Discurso durante a 90ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Agradecimento às manifestações de pesar pelo falecimento da mãe de S.Exa. Atual situação política brasileira.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Agradecimento às manifestações de pesar pelo falecimento da mãe de S.Exa. Atual situação política brasileira.
Aparteantes
José Jorge, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2005 - Página 20894
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, HOMENAGEM POSTUMA, MÃE, ORADOR.
  • PARTICIPAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), IMPORTANCIA, IDENTIFICAÇÃO, BENEFICIARIO, CHANTAGEM, CORRUPÇÃO, VIDEO, PROPINA, MESADA, CONGRESSISTA.
  • ELOGIO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TELEVISÃO, ESCLARECIMENTOS, PROVIDENCIA, COMBATE, CORRUPÇÃO.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs Senadores, em primeiro lugar, eu queria, de público, desta tribuna, agradecer todas as manifestações carinhosas que recebi, ao longo desta semana, pelo falecimento da minha mãe. E as referências feitas desta tribuna pelas pessoas que tiveram a oportunidade de conviver em alguns momentos com ela, que me trouxe a este mundo.

Eu queria deixar aqui para a minha mãe e para todas as mães uma poesia muito linda de Bertold Brecht, que chegou às minhas mãos no dia de ontem.

A minha mãe

Quando ela acabou, foi colocada na terra

Flores nascem, borboletas esvoejam por cima...

Ela, leve, não fez pressão sobre a terra

Quanta dor foi preciso para que ficasse tão leve!

            A minha mãe está muito leve atualmente, mas ela foi uma pessoa muito firme, precisa e que me delegou, talvez como o seu principal ensinamento, a responsabilidade com as tarefas que assumimos. É por isso que enterrei a minha mãe ao meio-dia da quarta-feira e, às 20h, eu estava no Congresso Nacional, cumprindo com as minhas responsabilidades neste momento tão difícil e delicado por que o País atravessa, onde todos temos responsabilidade. Todos! O País que nós construímos e queremos precisa da participação de todos.

E se não fosse o ensinamento de minha mãe talvez a cena a que assisti ao chegar à casa de meu irmão na quarta-feira depois do enterro tenha contribuído, e muito, para minha decisão de voltar imediatamente ao Congresso Nacional. Refiro-me à cena na Câmara dos Deputados, com o Deputado Bolsonaro exibindo um saco de lixo e fazendo a prática política daquilo que nos custou tanto a superar, Senador Paulo Paim, que é a prática política das trevas, a prática política da ditadura, a prática política da perseguição, a prática política dos piores momentos que este País já vivenciou.

Então, mesmo com toda a dor do enterro de minha mãe, a cena de Bolsonaro fazendo a provocação que fez na Câmara dos Deputados, patrocinando todo o furor e o episódio lamentável que aconteceu, me trouxe imediatamente de volta a Brasília.

Ao longo do dia de ontem, participei, dentro de minhas condições emocionais, contribuindo, de acordo com as minhas condições, com os trabalhos da CPI dos Correios.

Ontem tivemos um trabalho, entendo, bastante profícuo, porque ficou bastante clara uma série de situações, de procedimentos, que, infelizmente, só demonstram o quanto a corrupção está encruada, incrustada na máquina pública, o quanto interesses econômicos contrariados podem se movimentar e podem produzir situações como a que estamos vivenciamos. Quanto à tal da gravação da fita que acabou indo para a Veja, ontem ficou muito claro que a gravação tinha um caráter de chantagem e de pressão para os beneficiados pela corrupção, dentro da máquina pública, que são os interesses econômicos, os corruptores, os que pagam efetivamente para que a máquina pública esteja canalizada para os seus interesses e os seus benefícios. Isso ficou muito claro ontem na CPI.

E aí eu me lembrei de alguns pronunciamentos. Pena que não está presente, Senador Paulo Paim, o Senador Pedro Simon, que depois da CPI do Collor, da CPI dos Anões do Orçamento, queria fazer a CPI dos corruptores, dos interesses econômicos, que levam vantagem pela máquina pública ser tão corrupta no Brasil.

E eu gostaria, antes de concluir, de conceder o aparte ao Senador Paulo Paim, com muito prazer.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Ideli Salvatti, em primeiro lugar, quero deixar aqui a minha total solidariedade a V. Exª e à família pela morte da sua mãe. Tive uma oportunidade de encontrar-me com ela em um jantar da Bancada dos Senadores. Com todo o carinho, toda a forma generosa, ela preparou aquela janta para a Bancada. Neste momento, eu não poderia, pela primeira vez que encontro V. Exª depois do falecimento, de deixar registrada a minha solidariedade.

Em segundo lugar, eu gostaria também de aproveitar, já que V. Exª é Vice-Líder do Governo, para dizer que viu ontem o discurso do Presidente Lula, e vi um Presidente dialogando com o País, no meu entendimento, em uma linha tranqüila, sem deixar de apontar que o Governo será duro no combate à corrupção. Sua Excelência é muito claro quando diz: “... inclusive dos aliados e dos não aliados que estiverem envolvidos com corrupção”. Muitos esperavam um pronunciamento bombástico do Presidente, mas Sua Excelência fez aquilo que tinha que fazer, tranqüilamente e, como ele disse, buscando dialogar inclusive com a Oposição, pensando no bem do País. Então vi com tranqüilidade e não esperava outra coisa neste momento em que estamos, de fato, numa crise e há um longo debate em todo o País. O Presidente, em seu pronunciamento, em primeiro lugar, deixou claro o interesse do País; em segundo lugar, valorizou o Congresso Nacional, disse que a CPI ou as CPIs cumprirão o seu papel, ao mesmo tempo em que valoriza o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal, mostrando-se na linha da busca de um amplo diálogo com todos os setores, no Congresso e na sociedade, na busca permanente do combate à corrupção. Então cumprimento V. Exª. Iniciei falando do falecimento da sua mãe, mas gostaria de dizer que, no Rio Grande do Sul, nessa noite, faleceu um grande amigo meu chamado Bira Valdez e, no meu tempo, falarei disso.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço ao Senador Paulo Paim.

Peço um pouquinho de tolerância do Presidente porque quero terminar exatamente com o pronunciamento do Presidente Lula. Havia uma grande expectativa da Nação pelo discurso de Sua Excelência, que, como sempre, respondeu à altura. Tenho a mesma sensação de V. Exª, Senador Paulo Paim, porque ele foi de uma tranqüilidade necessária para este momento. A tranqüilidade que todos nós precisamos ter, de um país que voltou a crescer, voltou a gerar empregos e está em condições de dar continuidade à política de inclusão social, de justiça social, a partir dessa retomada do crescimento. No combate à corrupção, o Presidente refere-se também de forma muito tranqüila às ações. Apesar de os adversários e a Oposição quererem desqualificá-las, da forma como fez o Senador que me antecedeu, como se estivéssemos fazendo algo de tão novo, realmente as medidas são algo de novo. São inúmeras as medidas inovadoras no combate à corrupção adotadas pelo Governo Lula. Então, quando o Presidente diz que nunca se viram tantas ações da Polícia Federal é porque nunca se viram mesmo tantas ações da Polícia Federal. Nunca tivemos um volume tão significativo de prisões de agentes públicos, de pessoas de alto escalão, de quadrilhas que são desmontadas.

Portanto, essa tranqüilidade que o Presidente expressou em seu pronunciamento é a mesma que nós, do PT, temos que ter neste momento, Senador Paulo Paim, porque o nosso Partido já foi acusado de muita coisa que depois se desmontou. Vou lembrar apenas de três, porque essas nos causaram muito sofrimento. Numa época, fomos acusados de estarmos envolvidos em roubo de Banco na Bahia, logo no começo do PT. Depois, nada era verdade. Posteriormente, fomos acusados de envolvimento no assassinato de trabalhadores rurais em Leme. Lembram-se desse episódio? Pena que o Senador Eduardo Suplicy não esteja neste plenário, porque S. Exª foi, inclusive, um dos acusados de envolvimento nas tais das mortes dos trabalhadores rurais em Leme. Depois, fomos acusados de estar envolvidos no seqüestro do empresário Abílio Diniz. Chegaram a vestir camisetas do PT nos seqüestradores!

Portanto, já criamos uma casca grossa em razão das situações que geraram essas acusações, mas com o passar... O nosso Ministro das Cidades, Olívio Dutra, quando Governador, foi indiciado na CPI da Segurança Pública por não sei quantas falcatruas, mas, depois das eleições, todas as acusações foram anuladas. Já estamos acostumados a isso, e os fatos continuam ocorrendo.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Ontem, houve a entrevista do empresário de comunicação e publicidade. Com o andar da carruagem, as CPIs trarão a público a verdade. Quem quer que esteja envolvido com a corrupção será punido - são palavras do Presidente -, porque este Governo combate a corrupção. Essa atitude está demonstrada, de forma muito tranqüila e serena, pelas ações que vêm sendo desenvolvidas nesses dois anos e meio.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª a compreensão por me conceder alguns instantes a mais e volto a agradecer de público não só aos Senadores e às Senadoras, como também a todos os funcionários da Casa e às pessoas que me enviaram condolências.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Concede-me V. Exª um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Nobre Senadora Ideli Salvatti, faço este aparte para me solidarizar com V. Exª neste momento. Sempre estamos de lados opostos, mas, evidentemente, quando uma pessoa passa por uma dor...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - ... como a que V. Exª está sentindo, ficamos do mesmo lado. Estamos ao lado de V. Exª, solidários neste momento. Muito obrigado.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço ao Senador José Jorge e a todos que foram solidários comigo e com minha família.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2005 - Página 20894