Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reunião com militantes e dirigentes do P'SOL, ocorrido ontem na cidade do Rio de Janeiro, para debater a conjuntura política nacional.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. DIVIDA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reunião com militantes e dirigentes do P'SOL, ocorrido ontem na cidade do Rio de Janeiro, para debater a conjuntura política nacional.
Aparteantes
Leonel Pavan, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21025
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. DIVIDA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), OBJETIVO, DESIGNAÇÃO, COMISSÃO, AMBITO REGIONAL, LANÇAMENTO, MANIFESTO, REJEIÇÃO, CORRUPÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO FEDERAL.
  • NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, PLEBISCITO, PAGAMENTO, DIVIDA EXTERNA, BRASIL.
  • IMPORTANCIA, APURAÇÃO, DIVERSIDADE, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, PARTICIPAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), NECESSIDADE, RETORNO, APLICAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PAIS.
  • COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, ATUAÇÃO, DIREÇÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, inicio meu pronunciamento lançando um grito de guerra, Senador Paulo Paim: tremei, reacionários, ratos, ratazanas e gulosos deste País, o P-SOL vem aí! Melhor dizendo, o P-SOL está aí, Senador Paulo Paim.

Ontem tive o prazer, a satisfação imensa de me reunir com dezenas de militantes do P-SOL, com dirigentes do P-SOL, com os 101 fundadores do Partido na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, sempre maravilhosa, reunião que tinha o objetivo de, formalmente, fazer as designações das comissões regionais do Partido e das comissões municipais.

Tratou-se de uma reunião rica em debates acerca da conjuntura política nacional, em que tiramos outras palavras de ordem também. Aprovamos um “Fora, todos os corruptos”, por exemplo. Do mesmo modo, aprovamos um fim à política econômica de Lula. Aparentemente, dirá alguém que não tem relação uma coisa com a outra.

Afirmo, Senador Paulo Paim, que tem muita relação uma coisa com a outra. O Senador José Jorge acaba de relatar um fato grave ocorrido no Estado de Rondônia. Essa corrupção que se espalha pelo País inteiro e que se mostra na sua inteireza, na sua forma, no seu modus operandi, está vindo à tona, com clareza absoluta para a população brasileira.

Não quero minimizar a gravidade do fato, mas ressalto que mais grave ainda - Senador Ramez Tebet, sempre com a presença muito querida neste plenário - é o pagamento dessa dívida externa cruel, que pesa sobre os ombros dos brasileiros.

Ao assomar à tribuna, ocorreu-me, Senador Ramez Tebet, a idéia de apresentar um projeto nesta Casa propondo que, nas próximas eleições, a Justiça Eleitoral inclua a possibilidade de um plebiscito, para que os brasileiros decidam de que forma devemos encarar daqui para frente a questão dessa dívida contraída ao longo de décadas e décadas para enricar uma elite inescrupulosa deste País em detrimento da cada vez crescente miséria do povo brasileiro.

Pois bem, minha tese é a de que esta é a corrupção central: a apropriação de recursos públicos suados, a poupança do povo brasileiro. São bilhões e bilhões de reais que poderiam estar sendo aplicados na recuperação de nossa infra-estrutura, em programas sociais, no aprofundamento dos programas de alfabetização e na saúde, no sentido de propiciar ao povo brasileiro melhores condições de vida.

No entanto, toda essa dinheirama, Senador Ramez Tebet, que até o final do ano poderá chegar a R$350 bilhões - veja V. Exª -, está sendo, segundo meu entendimento, desviada para o pagamento de juros dessa dívida monumental, construída com o sacrifício do povo brasileiro.

Acredito que essa é a matriz da grande corrupção. Tudo o mais é derivativo, tudo o mais é pagamento de dividendos para aqueles que coonestam ou validam essa situação. Creio que todos nós temos o dever e a obrigação de nos debruçar sobre a apuração rigorosa dos fatos que, a cada momento, se avolumam, incomodam a Nação brasileira e tiram o sossego dos trabalhadores.

É um caso atrás do outro! Uma coisa impressionante! E aqui se faça justiça: o Governo Lula não inventou a corrupção, isso é verdade. Contudo, adotou um processo espúrio, que já ocorre no País há muito tempo. Essa é a grande verdade.

Eu diria que as palavras de ordem aprovadas na memorável reunião do P-SOL ontem, no Rio de Janeiro - “Fora todos os corruptos!” e “Fim à política econômica de Lula!” -, têm tudo a ver, pois devemos tratar de frente e com firmeza a questão da dívida externa brasileira. Repito, proporei a esta Casa que aprovemos a possibilidade de um plebiscito nacional acerca da dívida. O povo brasileiro tem o direito de se manifestar. Passados tantos anos, com essa carga pesada sobre os ombros, o povo brasileiro tem o direito de se manifestar acerca da origem da dívida, se devemos continuar a pagá-la, sobre a necessidade da realização de uma grande auditoria para sabermos até quando e como, em que limite é legítima ou não, Senador Ramez Tebet. Essa é uma situação que angustia o povo brasileiro, e devemos encaminhá-la dessa forma, a meu ver.

A manchete do Jornal do Brasil de hoje diz: “P-SOL se reúne de olho da herança política do PT”. E abaixo: “Militantes avaliam a crise no governo e criam slogan contra corrupção”.

Com relação à primeira manchete, Senador Paulo Paim, tenho tido o cuidado, em primeiro lugar, de não condenar ninguém. Assim como as demais Senadoras e Senadores, eu me assombro com a dimensão da crise, eu me apavoro com a extensão e com o volume dos fatos que, a toda hora, chegam ao nosso conhecimento e ao conhecimento do País. São casos e casos de corrupção. Os fatos fazem conexão uns com os outros. Agora mesmo, o publicitário Marcos Valério, que negava de pés juntos seu envolvimento nesse caso tenebroso, foi flagrado ao retirar milhões e milhões em espécie do Banco Rural, conforme publicou a revista ISTOÉ, escancarando os fatos. Onde ele meteu essa dinheirama toda, Senador Ramez Tebet?

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte, Senador Geraldo Mesquita Júnior?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Diz ele que, com o dinheiro, comprou gado. Se relacionar os nomes de alguns fazendeiros, tomarei a iniciativa de convocá-los a fim de que comprovem que esse dinheiro entrou na conta deles e que serviu para a compra de gado. O Sr. Marcos Valério terá que comprovar isso aqui. Ele que não venha com a leviandade de transmitir informações falsas e dizer que comprou isto ou aquilo, pois terá que justificar para onde foi essa dinheirama toda.

Ouço o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, V. Exª é o símbolo da firmeza. Evidentemente, tem que ter muita coragem. Convocar o plebiscito é justo e é lícito. Devemos meditar sobre isso. A história se repete. Aprendemos, em História, que houve a Inconfidência Mineira. Por quê? Em razão da derrama de impostos. Pagava-se 20% de ouro, de gado, de pau-brasil, para os portugueses. Houve até aquela novela “O Quinto dos Infernos”, porque era um quinto. Agora não, são dois quintos. Cada brasileiro paga 40%, e o Governo não retribuiu naquilo que é o mínimo essencial: a segurança e a escola que V. Exª que está me ouvindo - não é V. Exª, Senador Geraldo Mesquita Júnior, mas o povo do Brasil que paga a conta - paga e não recebe; tem que pagar por fora uma privada. A educação pública não presta; tem que pagar uma privada por fora. A saúde e as estradas estão aí nessa situação lastimável. Temos que continuar com a luta e chamar o povo que se revoltou na Inconfidência Mineira contra a derrama, o povo do quinto dos infernos, que, no Governo Lula, é dos “dois quintos dos infernos”.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Senador Mão Santa, V. Exª citou a questão das estradas. Fico danado da vida quando vou visitar, em meu pequeno Estado do Acre, companheiros da zona rural, que estão penando, sofrendo, e observo que talvez R$200 mil seriam necessários para melhorar a situação de um ramal que dá acesso ao tráfego da produção. Duzentos mil reais, Senador Mão Santa! E nós estamos falando de mais de R$300 bilhões, desviados do povo brasileiro para pagar juros a banqueiros internacionais e nacionais, sendo que esses nunca ganharam tanto dinheiro como nos últimos anos. É uma vergonha!

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Geraldo Mesquita Júnior?

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Pois, não, Senador Leonel Pavan, com muito prazer.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, nós aqui no Senado Federal temos ocupado seguidamente a tribuna para combater o Governo, principalmente quando não investe no social, quando não emprega o dinheiro público onde existe realmente um pleito muito forte por parte da sociedade, que é na área social. V. Exª é de um Estado pobre, que precisa da assistência do Governo Federal, de investimento em infra-estrutura, em saneamento, educação, saúde e geração de emprego, a fim de que as pessoas possam vislumbrar algum espaço na sociedade. V. Exª está no P-SOL, Partido da nossa querida Senadora Heloísa Helena, que possui um programa fantástico. Pelo que podemos ver e acompanhar pelos pronunciamentos, V. Exª escolheu esse Partido porque acredita que é possível fazer o melhor para a sociedade mais carente. Lamentamos profundamente que o PT, no caso, o atual Governo Federal, que tinha como bandeira justamente combater a corrupção, os banqueiros, os juros e as injustiças sociais, está terminando o mandato e não faz os investimentos devidos, aqueles em relação aos quais V. Exª alerta o Governo e chama a atenção dele. Cumprimento-o pela coragem de optar por um partido novo, o P-SOL, partido em que haveremos de acreditar, pois apresenta uma proposta concreta, viável, como a do PT no passado, mas que, infelizmente, foi jogada debaixo do tapete. Muito obrigado.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Muito obrigado, Senador.

Antes de passar a palavra ao Senador Paulo Paim, gostaria de me referir à manchete do Jornal do Brasil, “P-SOL se reúne de olho na herança política do PT”, aproveitando que V. Exª citou o Partido nominalmente, para dizer que tenho muito cuidado para não condenar...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - ...a não ser diante de provas cabais, de evidências incontestes. Creio que estamos nos encaminhando para o momento de colhermos neste País, para assombro de todos, a prova legítima, concreta, o peso das evidências de que a corrupção tomou conta das entranhas deste Governo. Todavia, Senador, tenho muito cuidado de não generalizar.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Tenho outra tese também: a de que a cúpula do PT se apropriou desse Partido histórico, tomando decisões que, tenho certeza absoluta, o conjunto da militância do PT jamais avalizaria, como, por exemplo, a expulsão da Senadora Heloísa Helena. Estou certo de que, se esse assunto tivesse sido levado para as instâncias do partido, para a militância como um todo...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Mais um minuto, para concluir, Sr. Presidente.

Tenho certeza absoluta de que o PT como um todo não teria aprovado. Assim como, se tivessem sido apresentadas para a militância do PT a reforma da Previdência, a aprovação das PPPs, a blindagem de Meirelles, tenho certeza absoluta de que o conjunto da militância do PT não aprovaria.

Portanto, faço esta ressalva: quando me refiro, nesta tribuna, ao PT, estou me referindo à cúpula que se apropriou desse Partido indevidamente e tem tomado decisões espúrias muitas das vezes, em nome do Partido que, tenho certeza, não as avaliza.

Para demonstrar esse fato, existe uma pessoa com uma expressão enorme no nosso Estado. Chama-se Antônio Alves, Toinho Alves, como o chamamos carinhosamente no Acre. Fundador, formulador, militante do PT, pessoa que tem respeitabilidade no nosso Estado, ele escreveu no dia 17 de junho, em seu blog...

(Interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Vou ler rapidamente, Sr. Presidente. Um minuto.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço que V. Exª conclua. Mais um minuto.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Vou concluir, Senador.

Toinho Alves, essa pessoa que eu descrevi, escreveu, justificando a tese que eu aqui declino, Senador Paulo Paim:

Fui dormir três e meia da madrugada, caindo de sono e cansaço. Às quatro e meia, acordei, sentindo uma súbita e dolorosa compreensão do significado íntimo de tudo isso. Vi o absurdo de toda essa situação e tive a sensação de que me haviam roubado o passado. As antigas utopias e até as mais tolas ilusões, assim como os erros que cometi na tentativa de realizá-las, eram, para mim, jóias íntimas e preciosas, patrimônio de minha evolução, compartilhadas com a geração inquieta e criativa. A sensação dolorosa que tive foi a de que tudo isso tinha sido arrancado de dentro de mim e jogado no meio da rua, exposto à galhofa pública.

Esse é o sentimento que colho, quando ando pelas ruas, Senador Paulo Paim, de grande parte de militantes do PT, Partido que tem Paim...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - A Mesa concede um minuto improrrogável para V. Exª concluir o seu pronunciamento.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) -... que tem Walter Pinheiro, Eduardo Suplicy, Flávio Arns, Maninha, João Alfredo e tantos outros Parlamentares da maior envergadura neste País. O Partido dos Trabalhadores conta com uma militância cujo sangue vermelho ainda corre nas veias, cujo coração ainda pulsa e que quer fazer do Brasil outro país, com distribuição de renda.

V. Exª fez um brilhante discurso há pouco, trazendo dados do crescimento econômico do País, Senador Paulo Paim, mas também demonstrou que o crescimento econômico no Brasil, muitas das vezes, significa que a elite ganhou um pouco mais ou um pouco menos, mas que a população, que os trabalhadores brasileiros continuam, apesar desse crescimento econômico, numa absoluta e cada vez mais profunda miséria, cada vez mais merecendo a responsabilidade de todos, da Senadora Heloísa, dos militantes do P-SOL,...

(Interrupção do som.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - ...dos militantes de todos Partidos, que têm o compromisso com o Brasil, de eliminar esse grande mal, essa grande chaga que grassa sobre todo o País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21025