Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise dos trabalhos legislativos frente às denúncias de corrupção.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Análise dos trabalhos legislativos frente às denúncias de corrupção.
Aparteantes
José Jorge, Leonel Pavan.
Publicação
Publicação no DSF de 28/06/2005 - Página 21033
Assunto
Outros > LEGISLATIVO. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • EXPECTATIVA, RESPONSABILIDADE, CONDUTA, CONGRESSO NACIONAL, COMBATE, CRISE, POLITICA NACIONAL, NORMALIZAÇÃO, TRABALHO, LEGISLATIVO, CONTINUAÇÃO, ANDAMENTO, DIVERSIDADE, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, OPOSIÇÃO, COMENTARIO, FUNÇÃO, BANCADA, APOIO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, RISCOS, DIFUSÃO, OPINIÃO PUBLICA, CONCEITO, AUSENCIA, ETICA, CONDUTA, CONGRESSISTA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ninguém ama quem não conhece.

Se perguntarmos:

     Você ama uma pessoa que você não conhece?

     Não, não sei quem é.

À medida que conhecemos, ou amamos ou nos desinteressamos, podendo detestar ou odiar. Os Parlamentares buscam ser conhecidos para obter, a partir do apoio popular, os votos necessários às suas eleições. Espera-se que aqui os Parlamentares defendam os interesses das suas comunidades e do Brasil e que se comportem dentro de parâmetros da ética, da correção etc.

A semana passada foi triste para as duas Casas. Estamos tendo alguns exageros na nossa, mas, no conjunto, foi muito ruim para todos os Parlamentares, porque alguns itens se generalizam. Falam “os Parlamentares”. Fala-se “o Congresso”. Evidentemente, sei que, quando chegar a hora da eleição no próximo ano, tudo será peneirado, e o joio ficará separado do trigo. Porém, com toda a certeza, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, devemos ter mais prudência, mais firmeza e realizar um trabalho forte para mudar essa imagem com a qual estamos terminando este período antes do recesso.

No recesso que ocorrerá em julho, três CPIs estarão em funcionamento na Casa. A CPI da Imigração é necessária, pois existe hoje uma quantidade incrível de brasileiros presos nos Estados Unidos, por volta de 20 mil - dizem que há um pouco mais. Por incrível que pareça, essa situação foi resultado da propaganda da novela América. Esse número subiu de 8 mil para 12 mil, e agora há mais de 20 mil pessoas presas. A CPI da Terra vem-se arrastando, mas já chegou a algumas conclusões e está cumprindo o seu dever. Na CPI dos Correios, esta semana será muito quente. Até quarta-feira, deverá sair a CPI do Mensalão na Câmara dos Deputados, onde a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar também está funcionando.

            Em todas essas frentes, espero baixar a poeira do comportamento do Congresso, para que se façam todas as investigações, sim. Ninguém quer esconder os fatos, mas sem as agressões, a violência e gritaria.

Por que estou dizendo isso hoje da tribuna? Circulei, neste fim de semana, em vários ambientes. Em todos eles, a crítica é uma só: “Vocês enlouqueceram? O que aconteceu com o Congresso? Não é possível!” As pessoas pensam, no primeiro instante, que a situação se generalizou. Não é verdade. Prestem bem atenção - e esse é o alerta que faço não para nós, mas para o público em geral. A situação, às vezes, parece caótica, mas, até no caos, há uma certa ordem.

Foi uma semana de catarse, sim. Essas duas últimas semanas foram muito difíceis. Como eu apóio o Governo, critico a Oposição? Não. A Oposição está no papel dela - embora, talvez, um pouco açodada. Ela tem o direito de fazer, de pensar, de encontrar e de buscar... Essa é a função da Oposição.

Nós do Governo, nós como força auxiliar do Governo, grupo que procura dar governabilidade - Heloísa, não fique rindo; você esperava que eu dissesse que estamos no Governo. Nós não estamos. Nós somos força auxiliar do Governo. Estamos dando a governabilidade. 

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Ney Suassuna, nós da Oposição temos sido os mais ponderados possíveis. Ninguém mais do que nós. Todo Governo gostaria de ter uma Oposição racional e responsável como a desse. Aliás, agora mesmo, o Presidente Lula pediu o apoio do PMDB, oferecendo ao Partido quatro Ministérios para que ele participe do Governo. Todos nós da Oposição estamos torcendo para que o PMDB apóie o Governo, até para melhorar a governabilidade. Queremos o PMDB no Governo, a fim de que possamos fazer o nosso trabalho de Oposição, porque se o Governo não tem apoio fica até difícil para nós fazermos oposição. Então, apelo a V. Ex.ª para que use seu prestígio no PMDB para conseguir que o PMDB efetivamente apóie o Governo e deixe o papel de oposição para nós porque o povo nos colocou nessa posição.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Nobre Senador José Jorge, eu faço a diferença entre a Oposição do Senado e a Oposição na outra Casa, quando digo que o perigo é o da generalização.

Agora já acalmou a própria CPI, mas no começo qualquer palavra dada era uma gritaria tão grande que a gente não se entendia, não conseguia se entender na CPI. Foi muito açodado o começo. E eu estou vendo que os próprios Líderes do PFL chamaram a atenção dizendo que aquilo não era bom daquele jeito, daquela forma. E as coisas estão sendo ponderadas.

Eu sei que a Oposição no papel dela, inclusive as Lideranças da Oposição, estão tentando colocar as coisas em parâmetros de normalidade. Disso eu sou testemunha porque vi fazendo. Agora, o que quero dizer para o público em geral que nos vê através da TV Senado é que nesta Casa, às vezes, parece que a balbúrdia está imperando, mas tudo isso não é assim, tem regras e tudo isso tem normas e que nós somos humanos como qualquer pessoa e há horas que a adrenalina está muito elevada.

Nesta semana, quando a partir de amanhã o tempo vai estar muito quente, vamos ter várias coisas para resolver - e amanhã vamos ter um dia muito difícil - e eu espero que nós saibamos controlar a nossa adrenalina, até porque estamos sendo vistos por todo o Brasil. As TVs da Câmara e do Senado passaram a ter um Ibope incrivelmente alto. Então, é muito importante que façamos tudo o que tem que ser feito, mas dentro de parâmetros que não levem o público a achar que ao conhecer, não amar, porque isso vai significar uma grande taxa de renovação, como no ano passado. Todos sabemos que isso vai ocorrer. Mas é preciso que o público entenda, que os eleitores entendam, que os brasileiros entendam que, seja oposição, seja governo, nós estamos buscando cumprir o nosso dever, de forma que não haja luz vazando de um lado para o outro. Desejamos tudo bem iluminado e muito bem resolvido.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Ney Suassuna, V. Exª me permite um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Concedo um aparte, com muito prazer, ao Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Ney Suassuna, todos sabemos que V. Exª tem sido bastante claro em seus pronunciamentos, no seu trabalho, e sempre tem atuado para que as coisas realmente ocorram na maior tranqüilidade. V. Exª cumpre o papel de Líder do PMDB com muita honra e orgulho para a sua legenda, e todos reconhecemos o belo trabalho que exerce. Porém, temos que deixar registrada uma questão: não é possível jogar todos os homens públicos na mesma vala. Recentemente, foi preso o Juiz Lalau, nem por isso podemos culpar todo o Judiciário. Recentemente, foram presos, e estão para ser julgados, representantes do Ministério Público, nem por isso podemos julgar essa instituição como um todo, até porque o Ministério Público é a base da democracia e da ordem. Recentemente, foram presos diversos funcionários públicos, nem por isso podemos julgar todos os funcionários públicos pelos desmandos e corrupções que cometeram aqueles. Recentemente, foram presos alguns policiais federais, nem por isso podemos julgar essa instituição, que é a que está realmente fiscalizando, que é o órgão principal para manter a ordem no País. Então, digo que a classe política também não pode ser toda ela julgada. Porém, a Câmara dos Deputados precisa jogar um óleo de rícino e limpar aqueles que estão sendo, hoje, colocados na imprensa como homens públicos que cometeram atos ilícitos. É preciso varrê-los dali, limpar, tirá-los da vida pública, para que possamos continuar fazendo o melhor para o nosso País. Muitos se elegeram, nobre Senador Ney Suassuna, prometendo atender aos anseios populares na ética, na lisura no trabalho público. Prometeram honrar os seus cargos em defesa da nossa Pátria. No entanto, após assumir o mandato, cometeram atos ilícitos e precisam receber penas. Precisamos puni-los, colocá-los fora do processo da vida pública; se não o fizermos, toda a classe vai pagar por isso. Entendi perfeitamente o pronunciamento de V. Exª e é esse o chamamento que faço. Está em nossas mãos esta responsabilidade: fazer que a CPMI levante todos os culpados e que todos eles sejam punidos, independentemente de cores partidárias, se são do Governo ou se são da Oposição. Não interessa. Todos devem ser punidos. Devemos varrê-los da vida pública para que a instituição democrática, para que a Câmara dos Deputados, para que o Senado Federal, para que o Governo Federal não sejam julgados como se todos fossem iguais. Parabenizo o pronunciamento de V. Exª.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Agradeço a V. Exª, que vem ao socorro da minha tese. É exatamente o que acabei de dizer: tem que se separar o joio do trigo. Mas eu falava mais sobre o processo. Nos primeiros dias de CPI, V. Exª deve ter visto, ninguém conseguia falar. Quando um pedia a palavra, todos gritavam ao mesmo tempo; era uma balbúrdia só. E todos que encontrei nesse final de semana criticavam isto: fala-se excelência para lá, excelência para cá, mas se agrediam, se provocavam. A semana passada foi uma semana difícil para a imagem do Congresso, seja pelo excesso de adrenalina e de agressão, seja porque tivemos, além disso, provocações que não eram necessárias. Não estou entrando no mérito de quem provocou quem, mas não havia necessidade daquilo; somos adultos, não somos colegiais. Tudo isso vai ser analisado; será punido quem merecer, mas com ponderação e com prudência.

Era essa minha ponderação, lembrando que esta semana não será fácil, mas que a nós cabe prudência e firmeza.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/06/2005 - Página 21033