador José Jorge, contrariando a vontade de muitos do Governo, ou melhor, de todo o Governo e de alguns Senadores do PT. Alguns eram favoráveis e a eles, neste instante, cabe a palavra não de agradecimento, mas de louvor à sensatez em virtude dos fatos que estão sendo comprovados.

Não há mais dúvida nenhuma. Nenhum homem ou mulher deste País tem dúvida da corrupção existente, sob o comando do Governo e do Partido dos Trabalhadores, nos órgãos públicos.

Logo no início da legislatura chamei a atenção do Governo. Era fato raro um Presidente chegar com tão grande votação ao Palácio do Planalto e essa oportunidade não poderia ser perdida. Era preciso escolher os melhores, pertencessem a que partido pertencessem, os melhores homens desta República para governar com ele, que não é preparado para o Governo.

Não é nada de mais que ele não tenha preparo; mas se ele não tem preparo, ele é obrigado a cercar-se de quem é preparado, para que não haja o desastre que está havendo neste País, sobretudo, e acima de tudo, o moral.

O Presidente Lula adora ir ao exterior. Com que cara vai chegar o Presidente no exterior doravante quando todos virem que ele é o Presidente do País mais corrupto do mundo, que ele é o responsável por essa corrupção, porque escolheu corruptos para governar com ele; que ele é responsável porque não soube fazer valer-se da força do voto que o povo lhe conferiu? É muito triste. Vai chegar escabreado. Os jornais aqui poderão noticiar outra coisa, mas ele vai chegar triste. Aliás, triste, ele já anda. Nós não somos da sua intimidade, mas sabemos por alguns dos seus íntimos que a sua situação é quase de depressão, porque aquela alegria também pode ser depressão. No sentido médico da palavra, a depressão pode ser alta ou baixa. Nós poderemos ver pessoas altamente felizes mas que são depressivas e outras que estão muito tristes e são também depressivas. Então, quando ele acha que ninguém é igual a ele, que chegou ao poder, que ninguém é igual a ele, tão ético, tão moral, isso não é fruto da normalidade de consciência; é uma normalidade patológica. O Dr. Botelho, nosso colega, conhece bem isso, grande médico que é, já viu esses estados de espírito. Nós também já vimos, em grandes políticos nacionais, isso também acontecer.

Quero dizer aos Senhores que o depoimento ontem do Sr. Maurício Marinho demonstrou clara e insofismavelmente que o loteamento que se fez entre os seus Partidos aliados, onde o mérito para a escolha era ser o pior - quanto pior, melhor. Então, escolheram sempre os piores, e os piores estão aí fazendo um governo desastroso. Não diria que são todos, porque seria injusto. Há em todos os Partidos pessoas competentes, inclusive no PT há uma plêiade de homens capazes, que foram totalmente esquecidos. E esse esquecimento os levou a uma posição de distância do Partido, que tem hoje um mar de candidatos à disputa da Presidência para, evidentemente, enganar o povo brasileiro.

O Presidente Lula, acredito, tinha propósitos sinceros. Acredito, mas, chegou no governo e não quis utilizá-los. Vejo membros desta Casa que não querem nem que participem do debate, mas, vejo o Senador Eduardo Suplicy, que tem coragem de enfrentar em vários momentos, em outros não, situações difíceis no seu Partido, é popular, é competente, mas não lhe dão oportunidade.

Paulo Paim, esse aqui chegou pelo seu trabalho, pela sua luta. O defensor primeiro - eu me coloco como o segundo - do salário mínimo decente para o trabalhador do País. Ninguém se lembra de chamar para um Ministério Paulo Paim. Tião Viana é outro, sem falar no próprio Aloizio Mercadante, que poderia estar em qualquer Ministério. De modo que a escolha é sempre do pior, porque o pior é mais fácil. O pior se adapta às regras que o PT, infelizmente, traçou quando chegou ao Governo, que são regras totalmente opostas ao PT na Oposição. Tudo o que ele pensava que os outros governos faziam de errado - e não faziam - eles estão fazendo agora como se fosse certo.

Chegou o momento de reflexão. O Presidente Lula fez uma modificação no Governo como se quisesse, com essa modificação, demonstrar ao País que a coisa tinha mudado. Mas não é isso o que o País espera. O País espera que ele tire do Ministério principalmente os que têm o amargo da derrota pelo voto. Um Ministério de 36 pessoas, onde há casos - e não são poucos - que, em um ano, o Presidente só tratou uma vez com o Ministro. Quem governou, mesmo em Estados menores - e aqui há vários Governadores -, sabe que quem sempre cumprir essa rotina do debate diário com os seus auxiliares e com tudo o que acontece evidentemente não governa, é governado. É governado por aquele que leva os papéis para ele assinar e que muitas vezes ele não lê e assina. Isso já aconteceu várias vezes neste País, e nós fomos aqui vítimas disso.

Chegou o momento de o Presidente ainda acertar. Ninguém deseja a sua queda por golpe. Nós queremos que ele vá até o fim, Sr. Presidente, e que seja golpeado nas urnas. E isso eles vão procurar evitar. Como? Desqualificando a CPI. É por aí que passa. Os membros da CPI devem ficar acanhados quando intervêm, porque o povo brasileiro está assistindo a todo esse debate e está vendo aqueles que estão cumprindo seus deveres com o País e aqueles que estão realmente defendendo, não talvez em causa própria, mas defendendo terceiros, causas tremendas como até o mensalão.

Sr. Presidente, a situação do País é gravíssima. Cada um de nós tem responsabilidade.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) -V. Exª dispõe de mais dois minutos.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Atenderei a V. Exª.

Nós não queremos que o País seja destruído pelos maus brasileiros que estão no Governo. Não queremos expulsá-los, por meio de impeachment, do Governo, mas nós queremos que eles, por vontade própria, por consciência e por dever com o Brasil, melhorem a sua atuação.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com prazer, Excelência.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Acho importante que V. Exª esteja ressaltando, como um dos principais Líderes do PFL, que não há propósito algum do PFL, da Oposição de realizar um verdadeiro golpe ou uma campanha para que o Presidente termine o seu mandato antes do que foi definido constitucionalmente. Mas tenha V. Exª a certeza - eu tenho a confiança - de que o Presidente Lula poderá sair dessa situação tão difícil com a maior retidão, decisão e, sobretudo, transmitindo a todos, no Congresso Nacional, que a relação entre o Executivo e Congresso Nacional precisa ser feita em diferentes bases, e não naquela que por tanto tempo prevaleceu, não apenas no Governo Lula, mas durante décadas. E é preciso que a relação entre o Governo e Deputados e Senadores seja feita de tal maneira que cada Parlamentar aqui vote não porque foi designada tal ou qual pessoa, aqui ou acolá, ou porque foi liberada a verba, mas porque considera que um projeto, ou uma emenda à Constituição, ou um nome em votação esteja sendo designado ou proposto pelo Governo porque realmente objetiva o interesse público e o da Nação brasileira, e não o interesse particular do Senador ou Deputado. Isso precisa ser transformado. Avalio inclusive que V. Exª, com sua experiência, poderá colaborar nessa direção. Isso interessa a todos os partidos, ao Congresso Nacional e à Nação brasileira.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Veja que V. Exª disse que há muitas décadas, mas duas décadas e meia já pertencem ao seu partido, que tanto condenava, que tanto reclamava desse tipo de Governo e hoje é quem mais atua dessa forma que condenava, colocando a moral do País tão baixa, como nunca esteve, em relação à sua atuação nos Ministérios. De maneira que sei o quanto V. Exª sofre, porque é um homem decente. Eu sei o quanto os outros colegas de V. Exª sofrem, porque são decentes.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Eu vou terminar, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - É a campainha.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Mas é indispensável que o Governo se transforme e se modifique com urgência. Quanto à demora, uns dizem que estão esperando o Senador José Sarney chegar; outros dizem que o Senador Renan Calheiros ainda não escolheu; outros dizem que o Vice-Presidente da República precisa mudar, precisa atuar mais forte, porque está ajudando esse fogo amigo que está havendo no Governo da República. É preciso acabar com tudo isso. Que ele pense na votação que o povo lhe deu e na decepção que está trazendo a todo esse povo, inclusive a V. Exª. V. Exª não diz, não deve dizer, mas sabemos que V. Exª é um decepcionado com a atitude do Presidente Lula.

Concedo um aparte ao Senador Eduardo Azeredo.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Eu gostaria de informar apenas que, em função do comunicado da Mesa... Mas vamos conceder mais um minuto para o Senador Eduardo Azeredo.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Antonio Carlos Magalhães, assim como V. Exª coloca a sua posição pela sua experiência, pelo seu Partido, o PFL, o PSDB tem a mesma posição, conjunta com o PFL, na questão de nós refutarmos, de maneira muito firme, essa insinuação de que o PSDB e o PFL, as Oposições, o PDT, estivéssemos atrás de uma articulação golpista. Não é, de maneira alguma, essa a forma nossa de trabalhar. A nossa forma é de buscar, nas eleições democráticas, uma mudança para o País. Nós não aceitamos essas insinuações e lamentamos que a postura conciliatória, que a postura madura da Oposição seja confundida com outras maneiras de trabalhar. Não é assim que nós estamos trabalhando. V. Exª tem toda a razão, e o PSDB está solidário nessa busca de caminhos democráticos para solucionar a crise entre o Governo e seus aliados.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª fala com a autoridade de Presidente de um grande Partido, que está agindo assim e que deseja, como o PFL, que isso ocorra.

Quem está levando o País para o sistema Chávez é o próprio Presidente da República. Nós não queremos também “chavenizar” o Brasil. Nós queremos um Brasil democrático, um Brasil que vá às urnas de quatro em quatro anos e que escolha os seus governantes. Nós não queremos tirar o Lula em nenhuma hipótese. Agora, os amigos do Lula estão forçando a sua saída com os crimes que praticam contra a Nação.

Muito obrigado, Excelência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2005 - Página 20738