Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento do Senador Aloizio Mercadante.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Resposta ao pronunciamento do Senador Aloizio Mercadante.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2005 - Página 20806
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, DISCURSO, ORADOR, CONFIRMAÇÃO, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPENHO, VIABILIDADE, GOVERNO, HIPOTESE, OBSTACULO, OPOSIÇÃO.
  • COMENTARIO, COMPROMISSO, BANCADA, OPOSIÇÃO, ORADOR, DEFESA, ETICA, DEMOCRACIA, REGISTRO, SITUAÇÃO, CRISE, NATUREZA POLITICA, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, DIALOGO, CONGRESSO NACIONAL.
  • NECESSIDADE, DISCUSSÃO, OPINIÃO PUBLICA, RESULTADO, APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAIS.
  • ANUNCIO, SOLICITAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, GRAFICA, SENADO, DISCURSO, ORADOR, POSSIBILIDADE, DISCUSSÃO, OPINIÃO PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de mais nada, um esclarecimento bem básico: não sou um homem de dilemas emocionais, até porque me sinto fortemente um ser humano, mas V. Exª, Senador Aloísio Mercadante, não está incluído nesses meus dilemas - isso é bom que fique bem claro. E o esclarecimento, sem nenhum preconceito, são a estima, a relação de adversidade, que faz parte da democracia.

Sr. Presidente, eu pego aqui um outro trecho do meu discurso, que me foi gentilmente cedido pelo Senador Aloizio Mercadante, para ler para a Casa: depois de ter me referido ao episódio do Palacio de La Moneda e à frase de Enrico Berlinguer, secretário-geral do antigo PCI - Partido Comunista Italiano, hoje Partito Democratico della Sinistra- PDS, tem uma outra frase. Eu digo assim: digo isso não por minha causa, ou seja, na hipótese de ingovernabilidade do Presidente Lula, e ele tem que cuidar da sua governabilidade, basicamente isso, com respostas que dependem muito mais dele do que de mim ou das oposições.

Eu diria: eu faria oposição a ele com dignidade e com espírito construtivo. Não sou golpista. Se houvesse exílio e para lá ele fosse, na hipótese de um golpe, eu certamente iria junto, ainda que divergindo dele, mesmo lá no exílio. Não sou golpista. E aí fiz críticas à Prefeita de São Paulo Marta Suplicy e a um aumento de 21% para os ônibus, quando a inflação era de 6% no País. Obtive aqui candentes apartes do ex-Presidente da Casa, João Paulo, do prezado colega Clóvis Ilgenfritz, do Deputado Ivan Valente e de tantos outros colegas. Mas, basicamente, tentei advertir para o clima de denuncismo.

Eu vou fazer desse discurso uma separata, porque ele foi um presente de ouro que me deu o Senador Aloizio Mercadante, ao me lembrar de uma fase tão construtiva da minha vida pública. Eu adverti para o fato do denuncismo - e não dá para se dizer que são denúncias vazias as que aí estão; adverti para o fato de que era fundamental defendermos a democracia; adverti para o fato, sem querer ser premonitório, de que é dever de um Governo cuidar, sim, até do ponto de vista numérico, da sua governabilidade. Então, há um sistema que, de certa forma, é torto; agora, tem um sistema que poderia ter sido mais bem cuidado pelo atual Governo.

A forma como o atual Governo lidou com o Congresso é responsável pela crise, que espero que não chegue a ameaçar a governabilidade, que aí está. A forma desregrada, desleixada, até promíscua, é responsável pela crise que aí está.

Não vou me estender. Ouvirei o Senador Tasso Jereissati, apenas dizendo, Sr. Presidente, que falei - e me sinto muito pouco obrigado a continuar falando muito - com o coração e falei aquilo que o meu coração transmitiu para o meu cérebro. A palavra final ficou com o meu cérebro, quem fez a jurisprudência da minha posição hoje foi meu cérebro. Entendo que é possível mantermos um diálogo construtivo com os nossos adversários, mesmo nos momentos mais duros, e entendo que deve ficar de pé aquilo que solicitei ao Governo: respeito a nossa postura de Oposição democrática, respeito ao nosso direito legítimo de fazer oposição e de querer desvendar os mistérios de um quadro muito grave de corrupção, que está a ocupar os telejornais, está a ocupar as rádios, está a ocupar os noticiários da imprensa brasileira.

Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Arthur Virgílio, me parece que existe uma tentativa grosseira de tentar misturar as coisas, misturar uma série de denúncias que vieram a público com indícios veementes de uma corrupção generalizada em órgãos do Governo Federal, que vem se comprovando a cada dia que passa com golpes ou tentativas de desestabilização de cunho político. Na verdade, essa conotação política tem sido dada pelo próprio Governo ultimamente. Ontem, eu vi uma cena que realmente me chocou. Na sala de reunião de Presidente da República, cercado do Presidente do República, no Palácio da Alvorada, faixas colocadas nas mesas - não sei se V. Exª viu, Senador Antonio Carlos - do MST, CUT e uma série de outros chamados movimentos sociais...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Peço um minutinho para poder me expressar: como se estivesse preparando uma grande movimentação de caráter de mobilização dessas organizações para um confronto político a la Chávez. Agora, evidentemente, isso é uma balela. Ninguém aqui acredita, em sã consciência, que V. Exª, seu Partido, qualquer pessoa aqui da Oposição, tenha caráter golpista. Até porque não estamos discutindo golpe, não existe nada de ideologia. Nós estamos discutindo roubo - roubo! Nós estamos discutindo corrupção grossa; nós estamos discutindo delinqüência feita dentro do Governo Federal, que pode ser de direita, de esquerda, de centro, de centro-avante ou de centro-direita; nós estamos discutindo o que é corrupção, em qualquer regime e em qualquer instância. E mais importante, nenhuma dessas acusações ou denúncias foram feitas por V. Exª nem por seu Partido. O Waldomiro foi V. Exª quem denunciou? O caso dos Correios foi V. Exª quem denunciou? A questão do IRB foi V. Exª quem denunciou? A questão do Banco do Brasil foi V. Exª quem denunciou? Tudo veio cair nesta Casa e nós ficamos absolutamente perplexos diante de uma onda de corrupção organizada e sistêmica como nunca se viu neste País. Não tem nada de ideologia. Não vamos discutir ideologia neste momento; de centro, de esquerda ou política. Nós estamos discutindo moral e ética. É necessário que a discussão venha para esse tom e campo. Levar para o lado de golpe ou não-golpe político é uma tentativa que me parece grave, porque é de quem tem o que temer, de quem não consegue enfrentar a verdade e quer mudar o rumo das discussões. Roubo é roubo. Corrupção é corrupção. Corrupto é corrupto. Bandido é bandido.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ora, Excelência, o discurso antigo de V. Exª pode ter interpretação boa ou má de quem lê. Entretanto, a interpretação verdadeira é de um democrata que quer advertir para que não ocorram fatos graves que levem a isso. V. Exª profetizava, talvez, os dias de hoje. Portanto, esse discurso não desestabiliza V. Exª. Esse discurso o enobrece, porque V. Exª estava chamando a atenção do Partido em que se fizesse sobreviver cada vez mais forte a democracia no Brasil.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço a V. Exª Senador Antonio Carlos Magalhães e concluo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, a minha intenção era basicamente àquela altura falar muito mais do futuro do que do presente até tormentoso que eu vivia. O Senador Tasso Jereissati dá o limite. É isto: é discutir apuração dos fatos de corrupção apontados pela Imprensa, pelo domínio de ampla parcela da opinião pública.

O Senador Antonio Carlos Magalhães completa, dizendo da necessidade de se valorizar neste País todo e qualquer agente que aja de boa vontade para com as coisas e as agruras deste País.

Portanto, com muito orgulho, devolvo ao Senador Aloizio Mercadante o discurso de minha lavra, de 2001, e com muito orgulho eu anuncio que vou pedir à Gráfica do Senado que imprima esta separata para que eu possa levar esse discurso à discussão pública. Não retiro uma só palavra, um só das defesas que fiz...

(Interrupção do som)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... acerca das pessoas do Governo passado. Não retiro uma só linha da previsão que, infelizmente, têm uma certa realização neste ex-futuro, neste presente que estamos vivendo. Nada. Eu digo mais, procuro ver nesse discurso algo que é bom para os meus filhos, ou seja, a mesma pessoa que defendia um projeto político e um Governo, essa pessoa hoje faz Oposição com a mesma responsabilidade intelectual, com o mesmo respeito pelo País, com os mesmos limites que pedia no passado, sem ser atendido, oferecendo esses limites no presente que está sendo vivido por nós.

Só tenho a dizer que esta é uma forma de se manter a coerência nessa travessia democrática de exercício do Governo para o exercício da Oposição. As duas fases não devem significar duas pessoas diferentes em qualquer um de nós. Fico feliz de perceber, de constatar...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... que consegui me manter a mesma pessoa.

Muito obrigado.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2005 - Página 20806